Um dos dez
filhos de um bem sucedido proprietário rural, o alagoano Teotônio Brandão
Vilela nasceu em Viçosa no dia 28 de maio de 1917 e não foi lá bom aluno:
frequentou as faculdades de Engenharia e de Direito, em Recife e no Rio de
janeiro e prestou exames na Escola Militar do Realengo, mas acabou largando os
estudos para trabalhar com o pai.
Foi
vaqueiro e boiadeiro antes de comprar uma usina de açúcar a 100 quilômetros de
Maceió. Conciliou a vida empresarial com a política, tornando-se um dos
fundadores da União Democrática Nacional (UDN) em Alagoas. Participou da
campanha do petróleo e em outubro de 1954 elegeu-se deputado estadual. Três
anos mais tarde, participou de um entrevero na Assembléia, quando parlamentares
governistas e da oposição se enfrentaram a tiros. Marcio Moreira Alves, que era
repórter, foi ferido e ganhou o prêmio Esso de Jornalismo com um lacônico
telegrama informando sobre o conflito.
Em outubro
de 1960 foi eleito vice-governador de Alagoas na chapa do general udenista Luís
Cavalcante para o período 1961-1966.
Na crise
da legalidade, defendeu a posse de Jango. Em 1964, apoiou o golpe militar. Em
1966, com a extinção dos partidos filiou-se à Arena e foi eleito senador em
1966.
Depois da
posse do general Ernesto Geisel, em março de 1974, Teotônio teve uma longa
conversa com o novo presidente e entusiasmou-se com o projeto de distensão
lenta, segura e gradual. Em novembro de 1974, sobreviveu a avalanche
oposicionista que reduziu os senadores eleitos pela Arena a meia dúzia, contra
16 do MDB. No dia 25 de abril de 1975, o discurso de Teotônio foi aplaudido de
pé pela bancada do MDB, depois de criticar o comportamento passivo da Arena.
Aos
poucos, foi radicalizando suas posições. Percorreu o Brasil fazendo palestras,
até o governo baixar o pacote de abril em 1977. No dia 20, diante de toda a
bancada do MDB e de alguns poucos arenistas, o senador alagoano condenou o
surgimento dos biônicos. Em novembro do mesmo ano, atacou a "democracia
relativa", baseada "na manutenção de um aparelho de repressão
legal", e classificou a demissão do ministro do Exército, Sílvio Frota,
como uma prova de que a autoridade se legitima quando tem o apoio da opinião
pública. Em fevereiro de 1978, faltou à convenção da Arena que indicou o
general João Figueiredo como candidato à sucessão de Geisel.
Dois meses
mais tarde, divulgou o Projeto Brasil, feito em parceria com o ex-vice-governador
da Guanabara, Rafael de Almeida Magalhães. O documento pregava a extinção do
AI-5, a ser substituído pelo estado de sítio; a restauração do habeas corpus
para crimes políticos; suspensão dos senadores biônicos; defesa do
pluripartidarismo sem restrições ideológicas; autonomia administrativa para os
Municípios e os Estados; liberdade de organização sindical; política salarial
entregue aos sindicatos patronais e de empregados; liberdade para a organização
estudantil; controle e apoio aos investimentos estrangeiros; política
energética baseada em combustível vegetal como alternativa ao fim da era do
petróleo e ao alto custo da implantação de energia nuclear; máximo investimento
no ensino profissionalizante; criação de um grande mercado interno baseado em
uma melhor distribuição de renda; anistia política, fim da censura à imprensa e
eleições diretas para a presidência da República e governos estaduais.
No lance
seguinte, Teotônio aderiu à Frente Nacional pela Redemocratização, que se
formou em torno das candidaturas do general Euler Bentes Monteiro e do senador
emedebista gaúcho Paulo Brossard.
No início
de agosto, apresentou um projeto substitutivo à proposta do governo, que
acabava com o decreto-lei 477 e fazia outras reformas. Quando Luiz Carlos
Prestes divulgou um manifesto defendendo o voto no MDB, perto das eleições de
novembro de 1978, o presidente Geisel acusou o partido da oposição de estar
infiltrado de comunistas. Teotônio definiu Prestes como uma espécie de
dinossauro, mas defendeu a reintegração de Leonel Brizola e Miguel Arraes no
cenário político por meio da anistia. Esta seria sua maior bandeira.
Em abril
de 1979, depois da posse de Figueiredo, Teotônio deixou a Arena e entrou para o
MDB. Seu primeiro discurso na oposição levou à retirada de toda a bancada
governista do plenário.
Assumiu a
presidência da comissão mista encarregada de analisar o projeto de anistia que
o governo encaminhara ao Congresso. Nessa condição, visitou todos os presos
políticos do País, antes de apresentar ao presidente do MDB, Ulysses Guimarães
um substitutivo feito com a ajuda dos juristas João Paulo Sepúlveda Pertence,
Dalmo Dallari, presidente da comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São
Paulo, e de Rafael de Almeida Magalhães. Depois de muita discussão no
parlamento e na sociedade o projeto do governo foi aprovado pelo Congresso no
dia 28 de agosto de 1979 com inúmeras modificações.
Teotônio
reagiu à restauração do pluripartidarismo pelo governo como se fosse um
verdadeiro golpe de estado "condicionado pela Comissão Trilateral",
criada em 1973 por David Rockfeller e manteve-se no PMDB.
Nas greves
operárias do ABC, Teotônio desempenhou papel de mediador, estando presente ao
lado de Lula e de outros dirigentes, nas principais assembleias no estádio de
Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.
A partir
de 1982, passou a lutar publicamente contra o câncer. Participou do programa
Canal Livre em novembro de 1982, pouco antes das primeiras eleições diretas
para os governos estaduais e deixou uma mensagem otimista:
Pátria foi
uma palavra abominada, como democracia foi durante muito tempo. Eu tenho até um
discurso no senado sobre as palavras esquecidas. Mas é esta pátria que vai
falar no dia 15 de novembro. Este pleito é decisivo. Sinto o Brasil num estado
de calamidade, calamidade total, absoluta, todos os setores, e não temos uma
outra saída se não uma representação política capaz de reorientar a vida deste
país. É quase que algo milagroso, é como se eu tivesse falando coisas
messiânicas, mas é assim mesmo que está vivendo hoje o brasileiro, não é de
outro modo que ele está vivendo hoje, não. Se alguém ainda hoje vai para uma
urna votar, vai, sobretudo, tocado deste sentimento messiânico, da existência
de uma mudança que ele não concebe, como não dá para concretizar exatamente,
não sabe ainda porque exatamente aquele voto vai ter alguma valia. Mas ele vai
votar, o brasileiro vai votar. Vai definir a vida desse país no dai 15 de
Novembro, de que maneira? Vamos descobrir. Com tanta corrupção, com tanta
fraude, ainda assim vamos sobreviver. Essa é a minha esperança que o povo vote,
e que procurem não apenas aqueles homens que lhe são chegados, mas aqueles que
podem representar a nação. E a nação vai ser representada desde a Câmara dos
Vereadores - é o vereador, o prefeito, a Assembleia Legislativa, é o
governador, o deputado federal, é o senador...Só falta o presidente da
república.
Alguns dias
mais tarde, despedindo-se do Senado em razão da doença, Teotônio garantiu que
não abandonaria a luta política:
Estou
saindo desta Casa esta semana, isto não é despedida, mesmo porque não é do meu
hábito despedir de nada. A vida política continua comigo, continuarei lutando
lá fora, só não terei o privilégio de usar esta ou aquela tribuna. Quanto ao
mais, prosseguirei na minha vida de velho menestrel, cantando aqui, cantando
ali, cantando acolá, as minhas pequeninas toadas políticas.
Chegou a
presidir o PMDB em julho de 1983 e impulsionou a campanha das Diretas, até
morrer no dia 27 de novembro de 1983, enquanto na praça Charles Muller, em São
Paulo, acontecia o primeiro grande comício das diretas. Deixou dez filhos.
Entre eles Teotônio Vilela Filho, do PSDB, que seguiu a carreira política do
pai e elegeu-se governador de Alagoas.
Bibliografia:
Dicionário
Histórico-Biográfico Brasileiro; CPDOC-FGV; 1930-1983. Teotônio Vilela.
Fazendor
de Histórias – Teotônio Vilela conta um pouco de sua vida. Depoimento Teotônio
Vilela a Mino Carta. Editora Três.
MOTTA,
Marly Silva da. Teotônio Vilela – Série grandes vultos que honraram o Senado.
Brasília: Senado Federal; Rio de Janeiro: CPDOC/FGV, 1996.
Portal
Fundação Teotônio Vilela (http://www.fundacaoteotoniovilela.com).
Fatos:
Em 1961,
foi a favor da posse do vice-presidente João Goulart.
Fiel
integrante da UDN, desde os anos 40, filiou-se à ARENA, partido governista,
depois do golpe.
Foi um dos
poucos arenistas a protestar contra o AI-5.
Foi
porta-voz da distensão no governo Geisel.
Participou
intensamente do movimento pela Anistia.
Em 1979,
trocou a Arena pelo MDB.
Foi um
grande entusiasta da campanha pelas Diretas Já.
Portal
Senadores - Senado Federal. Biografia de Teotônio Vilela
(http://www.senado.gov.br/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=2247).
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poucos arenistas a protestar contra o AI-5.
Foi
porta-voz da distensão no governo Geisel.
Participou
intensamente do movimento pela Anistia.
Em 1979,
trocou a Arena pelo MDB.
Foi um
grande entusiasta da campanha pelas Diretas Já.
Portal
Senadores - Senado Federal. Biografia de Teotônio Vilela
(http://www.senado.gov.br/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=2247).
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