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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Culminância no Ceará, Encontro Nacional de Magistrados do Trabalho do TJC e demais parceiros ocorre em tom cultural e alegre na Unichristus



Na tarde de sexta-feira, dia 29 de novembro de 2013, foi realizada, no auditório principal do Centro Universitário Christus, a III Culminância de Trabalhos de alunos de Escolas de Ensino Profissionalizante da Rede Pública Estadual do Ceará, no Programa Trabalho Justiça e Cidadania da Associação dos Magistrados do Trabalho da 7ª Região.
O Projeto Trabalho, Justiça e Cidadania é da ANAMATRA (Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho), com realização pelas associações regionais as quais primam por difundir direitos fundamentais sociais.

Na AMATRA VII (Associação dos Magistrados do Trabalho da 7ª Região), desde 2011, vem sendo firmada uma parceria com a Secretaria da Educação do Estado do Ceará, com o Centro Universitário Christus (Unichristus) e patrocínio das premiações pela Vulcabrás.
Na Culminância, encontravam-se representantes de todas as demais vinte e três Amatras (o Encontro Nacional do TJC ocorreu em Fortaleza), membros da Justiça do Trabalho, alunos das escolas estaduais responsáveis pelas apresentações artísticas interdisciplinares, representante da SEDUC/CE, além de docentes e discentes da Unichristus.

Da Faculdade de Direito Unichristus estavam os membros do Projeto Comunidade e Direitos Sociais acompanhados do professor orientador Clovis Renato Costa Farias, responsáveis pelo desenvolvimento do TJC em 2013, a Coordenadora do Escritório de Direitos Humanos Jacqueline Soares e o Coordenador adjunto do curso de Direito da Unichristus, Henrique Frota, bem como a Professora Ana Virgínia, responsável pela primeira parceria do Programa da Instituição.
Na base da organização estava a cerimonialista Arlane Lopes auxiliada por Karolina Sampaio e Roberto, funcionário do Tribunal Regional da 7ª Região e da AMATRA VII, respectivamente.

A mesa de abertura da solenidade da culminância foi composta por Henrique Frota (Professor Coordenador Adjunto do Curso de Direito da Unichritus), Maria do Socorro Santos (representante da Secretaria da Educação do Estado do Ceará), Germano Siqueira (Juiz do Trabalho e Vice-presidente da ANAMATRA), Silvana Ariano (Juíza do Trabalho e Diretora de Cidadania e Direitos Humanos da ANAMATRA), Christiane Diógenes (Juíza do Trabalho e Presidente da AMATRA VII), Eliete Teles (Juíza do Trabalho - Diretora da Comissão Nacional do TJC), Kelly Porto (Juíza do Trabalho - Coordenadora do TJC no Ceará), Francisco Tarcísio Guedes Júnior (Desembargador Vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região - Gestor regional do Programa Trabalho Seguro do TST).

Henrique Frota destacou que “as portas do Centro Universitário estarão sempre abertas para as boas parcerias e para os bons projetos”, relembrando que há três anos, quando a professora Ana Virgínia Porto com a Juíza do Trabalho Kelly Porto apresentaram a oportunidade dessa parceria, “tínhamos a sensação que esse seria um projeto que traria muitos frutos bons, muitos frutos positivos, mas nós não tínhamos a menor noção da repercussão de até onde poderíamos chegar com esse projeto”.
Ressaltou que as potencialidades do projeto são tão grandes internamente para a Instituição de Ensino Superior, para as escolas públicas, para a Justiça do Trabalho por se aproximarem do cidadão e da cidadã conscientizando.

A verdade, continuou o Coordenador, é que durante esses três anos, descobrimos que termos ‘pernas maiores’, temos ‘asas’ que voam mais alto e que nós podemos avançar cada vez mais. Por isso, a cada ano, renovamos essa parceria e temos o ritual entre a Unichristus e a AMATRA da 7ª Região de sempre terminar o ano avaliando nossa parceria e firmando novamente o pacto para o ano seguinte. Desse modo, seguiu, “percebemos a cada vez que os frutos desse projeto ultrapassam qualquer gestão acadêmica aqui na universidade. É um projeto, que, por nós, vai perdurar por muito mais tempo. Essa parceria permite que os alunos do curso de Direito da Unichristus possam de fato ter uma educação jurídica completa”.

Quanto ao perfil da instituição educacional, esclareceu que o centro universitário não acredita em um ensino do Direito que se restrinja à sala de aula, de modo que pretende exercitar e realizar a educação jurídica em sua plenitude, proporcionando aos discentes um contato direto com a realidade, nas pesquisas científicas e em projetos como o Trabalho, Justiça e Cidadania, os quais desenvolvem habilidades incomuns. Assim, têm oportunidade de estudar Paulo Freire, Educação Popular, elaborar notícias, redigir relatórios, fazer projetos científicos, que certamente farão deles profissionais diferenciados e provavelmente, Magistrados do Trabalho, membros do Ministério Público, Advogados, todos bem sucedidos, especialmente por conseguirem enxergar que a formação do profissional do Direito não é apenas a formação técnica, exige também muita sensibilidade.

Ao concluir, reafirmou que o centro universitário se preocupa com o seu papel na sociedade e não pode apenas se contentar com os resultados internos. Demarcou crer que o contato também tenha provocado transformações nas vidas de todos, mutuamente. Passo em que nominou os alunos que compõem Projeto Comunidade e Direitos Sociais (implementador do TJC na Unichristus), especialmente por ser em razão deles também que o projeto existe e por conta do trabalho desenvolvido que se conseguiu chegar a esse momento. Assim, agradeceu de público a Bianca, Andréa, Carmelita, Brenda, Venâncio, Brena, Monique, Jéssica, Lia e Luana, bem como ao trabalho desenpenhado ao longo desse ano sob a orientação do Professor Clovis Renato e da Coordenadora Jacqueline (responsável pelo Escritório de Direitos Humanos).

Na sequência, Maria do Socorro Santos, representante da Secretaria da Educação do Estado do Ceará, manifestou que a SEDUC tem muito a agradecer ao trabalho realizado pelo TJC nas escolas. “É gratificante, porque são jovens que são preparados para o mercado e para a vida, os quais chegarão muito mais capacitados, conhecedores de seus direitos e deveres. A formação recebida pelo TJC é levada para outros ambientes fora da escola, tais como família, grupos e comunidade”, destacou.
Ao final, reafirmou o compromisso com a AMATRA VII para os anos vindouros, disponibilizando esforços para o aprimoramento do TJC junto à SEDUC, principalmente para que essa formação chegue a outros municípios. Informou que o TJC já chegou a algumas escolas da Região Metropolitana, mas são atualmente 97 escolas no Estado e brevemente serão 140 em no Ceará.

Christiane Diógenes (Presidente da AMATRA VII) agradeceu a parceria com a Faculdade de Direito e relembrou que, em 2012, o Professor Clovis Renato Costa Farias, pelo trabalho desempenhado no EDH/Unichristus, foi contemplado com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos da Anamatra. “São parcerias que vêm dando certo, do mesmo modo, com a SEDUC/CE, as quais têm proporcionado o encontro com os alunos, proximidade que é um dos maiores presentes no contato com as escolas, com os alunos e a troca de experiências. As apresentações são o resultado de um ano inteiro de trabalho dos alunos da Unichistus, da SEDUC, das Juízas do Trabalho Kelly, Kaline, e Daniela.”

Em 2013, continuou a presidente, “temos uma apresentação mais seleta ainda pela presença dos representantes das AMATRAs do país. Todos estamos aqui como aprendizes e esperamos, de certa forma, contribuir para a formação de cidadãos melhores”.
Com relação ao papel da magistratura, destacou que “como juízes suas atividades vão além do Fórum em atividades com o TJC, que deve ser replicado em todas as Regiões do Trabalho que não desenvolvem o Programa.”
Germano Siqueira (Vice Presidente da ANAMATRA) ressaltou que:
o TJC é um referencial de ética para todos e sensibiliza a sociedade, de modo que, no final da Culminância, se percebe o resultado final de aprendizado. O Programa não é uma palestra, não é passar um dia pela vida das pessoas, não é visitar os alunos das escolas para depois simplesmente ir embora. É algo muito maior que isso. É tentar, de alguma maneira, e ainda não é tudo, ainda não é como deveria ser, tentar re-oportunizar a vida, reunir as pontos que algum dia foram distanciados. É um sonho talvez, um sonho meio estranho e o TJC tem esta quimera. Então, nosso sonho de vida talvez, nosso projeto do TJC é tentar superar essa perspectiva, juntando a escola pública, juntando os parceiros, os governos, os tribunais, para definir o conceito de cidadania mesmo em uma sociedade muito desigual. A lição é bem aprendida, porque em toda culminância, o resultado visto é mais do que esperamos. O projeto TJC vai acumulando e por isso que não para nunca.”
Silvana Ariano (Diretora de Cidadania e Direitos Humanos da ANAMATRA) compartilhou seu depoimento ao destacar que:
“Estamos aqui para uma celebração, uma celebração do conhecimento, da experiência de vida de cada um de nós, independente de qualquer posição estejamos aqui hoje, sejam alunos, professores, orientadores, Secretaria da Educação e juízes. O TJC é aplicado hoje em 21 das 24 AMATRAs, estando em praticamente em todos os Estados. Já atingiu mais de 80 mil estudantes, centenas de professores e monitores que também acompanham o trabalho. A cada culminância, a gente sente que é única, especial, que é introjetada como uma experiência de vida que não vai nos deixar nunca. Então os números grandiosos do TJC não são mais importantes que as experiências de cada um dos alunos, dos professores e dos juízes que estão aqui. Os juízes se sentem profundamente honrados em participar de um como projeto esse. Para nós, é um aprendizado de extrema importância, os juízes são juízes melhores a cada momento porque tem contato com o TJC, levam essa experiência enriquecedora, esse contato que nos anima para continuar com as nossas funções. Relações que tornam os juízes melhores em suas decisões, também contribuem como podem para o seu conhecimento especifico, bem como para a cultura do nosso país, a cultura dos direitos, de modo que a importância da luta pelo direito se revitalize em cada uma das pessoas, estejam elas na idade em que estiverem, à quem está saindo ou entrando no mercado de trabalho, àquele que tem futuro pela frente. Eu só tenho a agradecer, estamos todos muito orgulhosos, sabemos que a culminância é um resultado de um processo riquíssimo que envolve todos os parceiros em uma caminhada que deve continuar.”
Eliete Teles (Diretora da Comissão Nacional do TJC) ressaltou ser importante colocar as palavras que estão no coração e trazer para os participantes a emoção que a beleza e a certeza de que é possível colaborar com um mundo melhor. O projeto trás frutos de uma conscientização e desejo de melhorar a democratização interna do Judiciário, da consciência de que o Juiz tem que se aproximar mais da sociedade, indo às pessoas, aprimorando seu mister. Não basta ser juiz apenas em Fórum, tem que ser cidadão lá fora e ser juiz lá fora e ser cidadão dentro da magistratura e usar a simbologia e o peso da postados na importância do cargo para construir, ajudar, melhorar a cidadania.
Esclareceu, concluindo, que está há dez anos vem acompanhando essa mudança em diversos lugares do Brasil, em diversas escolas públicas e Varas do Trabalho, vendo cada vez mais coisas bonitas apresentadas. É uma forma de interação, participação e parceria para contribuir com uma vida melhor.
A Juíza do Trabalho Coordenadora do TJC na AMATRA VII, Kelly Porto, encerrou as falas da mesa destacando que somos pessoas melhores por conta dos nossos valores, os quais são, também, repassados pelo TJC. “Estamos vivendo um processo de doação e democratização de conhecimentos em que temos que repartir o que recebemos para que nosso país avance. O que se impõe como contraponto contemporâneo, diante de um mundo que tem se apresentado repleto de egoísmo, com grande falta de amor ao próximo”, manifestou.
Compreende que tal contexto dominante tem como consequência a violência, o individualismo, a comodidade, o consumismo desregrado que tem formado filhos desvirtuados. Assim, é importante buscarmos mudar essa realidade, começarmos a nos preocuparmos com o outro, valorizando, o que é preocupação no TJC. Há doação, democratização, conhecimento adquirido e formação de multiplicadores no Programa, conforme a magistrada.

Em continuidade, questionou: “Quantas pessoas sofrem opressões, sofrem assédio moral porque não sabem o que podem fazer ou a quem recorrer”. E concluiu que no final o que vai ficar é o conhecimento de quem procurar, como se defender e de que o Poder Judiciário não é algo inacessível, bem como terão informações sobre como procurar o sindicato ou outras instituições de apoio. Assim, encerrou sua fala declarando que se sente mais humana na vivência desse ato complexo que envolve todos esses sentimentos e trocas, as quais pretende continuar.
Para o TJC, a Juíza deseja que surjam mais voluntários, uma vez que não é fácil instrumentalizá-lo com ajuda diminuta. No momento, ainda há poucos recursos financeiros e humanos, sendo um verdadeiro milagre o que tem ocorrido no Ceará, do ponto de vista estrutural e logístico, especialmente por ser um projeto voluntário que não envolve recursos financeiros.
Após a mesa de abertura, houve a exibição do vídeo elaborado pelo Grupo de integrantes do Projeto Comunidade e Direitos Sociais (EDH/Unichristus -Andréa Ponte, Bianca Rocha, Brena Brasil, Brenda Menezes, Carmelita Coêlho, Jéssica Marques, Lia Bomfim, Luana Mendes, Monique Medeiros e Venâncio Camurça Júnior – orientados pelo Professor Clovis Renato Costa Farias), com foco na realização do TJC em 2013.

As apresentações artísticas dos alunos das escolas públicas, com ênfase nos direitos sociais aprendidos durante o desenvolvimento do projeto, foram iniciadas pela EEEP Presidente Roosevelt (Bairro Farias Brito - Diretora Germana Pacelli), com três apresentações.
A esquete teatral, com o título “Assédio Moral, trouxe a protagonista sofrendo humilhações racistas por seu patrão, o que gerou reclamação trabalhista com audiência em Vara do Trabalho e decisão que condenou, após instrução probatória com testemunhas, o patrão a indenizar a protagonista.
O aluno Pedro Martins (atuou no papel do patrão assediador) relatou que “pretenderam tratar sobre o assédio moral porque é um dos principais problemas ocorridos nos fóruns trabalhistas”.
Na sequência, houve a apresentação de um documentário feito pelos alunos abordando a temática “Estágio”. Relatou o universo dos alunos e dos professores da escola explicando sobre a importância do estágio, a parte concedente, a função do estágio e a experiência de duas estagiárias.
Filipe Sales, um dos produtores do documentário, dispôs estar muito feliz pelos esclarecimentos repassados, especialmente por ter lhe incentivado a pretender cursar Direito e, provavelmente, participa do TJC no futuro, nos moldes do que está sendo realizado pelos acadêmicos da Unichristus.
Veja o vídeo 2013 - TJC/EDH-Unichristus (Comunidade e Direitos Sociais)



A última participação da escola se deu com uma pequena peça teatral sobre “Sindicato”, com narração pela aluna Brena Késsia. Ao fundo, no curso da fala da aluna, o elenco atuava retratando a história sobre trabalhadores de uma construção civil que sofriam com o abuso de seus chefes. Era constante a temática do aumento excessivo das jornadas de trabalho e a ausência do adicional, levando os trabalhadores a procuraram seu sindicato para aproxima-se da categoria no local de trabalho e negociar o ajustamento das condições de trabalho.
A segunda escola a se apresentar foi a EEEP Comendador Miguel Gurgel (situada no Bairro Messejana - Diretora Humberlândia Granjeiro). Revelou uma peça teatral cômica, dramática e encantadora.
No início, retratou-se uma diarista em mais um comum dia de trabalho, tomando consciência de determinados desrespeitos ao ligar o rádio em um programa sobre os direitos do trabalho. Conforme ia escutando, percebia temas afins aos direito das diaristas e domésticos, o que fazia com se animasse a questionar a realidade.
O modo como foi apresentada e encenada a residência em paralelo com o programa de rádio foi inovador, apenas com a caixa de rádio no chão e o ator, à mostra para a plateia, encenado a voz do locutor. Havia utilização de adereços, fazendo com que a plateia visualizasse diversos personagens interpretados pelo mesmo ator (radialista). Assim, usou um xale para representar uma idosa, um chapéu representando um homem e uma tiara para uma moça, tudo feito em sequência.
No momento seguinte, os alunos que faziam parte do elenco da escola, usando figurino preto e sentados em diferentes lugares do auditório, passaram a se levantar, um por vês, para recitar estrofes divididas do poema “O operário em construção” de Vinícius de Moraes, rumando em direção ao palco montado.
“O Operário em Construção” de Vinícius de Moraes

Era ele que erguia casas 
Onde antes só havia chão. 
Como um pássaro sem asas 
Ele subia com as casas 
Que lhe brotavam da mão. 
Mas tudo desconhecia 
De sua grande missão: 
Não sabia, por exemplo 
Que a casa de um homem é um templo 
Um templo sem religião 
Como tampouco sabia 
Que a casa que ele fazia 
Sendo a sua liberdade 
Era a sua escravidão. 

De fato, como podia 
Um operário em construção 
Compreender por que um tijolo 
Valia mais do que um pão? 
Tijolos ele empilhava 
Com pá, cimento e esquadria 
Quanto ao pão, ele o comia... 
Mas fosse comer tijolo! 
E assim o operário ia 
Com suor e com cimento 
Erguendo uma casa aqui 
Adiante um apartamento 
Além uma igreja, à frente 
Um quartel e uma prisão: 
Prisão de que sofreria 
Não fosse, eventualmente 
Um operário em construção. 

Mas ele desconhecia 
Esse fato extraordinário: 
Que o operário faz a coisa 
E a coisa faz o operário. 
De forma que, certo dia 
À mesa, ao cortar o pão 
O operário foi tomado 
De uma súbita emoção 
Ao constatar assombrado 
Que tudo naquela mesa 
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão. 

Ah, homens de pensamento 
Não sabereis nunca o quanto 
Aquele humilde operário 
Soube naquele momento! 
Naquela casa vazia 
Que ele mesmo levantara 
Um mundo novo nascia 
De que sequer suspeitava. 
O operário emocionado 
Olhou sua própria mão 
Sua rude mão de operário 
De operário em construção 
E olhando bem para ela 
Teve um segundo a impressão 
De que não havia no mundo 
Coisa que fosse mais bela. 

Foi dentro da compreensão 
Desse instante solitário 
Que, tal sua construção 
Cresceu também o operário. 
Cresceu em alto e profundo 
Em largo e no coração 
E como tudo que cresce 
Ele não cresceu em vão 
Pois além do que sabia 
- Exercer a profissão - 
O operário adquiriu 
Uma nova dimensão: 
A dimensão da poesia. 

E um fato novo se viu 
Que a todos admirava: 
O que o operário dizia 
Outro operário escutava. 

E foi assim que o operário 
Do edifício em construção 
Que sempre dizia sim 
Começou a dizer não. 
E aprendeu a notar coisas 
A que não dava atenção: 

Notou que sua marmita 
Era o prato do patrão 
Que sua cerveja preta 
Era o uísque do patrão 
Que seu macacão de zuarte 
Era o terno do patrão 
Que o casebre onde morava 
Era a mansão do patrão 
Que seus dois pés andarilhos 
Eram as rodas do patrão 
Que a dureza do seu dia 
Era a noite do patrão 
Que sua imensa fadiga 
Era amiga do patrão. 

E o operário disse: Não! 
E o operário fez-se forte 
Na sua resolução. 

Como era de se esperar 
As bocas da delação 
Começaram a dizer coisas 
Aos ouvidos do patrão. 
Mas o patrão não queria 
Nenhuma preocupação 
- "Convençam-no" do contrário - 
Disse ele sobre o operário 
E ao dizer isso sorria. 

Dia seguinte, o operário 
Ao sair da construção 
Viu-se súbito cercado 
Dos homens da delação 
E sofreu, por destinado 
Sua primeira agressão. 
Teve seu rosto cuspido 
Teve seu braço quebrado 
Mas quando foi perguntado 
O operário disse: Não! 

Em vão sofrera o operário 
Sua primeira agressão 
Muitas outras se seguiram 
Muitas outras seguirão. 
Porém, por imprescindível 
Ao edifício em construção 
Seu trabalho prosseguia 
E todo o seu sofrimento 
Misturava-se ao cimento 
Da construção que crescia. 

Sentindo que a violência 
Não dobraria o operário 
Um dia tentou o patrão 
Dobrá-lo de modo vário. 
De sorte que o foi levando 
Ao alto da construção 
E num momento de tempo 
Mostrou-lhe toda a região 
E apontando-a ao operário 
Fez-lhe esta declaração: 
- Dar-te-ei todo esse poder 
E a sua satisfação 
Porque a mim me foi entregue 
E dou-o a quem bem quiser. 
Dou-te tempo de lazer 
Dou-te tempo de mulher. 
Portanto, tudo o que vês 
Será teu se me adorares 
E, ainda mais, se abandonares 
O que te faz dizer não. 

Disse, e fitou o operário 
Que olhava e que refletia 
Mas o que via o operário 
O patrão nunca veria. 
O operário via as casas 
E dentro das estruturas 
Via coisas, objetos 
Produtos, manufaturas. 
Via tudo o que fazia 
O lucro do seu patrão 
E em cada coisa que via 
Misteriosamente havia 
A marca de sua mão. 
E o operário disse: Não! 

- Loucura! - gritou o patrão 
Não vês o que te dou eu? 
- Mentira! - disse o operário 
Não podes dar-me o que é meu. 

E um grande silêncio fez-se 
Dentro do seu coração 
Um silêncio de martírios 
Um silêncio de prisão. 
Um silêncio povoado 
De pedidos de perdão 
Um silêncio apavorado 
Com o medo em solidão. 

Um silêncio de torturas 
E gritos de maldição 
Um silêncio de fraturas 
A se arrastarem no chão. 
E o operário ouviu a voz 
De todos os seus irmãos 
Os seus irmãos que morreram 
Por outros que viverão. 
Uma esperança sincera 
Cresceu no seu coração 
E dentro da tarde mansa 
Agigantou-se a razão 
De um homem pobre e esquecido 
Razão porém que fizera 
Em operário construído 
O operário em construção.

Após a declamação, todos se juntaram no palco e, ao som do violão (tocado por João Victor Guimarães - ator que interpretara o radialista), cantaram a música “Trabalhador” de Seu Jorge.

A última escola a se apresentar foi a EEEP Dona Creuza do Carmo Rocha, Bairro Monte Castelo, dirigida pelo Professor Helonis Brandão.
As três apresentações envolveram teatro, música e dança, de modo que o primeiro número seguiu por uma paródia da música “Eu só quero um xodó” de Dominguinhos.
A paródia tratou sobre a importância do conhecimento sobre as normas brasileiras, especialmente as que envolvem os direitos sociais, para o aprimoramento dos cidadãos.

A esquete teatral “Os mortos vivos” de estilo aproximado do gótico, com elementos contemporâneos, foi a segunda apresentação da escola. O elenco estava maquiado de caveira com figurinos pretos e rostos pintados, os quais seguiram deitados no chão, ao som de música instrumental de suspense e terror.  Todos se contorciam e gritavam, de forma intercalada entre as três cenas de mímica. Não havia falas, mas ações truculentas, assediantes e discriminatórias, com fortes expressões corporais e faciais por parte dos atores.

Para Bianca Rocha (EDH/Unichristus), a peça teve como finalidade a conscientização das pessoas sobre os mortos vivos, uma definição que os alunos tentaram aproximar das pessoas que mesmo vivas, estão mortas pela sociedade, seguem vidas sem reflexão, apenas sofrendo os revezes das distorções sociais, em especial nas relações de trabalho.

Na apresentação posterior, o aluno Judá Ben Hur tocou a música “Asa Branca” com uma rabeca e, seguindo com a aluna Gerlânia Silva, recitaram um cordel distribuído pela escola (elaborado pelos próprios alunos e pelo Diretor da escola Helonis Brandão).
Bianca Rocha ressaltou ter sido perceptível, em todas as apresentações, o quanto a arte se relaciona com o Direito, facilitando a compreensão para a utilização no cotidiano das pessoas, tudo viabilizado neste momento pelo Programa Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC/Amatra VII) com o Projeto Comunidade e Direitos Sociais (EDH/Unichristus) nas escolas coordenadas pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará.

A arte esteve presente na literatura com a recitação do poema de Vinícius de Moraes, na valorização nordestina com as obras de Dominguinhos e Luiz Gonzaga, bem como por meio do cordel do TJC.
A música regional em tom clássico, ao som da rabeca (instrumento de cordas pertencente à mesma família do violino e do violoncelo). A junção do clássico ao regional mostrou profunda criatividade e talento, brotando do trabalho desenvolvido pelo TJC nas escolas públicas profissionalizantes.
A culminância emocionou, demonstrou conscientização, como diria Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”.

Após as apresentações artísticas interdisciplinares, os diretores das três escolas foco do TJC em 2013 receberem uma Placa de Homenagem pela Amatra VII, assim como os alunos, tanto das escolas quanto da Unichristus, foram presenteados com pares de tênis doados pela Vulcabrás.

A Culminância do TJC, de forma brilhante, foi encerrada com grande satisfação, o que foi facilmente percebido nos semblantes dos magistrados, alunos das escolas públicas profissionalizantes, estudantes de Direito, professores do Centro Universitário Christus, advogados e demais participantes.
Fotos: Andréa Ponte e Bianca Rocha / Edição: Clovis Renato Costa Farias
Bianca Rocha
Projeto Comunidade e Direitos Sociais
EDH-Unichristus
Faculdade de Direito

Clovis Renato Costa Farias
Professor Orientador - Projeto Comunidade e Direitos Sociais
EDH-Unichristus
Faculdade de Direito
Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Ceará
Bolsista da CAPES
Autor da obra “Desjudicialização: conflitos coletivos do trabalho
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