Chegou a Copa, com greves para todo lado. Tudo já esperado.
Os sindicatos e os trabalhadores sabem da importância da época e da força
momentânea de pressão. Mas, nos movimentos legítimos, surgem condutas
inadequadas, provenientes de pessoas que não integram a categoria obreira ou
que, por meio da violência, denigrem a atuação sindical. E isso preocupa,
porque a leitura repassada à população é convenientemente generalizada,
superficial e tendente a deslegitimar as justas manifestações. Num período de
Copa, pré-eleitoral, as reivindicações sociais assumem dimensão superlativa,
recebendo interpretações politiqueiras.
São os sindicalistas combativos e as manifestações sociais
que contrabalançam a voracidade do capital, humanizando as relações de
trabalho. Um sindicato representativo é útil para as empresas e para os trabalhadores,
porque consegue defender a categoria sem a intenção de arrasar a capacidade
econômica do empregador; sabe dialogar, mas sem perder o propósito trabalhista.
E, acima de tudo, tem a consciência política de seu papel social.
O modelo sindical brasileiro apresenta várias falhas. A
Constituição Federal garante, por exemplo, a liberdade e a autonomia sindicais;
porém, impõe uma contribuição obrigatória a todos os trabalhadores, mesmo não
filiados a sindicato algum, estimulando entidades fictícias; assegura a
liberdade de criar sindicatos, mas limita o número a uma única entidade na base
territorial, não inferior à área de um Município (unicidade sindical); na
sequência, a legislação não pune o diretor que não presta conta à categoria, e
há diretorias que impedem a transparência das eleições ou a legitimidade na sua
sucessão, perpetuando-se em mandatos infindáveis.
E o sistema segue capenga, possibilitando que os maus
sindicalistas manchem o trabalho exemplar que os bons sindicatos desenvolvem. A
crise chega atravessada na população e, frequentemente, à própria categoria,
que formam uma imagem péssima do sindicalismo, confundindo os movimentos
reivindicatórios com atos de baderna e anarquia. O número médio de filiados, no
Brasil, fica na casa dos 16%, enquanto uma apatia se instaura no meio, com
pouquíssimas pessoas participando da vida ativa da luta coletiva de sua
entidade.
Na Europa, a crise econômica engole os sindicatos, retirando
paulatinamente as conquistas sociais. No Brasil, os sindicatos enfrentam mais
problemas, que os fragilizam, e podem ser alvos fáceis da especulação econômica
ou da acomodação de diretorias apáticas.
Um sindicato forte requer a superação de sua crise de
legitimidade, pede sua intensa combatividade, proximidade com a base e muita
disposição negocial. Só assim poderemos progredir em melhores condições de
trabalho e de salário, sem o risco de quebrar empresas nem atropelar os anseios
da categoria.
Gérson Marques
opiniao@opovo.com.br
Procurador Regional do Trabalho e professor da UFC
Fonte:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2014/06/13/noticiasjornalopiniao,3266271/copa-greves-e-sindicatos.shtml
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