Neste dia 20 e por todo mês de novembro
celebramos a consciência negra! E este novembro negro é momento de pensar o
futuro, mas também de refletir sobre todo um passado de lutas, suor e de
conquistas. É momento de preparação para as lutas de hoje e para as que ainda
virão. E é importante estar pronto para conquistas no futuro sem esquecer as
lutas do passado.
Portanto, devemos lembrar os heróis de nossa
história. Uns muito celebrados e outros nem tanto. Mas todo heróis de grande
contribuição, cada um em seu tempo e a sua maneira, para a conquista do espaço
do negro na sociedade atual.
Vamos lembrar João Cândido, o Almirante Negro,
enaltecido por Aldir Blanc e João Bosco na música "O Mestre Sala dos
Mares". E como disse o poeta, lembramos das rubras cascatas que rolavam
das costas dos negros entre cantos e chibatas. Nosso Almirante Negro que tem
por monumento as pedras pisadas dos cais. Marinheiro João Cândido, herói da
sublevação dos marujos no Rio de Janeiro de 1910, a chamada Revolta da Chibata.
Foi aí que os marinheiros se revoltaram contra os castigos físicos e contra as
péssimas condições a que eram submetidos na Marinha de então.
Lembrar do mulato engenheiro André Rebouças,
conhecido como “O Engenheiro do Império”. Oficial militar, conselheiro do
Imperador Dom Pedro II. Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas tendo sido
diretor e professor do Instituto Politécnico. Fluente em inglês e francês. Foi
o engenheiro responsável pelo sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro
e pela construção das Docas da Alfândega. Um homem de notório saber e muito
respeitado. Foi um incansável na luta pela abolição da escravatura, apesar de
sua forte ligação com a família imperial. Firmemente engajado na campanha
abolicionista, foi um dos criadores da Sociedade Brasileira Contra a
Escravidão, ao lado de ícones da luta negra como José do Patrocínio e Joaquim
Nabuco.
Lembramos também dos negros de origem islâmica
(Haussá e Nagô) que se insurgiram na Revolta dos Malês. Os escravos de Alá que
em 1835 buscaram através de levante armado, libertar os negros de Salvador.
Embora tivessem seu movimento abortado pela traição e rapidamente sufocado pela
superioridade das forças militares da então Província da Bahia, este movimento
plantou a semente da liberdade no coração de homens escravizados. O termo Malê
vem do yorubá Imalê e significa muçulmano.
Celebramos Maria Felipa: heroína negra baiana
que em 1823, no comando de um grupo de cerca de 40 mulheres armadas apenas de
galhos de cansanção, lutou contra um destacamento de soldados portugueses pela
independência da Bahia. As guerreiras invadiram um acampamento do exercito
português, atearam fogo às embarcações e promoveram muitas baixas ao exército
na luta pela liberdade.
Também
não podemos nos esquecer do já citado José do Patrocínio, dos negros que
lutaram bravamente na guerra do Paraguai, dos lanceiros da guerra das
Farroupilhas, de Zumbi do Palmares, de Francisco José do Nascimento ou Chico da
Matilde (o nosso Dragão do Mar), de Prata Preta, o estivador e capoeirista que
enfrentou o governo na Revolta da Vacina e que serve de inspiração aos autores
da novela de televisão. Tantos outros heróis...
Falo sobre esses baluartes de nossa história
para que seu exemplo e seu brilho iluminem fortemente a consciência da
sociedade brasileira, formada por tantos outros heróis do dia-a-dia. Heróis que
ainda tem que lutar contra os olhares enviesados e resistir às barreiras e às
amarras de um preconceito velado que insiste em permanecer incutido na mente do
cidadão comum. Pensamento persistente de ainda julgar o irmão pela cor de sua
pele, pela sua religião ou condição social.
Irmãos, João Cândido até hoje é considerado um
criminoso pelas forças armadas e a sua família luta sem sucesso pela sua honra,
buscando sua reintegração na Marinha de Guerra. Outros tantos heróis negros tem
sua história ameaçada pelo descaso do esquecimento... Temos que ocupar com
dignidade o nosso lugar na sociedade. Hoje somos representativos no mercado
emergente, a população negra avançou em renda média, atingimos boas colocações
no mercado de trabalho e posições de destaque nas organizações. Mas, se não
continuarmos reconhecendo nossa negritude e esquecermos a nossa história,
Rebouças será apenas o nome do famoso túnel do Rio de Janeiro que,
emblematicamente, separa a Zona Norte da Zona Sul.
Somos milhões de brasileiros negros em plena
ascensão social e não podemos permitir que o obstáculo da discriminação racial
venha representar empecilho em nossa luta por uma sociedade justa e igualitária,
por um Brasil para todos e todas; um Brasil de todas as cores.
"E, abrindo Pedro a boca, disse:
Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas." Atos 10:34.
Saudações Sindicais!
Rogério Ribeiro.
Brasileiro, negro, portuário e sindicalista.
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