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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Tantos negros, tantos heróis... (Rogério Ribeiro)


Neste dia 20 e por todo mês de novembro celebramos a consciência negra! E este novembro negro é momento de pensar o futuro, mas também de refletir sobre todo um passado de lutas, suor e de conquistas. É momento de preparação para as lutas de hoje e para as que ainda virão. E é importante estar pronto para conquistas no futuro sem esquecer as lutas do passado.

Portanto, devemos lembrar os heróis de nossa história. Uns muito celebrados e outros nem tanto. Mas todo heróis de grande contribuição, cada um em seu tempo e a sua maneira, para a conquista do espaço do negro na sociedade atual.
Vamos lembrar João Cândido, o Almirante Negro, enaltecido por Aldir Blanc e João Bosco na música "O Mestre Sala dos Mares". E como disse o poeta, lembramos das rubras cascatas que rolavam das costas dos negros entre cantos e chibatas. Nosso Almirante Negro que tem por monumento as pedras pisadas dos cais. Marinheiro João Cândido, herói da sublevação dos marujos no Rio de Janeiro de 1910, a chamada Revolta da Chibata. Foi aí que os marinheiros se revoltaram contra os castigos físicos e contra as péssimas condições a que eram submetidos na Marinha de então.
Lembrar do mulato engenheiro André Rebouças, conhecido como “O Engenheiro do Império”. Oficial militar, conselheiro do Imperador Dom Pedro II. Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas tendo sido diretor e professor do Instituto Politécnico. Fluente em inglês e francês. Foi o engenheiro responsável pelo sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro e pela construção das Docas da Alfândega. Um homem de notório saber e muito respeitado. Foi um incansável na luta pela abolição da escravatura, apesar de sua forte ligação com a família imperial. Firmemente engajado na campanha abolicionista, foi um dos criadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de ícones da luta negra como José do Patrocínio e Joaquim Nabuco.
Lembramos também dos negros de origem islâmica (Haussá e Nagô) que se insurgiram na Revolta dos Malês. Os escravos de Alá que em 1835 buscaram através de levante armado, libertar os negros de Salvador. Embora tivessem seu movimento abortado pela traição e rapidamente sufocado pela superioridade das forças militares da então Província da Bahia, este movimento plantou a semente da liberdade no coração de homens escravizados. O termo Malê vem do yorubá Imalê e significa muçulmano.
Celebramos Maria Felipa: heroína negra baiana que em 1823, no comando de um grupo de cerca de 40 mulheres armadas apenas de galhos de cansanção, lutou contra um destacamento de soldados portugueses pela independência da Bahia. As guerreiras invadiram um acampamento do exercito português, atearam fogo às embarcações e promoveram muitas baixas ao exército na luta pela liberdade. 
 Também não podemos nos esquecer do já citado José do Patrocínio, dos negros que lutaram bravamente na guerra do Paraguai, dos lanceiros da guerra das Farroupilhas, de Zumbi do Palmares, de Francisco José do Nascimento ou Chico da Matilde (o nosso Dragão do Mar), de Prata Preta, o estivador e capoeirista que enfrentou o governo na Revolta da Vacina e que serve de inspiração aos autores da novela de televisão. Tantos outros heróis...
Falo sobre esses baluartes de nossa história para que seu exemplo e seu brilho iluminem fortemente a consciência da sociedade brasileira, formada por tantos outros heróis do dia-a-dia. Heróis que ainda tem que lutar contra os olhares enviesados e resistir às barreiras e às amarras de um preconceito velado que insiste em permanecer incutido na mente do cidadão comum. Pensamento persistente de ainda julgar o irmão pela cor de sua pele, pela sua religião ou condição social.

Irmãos, João Cândido até hoje é considerado um criminoso pelas forças armadas e a sua família luta sem sucesso pela sua honra, buscando sua reintegração na Marinha de Guerra. Outros tantos heróis negros tem sua história ameaçada pelo descaso do esquecimento... Temos que ocupar com dignidade o nosso lugar na sociedade. Hoje somos representativos no mercado emergente, a população negra avançou em renda média, atingimos boas colocações no mercado de trabalho e posições de destaque nas organizações. Mas, se não continuarmos reconhecendo nossa negritude e esquecermos a nossa história, Rebouças será apenas o nome do famoso túnel do Rio de Janeiro que, emblematicamente, separa a Zona Norte da Zona Sul.

Somos milhões de brasileiros negros em plena ascensão social e não podemos permitir que o obstáculo da discriminação racial venha representar empecilho em nossa luta por uma sociedade justa e igualitária, por um Brasil para todos e todas; um Brasil de todas as cores.

"E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas." Atos 10:34.
Saudações Sindicais!
Rogério Ribeiro.
Brasileiro, negro, portuário e sindicalista.

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