O ministro
Massami Uyeda, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), completará 70 anos de
idade no próximo dia 28. A Constituição Federal determina que é hora de se
aposentar. A norma foi muito questionada pelos ministros da Segunda Seção na
reunião desta quarta-feira (14), a última de Uyeda.
“O ministro Massami é um dos casos, ao lado
dos ministros Cezar Peluso e Ayres Britto (do Supremo Tribunal Federal), para
fazer repensar a aposentadoria compulsória por idade, pois são pessoas que
chegam aos 70 anos em plena saúde física e mental. Não há, infelizmente, como
brigar contra a Constituição Federal”, afirmou o ministro Paulo de Tarso
Sanseverino.
Sanseverino
foi destacado para homenagear Uyeda em nome da Seção. Disse ter conhecido o
ministro quando concorria a uma vaga no STJ. “Ele me pareceu uma pessoa muito
séria, muito fechada”, contou. Depois de sua posse, Sanseverino disse ter tido
o privilégio de ter Uyeda como presidente na Terceira Turma e na Segunda Seção,
simultaneamente, conduzindo de maneira firme e segura as sessões de julgamento.
“Na rotina das sessões, fui descobrindo um
excelente magistrado, que, com seu toque oriental, analisa meticulosamente os
processos, votando com profundidade e tendo convicção de suas posições
divergentes, sem nunca perder a elegância”, observou.
“A minha maior surpresa, porém, foi no
ambiente fora das sessões, em que descobri que nosso colega oriental – japonês
– tem um humor bem brasileiro, gostando de contar boas histórias e boas piadas.
Gosta de cantar, viajar, jogar golfe, e é uma pessoa extremamente culta e
espiritualizada. Enfim, fui descobrindo uma pessoa bem diferente daquele
ministro sisudo que conhecera há cerca de três anos”, completou Sanseverino.
Ministério
Público e advocacia
O
subprocurador da República Pedro Henrique Távora Niess, representante do
Ministério Público Federal na sessão, não teve a mesma impressão inicial que
Sanseverino. “A impressão que tive nunca foi a de um ministro sisudo”, disse.
Lembrou-se de um agradável e descontraído encontro num aeroporto e destacou
que, além de jogar golfe, Uyeda também é motociclista. “Claro que a moto é
Honda”, brincou. Ele concluiu agradecendo a atuação jurisdicional do ministro:
“Todos os seus votos foram para mim lições de vida e de direito.”
Niess também
questionou a aposentadoria compulsória. “É preciso repensar essa questão da
aposentadoria por idade. É possível ser papa, presidente da República, há um
governador que tem 86 anos, mas um ministro, plenamente capaz, não pode
continuar trazendo os seus conhecimentos para realização da Justiça, tendo que
se aposentar porque chegou aos 70 anos, como se isso fosse castigo”, ponderou.
Em nome dos
advogados, Noeli Andrade Moreira ocupou a tribuna para agradecer todos os
ensinamentos de Uyeda e a atenção que dispensou à classe: “Sempre nos atendeu
com bom humor, com toda gentileza, sempre muito atento às questões processuais,
do direito e da Justiça.”
Emoção
O ministro
Luis Felipe Salomão, que presidiu os trabalhos, avisou logo no início que seria
uma sessão emotiva. E foi. Embora a praxe estabeleça a escolha de um ministro
para falar em nome dos colegas, todos fizeram questão de prestar sua homenagem
pessoal.
Massami Uyeda
agradeceu primeiramente a Deus, pela oportunidade de ter sido escolhido
ministro do STJ. Em seguida, agradeceu toda a dedicação e companheirismo da
esposa, Emico, em “felizes 45 anos de casamento”, e o apoio e motivação dos
filhos, Massami Júnior e Mariana, e dos netos.
“Os filhos impulsionam os pais. Tenho dois
filhos, com a graça de Deus. Mas tive um terceiro, o caçula.” Ao lembrar-se de
Guilherme, o garoto que perdeu aos cinco anos de idade, não conseguiu conter as
lágrimas. Paralisado pela emoção, recebeu o apoio do plenário lotado, com uma
salva de palmas. Uyeda contou que teve forças para transformar o grande
sofrimento em motivação.
“Foi um momento de grande importância na minha
vida, pois dediquei sua memória à minha judicatura, que se iniciava. Posso
dizer que a perda se transformou em motivação para o bem”, desabafou.
Foram 35 anos
de magistratura. Juiz, desembargador e ministro do STJ. “Todo trabalho é
edificante e, por meio dele, as pessoas se realizam. Posso dizer que me sinto
realizado”, comemorou. Após 55 anos de trabalho, Uyeda disse que continua
motivado e que deixa a magistratura ainda com muita disposição.
O ministro
Sanseverino disse estar certo de que todo o vigor físico e mental permitirá que
o ministro Massami Uyeda, ao lado de sua esposa, “aproveite o lado bom da
aposentadoria, dedicando-se à família e a todas as coisas que ele sabe degustar
com a sua sabedoria oriental”. E encerrou a homenagem com um haikai (pequena
poesia métrica japonesa), confessamente plagiado da internet:
70 anos
Como lidar
com a última gota?
Desejo ao
ministro Massami
Boa sorte nos
novos caminhos
E, plagiando
a ele próprio
Desejando uma
vida longa e saudável
Era assim,
“desejando a todos uma vida longa e saudável”, que Massami Uyeda encerrava
todas as sessões que presidia.
Fonte: STJ
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