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terça-feira, 2 de julho de 2019

Pesquisa sobre o amor (J. Herculano Pires)


"As energias vitais preponderam nele sobre as energias intelectuais. Ele pensa, aspira e sonha, mas principalmente se acomoda à rotina, da qual somente se afasta quando forçado. Essa disposição acomodaticia cresce e engorda nas relações familiais, sociais e nos compromissos profissionais. Daí a necessidade de períodos duros, de situações problemáticas, de sofrimento e dor para arranca-lo da rotina." (9)
"Por baixo da inexperiência infantil fermentam os resíduos de um passado desconhecido..." (10)
"Não há guerra gratuita, batalha sem objetivo. Cada ser lançado na existência é, ao mesmo tempo, um vetor energético e uma busca emocional de realização humana." (11)
"Basta se acomodarem na existência para se firmarem nela..." (11)
" ... Cada destruição exterior corresponderá a uma conquista interior." (11)
" A existência é o mundo do existente que é ao mesmo tempo a rota da sua projeção ao alvo que ele terá de fatalmente atingir: o amor." (11)
"...conquistar a si mesmo e descobrir em si, no seu pronto interior, as jazidas auríferas das quais extrairá o tesouro de suas potencialidades convertidas na atualização de si mesmo." (11)
" O homem é o ser de si mesmo, a alma, a personalidade, o eu oculto que só se revela no processo de relação." (12)
" A natureza dramática do homem (...) decorre das suas contradições internas da sua posição existencial." (12)
"... mors janua vitae, ou seja: a morte é a porta da vida." (13)
"O homem se completa na morte." (13 - Heideggard)
"O Universo é uma estrutura de forças que se sustenda e desenvolve no jogo incessante dos seus poderes em equilíbrio perpétuo." (14)
" Mesmo assim, os pensadores mais penetrantes e coerentes não podem dispensar a presença de uma inteligência atuante na ordenação e manutenção da realidade." (14)
" Se quisermos compreender Amor Divino temos de partir do Amor Humano." (19)
" As depravações da afetividade, que em geral resultam em depravações sexuais, têm a mesma origem e o mesmo destino." (21)
" O Amor é força criadora e não destruidora, cria, ampara, perdôa, nunca mata." (22)
" Em qualquer plano da realidade o normal se define pela maioria. As formas ou características aberrantes estão fora da norma, que não é ditada pelo sistema social, mas pela natureza da espécie." (22)
" Platão, no Banquete, faz Sócrates definir o Amor com um vazio que procura preencher-se." (23)
"A busca do outro é o preenchimento do vazio, que dá ao homem a capacidade de reprodução da espécie." (24)
" A solidão do Ser começa antes da sua manifestação, porque é uma condição da sua projeção na existência." (25)
" É o Ser na sua solidão, que anseia pelo outro e de repente se projeta na existência." (26)
"... constância da intuição humana do amor como transcendência." (26)
" Porque há também o conflito dos interesses imediatistas do Ser com os desígnios ideais do Ser Supremo, que visam ao futuro. O par pode não estar presente nesta existência ou pode estar ligado, por compromissos anteriores, a outro Ser. Daí o desencontro que marca a maioria das vidas na terra. Os seres em desencontro continuam solitários. É necessário que tenham aprimorada sensibilidade afetiva para não transformarem sua união em desastre familiar. A necessidade de comunicação se acentua. A solidão aumenta de lado a lado. Se não houver o soccorro dos filhos o rompimento imediato.
Isso nos mostra o aspecto fundamental do Amor, o que o define como a busca do outro. Se não há compromissos cruzados no itinerário existencial do Ser e ele encontra facilmente o outro, a existência do par é tão feliz quanto o pode ser na Terra. É o amor inalterável que une os dois Seres como se fosse um só, vencendo todas as dificuldades e contratempos da existência, ignorando o fastio da rotina. Nenhum outro pode substituir qualquer dos dois e se um morrer o outro continuará fiel a sua memória até o fim da vida. Vemos então que a essência do amor é a afinidade, a sintonia perfeita dos Seres que atingiram o mesmo grau de evolução espiritual." (29)
" A função principal das Religiões, se elas não se abastardassem nos caminhos do mundo, sob a ação da imaturidade humana, seria realmente a de nos religar a Deus, do qual nos desligamos pelo desenvolvimento da razão, envaidecidos com a nossa capacidade de julgar." (31)
"As forças determinantes da evolução humana pertencem ao espírito, pois o homem é espírito e não carne." (38)
"... o aviltamento do Amor pela civilização do lucro e do gozo levou à falência total o Humanismo da Renascença." (38)
" A Humanidade só é um fenômeno excepcional na Terra quando vista em suas características espirituais." (39)
" O misticismo-erótico foi a peste espiritual da Idade Média e continua ainda hoje a fazer as suas vítimas. Mistica e erotismo formam um terrível complexo de terror, prazer, angústia e culpa, com todas as variações emotivas e desequilíbrios sensoriais da personalidade psico-neurótica. Torna-se uma espécie de toxico-alucinógeno de um extremo poder de viciação." (44)
"O amor virou desejo e loucura retornando ao marco-zero do egocentrismo calculado em bases estatísticas. Os futurologia, os profetas profissionais armados de computadores eletrônicos, prevêem prosperidade para os ricos e miséria maior para os pobres, que são lixo incômodo do mundo. Os anticoncepcionais e a cirugia esterilizadora garantem o gozo eterno e sem compromissos. E enquanto isso as mentes desvairam no aumento ameaçador dos distúrbios psiconeuróticos. Enquanto ferve o caldeirão da loucura, as grandes potências, ciosas de seus segredos e seu poderio, preparam em silêncio alice dançam atómica do planeta." (46)
"Deus não cria almas aos pares. Elas brotam do chão, como as flores, na misteriosa dialética da Natureza, e a afinidade que as une vem de longo desenvolvimento nas vidal sucessívas, não raro com penosos intervalos de desencontro, nos quais a solidão de ambas é marcada pela aspiração do posslvel reencontro." (52)
"... Ingenieros demonstrou que a simulação na luta pella vida pode transformar gerações inteiras em multidões de farsantes. Se desejamos um mundo melhor temos de examinar as reivindicações dos jovens e indicações dos jovens e por modos persuasivos e esclarecedores. Educar é orientar com amor e paciência, ensinar com exemplos de tolerância e compreensão. A natureza humana é avessa aos constrangimentos brutais e a eles reage de várias maneiras. A mais perigosa é justamente a que provoca o despertar do instinto de simulação." (72)
"Duas metades que se encontram sentem a atração mútua, sensorial e afetiva, descobrem sua afinidade e isso as empolga. Se a afinidade for apenas superficial e portanto sensorial, logo se desfará. Mas se tiver raízes profundas na afetividade continuará a crescer com o tempo." (74)
"O Ódio é água parada em que fermentam os ressentimentos, as frustrações, o ciúme e a inveja, o amor próprio ferido, a impotência humilhada, os impulsos de vingança, a traição, a arrogância e o 
sadismo. As trevas da maldade escondem esse charco no coração que se rebela contra a consciência, transformando o Ser Humano numa fera sanguinária, fazendo-o regredir aos instintos ancestrais, a necessidades orgânicas que ele não mais possui, dos primórdios da vida selvagem." (93)
"Mas, como já vimos anteriormente, o Amor, e só ele, pode nos pôr o real nas mãos, sem que o possamos modelar. Ele se molda por si mesmo e, quando quer, nos integra ao real." (95-96)
"Quem ama, quer, quem quer, deseja. O amor desinteressado é uma lenda piedosa. O interesse nasce da essência do ser. A sua projeção no plano existencial é determinada pelo intelnesse da comunicação. Esse interesse básico permanece e o domina em toda a sua existência. Comunicação é relação e nesta surgem os atrativos das coisas, das 
situações e dos seres. Os atrativos formais, situacionais, psicológicos e culturais provocam e estimulam o interesse recíproco entre os pares. O interesse inicial desencadeia a seqüência de interesses que os levará ao despertar do amor, da querência e do desejo. Querer é desejar sem apego, no plano superficial das necessidades imediatistas. Desejar é querer com anseio, sob a ação dos instintos, das forças inconscientes do existente, o ser entregue às exigências vitais do condicionamento humano. 
Dessas especificações decorrem os vários tipos do amor, desde o instintivo animalesco até o espiritual e sublime, que empenha no amor a totalidade do 
ser. A paixão é o delírio do ser premido pela ação multipla e confusa de todos esses vetores em explosão psico-biologica." (117-118)
"Definir essas várias manifestações do amor é uma necessidade da disciplinação do comportamento e da conduta. O comportamento disciplinado racionaliza a conduta e previne os enganos fatais do amor, evitando o delírio da paixão sem 
asfixiar ou atenuar as expansões naturais do amor. A pesquisa sobre o amor não pretende aniquila-lo nem conforma-lo a modelos e padrões, mas apenas 
tornar os amantes conscientes, pelo conhecimento do terreno em que pisam, das ilusões e excessos a que podem ser arrastados. Em todas as situações 
existenciais o conhecimento da realidade é índispensável ao êxito." (118)
"As correntes da energia amorosa, participam ao mesmo tempo das aspirações espirituais e dos impulsos vitais. Só o conhecimento racional dessa condição do amor pode nos dar o domínio do espírito sobre ele através da razão, que 
é o espírito em atividade na existência. Não há força de vontade que possa dominar o amor, pois o amor joga com a vontade desde a sua manifestação 
inicial, sem dar tempo à reflexão, que é logo posta a serviço e em função do interesse do amor." (118)
"Os velhos não perdem o direito de amar, pois a lei do amor é eterna e insubmissa às ordenações temporais. Mas as próprias condições biológicas da velhice mostram que esse direito deve ser exercido num sentido mais amplo e espiritual. O desgaste das energias físicas anuncia o fim do ciclo existencial e a libertação do 
espírito para dimensões mais amplas da realidade. É nesse momento que toda a experiência existencial dos velhos fracassa ante o instinto de conservação e o fluxo poderoso das energias da afetividade. Quando os velhos resistem ao desgaste físico e mantêm a juventude do espírito - pois esse não envelhece, deixando-se apenas influenciar pela veIhice do corpo - a ilusão de uma condição vital ainda equilibrada pode leva-los a tentar aventuras amorosas de consequências perigosas. A pesquisa sobre o amor revela que a própria virilidade física pode manter-se até a mais alta idade, tanto no homem como na mulher. Mas demonstra também que as condições favoráveis da velhice conservada não passam, em geral, de um curto período existencial, e mesmo quando se prolonga mais do que se pode esperar, é sempre seguido de conseqüências que embaraçam ou perturbam as relações do casal em desnível crescente, criando-lhes problemas insolúveis. 
Ao amor da velhice é oferecida a opção da família, das novas gerações que brotaram do tronco agora envelhecido, mas ainda firme e erecto, com suas raízes agarradas ao chão e seus ramos abertos ao céu." (119-120) 
"Não se trata de uma conformação forçada, mas de um amortecer natural das trepidações da existência, na fase de chegada ao destino, quando o navio diminui a contagem dos nós à vista da terra próxima, ou quando o avião abranda a fúria das hélices para ensaiar o pouso tranqüilo e seguro na pista certa e precisa do aeroporto. Todas as batalhas foram vencidas, para aquele que soube lutar com plena consciência dos seus objetivos. Por isso o espírito se quieta no corpo envelhecido e o homem sorri com leve ironia, toda de autopiedade, lembrando as refregas ardorosas em que se atirara coroado de louros que murcharam na esteira do tempo. Se soube aprender as lições existenciais, seu coração se abre para os filhos e os netos, cercado 
de carinho e respeito. É então que as aves se acolhem aos ramos das suas experiências, como no soneto de Bilac. Trocar essa serenidade em que o passado ecoa surdamente, à maneira do marulhar , 
das ondas numa concha vazia, pelas inquietações de uma reconstrução impossível é expor-se desavisado aos fracassos e ao ridículo." (120-121)
"É a hora em que o ser descobre a sua ligação a sua união profunda com o 
secreta com o Cosmos, a sua união profunda com o Todo. O espírito se de 
desliga lentamente dos particularismos do planeta para vislumbrar a imensidade que o espera, a eternidade dinâmica que o 
atrai. As asas tênues do crepúsculo convertem-se em asas estelares das almas viajoras de Plotino. Insistir no apego à vida terrena, ao plano existencial, é lutar contra a realidade universal inelutável. 
Não são apenas os velhos que morrem, mas na velhice a morte é o prêmio da vida, pois esta se desdobra em novas e surpreendentes perspectivas nos ritmos do envelhecer. A maior e a mais brilhante dessas perspectivas é a do Amor, que 
se amplia em todas as direções e eleva-se nas hipóteses do Inefável, onde as mãos de Beatriz nos mostram as revoadas dantescas de asas angélicas. Repudiar essa oferta divina para tentar readaptações mesquinhas e inviáveis no mundo dos homens é negar-se a si mesmo. O ser que se entrega confiante a esse arrebatamento não teme envelhecer. Descobre por si mesmo a harmonia perfeita dos ritmos da vida, na sucessão gradual das fases existenciais, em que a velocidade interior dos impulsos vitais 
acompanha a invaríabilidade dos ritmos exteriores, numa conjugação inexplicável, determinada por um esquema subtil de leis desconhecidas." (122)
"Os que não venceram na projeção existencial, identificando-se com as etapas da existência, apegando-se às formas perecíveis da rotina vivencial, sem descobrir o sentido da descoberta filosófica de que a existência é subjetividade pura, permanecem prisioneiros de si mesmos, amarrados a ídeo-cristalizações do passado, apegados às hipóstases terrenas e às aparências de uma velhice estacionaria e por isso mesmo irreal, que só neles existe." (123)
"A chama tranqüila, acesa na penumbra do templo, não tem os lalmpejos de outrora, mas não se apaga. É o fogo de coivara das queimadas sertanejas, que dorme nas brasas entre as cinzas e pode reavivar ao sopro dos ventos. Basta o desencadear de acontecimentos inesperados, com lufadas que atinjam a sua sensibilidade, para que 
o amor dos velhos se erga novamente em labaredas de abnegação e sacrifício." (123)
"A maioria sabe, e sabe de maneira ineludível, que.a responsabilidade individual é intransferível, pois cada 
um de nós é um vetor carregado de explosivos que tem a hora certa e exata para a explosão de suas cargas." (133) 
"Deus, consciência cósmica de que nascem e da qual se projetam em 
todas as direções as leis naturais, não castiga este ou aquele em particular, nem faz concessões especiais a ninguém. A Justiça Suprema decorre das leis cósmicas e estas estão inscritas em nossa consciência. Qualquer violação das leis é imediatamente punida por suas conseqüências. A liberdade humana é condicionada como a do criminoso beneficiado por sursi. A situação crítica da Terra em nossos dias não foi determinada por um veredicto de Deus ou de qualquer potência inteligente do Cosmos, mas pelo mecanismo e a dinâmica das leis naturais, que tanto controlam a Natureza como regem os princípios orientadores da nossa consciência." (134)
"A Hora do Juízo não soa no alto, entre as nuvens ou as estrelas, mas aqui mesmo, na Terra, em nossa subjetividade existencial." (134)
"Razão e afetividade se conjugam na experiência e o amor se manifesta arran- 
cando o homem da animalidade." (139)
"A civilização é a sofisticação da vida. A riqueza acumulada estabelece as divisões de classes, de estamentos e castas. O fluxo livre do amor transforma-se progressivamente num rio crivado de barragens. As posses e as riquezas criam dificuldades nas relações humanas. Os que não possuem terras disputam pedaços das terras dos outros. As lutas pela proximidade dos rios, riachos e fontes dão início às escaramuças e matanças das guerras futuras. O sentimento de posse leva o homem a transformar a mulher em propriedade. O sacerdócio se organiza e é forçado a entrar no mercado das trocas. As seitas entram em disputa e cada qual necessita de recursos e posses para manter os quadros sacerdotais à altura da demanda de ritos e sacramentos." (141)
"Criam-se poderosos exércitos para a defesa do Estado contra as ambições de outros Estados. A simples disputa de terras junto às águas transforma-se nas guerras de conquista de territórios inteiros, O amor se afoga no mar de convenções e interesses em contradição permanente. As linhagens familiais resguardam-se nos títulos de nobreza. E quanto mais nobre 
a linhagem, tanto mais escravizadas as jovens casadouras, prisioneiras de seus palácios de ouro e pedrarias, embaladas, como os produtos da indústria futura, em complicadas vestimentas de esplendor celeste, mas recheadas de angústia e desespero." (142)
"O amor se transformou em cobiça e o objeto de todas as cobiças é precisamente o que era o objeto do amor." (142)
"A vitória do Amor será a vitória do homem e da mulher, de toda a espécie humana aviltada por si mesma. Será também a vitória do Planeta, poluído até as entranhas pela ambição desmedida." (144)






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