Jornalista e autor do livro "Máfia no Futebol"
Atualizado em 5 de
fevereiro, 2013 - 18:47 (Brasília)
Nós todos ouvimos as notícias da chocante entrevista
coletiva da Europol (a polícia da União Europeia), na segunda-feira, na qual
foram revelados detalhes de centenas de partidas de futebol que tiveram seus
resultados manipulados.
Não foi nenhuma surpresa. No entanto, toda essa agitação
gera um importante questionamento: por que as revelações estão sendo feitas
agora?
O que está acontecendo no futebol internacional – na
verdade, em muitos outros esportes – para que, de uma hora para outra, nós
estejamos ouvindo essa conversa sobre manipulação de resultados?
Manipulação e corrupção no esporte têm uma longa
história. Se você fosse ao local das antigas Olimpíadas, na Grécia, você
encontraria, fora das ruínas do estádio, destroços de estátuas de Deuses.
Essas estátuas eram pagas por atletas e técnicos que eram
flagrados trapaceando.
A corrupção nos esportes remonta a pelo menos 2,8 mil
anos, e sempre haverá algum tipo de corrupção enquanto houver esportes de
competição. É simplesmente parte da natureza humana.
No entanto, a nossa geração está diante de algo
inteiramente novo. É como se alguém tivesse injetado esteroides na antiga
manipulação de resultados.
É um fenômeno completamente moderno que, se não for
combatido devidamente, vai destruir muitos esportes.
Essa nova forma de corrupção irá, como uma tsunami,
varrer todas as outras questões e deixar alguns esportes mortos e destruídos.
A chave para a nova forma de manipulação é a
globalização. Nos últimos dez anos, o mercado de apostas em esportes passou por
profundas transformações, assim como as indústrias de música e de turismo.
Agora, os apostadores em qualquer lugar do mundo podem
apostar em praticamente qualquer partida de qualquer esporte profissional em
praticamente qualquer país.
Isso significa que o mercado de apostas da Ásia, que é
muito maior do que o europeu ou o americano, têm grandes somas de dinheiro para
apostar em jogos pequenos.
Mercado bilionário
Na coletiva de imprensa, a Europol disse que a maior
quantia apostada em um dos jogos manipulados foi de 121 mil libras (cerca de R$
377 mil).
Isso não é nada. O mercado de apostas asiático é medido
em bilhões de dólares. Pessoas que atuam dentro desse mercado, manipulando
resultados, destruíram boa parte do mundo esportivo nesse continente, e agora
estão voltando sua atenção para outros países.
Há entre 20 e 30 dessas pessoas que viajam o mundo
manipulando eventos esportivos. Eles formam alianças com criminosos locais, que
por sua vez conseguem formar conexões com jogadores, juízes e cartolas
corruptos.
Os criminosos asiáticos conseguem manipular o mercado de
apostas ao fazer suas apostas de maneira que ninguém suspeite de que os jogos
são manipulados. Desta maneira, há uma rede de corrupção que se espalha quase
que literalmente pelo mundo.
Essas pessoas operam na Ásia, África, América Latina, América
do Norte e, principalmente, Europa.
Há agora uma série de ligas gravemente afetadas que se
movem lentamente em direção ao Ocidente, atravessando a Europa. Países como
Bulgária, Polônia ou Hungria foram fortemente afetados. Poucos torcedores de
futebol nesses países veem seu esporte com algum grau de credibilidade.
Mas este não é um fenômeno exclusivo de países que
antigamente adotavam o comunismo.
Turquia, Grécia, Itália, Alemanha, Bélgica, Suíça,
Áustria e Finlândia já tiveram escândalos envolvendo a manipulação de partidas.
No último verão europeu, a Noruega enfrentou o problema pela primeira vez,
quando houve partidas suspeitas em sua terceira divisão.
Uma liga não-corrupta é como o mito do navio que não
afunda. Não existe. Sempre haverá, como os gregos antigos sabiam, algum risco
de corrupção.
Janela de oportunidade
As ligas de futebol têm uma pequena janela de
oportunidade para se organizarem para lutar contra essa nova forma de
corrupção.
Os cartolas devem começar a implementar novas medidas
para evitar o problema. Uma medida seria a adoção de um programa preventivo,
adequado e com recursos, visando jogadores e técnicos.
Apostar é parte da cultura de muitos jovens jogadores e
alguns deles arriscam, e perdem, uma enorme parcela de seus salários.
As associações de futebol precisam oferecer
aconselhamento sobre o problema das apostas e estabelecer uma cláusula nos
contratos dos jogadores que permita a eles buscar ajuda para comportamentos
compulsivos sem que isso prejudique seu sucesso profissional.
Eles precisam acrescentar a isso uma linha de telefone
para que se possa denunciar de forma anônima tentativas de corrupção.
Se as associações de futebol implementarem essas
reformas, elas terão uma boa chance de combater a forma moderna de manipulação
de resultados. Caso contrário, o futebol poderá ser atingido por mais
escândalos.
Fonte:BBC Brasil
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