Os gregos foram mais espertos. Usaram palavras diferentes, eros e agape, para fazer uma distinção entre essas duas formas bem diferentes de experimentar e que chamamos de "amor". Eros, claro, refere-se ao amor apaixonado, enquanto que agape descreve o relacionamento estável e compromissado, livre de paixão, que existe entre duas pessoas que se importam bastante um com o outro.
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Eros, o amor apaixonado, é o que a mulher que ama demais normalmente sente pelo homem impossível. Na verdade, é por ele ser impossível que existe tanta paixão. Para que a paixão exista, é necessário haver conflitos e obstáculos contínuos para serem superados, um anseio por mais do que está disponível. Paixão significa literalmente sofrimento, e, freqüentemente, quanto maior o sofrimento, mais intensa é a paixão. A intensidade emocionante de um caso de amor apaixonado não pode ser atingida pelo conforto mais doce de um relacionamento estável e compromissado, de forma que, se fosse para ela receber finalmente do objeto de sua paixão o que deseja tão ardentemente, o sofrimento cessaria e a paixão logo se acabaria. Então talvez ela dissesse a si mesma que desistiria do amor, porque a dor doce-amarga não existiria mais
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A sociedade em que vivemos e os meios de comunicação sempre presentes que rodeiam e saturam nossa consciência confundem constantemente os dois tipos de amor. Prometem-nos, de diversas formas, que um relacionamento apaixonado (eros) nos trará contentamento e realização (agape). 59
— Quando bebia, ia para cama com muitas mulheres, e muitas vezes tinha basicamente a mesma experiência. Desde que fiquei sóbrio só fui para a cama com minha esposa, mas cada vez que ficávamos juntos era uma experiência nova. 60
Agape: O amor verdadeiro é o companheirismo com o qual duas pessoas que se gostam estão profundamente compromissadas. Essas pessoas possuem muitos valores, interesses e objetivos básicos em comum, e toleram saudavelmente suas diferenças individuais. A profundidade do amor é medida pela confiança e respeito mútuos. O relacionamento permite a cada um ser mais inteiramente expressivo, criativo e produtivo no mundo. Há uma grande alegria nas experiências compartilhadas, tanto do passado quanto do futuro, e também naquelas que são antecipadas. Cada um vê o outro como seu amigo mais querido e mais estimado. Outra medida da profundidade do amor é a predisposição em olhar para si mesmo de forma honesta para promover o crescimento do relacionamento e o aumento da intimidade. Estão associados ao amor verdadeiro os sentimentos de serenidade, segurança, devoção, compreensão, companheirismo, apoio mútuo e conforto.
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A emoção e excitação que não vêm do estimular e ser estimulado, mas do conhecer e ser conhecido, são muito raras. A maioria de nós, em relacionamentos compromissados e estáveis, opta por previsibilidade, conforto e companheirismo porque tememos explorar os mistérios que possuímos juntos como homem e mulher, tememos expor nossos eus mais profundos. Ainda assim, com medo do desconhecido em nós e entre nós, ignoramos e evitamos o mesmo presente que o compromisso põe a nosso alcance: a intimidade verdadeira.
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Para as mulheres que amam demais, o desenvolvimento da intimidade verdadeira com um parceiro só acontecerá após ã recuperação. 62
o-alcoólatra. A palavra refere-se simplesmente a uma pessoa que desenvolveu uma forma doentia de relacionar-se com outras, como resultado de envolver-se estreitamente com alguém que apresenta o vício do álcool. Se o alcoólatra foi um dos pais, o cônjuge, um filho ou um amigo, o relacionamento normalmente faz com que certos sentimentos e comportamentos desenvolvam-se no co-alcoólatra: pouca auto-estima, uma necessidade de ser necessária, uma vontade forte de mudar e controlar as pessoas, e uma predisposição ao sofrimento. 63
— Sempre achei minha mãe perfeita, talvez porque precisasse loucamente que ela fosse. Transformei-a na mãe que eu queria e depois disse a mim mesma que seria exatamente como ela. Em que fantasia eu vivi! 63
Quando eu era bem novinha, acredito que ela realmente cuidou de mim, mas, após algum tempo, mudamos os papéis e eu passei a cuidar dela. — Suspirou e prosseguiu: — Meu pai era ter- rível a maior parte do tempo.64
Minha mãe e eu éramos muito próximas, mas muito cedo, tão cedo que nem consigo me lembrar de quando aconteceu, comecei a agir como se eu fosse a mãe e ela fosse a criança. Preocupava-me com ela e tentava protegê-la do meu pai. Eu fazia as mínimas coisas para confortá-la. Esforçava-me bas- tante para fazê-la feliz, porque ela era tudo que eu tinha. Eu sabia que ela importava-se comigo porque sempre me dizia para sentar a seu lado, e ficávamos sentadas por um bom tempo, aconchegadas e sem conversar exatamente, só grudadas uma na outra. Agora, quando olho para o passado, percebo que sempre tive medo dela, sempre esperava que algo horrível acontecesse, algo que eu só seria capaz de evitar se fosse cuidadosa o suficiente. É uma maneira árdua de se viver quando se está crescendo, mas nunca conheci maneira diferente. E funcionou como devia. Na época em que eu era adolescente, tinha grandes crises de depressão. 64-65
— O que mais me amedrontava sobre a depressão é que eu não podia cuidar muito bem de minha mãe quando estava no meio de uma delas. Como você vê, eu era muito zelosa. . . e tinha muito medo de abandonála, mesmo por alguns instantes. E a única forma que a abandonaria seria prendendo-me a outra pessoa. 65
Quero dizer, ele falava que precisava de mim, e tudo em mim reagia ao fato de ser necessária. 65
— Mas nada adiantou. Agora eu percebo que estava lidando com duas forças incrivelmente poderosas: o casamento deteriorante de meus pais e o alcoolismo progressivo de minha mãe. Eu não tinha chance de consertá-los, mas isso não me fazia parar de tentar, e parar de culpar-me quando fracassava. 65
Quando Lisa percebeu que a mãe estava se modificando, recuperando-se do alcoolismo sem sua ajuda, reagiu ao fato de não ser mais necessária. Logo Lisa estabeleceu um novo relacionamento profundo com outro indivíduo viciado. 71
Lisa precisava de um relacionamento com um viciado ativo para se sentir "normal". 72
Lisa estava certa de que ele mudaria, de que ele passaria a valorizar o que tinham juntos e a preservar aquilo. Ela estava certa de que o faria amá-la como ela o amava. 73
A verdade em sua história é que o fracasso por não ganhar o amor através de seus esforços só a fazia esforçar-se mais. 74
Existe na maioria dos filhos adultos de alcoólatras, e também em descendentes de outros tipos de lares desajustados, uma fascinação por pessoas que atraem problema, e vício à excitação, principalmente a excitação negativa. Se o drama e o caos sempre estiveram presentes em nossa vida, e se, como é freqüentemente o caso, fomos forçados a negar muitos de nossos sentimentos enquanto estávamos crescendo, iremos querer com freqüência que acontecimentos dramáticos engendrem qualquer sentimento. Assim, precisamos da excitação da incerteza, da dor, do desapontamento e do conflito apenas para nos sentir vivos. 75
Se o rela- cionamento que tivemos com nossos pais foi essencialmente de atenção, com expressões apropriadas da afeição, interesse e aprovação quando adultos tendemos a nos sentir confortáveis com pessoas que produzem sentimentos parecidos de segurança, calor humano e autoconsideração positiva. Além disso, tendemos a evitar pessoas que nos fazem sentir menos positivas a nosso respeito, através de suas críticas e manipulações. O comportamento deles é repugnado por nós. Entretanto, se nossos pais relacionaram-se conosco de forma hostil, crítica, cruel, manipuladora, dominadora, superdependente, ou de outras formas inapropriadas, isso é o que parecerá "correto" para nós quando nos encontrarmos com alguém que expresse, talvez bem sutilmente, sinais das mesmas atitudes e comportamentos. Sentir-nos-emos à vontade com pessoas com quem nossos antigos padrões doentios de relacionamento são recriados, e talvez facilmente embaraçados e mal com pessoas mais gentis, mais amáveis ou saudáveis. Ou ainda, devido ao fato de faltar o desafio de tentarmos mudar alguém para tornarmos essa pessoa feliz ou para obtermos a afeição e aprovação sonegadas, poderemos simplesmente nos sentir aborrecidos com pessoas mais saudáveis. O aborrecimento geralmente abrange sentimentos brandos e intensos de embaraço, que as mulheres que amam demais tendem a sentir quando estão fora do papel familiar de ajudar, de ter esperança e de prestar mais atenção no bem-estar de outra pessoa do que em seu próprio bem-estar. 74-75
- - Não estou namorando ninguém agora. Eu sei que ainda estou doente demais para ter um relacionamento saudável com um homem. Apenas sairia por aí e acharia um outro Gary. De forma que estou me planejando pela primeira vez, ao invés de tentar mudar outra pessoa. 76
vicioso displicentemente ao comparar a situação das duas mulheres. A mãe de Lisa tornara-se dependente de uma droga, o álcool, para evitar passar pela angustia e desespero intensos que sua situação criava. Quanto mais usava o álcool para evitar sentir a dor, mais a droga operava em seu sistema nervoso, produzindo os mesmos sentimentos qu» tentava evitar. A droga aumentava definitivamente a dor, ao invés de diminuí-la. Então, claro, ela bebia ainda mais. Assim, ela caiu no vicio. 76
Quando atingem a adolescência, muitas mulheres jovens como Lisa, mantêm a depressão presa dentro de si desenvolvendo o estilo de amar demais. Conforme empenham-se em relacionamentos caóticos, porém estimulantes, com homens doentes ficam excitadas demais para cair na depressão que tarda apenas no nível da consciência. 76
Dessa forma, um parceiro cruel, indiferente, desonesto ou difícil torna-se, para essas mulheres, equivalente a uma droga, criando um meio de evitar seus próprios sentimentos, como o álcool e outras substâncias que alteram o comportamento, criam para os viciados uma válvula de escape temporária, da qual não se atrevem a ficar longe. E, como acontece com álcool e drogas, os relacionamentos incontroláveis que proporcionam a distração necessária também possuem sua própria carga de dor. Fazendo um paralelo com a doença progressiva do alcoolismo, a dependência de relacionamento aumenta o vício. Estar sem relacionamento, ou seja, estar só consigo mesma, pode ser pior que estar no grande sofrimento que o relacionamento provoca, porque estar sozinha significa sentir a combinação da grande dor do passado com a dor do presente. 77
Os dois vícios são paralelos nesse sentido, e igualmente difíceis de superar. O vício da mulher com relação ao parceiro, ou com relação a uma série de parceiros inadequados, tem sua gênese na variedade de problemas de família.77
A recuperação de relacionamentos viciados envolve conseguir ajuda de um grupo de apoio apropriado, para se quebrar o círculo do vício, e para se aprender a buscar sentimentos de auto-avaliação e bem-estar de outras fontes que não um homem, para sustentar esses sentimentos. A chave está em aprender a viver uma vida saudável, satisfatória e serena, sem depender de outra pessoa para ser feliz. 77
Infelizmente, para aqueles envolvidos em relacionamentos viciados e aqueles presos na teia do vício químico, a convicção de que podem lidar com o problema sozinhos geralmente evita que peçam ajuda e, assim, impede a possibilidade de recuperação. 77
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