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sábado, 31 de maio de 2014
sexta-feira, 30 de maio de 2014
A relevância do debate para a quebra da indolência na reunião do TJC/Comunidade e Direitos Sociais
O encontro do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH/Unichristus
do dia 27 de maio trouxe o debate sobre os questionamentos apresentados por
Henrique Rattner, no prefácio do livro ‘Desenvolvimento, Ambiente e Saúde:
implicações de (des) localização industrial’, de Raquel Maia Rigotto, bem como
as reflexões de David Harvey na obra ‘O Enigma do Capital’.
O objetivo central era contextualizar o papel dos Direitos
Humanos, da sociedade e do Projeto ‘Comunidade e Direitos Sociais’ junto aos
alunos das escolas públicas (alvo do TJC no Ceará), aos acadêmicos do curso de
Direito e à comunidade em geral, trazendo uma visão questionadora da realidade,
entendida de forma sistêmica, em busca da realização dos direitos das pessoas
em busca da efetivação da dignidade humana e da emancipação social.
Assim, discorreu-se sobre desenvolvimento econômico, social
e qualidade de vida, dentre outras abordagens com ênfase nas contradições apresentadas no sistema
capitalista e seus meios hegemônicos de manutenção do status quo, em detrimento
dos interesses da maioria da população.
Estatisticamente há um efetivo crescimento econômico, no
entanto, tal proposta de ‘desenvolvimento/progresso’ financeiro anda em
desalinho com a dignidade humana e a participação social, de modo que continua acompanhado
de uma concentração de renda nas classes mais abastadas, aumentando as desigualdades
sociais, como destacado por Rigotto:
[...] a despeito dos avanços, as esperanças que a humanidade
depositou na modernidade e no desenvolvimento foram frustradas, para a grande
maioria: em 2000, 1,1 bilhão de pessoas ainda vivem em pobreza absoluta no
mundo; 800 milhões de pessoas são desnutridas; em Zâmbia, a probabilidade de
nascer e não viver até os 40 anos é de 53,9%; no Brasil, a renda per capta dos 10% mais ricos da
população é 32 vezes a dos 40% mais pobres (UM, 2005; PNUD, 2007). Isto para
mencionar brevemente apenas alguns dos problemas que ainda enfrentamos na aurora
do século XXI” [i]
Outro item debatido foi o vilipêndio aos direitos humanos em
casos infelizmente reiterados ligados às más condições no meio ambiente de
trabalho, com dados assustadores, como se pode notar:
De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), ocorrem anualmente 270
milhões de acidentes de trabalho em todo o mundo. Aproximadamente 2,2 milhões deles resultam em mortes.
No Brasil,
segundo o relatório, são 1,3 milhão de
casos, que têm como principais causas o descumprimento de normas básicas de
proteção aos trabalhadores e más condições nos ambientes e processos de
trabalho.
Segundo o estudo da OIT realizado em 2012, o Brasil ocupa hoje o 4º lugar no mundo em
relação ao número de mortes, com 2.503 óbitos. O país perde apenas para
China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090).
Cerca de 700 mil
casos de acidentes de trabalho são registrados em média no Brasil todos os
anos, sem contar os casos não notificados oficialmente, de acordo com o
Ministério da Previdência. O País gasta cerca de R$ 70 bilhões nesse tipo
de acidente anualmente. Entre as causas desses acidentes estão maquinário velho
e desprotegido, tecnologia ultrapassada, mobiliário inadequado, ritmo acelerado,
assédio moral, cobrança exagerada e desrespeito a diversos direitos. Os
acidentes mais frequentes são os que causam fraturas, luxações, amputações e
outros ferimentos. Muitos causam a morte do trabalhador. A atualização
tecnológica constante nas fábricas e a adoção de medidas eficazes de segurança
resolveriam grande parte deles.[ii]
A situação se agrava quando se trata em trabalho em
condições análogas à escravidão praticada e permitida pelos núcleos
hegemônicos, na atualidade, como se pode notar, em um dos diversos casos
conhecidos (Magazine Luiza, C&A, dentre outras):
"A Lojas Americanas tem o prazo de dois meses para
identificar os fornecedores que não atendam às exigências do MPT e
descredenciá-los, assim como efetuar o cancelamento dos pedidos já
realizados", além de pagar uma multa de R$ 250 mil. Esta é a decisão do
Ministério Público do Trabalho (MPT), prevista no Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC), divulgada em nota na última quarta-feira (02).
A decisão é efeito da descoberta de cinco bolivianos
flagrados em condições precárias em uma oficina de costura fornecedora da
empresa, em Americana (SP), em janeiro deste ano. Quatro crianças também foram
encontradas no local no dia da fiscalização.[iii]
Os desrespeitos nas relações de trabalho são aterrorizantes,
de modo que o Brasil está em 94º entre os 162 países avaliados
proporcionalmente em relação à população com relação à existência de trabalho
escravo:
O país, de acordo com o relatório, tem de 170 mil a 217 mil pessoas em situação análoga à escravidão.
No ranking das Américas, o Brasil está em 13º. No mundo, o país em que há,
proporcionalmente, a maior prevalência de casos é a Mauritânia, na Costa Oeste
da África; seguida pelo Haiti e Paquistão. Em termos quantitativos, os que mais
registram casos são a Índia e a China, com, pelo menos, 13,3 milhões e 2,8
milhões de pessoas escravizadas respectivamente.[iv]
Em tempos em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
integrante do Poder estatal, chega ao cúmulo de editar Resolução com padrões a
serem seguidos por todos os magistrados do Brasil, na Copa da FIFA de 2014, na
qual permite o trabalho voluntário como gandulas a crianças de 12 anos, contrariando
a Constituição que somente possibilita o trabalho na condição de aprendiz a
partir dos 14 nos, reafirmam-se as contradições do sistema em detrimento do
ânimo da maioria da população, como se pode notar dos relatórios da Organização
Internacional do Trabalho:
A Organização
constatou recentemente a existência de
168 milhões de crianças entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil (11%
da população infantil), das quais 85 milhões envolvidas em trabalhos perigosos.[v]
Diante de tais dados, torna-se impossível negar a existência
questões de classe envolvidas no sistema, de modo que tal modelo de desenvolvimento
mitiga, inclusive, a soberania nacional, um dos princípios fundamentais da
Constituição Federal de 1988, surrada em favor dos interesses particulares de grandes
corporações e do capital financeiro, como pode ser constatado, também, na Lei
da Copa, que fere normas tributárias, trabalhistas, de proteção social e diversas
outras. Algo que tem afetado os jovens, como destacado por Rattner:
[...] Os jovens de hoje são cada vez mais perplexos,
inseguros e angustiados diante das incertezas reinantes quanto ao seu futuro.
Mesmo sem conhecer os mecanismos
complexos e complicados da economia, da tecnologia e da política, sentem que
não há mais lugar para eles, sentem que não há mais uma definição clara sobre o
para que de sua existência. Qual é o destino? Não somente o individual, mas de
todos aqueles com os quais convivemos e compartilhamos? Se todo o paradigma do
desenvolvimento se reduz à produção e ao consumo de massa, e se não há mais
objetivos relacionados com a plena realização dos seres humanos por meio da
cooperação, solidariedade, do convívio democrático pluralista, o que sobra para
um indivíduo aspirar, desejar, se empenhar e se esforçar?[vi]
As análises marcam o início da reflexão e se propõem a
quebrar a indolência e o comodismo fortalecidos pelo sistema, as quais devem
servir como norte na apresentação das teorias aos alunos, com intuito de formar
seres mais emancipados socialmente e multiplicadores/atores de uma cultura que vise
a otimização da dignidade das pessoas. Todos saíram instigados a se inquietar,
refletir e questionar rumo a atitudes, no mínimo, contra hegemônicas, nos
moldes propostos por Boaventura de Sousa Santos.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Marcha da Maconha tem participação recorde em Fortaleza
Quarta
edição do evento na Capital reuniu milhares de participantes, que seguiram na
tarde de ontem pela avenida Beira Mar. Legalização da droga no Uruguai foi um
dos assuntos em destaque durante o ato
Ô abre
alas que eu quero explanar, planta na mente pra legalizar”. Com cânticos,
cartazes e, principalmente, com mobilização, a quarta edição da Marcha da
Maconha em Fortaleza foi realizada ontem, com número recorde de participantes,
apesar dos diferentes balanços - para a organização do evento foram 6 mil
pessoas; já a Polícia Militar estimou 1,5 mil.
Comissão dá parecer favorável para demolição da Praça Portugal
Proposta
só foi aprovada após a base aliada "driblar" tentativa da oposição de
adiar a votação da matéria até o dia 2 de junho
Comissão
especial da Câmara Municipal que analisa projeto de demolição da Praça
Portugal, na Aldeota, acaba de aprovar parecer favorável à ação proposta pela
Prefeitura para a área. Com a medida, o projeto deve ir à votação plenária já
em 3 de junho, próxima terça-feira. Em reunião conturbada, a proposta só foi
aprovada após a base aliada “driblar” tentativa da oposição de adiar a votação
da matéria.
Após muito
bate-boca, os oposicionistas Guilherme Sampaio (PT) e João Alfredo (Psol)
deixaram a reunião da comissão sem votar. Os outros sete membros do grupo,
todos aliados do prefeito Roberto Cláudio (Pros), votaram favoráveis ao projeto
- que autoriza demolição da praça e sua substituição por um cruzamento e quatro
espaços de convivência.
Embate
O motivo do desentendimento foi pedido de
vistas da oposição, que acabou derrubado pela base aliada. Oposicionistas
tentavam adiar votação do parecer para depois de uma audiência pública sobre o
tema agendada por Guilherme, marcada para 2 de junho.
Pacientes são atendidos no chão na emergência do Salgado Filho
Profissionais
enviaram fotos denunciando situação precária do hospital ao Cremerj
RIO — Pacientes atendidos no chão e até na
bancada dos armários. As cenas registradas por profissionais de saúde do
Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, foram enviadas ao Conselho Regional
de Medicina do Rio (Cremerj). As imagens feitas na sala vermelha da
emergência, no último dia 03, segundo o presidente da entidade, Sidnei
Ferreira, mostram um problema que tem sido frequente na unidade: a
superlotação. Segundo Ferreira, a situação é agravada com a falta de recursos
humanos. Para os médicos, a emergência deveria ser referenciada — fechar a
porta de entrada — até que o deficit
de pessoal seja suprido.
Índios e manifestantes entram em confronto com policiais em Brasília
Enfrentamento
começou quando grupo seguiu para o Estádio Mané Garrincha e foi bloqueado por
policiais
PM foi
flechado na perna, mas passa bem
Exposição
da taça da Copa do Mundo é suspensa
Declarações do Deputado que geraram a manifestação:
Declarações do Deputado que geraram a manifestação:
BRASÍLIA -
Indígenas e manifestantes do Comitê Popular da Copa entraram em confronto com
policiais em Brasília, durante manifestação nesta terça-feira.
Depois de
participarem de ato no Congresso, os índios se deslocaram pela Esplanada dos
Ministérios e seguiram em direção ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Outros
manifestantes se juntaram ao grupo na Rodoviária do Plano Piloto. O embate começou quando eles foram
impedidos pela Polícia Militar de seguir para mais perto do estádio. Os PMs
usaram bombas de gás lacrimogêneo.
A taça da Copa do Mundo, que está exposta em um
galpão montado ao lado do estádio, teve sua exibição suspensa. A PM informou que um
policial foi atingido por uma flechada na perna, mas recebeu tratamento e passa
bem. A polícia também informou que um índio foi preso durante a manifestação.
Segundo o
Cimi, quatro indígenas se machucaram no confronto com os PMs. A entidade acusa a polícia de ter começado
a confusão. Participantes do ato afirmaram que um integrante do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi preso.
Os
manifestantes relataram que atiraram pedras contra a polícia, que revidou com
bombas de gás lacrimogênio. Eles também tentaram impedir a passagem de um carro
do Corpo de Bombeiros, o que levou a PM a jogar mais bombas contra os
manifestantes. O trânsito no Eixo
Monumental, via onde estão o estádio e os ministérios, foi bloqueado nos dois
sentidos, mas por volta das 17h50 o grupo liberou a via e começou a voltar para
a rodoviária. Às 18h, um grupo de indígenas ocupava o canteiro de uma das
vias e fazia danças, sem atrapalhar o trânsito.
Em nota, o
governo do Distrito Federal (GDF) informou que a Secretaria de Segurança
Pública "agiu estritamente dentro do protocolo previsto em casos de
manifestações". Segundo o GDF, a operação foi eficiente, preservou a
integridade física dos manifestantes e protegeu o grande público,
"especialmente crianças, estudantes e idosos que estavam no evento de
visitação à Taça da Copa do Mundo". Informou ainda que a manifestação
"teve de ser contida no limite estabelecido para segurança dos
visitantes". De acordo com o GDF, os policiais não usaram armas letais.
Segundo o
MTST, que participa do Comitê Popular da Copa, o ato era para protestar contra
“violações e crimes da Copa, cometidos pela Fifa, pelos governos federal e do
Distrito Federal e pelos patrocinadores e empreiteiros contra a população
brasileira”.
Mais cedo,
por cerca de meia hora, a marquise do Congresso foi ocupada por cerca de 300
indígenas. Durante o protesto, eles manifestaram contra a atuação do governo na
questão fundiária. Deixaram o local de forma pacífica e seguiram em direção do
Ministério da Justiça.
Os
indígenas também protestaram em frente ao Palácio do Planalto. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
(APIB), um índio ficou levemente ferido após entrar em atrito com um
segurança do local.
Antes de seguirem rumo ao estádio, os
manifestantes promoveram um julgamento da Fifa na rodoviária. O ato durou pouco
mais de uma hora e terminou com a entidade condenada a deixar o país e a
devolver vários bilhões ao Brasil e à África do Sul, país-sede da Copa de 2010. Segundo os
organizadores do "julgamento", eles
iriam entregar a sentença à Fifa no Mané Garrincha. Na sexta-feira, está
prevista nova manifestação em Brasília, que deve partir do Museu Nacional, no
começo da Esplanada dos Ministérios, até o estádio.
Índios
acusam deputados de racismo
Mais de 500 indígenas, segundo cálculo do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi), protocolaram nesta terça-feira no
Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra os deputados Luís Carlos Heinze
(PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) por racismo e incitação ao ódio e à
violência.
Em vídeo gravado, Heinze disse que
quilombolas, índios, gays e lésbicas “não prestam”. Os indígenas dizem ainda que Moreira, ao estimular a resistência dos
produtores rurais, promoveu o ódio contra os povos indígenas. Depois de
entregarem a denúncia no Supremo, os indígenas seguiram para a Praça dos Três
Poderes e em seguida para o Congresso, onde fizeram uma manifestação sobre a
laje que comporta as cúpulas do Senado e da Câmara.
Governo Federal bate recorde em gastos com propaganda
O governo federal
gastou R$ 2,3 bilhões na veiculação de propaganda em 2013, o maior valor
registrado desde 2000, quando o dado começou a ser divulgado. O maior gasto até
então (R$ 2,2 bilhões) havia sido registrado em 2009, na gestão do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As informações são do jornal Folha de
S.Paulo.
De acordo com a
publicação, na comparação com 2012, o gasto do governo federal com propaganda
aumentou 7,4%, acima da inflação oficial do período, que foi de 5,91%. De 2012
para 2013 os gastos do governo com pessoal, custeio e investimento subiram
7,2%, descontada a inflação.
O governo afirmou ao
jornal que "em 2013 o governo federal apresentou novas campanhas de
utilidade pública voltadas à prevenção de acidentes de trânsito, de combate ao
uso do crack e de lançamento do programa Mais Médicos" e que "um
terço do crescimento do volume publicitário de 2013 foi puxado pelas ações dos
Correios, que completou 350 anos em 2013".
A dependência redobrada (por Leda Maria Paulani)
Estaríamos finalmente
deixando para trás a situação de dependência e submissão que secularmente nos
caracteriza? E como combinar essa interpretação auspiciosa com os claros sinais
de desindustrialização, de recusa do investimento em decolar, de retrocesso para
uma posição periférica de país produtor de commodities?
Na segunda década
deste século, em que pesem as dificuldades enfrentadas desde 2011, o Brasil
entrou definitivamente na moda. Em meio a um mundo em que a crise dá o tom, a economia
brasileira paira altaneira, dizendo-se sobre ela, até mesmo, que estaria
inventando uma nova forma, “mais criativa”, de garantir o sucesso econômico.
Como entender o que está se passando? Estaria o país, depois de mais de duas
décadas de estagnação e crescimento pífio, retomando uma trajetória sustentada
de crescimento? Mas, mais importante, estaria nossa economia finalmente
resgatando a autonomia e o poder soberano que chegou a vislumbrar em meados do
século passado? Estaríamos finalmente deixando para trás a situação de
dependência e submissão que secularmente nos caracteriza? E como combinar essa
interpretação auspiciosa com os claros sinais de desindustrialização, de recusa
do investimento em decolar, de retrocesso para uma posição periférica clássica
de país produtor de commodities? E quais são as causas e qual é o papel, nesse
contexto, da redução da desigualdade distributiva e do surgimento da assim
chamada “nova classe média”? Para responder a todas essas questões é preciso,
em primeiro lugar, qualificar o crescimento apresentado por nossa economia na
primeira década do presente século, o que implica entender de que forma o país
foi se inserindo no plano mais geral da acumulação mundial, em meio a um
profundo processo de transformação do próprio capitalismo.
É bastante conhecida
a história do espetacular sucesso capitalista no Brasil até o final dos anos
1970, bem como da igualmente retumbante derrocada nas décadas seguintes. O
sucesso ficou visível nas elevadas taxas médias de crescimento alcançadas ao
longo do século passado. Entre 1930 e 1980, o Brasil cresceu 6,4% ao ano. Nesse
período, as taxas médias anuais de crescimento por década nunca foram
inferiores a 4,3%, tendo alcançado 8,7% nos anos 1970, um ritmo verdadeiramente
chinês. Diante desses números espetaculares, o fracasso das duas décadas finais
torna-se ainda mais impressionante. Nos anos 1980, a taxa média anual de
crescimento despencou para 2,9%, menos da metade de sua marca histórica nos
cinquenta anos anteriores, e, nos anos 1990, caiu mais uma vez para 1,6%, quase
a metade da taxa já muito magra obtida na década anterior. É perante esses
pífios resultados que a performance dos anos 2000 parece um sucesso. A taxa
média anual de crescimento nessa primeira década do século XXI alcançou os 3,3%
(4% no período Lula), bem melhor que 1,6%, evidentemente, mas um resultado
muito modesto, que nem sequer recupera a taxa média anual da pior das décadas
do período 1930-1980, que foram os 4,3% obtidos nos “depressivos” anos 1930.
Mas, para além das frias estatísticas numéricas, importa saber o que aconteceu
nas entranhas desse processo de ascensão, queda e tímida recuperação, e não é
possível fazer isso sem colocar em cena o contexto mundial em que ele se
desenvolveu.
O ESTADO NO BANCO DOS RÉUS - II Tribunal Popular do Ceará
Publicado em 20/04/2014
Em novembro de 2013, o Governo do Estado do Ceará foi ao banco dos réus. Os movimentos sociais e os povos tradicionais denunciaram violações de direitos e o júri popular sentenciou: condenado!
Polícia ataca rodoviários em greve e a imprensa durante a madrugada no Rio
Publicado em 13/05/2014
Jornal A Nova Democracia — Na madrugada de hoje, rodoviários em greve por 48 horas fizeram protestos nas portas das garagens das maiores viações do Rio de Janeiro. A equipe de AND, na companhia de fotógrafos da Mídia Independente e Coletiva e da Mídia Ninja, flagrou o momento em que, rodoviários protestavam pacificamente na porta da garagem da viação Alpha, no Engenho Novo, e foram atacados por policiais. PMs chegaram a atirar uma viatura contra os trabalhadores e atacar o repórter de AND, Patrick Granja, com um jato de spray de pimenta. A categoria exige ônibus o fim da dupla função, 40% de aumento, 400 reais de cesta básica, plano de saúde e condições de humanas de trabalho.
Os trabalhadores dizem que não têm medo do lobby Consórcio/Estado/Sindicato e só voltarão ao trabalho quando todas as suas reivindicações forem atendidas.
Os trabalhadores dizem que não têm medo do lobby Consórcio/Estado/Sindicato e só voltarão ao trabalho quando todas as suas reivindicações forem atendidas.
terça-feira, 27 de maio de 2014
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Reflexão: A falácia da aposta nos investimentos externos (Henrique Rattner)
“[...] O
que fazer diante dessa tendência de desequilíbrio crescente, tanto interno
quanto externo? [...] Houve industrialização, mas o desemprego aumentou, a deterioração do meio ambiente aumentou o
clima social na comunidade sem dúvida alguma se deteriorou.
A
aposta nos investimentos externos é falaciosa, ela não funciona, porque afinal
toda a experiência mostra que quando ele vem, vem com imposições para setores e
para atividades que não são de maior interesse nacional. E somente quando o
governo for suficientemente forte, apoiado pela população, é que poderia dizer:
esse não, esse se vier tem que ir para esse setor e nessas condições, e não
simplesmente ceder a todas as pressões e injunções dos investidores. A questão do
investimento externo tem de ser descartada, muito embora seja essa a política
do governo brasileiro no momento que proclama: nós precisamos demonstrar
seriedade, cumprir o ajuste fiscal, o equilíbrio das contas externas,
controlamos a inflação, porque assim vamos atrair os investimentos
estrangeiros. Ora, é uma grande ilusão, porque os investimentos estrangeiros oscilam
ao sabor de informações semeadas muitas vezes de propósito pela imprensa e por
veículos apropriados para fazer subir ou descer o risco Brasil, a taxa cambial
e, portanto, a propensão do capital de ficar no país.
Então, daí vem uma questão
quase natural: por que não há investimento interno, onde é que ele está? Por
que nós, país rio, no berço esplêndido, temos que apostar em investimento
estrangeiro?”[1]
Reflexão: Revendo o paradigma industrialização e urbanização (Henrique Rattner)
“Quero
apenas frisar uma questão: promete-se
que com este paradigma, industrialização e urbanização, vai-se alcançar o estágio
de desenvolvimento. Portanto, devemos nos empenhar, embora não fique muito
claro como, já que todos os créditos são controlados, as instituições estão
também sob o domínio de grupos elitistas hegemônicos. Mas, evidências empíricas mostram que em nada adianta seguir a cartilha do Fundo
Monetário Internacional, ou da Escola de Chicago, ou outras espalhadas pelo
mundo ocidental. Por quê? Em 1960, a renda per capta de 15 a 20 por cento da população mundial, nos chamados
países desenvolvidos ou ricos, estava por volta de 11.500 dólares. Ao mesmo
tempo, a renda per capta dos 80 ou 85
por cento da população marginalizada e
pobre no resto do mundo era de apenas 211 dólares, uma diferença de pelo menos um
para cinquenta. Ora, quarenta anos depois, em 2002, a renda per capta da parte rica do mundo ficou
cada vez mais contraída e alcançou 32.000 dólares, um aumento de 183%. Nesse
mesmo período, a renda da população pobre, dos 80 por cento da população
mundial, tinha aumentado de 212 para 267 dólares per capta, ou um aumento de 26 por cento.”[1]
Reflexão: Jovens perplexos na atualidade (Henrique Rattner)
“[...]
Os jovens de hoje são cada vez mais perplexos, inseguros e angustiados diante
das incertezas reinantes quanto ao seu futuro. Mesmo sem conhecer os mecanismos complexos e complicados da
economia, da tecnologia e da política, sentem que não há mais lugar para eles,
sentem que não há mais uma definição clara sobre o para que de sua existência. Qual
é o destino? Não somente o individual, mas de todos aqueles com os quais
convivemos e compartilhamos? Se todo o
paradigma do desenvolvimento se reduz à produção e ao consumo de massa, e se não
há mais objetivos relacionados com a plena realização dos seres humanos por
meio da cooperação, solidariedade, do convívio democrático pluralista, o que
sobra para um indivíduo aspirar, desejar, se empenhar e se esforçar?”[1]
Reflexão: História que une os ramos do Meio Ambiente (Henrique Rattner)
“Há mais de cem anos, a população ocupada na
agricultura foi expulsa em massa pela mecanização e pela modernização agrícola.
O mesmo aconteceu nos anos 50 e 60 do século passado, com a robotização na indústria;
e nos anos 70 e 80, com o setor terciário dos serviços, que passou a ser
informatizado e automatizado, com consequências absolutamente imprevisíveis na época,
não ponderadas e obviamente não atendidas pelas políticas sociais.”[1]
Reflexão: 'Desenvolvimento' e "Democracia Representativa' (Henrique Rattner)
“Isso leva as pessoas imbuídas de uma visão
humanista a aprofundar o questionamento sobre o que é desenvolvimento: seria possível realizar uma profunda transformação
na estrutura social, ou seja, distribuindo renda e acesso à educação e saúde,
mantendo-se o regime, dentro das regras do jogo fixadas pelo mercado? Onde isso
ocorreu? E a essa pergunta acrescentaria outra: é possível fazer reformas nas políticas
econômicas, sociais, nas diversas áreas técnicas, da saúde e da educação, numa sociedade
dependente de crédito e de investimentos externos? Quer dizer que nosso destino
está nas mãos do setor financeiro, que hoje controla os fluxos dos capitais e
dita as regras do jogo, inclusive nos regimes
ditos democráticos? Então, vivemos numa democracia fictícia, uma democracia
formal, que não chega realmente a evolver, a consultar, a ouvir e a fazer
participar a sociedade civil, sobretudo as camadas mais carentes, nas decisões
que afetam seu destino?”[1]
Reflexão: Como unir os diversos movimentos sociais (David Harvey)
“A quarta tendência geral é
constituída por todos os movimentos sociais que não surjam por alguma filosofia
política ou inclinação em especial, mas pela necessidade pragmática de resistir
a deslocamentos e desapropriações (por meio da gentrificação[1],
do desenvolvimento industrial, da construção de barragens, da privatização da
água, do desmantelamento dos serviços sociais e oportunidades educacionais
públicas e outros). Nesse caso, o enfoque
na vida diária na cidade, vila, aldeia ou outro local fornece uma base material
para a organização política contra as ameaças que as políticas de Estado e de
interesses capitalistas, invariavelmente, representam para as populações
vulneráveis.
Novamente, há uma vasta gama de movimentos sociais
desse tipo, alguns dos quais podem tornar-se radicalizados ao longo do tempo na
medida em que eles, cada vez mais, percebem que os problemas são sistêmicos e não
particulares ou locais. A junção de tais movimentos sociais em alianças da terra
(como o movimento dos sem terra no Brasil ou a mobilização de camponeses contra
a tomada de terra e recursos por corporações capitalistas na Índia) ou em
contextos urbanos (os movimentos de direito à cidade no Brasil e agora nos
Estados Unidos) indica que o caminho está aberto para a criação de alianças mais amplas para discutir e
enfrentar as forças sistêmicas que sustentam as particularidades da gentrificação,
da construção de barragens, da privatização e outros. Mais pragmáticos, em vez de impulsionados por preconceitos ideológicos,
esses movimentos, no entanto, podem
chegar a uma compreensão sistêmica gerada por suas próprias experiências. Na medida em que muitos deles existem no
mesmo espaço, como dentro da metrópole, eles podem (como supostamente
aconteceu com os operários nas fases iniciais da revolução industrial) se reunir em torno de uma causa comum e
começar a estabelecer, com base na sua própria experiência, a consciência de
como o capitalismo funciona e o que pode ser feito coletivamente.”[2]
SINTUFCE enfrenta a decisão judicial lutando pela reinstalação do Comando Local de Greve no Benfica
Escrito
por luciana
A
Assessoria Jurídica do SINTUFCe, composta pelos advogados Clovis Renato Costa
Farias e Thiago Pinheiro de Azevedo, logo após ser comunicada sobre o mandado
judicial (dia 20/05, terça-feira) impondo a desocupação pelo Comando Local de
Greve da Reitoria e do Campus do Benfica, passou a agir para alterar a medida.
O mandado surgiu após a Reitoria ter ingressado com uma Ação de
Reintegração/Manutenção de Posse (8ª Vara da Justiça Federal no Ceará, Processo
nº 0802381-28.2014.4.05.8100) contra o SINTUFCe, em razão do enfrentamento da
categoria, em greve há 30 dias, ter obstruído por algumas horas o acesso ao
órgão para pressionar o Governo Federal a atender a pauta de reivindicações.
Impõe-se
ao sindicato multa diária por descumprimento de R$10.000,00 (dez mil reais),
bem como a pessoas físicas, caso sejam identificadas como líderes do movimento,
em total e ação a serem apurados judicialmente. A ação solicitava a
desobstrução, contudo, a ordem do juiz federal foi genérica, garantindo
liminarmente a reintegração, o que levou a emissão de um mandado judicial
impondo a "desocupação imediata", o que destoa do pedido inicial,
estando a assessoria jurídica do Sindicato a adotar as medidas apropriadas, na
tentativa de que o erro judiciário seja consertado.
Diante da
vontade da categoria em retornar ao local histórico de instalação do Comando,
já na sexta (23/05), o juiz foi novamente procurado para agilizar a decisão.
Mostrou-se, aparentemente, mais sensível, mas despachou o processo para que a
UFC se manifeste, uma vez que o pedido tem efeito modificativo da decisão.
Sem perder
tempo e agindo em paralelo, a Diretoria do SINTUFCe oficiou a Reitoria para que
se manifestasse extrajudicialmente autorizando a reinstalação do Comando de
Greve, e está negociando administrativamente com a gestão da UFC a autorização.
Enquanto não sai a decisão, caso a negociação não obtenha sucesso, já está
pronta e autorizada pela diretoria a participação do Ministério Público do
Trabalho que será oficiado para mediar o conflito em respeito às Liberdades
Sindicais.
A entidade
é de luta, age rápido na defesa de sua categoria, e pretende intensificar o
combate às atitudes antisindicais por meio das negociações diretas, recursos
judiciais, mediação pelo Ministério Público e demais ações políticas e
jurídicas.
A luta
continua!
Arte: Vida Dura - Grafite em Fortaleza (Qroz)
Programa Casa/UFC promove Seminários Pedagógicos com Ivo Tonet para discutir novos paradigmas que envolvem a ‘cidadania’ e a ‘emancipação’
Ana Lima (PROGRAD/UFC), Ivo Tonet, Prof. Valdemarin Coelho Gomes (FACED), Clovis Renato (Dout. Dir. UFC), Prof. Pedro Arnaldo Henriques Serra Pinto |
O evento
ocorreu no auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará
(UFC), no Campus do Benfica, na manhã da sexta-feira (23/05), organizado pela CASA
(Comunidade de Cooperação e Aprendizagem Significativa) e contou com a
participação de docentes, discentes, servidores técnico administrativos da UFC
e demais interessados.
Houve a
participação de servidores técnico administrativos da UFC para a versão das
palavras em libras, garantindo-se a acessibilidade, e a apresentação do Quarteto
de Violões.
Nos termos
da apresentação do grupo artístico, no site da UFC, o Grupo de Violões, também
conhecido como Quarteto de Violões, é uma criação do Instituto de Cultura e
Arte (ICA) sob coordenação e orientação do Prof. Marco Tulio, sendo composto
por alunos da Universidade Federal do Ceará e da comunidade. Tem como principal
objetivo difundir e reafirmar a importância da música instrumental brasileira e
internacional, arranjadas para quarteto, trios, duos e solo. No show, diferente
da música instrumental estigmatizada, o grupo apresenta uma grande diversidade
rítmica que inclui gêneros e compositores do choro, canção, blues e de arranjos
e músicos consagrado além de criar e incentivar músicos, estudantes e
instrumentistas, promovendo a integração com outros músicos.
A CASA (http://www2.virtual.ufc.br/casa/index.php?option=com_content&view=article&id=94&Itemid=80), conforme seus organizadores,
é o programa de desenvolvimento e formação docente fundado em 2009 pela Pró-Reitoria
de Graduação da UFC, no qual oferece um amplo e diversificado leque de
atividades de caráter contínuo, dialógico e formativo com o propósito de
construção cooperativa. Participam, conjuntamente, professores, alunos de
graduação e pós-graduação, técnicos-administrativos das diversas unidades
acadêmicas da UFC e a comunidade, tomando como base a heterogeneidade, o trabalho
coletivo, a interação, a solidariedade, a equidade e a transformação.
Prof. Pedro Henriques - ICA Foto: UFC |
A
Comunidade tem um programa de rádio, chamado CASa Aberta, com transmissões
semanais às sextas-feiras, das 16 às 17h, pela Rádio Universitária FM (107,9),
em que são promovidos debates sobre temas instigantes e relevantes para a
Formação Docente no Ensino Superior com a participação de professores da
Universidade Federal do Ceará e convidados de outras IES.
O
palestrante para esta edição dos Seminários Pedagógicos, Ivo Tonet, foi trazido
em razão de sua vasta experiência e produção com o eixo temático que envolve a
cidadania e a educação. É natural de Rodeio/SC, com Mestrado em Filosofia pela
UFMG e Doutorado em Educação pela UNESP/Marília, sendo professor de Filosofia
na Universidade Federal de Alagoas desde 1980.
Dentre
suas produções encontram-se os livros ‘Democracia ou Liberdade’ (2ª ed. EDUFAL),
‘Descaminhos da Esquerda: da centralidade do trabalho à centralidade da
política’ (Parceria com Adriano Nascimento - Alfa-Omega), ‘Educação, Cidadania
e Emancipação Humana’ (EDUFAL), ‘Educação Contra o Capital’ (2ª ed. Instituto
Lukács), ‘Em Defesa do Futuro’ (EDUFAL), ‘Introdução à Filosofia de Marx’ (Parceria
com Sergio Lessa - Expressão Popular), ‘Método Científico: uma abordagem
ontológica. Instituto Lukács’, ‘Proletariado e Sujeito Revolucionário’ (Instituto
Lukács), ‘Sobre o Socialismo’ (2ª ed. Instituto Lukács), além de diversos
artigos científicos.
O autor
busca precisar o sentido da proposta relativa às atividades educativas de
caráter emancipador, não se opondo, de forma excludente, a ideia de educação
emancipadora à ideia de atividades educativas de caráter emancipador. Verifica de
que modo os dois tipos de atividades educativas se articulam, com possíveis
contradições.
Destaca
Tonet que “Não há como negar que a
humanidade vivencia, hoje, uma gravíssima crise, cujo responsável último é o
processo de produção e reprodução do capital. Esta crise afeta, de modo diverso,
todas as formas da existência humana. A particularidade desta crise tem
rebatimentos específicos também na área da educação e impõe tarefas, também,
específicas quando se pretende que esta atividade contribua para a construção
de uma forma de sociabilidade para além e superior à atual”.
O autor
defende que as atividades educativas de
caráter emancipador são todas aquelas que contribuem para que as pessoas tenham acesso ao que há de mais
elevado no patrimônio cognitivo, artístico e tecnológico de que a humanidade
dispõe, hoje. Não basta, porém, o acesso, abstratamente pensado. Para que
estas atividades tenham um caráter emancipador devem ter algumas
características particulares, de modo que são atividades que contribuem para
que as pessoas compreendam o processo histórico, desde as suas origens e
fundamentos até os dias atuais, de modo a que entendam ser a realidade social
radicalmente histórica e social, isto é, que ela resulta apenas da atividade humana
e não de potências divinas ou naturais.
Ainda, são
atividades educativas que permitem a
compreensão da origem e da natureza da sociabilidade capitalista, da lógica da
reprodução do capital, das contradições e das classes sociais típicas da
sociedade burguesa, da alienação que a caracteriza, da natureza e das consequências
da atual crise do capital e da possibilidade e da necessidade da total
superação desta forma de sociabilidade, bem como são atividades educativas que
permitem compreender os fundamentos, a natureza e a possibilidade real de
construção de uma sociedade comunista; são atividades educativas que permitem compreender a natureza específica
da educação, a função social que ela cumpre, as suas possibilidades e os seus
limites.
Desse
modo, conforme o autor, todo esse conjunto de atividades contribuirá para que
as pessoas possam se engajar na luta pela construção dessa nova sociedade,
participando tanto das lutas específicas da dimensão educativa quanto das lutas mais
gerais. Para tanto, destaca na obra ‘Atividades
educativas emancipadoras’:
Marxismo não é
dogma, nem cartilha, nem escritura sagrada! Marxismo é uma nova concepção de
mundo, que parte de determinados fundamentos filosóficos, abstraídos do
processo real e não meramente produzidos pela subjetividade e que, com base
nestes fundamentos, permite abordar qualquer fenômeno social, sempre aberto à
busca da sua específica concretude. Nenhum dogma e nenhuma cartilha permitem
fazer isso.
[...] quanto
mais intensa a crise do capital, maior será a necessidade que ele tem de
subsumir à sua reprodução todas as dimensões da vida social. O que significa
que também a educação será posta, cada vez mais, a serviço dessa reprodução.
Não apenas do ponto de vista da formação de força de trabalho adequada aos
interesses do capital, mas também do ponto de vista ideológico, isto é, da
formação de pessoas para as quais esta forma de sociabilidade seja o horizonte
máximo possível. Daí a ênfase na formação para a cidadania e a democracia e na
crença na possibilidade de aperfeiçoamento constante desta ordem social.
Como se pode
ver, atividades educativas de caráter emancipador são atividades muito precisamente
delimitadas. São atividades que estão articuladas, de modo direto ou indireto,
com a luta pela superação do capitalismo e pela construção de uma sociedade
plenamente emancipada, isto é, comunista.
Neste
passo, destacou Tonet, nos moldes escritos na obra “Trabalho associado e extinção do Estado”, que o objetivo é sustentar
a importância e a necessidade de resgatar a articulação originária,
estabelecida por Marx entre estas duas categorias, com todas as consequências
que esta articulação tem para o processo de transição do capitalismo ao
comunismo. Algo que impõe, também, retomar as três questões relacionadas ao
significado da centralidade ontológica da categoria do trabalho, da
centralidade política da classe operária e da centralidade do trabalho
associado no processo revolucionário.
O autor concorda
com a afirmação de Marx, Engels e Lenin de que o Estado deve ser inteiramente eliminado
continua, ainda hoje e enquanto existir a propriedade privada, com toda a sua
validade. Mas, alerta que, como se dará, praticamente, esta eliminação, é
impossível saber de antemão, de forma que o que se encontra possível,
antecipadamente, saber quais os parâmetros gerais devem nortear este processo.
Neste
passo, ressalta que o trabalho tem um estatuto ontológico sendo fundante do ser
social, criando um novo tipo de ser, essencialmente diferente do ser natural. Realiza
o salto do ser natural para o ser social, de como, ao transformar a natureza o
homem não só cria o mundo exterior, mas a sua própria natureza e de como esta categoria
é a matriz de todas as outras dimensões do ser social. Contudo, a questão da centralidade
ontológica do trabalho não significa negar ou menosprezar a luta política ou
negar a primazia da política no momento da revolução, uma vez que não há contraposição entre prioridade
ontológica do trabalho e primazia da política e a correta apreensão deste lugar
evita que se atribuam a outras categorias tarefas que, por sua natureza, não
lhes pertencem. Nestes moldes, ressalta na obra “Trabalho associado e extinção do Estado”:
[...] é
importante que se esclareça a distinção entre centralidade política e
centralidade da política. [...]. Já por centralidade da política entendemos a
atribuição ao Estado da tarefa de dirigir o processo de transformação social
que levaria à superação do capitalismo. Significa atribuir ao Estado a tarefa de
controlar o capital, orientando-o no sentido da produção de valores de uso e
não de valores de troca, o que é manifestamente impossível dada a subordinação
ontológica do Estado ao capital.
Tonet,
enfatiza a necessidade de retorno à obra Marxiana (original de Marx), de onde
se abstrai uma caracterização muito precisa do que seja trabalho associado que,
em essência, é caracterizado por liberdade, consciência, coletividade e universalidade.
Assim, é uma forma de trabalho livre porque são os próprios produtores que
determinam o que deve ser produzido, como isto deve ser produzido e como deve ser
distribuído todo o produto; não são poderes estranhos e alienados que comandam
a produção; é consciente porque, do começo ao fim, todo o processo está sob o expresso
controle dos próprios produtores; é forma coletiva porque implica a colocação
em comum das forças individuais, permitindo, assim, multiplicar as forças sociais;
e é universal porque, dado o estágio de universalização em que a humanidade se
encontra, até por obra e graça do capitalismo, tanto a produção como o consumo exigem
e permitem a interdependência de todos os espaços mundiais, assim como em face
dos problemas da humanidade terem, contemporaneamente, um caráter efetivamente
universal o que significa que sua resolução também só pode se dar em nível
universal.
Deduz que a existência do trabalho associado pressupõe uma condição indispensável de abundância, um momento de alto desenvolvimento das forças produtivas capaz de satisfazer amplamente as necessidades humanas. O que marca a superação da competição, típica de situações de carência e, ao mesmo tempo, possibilita a construção de uma natureza humana que transforme os humanos em seres solidários e não egoístas. É enfático ao afirmar que “não pode existir trabalho associado em situações de carência”, pois não é resultado de uma decisão moral, ética ou política. A decisão, que certamente deve existir, de colocar as forças individuais em comum tem que ter como condição insuprimível uma base material adequada, isto é, a capacidade de produzir em abundância, como conclui:
Deduz que a existência do trabalho associado pressupõe uma condição indispensável de abundância, um momento de alto desenvolvimento das forças produtivas capaz de satisfazer amplamente as necessidades humanas. O que marca a superação da competição, típica de situações de carência e, ao mesmo tempo, possibilita a construção de uma natureza humana que transforme os humanos em seres solidários e não egoístas. É enfático ao afirmar que “não pode existir trabalho associado em situações de carência”, pois não é resultado de uma decisão moral, ética ou política. A decisão, que certamente deve existir, de colocar as forças individuais em comum tem que ter como condição insuprimível uma base material adequada, isto é, a capacidade de produzir em abundância, como conclui:
Uma das
consequências mais importantes da entrada em cena do trabalho associado é a diminuição
do tempo de trabalho necessário. A soma das forças de todos aqueles que tem
condições de contribuir para produzir a riqueza material permitirá, certamente,
dado o avanço das forças produtivas, criar bens que satisfaçam amplamente as
necessidades de todos. E, acentue-se: não apenas em quantidade, mas também em
qualidade adequada às autênticas necessidades humanas.
Não é preciso
argumentar muito para compreender que a entrada em cena do trabalho associado implica
a extinção de todas as categorias típicas do sistema capitalista: propriedade
privada, trabalho assalariado, valor-de-troca, mais-valia, capital, mercadoria,
dinheiro, etc., etc.
Neste momento,
a humanidade terá deixado para trás toda forma de exploração e de dominação do
homem pelo homem, atingindo a plena emancipação humana. Marx chama este momento
de síntese entre “reino da necessidade” (trabalho associado; não confundir com
“reino da carência”) e “reino da liberdade” (tempo livre).[i]
Ao final
da apresentação, o expositor destacou não ter esgotado os temas mas objetivar instigar
a reflexão e os questionamentos da plateia, o que se seguiu.
Foram
feitas diversas perguntas e análises que foram pontualmente respondidas por
Tonet, como o destaque feito por Clovis Renato (Doutorando em Direito pela
UFC/Advogado do Sintufce) ao ressaltar a questão da substituição do Estado pelo o trabalho associado proposto pelo autor,
em contraposição à ampliação ou a radicalização da democracia, nos moldes
propostos por Ellen Wood (“Democracia contra Capitalismo”) e Slavoj Zizek, bem
como os questionamentos de demais ouvintes sobre questões como o trabalho no
interior, a postura de correntes de ativistas que pretendem a crítica radical
ao trabalho e ao capitalismo, os modelos de desenvolvimento, dentre outras.
Clovis Renato Costa
Farias
Doutorando em Direito pela Universidade Federal
do Ceará (UFC)
Bolsista da CAPES
Membro do GRUPE e da ATRACE
Advogado e Professor Universitário
Vice Presidente da Comissão de Direito Sindical
da OAB/CE
Páginas:
Vida, Arte e Direito
(vidaarteedireito.blogspot.com)
Periódico Atividade
(vidaarteedireitonoticias.blogspot.com)
Canal Vida, Arte e Direito
(www.youtube.com/user/3mestress)
[i] TONET, Ivo. Trabalho associado e extinção do Estado.
Net: http://www.ivotonet.xpg.com.br/arquivos/TRABALHO_ASSOCIADO_E_EXTINCAO_DO_ESTADO.pdf.
Acesso em 26/05/2014.