Especialista expôs as causas e
consequências da perda da individualidade das pessoas, o que as faz agir como
“coisas”
Para Clóvis Renato Farias,
advogado e professor universitário, o assédio moral tem ligação direta com o
modelo capitalista. A análise foi feita durante o Congresso Estadual de Mato
Grosso, que segue nesta quinta-feira (22) – acompanhe aqui. Segundo o especialista,
“na relação capitalista, o ser humano é forjado e violentado para deixar de ser
um ser humano”. A partir do momento em que os trabalhadores estão numa lógica
de competição, diz Faria, eles passam, com naturalidade, a assediar os seus
pares. Nesta perspectiva, o palestrante afirma que “o capitalismo não quer
seres humanos, ele quer máquinas”.
A Organização Internacional do
Trabalho (OIT) classifica o assédio moral como “risco invisível” porque existe
a tendência a se minimizar os efeitos do assédio. “Estamos acostumados a perder
a nossa individualidade, fazemos coisas de forma sistemática, agimos como
coisas, somos apenas um tijolo no muro”, explica o professor. “Em consequência,
somos subjugados. Isso se insere em nossa mente, e passamos a agir com nossos
entes como a mesma lógica do sistema”, completa.
É neste cenário que nasce o
assédio moral, explica Clovis Renato. “A partir dessa reflexão é que temos de
nos entender como pessoas que foram afastadas de sua condição de pessoas. É aí
que o assédio moral se dá”, analisa o advogado.
Em um contexto de crise,
desemprego e trabalho temporário, o assédio moral se agrava a partir do momento
em que se cria a “Síndrome do Sobrevivente”, na qual o trabalhador mantém-se
num sofrimento ao permanecer no trabalho, aumentando a ansiedade, depressão e
desesperança.
“A pessoa não aparece e se resume
a dizer que ela é o próprio trabalho. É uma perspectiva de obsessão, que faz
com que os assediados se submetam mais, e os assediadores, por uma má gestão,
achem que estimular a produção é dar pressão”, argumenta Farias.
Mato Grosso
O palestrante apresentou números
que mostram o aumento nos casos de assédio moral. Segundo o Ministério Público
do Trabalho, os casos de humilhação no trabalho aumentaram 7,4% de 2012 para
2013. Dados de 2014 da OIT dizem que o assédio moral já atinge 42% dos
trabalhadores brasileiros. Mais recentemente, em 2016, o site Vagas.com afirmou
que dos 4.975 profissionais de todas as regiões do País ouvidos no fim de maio
de 2015, 52% disseram ter sido vítimas de assédio sexual ou moral.
Em Mato Grosso, o assédio moral
representa quase 5 mil processos na Justiça. Clovis Renato Farias citou o
exemplo de Sorriso, cidade mato-grossense na qual a Lei 1.210/04 estabelece a
punição – que pode chegar à demissão – a quem pratica assédio moral no âmbito
da administração pública municipal.
“Sorriso avançou com relação ao
estado. Para melhorar a legislação de Mato Grosso, comecem a pegar a lei de
Sorriso”, sugeriu o palestrante ao alertar para a carência de penalizações
maiores para a prática.
Tipos de assédio
O Bullying e a Síndrome de
Burnout estão entre os tipos de assédio moral citados por Farias. No primeiro,
há a repetição dos atos, que vão sendo reiterados com atitudes de intimidações
e agressões físicas ou psicológicas. Na Síndrome de Burnout, a pessoa passa por
um esgotamento profissional, físico e emocional, numa típica situação de
stress.
Para Clovis Renato, o papel dos
sindicatos é fundamental para que os trabalhadores obtenham provas rápidas das
práticas de assédio. “A finalidade do sindicato é despersonalizar a luta e
defender os interesses da classe trabalhadora”, apontou sobre a função das
entidades em proteger aqueles que são agredidos.
Fonte:
http://csb.org.br/blog/2017/06/22/clovis-renato-farias-sobre-o-assedio-moral-o-capitalismo-nao-quer-seres-humanos-ele-quer-maquinas/
Um comentário:
Espetacular sua palestra doutor, sinto-me extremamente honrada em receber em nosso Estado de MT uma pessoa do seu gabarito e que muito contribuiu para o nosso crescimento intelectual. Parabéns pela brilhante exposição de um assunto tão importante e atual. Obrigada pela presença e sucesso em sua jornada. Parabéns também pelo vasto currículo.
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