Páginas

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Vendo o processo (Francisco texto 2)

O apego a imagem pessoal, o desejo de continuidade das relações, ainda que doentias, o anseio por 'vir a ser' algo sempre maior, inesquecível para as pessoas, com vontade forte de ter 'respeitabilidade', demarcam forte padrão codependente que enseja pensamentos de controle da vida dos outros, raiva, sentimentos de rejeição, ódio, inveja dos que entende manterem a posição almejada, vingança e luta permanente que tornam o indivíduo inquieto, com atuação incessante do 'eu' material. 
Tudo parte de uma ignorância sobre a natureza das coisas materiais, um desejo de permanência e uma incompreensão da transitoriedade das situações na vida. Daí pretende-se não perder o emprego, não falir nos negócios, não reduzir os ganhos, lucros e dividendos, não se afastar das pessoas e relações, não perder o status, manter a imagem de crescimento e vitória para os pais, amigos, familiares e conhecidos. 
Então não se aceita que ideias diferentes possam ser cogitadas, que pessoas ocupem 'seu' suposto lugar, que ações que visam o seu desligamento ocorram. Processo de cultivo inconsciente e inconsequente da dor que leva ao sofrimento e a escravidão emocional do ser por ele mesmo. 
Situação que faz com que o indivíduo se choque na realidade e sofra, como uma onda se estilhaçando constantemente no rochedo da costa no paredão do continente. 
O sentimento de coração fragilizado, mente cansada, vontade de dormir e fugir vão tomando de conta, o ser vai perdendo o controle de suas emoções, pensamentos e atitudes. 
A observação desse processo possibilita o vislumbre da realidade, revela partes importantes do ser que costumam ficar escondidas abaixo do tapete de ilusões criado e mantido em movimento pelo 'ego' que se manifesta por sentimentos de medo, ansiedade, fuga, tensão, que podem ser o combustível para o ódio e a materialização da insanidade. 
A atenção para não fugir da realidade torna-se uma grande oportunidade de desenvolvimento com o autoconhecimento que vai emergindo da observação. Ver o processo do pensamento, sem julgamento ou condenação, com a máxima honestidade torna-se grande curativo emocional apto a proporcionar ações de compreensão e efetiva solução dos problemas nos relacionamentos cotidianos. A chave vai saindo do interior do mesmo eu criador da prisão sem muros, bastando permanecer em atenção plena para ir vendo a luz. Como diziam os sábios anonimos que se entramos pelo cano, basta o movimento contrário dentro do mesmo cano para sairmos para a lucidez e a recuperação emocional. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário