Estátua em Madrid |
Sóror Juana
Inés de la Cruz ou, simplesmente, Sóror Juana, religiosa católica, poetisa e
dramaturga nova-espanhola mexicano-espanhola, nascida em 12 de Novembro de
1651, em San Miguel Nepantla, perto de Amecameca e falecida na Cidade do México
em 17 de Abril de 1695. Foi a última dos grandes escritores do Século de Ouro.
Juana Inés
de Asbaje y Ramírez de Santillana ou Juana de Asbaje (de Asuaje, segundo
alguns), chamada de A Fénix da América
e também de A Décima Musa. Escritora
barroca nova-espanhola (mexicana), poetisa e dramaturga da segunda metade do
século XVII. Nasceu em um povoado do vale do México, San Miguel Nepantla, próximo a Amecameca, e aprendeu
náhuatl com seus vizinhos. Filha natural, sua mãe foi a "criolla"
Isabel Ramírez de Santillana e seu pai Pedro Manuel de Asbaje y Vargas Machuca,
militar espanhol da província basca de Guipúzcoa (Vergara). Descobriu a
biblioteca de seu avô e assim tornou-se aficcionada pelos livros. Aprendeu tudo
o que era conhecido em sua época, isto é, leu os clássicos gregos e romanos e a
teologia do momento. Aprendeu português por conta própria, assim como latim, o
que fez como autodidata em vinte lições. Como se sabe a partir dos dados que se
mencionam em algumas de suas obras, o fez escutando as aulas que eram dadas à
sua irmã, isto às escondidas. No entanto, também podemos saber disso por Marco
Aurelio Almazán.
Quando
adolescente, esteve na corte vice-real mexicana, e sobre esse tempo há muito
poucos dados biográficos, ainda que se saiba que foi dama de companhia da vice-rainha
Marquesa de Mancera. Quis entrar na Universidade e em algum momento passou pela
sua cabeça vestir-se de homem, mas, no final das contas, concluiu que era menos
disparatado tornar-se monja. Depois de uma tentativa fracassada com as
Carmelitas, cuja regra era de uma rigidez extrema que a levou a um período de
convalescência, ingressou na Ordem das
Jerônimas, onde a disciplina era algo mais relaxada. Tinha uma cela de dois
andares e governanta. Ali passou a sua
vida, escrevendo versos sacros e profanos, canções a cada Natal, autos
sacramentais e duas comédias decapa-e-espada. Também serviu como
administradora do convento, com bastante habilidade.
Com a
erudição acumulada durante anos de estudo, correspondia-se
com os grandes nomes do mundo hispânico, tendo escrito até ao Papa. Sóror
Juana escreveu literatura centrada na liberdade, o que era um prodígio naquela
época. No seu poema Hombres Necios
("Homens Estúpidos"), ela defende o direito da mulher a ser
respeitada como ser humano e critica o sexismo da sociedade do seu tempo,
gozando dos homens que condenam a prostituição, ao mesmo tempo em que
aproveitam a sua existência. Além de livros religiosos como a Bíblia, que
representavam certamente mais de 90% dos livros que chegavam à América na
época, há relatos de que ela possuía obras atípicas para um cidadão da América
do século XVII, como escritos de Leibniz, dentre outros.
Seu
confessor, o jesuíta Antonio Núñez de Miranda, recriminou-a por escrever,
trabalho que acreditava ser vedado à mulher, o que, junto com o freqüente
contato com as mais altas personalidades da época devido à sua grande fama intelectual, desencadeou a
ira deste, diante da qual ela, sob a proteção da vice-rainha, Marquesa de
Laguna, decidiu rejeitá-lo como confessor. Essa amizade com as vice-rainhas
fica plasmada nos versos que, usando o código do amor cortês, levaram a uma
intepretação possivelmente errônea das mesmas a respeito de certas tendências
lésbicas. Às duas que coincidiram temporalmente com ela escreveu poemas
bastante inflamados e a uma dedicou um retrato e um anel. Foi precisamente uma das vice-rainhas a primeira a publicar
poemas de Sóror Juana.
Sóror Juana
viu-se envolvida em uma disputa teológica, a raiz de uma crítica privada que
realizou sobre um sermão do muito conhecido pregador da época Antônio Vieira,
que foi publicada pelo bispo de Puebla, Manuel Fernández de Santa Cruz, que a
prefaciou sob o pseudônimo de "Sóror Filotea", o que provocou a
reação da poetisa através do escrito Respuesta a Sor Filotea ("Resposta a
Sóror Filotea"), onde faz uma
inflamada defesa do trabalho intelectual da mulher. Por esse valoroso texto
e por outras obras suas como a acima mencionada Hombres Necios, Sóror Juana pode ainda ser considerada, com
justiça, como a primeira feminista das Américas.
Pouco antes de sua morte, Sóror Juana foi obrigada
por seu confessor a desfazer-se de sua biblioteca e de sua coleção de
instrumentos musicais e científicos. Deve-se lembrar que, naquele tempo, a Santa
Inquisição estava ativa. Morreu aos
quarenta e três anos, durante uma epidemia, tendo, antes disso, chegado a
socorrer várias de suas irmãs.
Entre suas
obras se conta uma grande quantidade de poemas galantes, poemas de ocasião para
presentes ou aniversários de seus amigos, poesias de salão sobre costumes ou
amizades sugeridas por outros, letras para se cantar em diversas celebrações
religiosas e duas comédias chamadas Amor es más Laberinto ("Amor é mais
Confusão") e Los Empeños de una Casa ("As Obrigações de uma
Casa").
Segundo ela,
quase todo o seu escrito era por encomenda e a única coisa que escreveu por
gosto próprio foi uma poesia filosófica chamada El Sueño ("O Sonho"),
que muitas vezes se edita com o título de Primer Sueño ("Primeiro
Sonho"). Trata-se de uma alegoria de várias centenas de linhas, em forma
de poesia, acerca da ânsia de saber, o vôo do pensamento e a sua conseqüente
queda trágica (acaso premonitório de Frankenstein). Sóror Juana também escreveu
um tratado de música, chamado El Caracol ("O Caracol"), que está
perdido. A despeito do que ela mesma disse, no entanto, seus escritos sobre a
liberdade da mulher por certo não foram encomendados, mas tampouco devem ter
sido por ela escritos por gosto, e sim, provavelmente, para defender sua
própria posição social como intelectual livre.
O estudo de
maior autoridade sobre Sóror Juana foi escrito por Octavio Paz, e se intitula
Sor Juana Inés de la Cruz o las Trampas de la Fe ("Sóror Juana Inés de la
Cruz ou as Armadilhas da Fé"), editado pelo Fondo de Cultura Económica.
A editora
Porrúa publica as obras completas de Sóror Juana em um prático volume da
coleção Sepan cuántos… ("Saibam quantos…"), o célebre número 100,
despojado, sem aparato acadêmico, salvo por um sóbrio e breve estudo
preliminar.
Barroca até
a medula, Sóror Juana era muito dada a fazer trocadilhos, a verbalizar
substantivos e a substantivar verbos, a acumular três adjetivos sobre um único
substantivo e reparti-los por toda a oração, e ter todas essas liberdades
gramaticais que estavam em moda no seu tempo. Por isso, e também porque ela
gostava muito de fazer referências mitológicas que hoje em dia não pertencem à
cultura geral das pessoas, a leitura de suas obras é bastante árdua para o
cidadão comum. Dar uma lida em Metamorfoses, de Ovídio, será de muita utilidade
para quem quiser desfrutar de Sóror Juana e ficar com menos dúvidas.
Obras
Poemas de la
única poetisa, musa decima, Sor Juana Inés de la Cruz…: que en varios metros,
idiomas, y estilos, fertiliza varios assumptos; con elegantes, sutiles, claros,
ingeniosos, útiles versos : para enseñanza, recreo, y admiración ("Poemas
da única poetisa, décima musa, Sóror Juana Inés de la Cruz…: que em vários
metros, idiomas e estilos fertiliza assuntos; com elegantes, sutis, claros,
engenhosos, úteis versos: para ensino, recreação e admiração"). Zaragoza,
por Manuel Román, impressor da Universidade, sob o patrocínio de Matías de
Lezaum, 1682.
Inundación
castálida de la única poetisa, musa décima, Soror Juana Inés de la Cruz… : que
en varios metros, idiomas, y estilos, fertiliza varios assumptos; con
elegantes, sutiles, claros, ingeniosos, útiles versos : para enseñanza, recreo,
y admiración Madrid, por Juan García Infanzón, 1689.
Carta
athenagorica de la Madre Iuana Ynes de la Cruz… que imprime, y dedica a la
misma Sor, Philotea de la Cruz" ("Carta Atenagórica de Madre Iuana
Ynes de la Cruz.. que imprime e dedica a mesma à Sóror Philotea de la
Cruz"). Puebla de los Ángeles, na gráfica de Diego Fernández de León, ano
de 1690.
Segundo
volumen de las obras de soror Juana Inés de la Cruz ("Segundo volume das
obras de Sóror Juana Inés de la Cruz"), 1692.
Asbaje ou
Asuaje
A
controvérsia sobre o sobrenome paterno de Sóror Juana pode se dever à falta de
clareza nas regras de escrita do espanhol no Século de Ouro. Asbaje pode
aparecer como Asuaje (escrito Asuaxe e pronunciado provavelmente /asβaše/)
pelas mesmas razões que no seu tempo a terminação -aba dos verbos em
"co-pretérito" (pretérito imperfeito) se escrevia indistintamente
-aba ou -aua.
Curiosidades
Sóror Juana
aparece nas cédulas mexicanas de alto valor. É a única artista que aparece nas
notas, além de Nezahualcóyotl, também poeta. Inicialmente apareceu nas notas de
mil pesos, que, com a inflação, acabaram se tornando moedas. Depois do corte de
três zeros sofrido pelo peso, Sóror Juana saiu de circulação brevemente, para
reaparecer nas notas de duzentos.
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Juana_In%C3%A9s_de_la_Cruz
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