O Movimento
Crítica Radical e outros grupos realizaram manifestação em frente à sede da
Justiça Federal contra demissão de 701 funcionários terceirizados do Complexo
Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os empregados da Maternidade
Escola Assis Chateaubriand (Meac) e do Hospital Universitário Walter Cantídio
serão substituídos por concursados da Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (Ebserh) até o último dia do ano.
Movimento em
Defesa dos Trabalhadores da Sociedade de Assistência à Meac (Sameac),
Associação Anistia 64/68 e União das Mulheres Cearenses (UMC) também
participaram do protesto. Manifestantes aproveitaram realização do Seminário da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para entregar ao juiz da Corte,
Manuel Robles, documento sobre a demissão em massa. Cópia de carta entregue ao
reitor da UFC, Henry de Holanda, e abaixo-assinado foram recebidos pelo juiz,
que, na ocasião, se comprometeu a ajudar a causa.
Clovis Renato (MDTS), Germana Morais (JFCE), Manuel Robles (CIDH), Bruno Carrá (JFCE), Maria Luiza Fontenele (Crítica Radical), Fausto de Sanctis (TRF3) |
As demissões
vão acontecer em decorrência da portaria n° 208, de 13 e março deste ano, onde
o Ministério da Educação (MEC) determina substituição dos contratados pelas
fundações de apoio que prestam serviço aos hospitais universitários por
servidores concursados.
Rosa da
Fonseca, ex-vereadora e membro do Crítica Radical, afirma que a Corte
Interamericana pode contribuir no diálogo com autoridades “para que haja uma
solução humana para esse problema”.
Contatada
pelo O POVO, a Ebserh afirmou, por meio de nota, que cumpre sentença da Justiça
Federal no Estado e que “não pode tomar nenhuma medida em desacordo com essa
sentença judicial”. (Letícia Alves)
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2015/08/07/noticiasjornalpolitica,3482372/grupos-protestam-contra-demissoes-de-terceirizados-de-hospitais-da-ufc.shtml
Entenda o caso
Ao Magnífico Reitor da UFC Dr. Henry de Holanda Campos e ao
Excelentíssimo Senhor Procurador da República/MPF Dr. Marcelo Monte
- CARTA ABERTA -
Considerando
o grave problema social criado pela injustiça da imposição das demissões de
mais de 700 trabalhadores e trabalhadoras, impactando suas famílias, com danos
diretos e indiretos a mais de 3 mil pessoas.
Considerando
que a SAMEAC, com seus trabalhadores e trabalhadoras, funciona prestando
serviços diretamente à UFC, Hospital Universitário (HUWC) e Maternidade Escola
(MEAC), sendo completamente financiada pelo Poder Público, sem patrimônio
próprio, com mais de setecentas pessoas em atividade, em grande parte com mais
de vinte e cinco anos de serviço. Nunca teve fins lucrativos, não recebe
remuneração contratual como SAMEAC e os bens que foi adquirindo foram
repassados à UFC, o que demarca sua situação diferenciada, a qual deve receber
tratamento, também, excepcional.
Considerando
que tal dispensa coletiva é discriminatória, pois a maioria dos trabalhadores e
trabalhadoras está entre 40 e 60 anos de idade e até 29 anos de serviço junto à
UFC, os quais terão suas expectativas de reinserção eliminadas no mercado de
trabalho.
Considerando
que as despedidas são arbitrárias, uma vez que nós trabalhadores e trabalhadoras
nunca demos motivo em nossos serviços para sermos despedidos e temos nossa
capacidade e experiência reconhecidas na saúde do Estado do Ceará,
corresponsáveis pela posição do hospital como destacada referência nacional em
transplante de fígado, rins e demais atendimentos. Salientamos que somos
reconhecidamente experientes, qualificados e que estamos capacitando os novos
colegas da EBSERH.
Considerando
que não fomos informados dos imperativos para nossas dispensas, tendo sido
surpreendidos com a imposição das demissões, o que demarca a negação de
direitos humanos essenciais como a informação, ampla defesa e contraditório, em
tempo hábil.
Considerando
a situação acintosa de terror e medo constantes que estamos vivenciando em
nossas relações de trabalho, pelas constantes ameaças de perdas dos empregos a
qualquer momento, sem sabermos sequer dos critérios a serem utilizados ou se,
em caso de dispensa, receberemos nossos direitos adequadamente, uma vez que a
SAMEAC afirma que não tem dinheiro ou patrimônio para honrar tais compromissos.
Considerando
que há casos idênticos no Brasil em que os trabalhadores foram preservados,
respeitando as pessoas que estão com aposentadoria próxima e impondo a
responsabilidade solidária pelo pagamento das verbas rescisórias à
Universidade. Foi o que ocorreu entre a FUNPAR e a UFPR, no Paraná, que
firmaram acordo extrajudicial junto ao MPT e conseguiram preservar 916
empregados por mais cinco anos, sem prejuízo do ingresso dos trabalhadores da
EBSERH.
Advogado do MDTS Clovis Renato contextualiza ao Poder Judiciário |
Considerando
que o STF (ADIN nº 1.923/DF), em 16/04/2015, decidiu sobre a
constitucionalidade do tipo de serviço prestado por instituições sem fins
lucrativos como a SAMEAC junto à saúde, o que impõe o afastamento de decisões
contrárias, como a do TCU de 2006.
Considerando
que o Movimento em Defesa dos Trabalhadores da SAMEAC (MDTS), social,
independente e autônomo, sensibilizou a cidade com atos, passeatas,
manifestações, bem como apresentou a situação em Audiências Públicas na
Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALCE) e Câmara Municipal de
Fortaleza, em eventos televisionados e radio-difundidos. Apresentou o caso à
OAB/CE e contou com a solidariedade das Comissões de Direitos Humanos, Direito
do Trabalho, Direito Sindical e apresentou ao Conselho Seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil, deputados federais (PEC 54/99 e proposta de continuidade
dos contratos), reuniu-se com o Secretário do MEC Dr. Jesualdo Farias, além de
estar buscando vários outros apoios.
Considerando
o alento que resultou da reunião entre o Vice-Reitor com o Reitor da UFC, que
admitiram a possibilidade da prorrogação dos contratos, desde que a iniciativa
não partisse deles, mas que viesse dos atingidos e atingidas, nós estamos
encaminhando a presente solicitação. Em razão disso, consideramos decisivo e
fundamental o atendimento desta solicitação, em função das ameaças contínuas e
imediatas que partem da SAMEAC e EBSERH. Tal fato ganha maior relevância, na
medida em que, na palavra do Procurador da República do MPF, Dr. Marcelo Monte,
em audiência no dia 21.07.2015, declarou que, se o Reitor da UFC fosse de
acordo ele poderia peticionar ao Poder Judiciário o pedido de prorrogação dos
contratos, nos moldes ocorridos no Paraná.
Considerando
que a prorrogação criaria um prazo para refletir vias de entendimento
permanente e garantiria a nós trabalhadores e trabalhadoras, tranquilidade para
continuarmos prestando nosso serviço à comunidade (o direito de não ter medo,
um direito que não se mendiga, se conquista), sem prejuízo ao atendimento à
população, em termos qualitativos e quantitativos. Lembrando ainda que conforme
dados da própria UFC, a continuidade do nosso trabalho não conflita com a
contratação dos trabalhadores da EBSERH.
Considerando
a grave crise econômica e social instaurada no Brasil, bem como a atitude que
poderia partir da UFC, agravando a situação gerada pela iminente demissão de
mais de 700 (setecentos) Trabalhadores e Trabalhadoras, cujo fato contrasta
violentamente com os princípios, com a história e a ética de elevada atividade
social, cultural e científica da Universidade Federal.
Ao expormos
o lamentável e presente contexto, nos dirigimos ao Magnífico Reitor e ao
Excelentíssimo Senhor Procurador da República (MPF), cientes do caráter humano,
democrático e acessível de Vossa Magnificência e Vossa Excelência, solicitamos
que seja encaminhado com extrema urgência, pedido na ação judicial (ACP), que
corre na Justiça Federal do Ceará, com a prorrogação dos contratos por cinco
anos.
Trabalhadores reunidos na organização da manifestação na JFCE |
Sem mais
para o momento.
Abaixo
assinados.
Fortaleza,
27 de julho de 2015.
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