A
presidenta do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, Paula Máiran, e
diretoria, eleitos em 2013 para mandato
até 2015, sofrem com a pressão por parte de trabalhadores, mídia tradicional e
entidades patronais. O motivo é uma entrevista, realizada no último dia 25 de
julho, na sede do sindicato, com a presença de ativistas que foram presos ou
feridos pela polícia durante a repressão aos protestos antes e durante a Copa
do Mundo.
À ocasião, a coletiva terminou em bate-boca
porque jornalistas julgaram inadequadas as críticas feitas ao trabalho da mídia
na cobertura dos enfrentamentos de manifestantes com a polícia, além de criticarem
o sindicato por supostamente minimizar os casos de profissionais feridos por
manifestantes nas ruas ao divulgar dados sobre jornalistas agredidos. Em
material de divulgação, o sindicato destacava que as agressões por parte de
policiais contra repórteres eram muito mais numerosas.
Em
plenária com a categoria na última quinta-feira (7) para discutir o assunto,
Fernando Molica, colunista de O Dia, que atuou
como liderança e porta-voz do grupo de oposição, foi o primeiro a falar e citou
diversas conversas pelas redes sociais que teve com a presidenta do sindicato.
Mencionando falas e trechos de notas e entrevistas dos quais discorda, foi
enfático no pedido de renúncia da diretoria e considerou que os sindicalistas
não têm mais condição de gerir a entidade. “Esta diretoria já acabou”,
vaticinou Molica.
Na mesma
reunião, no entanto, um grupo expressivo
seguia apoiando a permanência da diretoria – parte concordando com a postura a
respeito das agressões, parte discordando. Embora não fossem unânimes quanto à
posição da diretoria no assunto, os apoiadores defendiam a legitimidade dos
diretores eleitos democraticamente. Alguns jornalistas da EBC se apresentaram para falar, ressaltando a atuação do
sindicato na defesa dos profissionais da empresa, sobretudo durante a greve de
novembro de 2013, que durou 15 dias. O veterano Cid Benjamin foi um dos que
discordaram da postura da direção, mas defendeu a permanência. “Exigir a
renúncia da diretoria tem cheiro de golpe”, avaliou.
Os
apoiadores também ressaltaram as diversas
ações que o sindicato vem desenvolvendo desde a posse, há quase um ano. Essas
ações foram listadas em material distribuído pelos sindicalistas à entrada da
plenária e algumas foram citadas pela secretária-geral, Claudia de Abreu,
durante fala na abertura da plenária. Além
de uma campanha salarial dura que teve, entre outras reivindicações, a
tentativa de incluir o piso salarial na convenção coletiva, a entidade tem
atuado também nas questões do dia a dia. O assédio moral, as condições de trabalho precárias, o não pagamento de
horas-extras e a extrapolação de jornada têm sido combatidos pelo sindicato.
A quem
interessa a renúncia?
No
entender de muitos que participaram da plenária, há interferência das empresas
no processo. Um indício foi o recebimento
de 70 cartas de oposição ao desconto assistencial entregues por motoboys pagos
por empresários do setor. Com atuação mais dura junto aos empregadores, a atual
direção do sindicato desagrada os patrões.
A
impressão dos sindicalistas é que a questão
da violência contra jornalistas e a coletiva dos ativistas foram apenas
pretextos para desacreditar a diretoria com objetivo de enfraquecê-la. O pedido
de renúncia – que não tem legalidade, segundo o estatuto do sindicato – foi o
golpe final na estratégia.
Os
opositores não demonstraram disposição para o diálogo e a plenária, por pouco,
não acabou mal. A jornalista Cátia Guimarães, da Fiocruz criticou duramente a
atitude de uma profissional presente que, do plenário e sem se identificar,
classificou os ativistas libertados de Bangu como assassinos. Alguns dos
presentes se exaltaram. Os seguranças foram acionados e evitaram que a situação
fosse além de empurra-empurra e bate-boca.
Fico
Com a
saída dos opositores mais ferrenhos, o clima foi amenizado. Profissionais
defenderam a permanência da diretoria. A jornalista Clarisse Basso, da EBC, deu
testemunho da atuação da diretoria na defesa dos trabalhadores e fez uma
reivindicação direta: “Eu me sindicalizei para participar da eleição e votei na
chapa que agora ocupa a diretoria do sindicato. Peço para a direção honrar o
meu voto e permanecer.”
A
presidenta Paula Máiran anunciou que os sindicalistas não vão renunciar. Ela
reconheceu que faltou sensibilidade na ocasião da coletiva, já que o confronto
entre ativistas e jornalistas era tão recente, o que tornou o constrangimento
inevitável. Admitiu também que a direção precisa ouvir mais a categoria sobre
alguns assuntos e se dispôs a manter o diálogo e buscar uma melhor relação com
os profissionais. “A gente sempre tem como melhorar, sempre tem como fazer
mais. E a gente tem toda essa disposição para construir juntos. A gente tem que
trabalhar com e não para a categoria. O sindicato é um instrumento de luta da
nossa categoria e não substituto dela”, concluiu.
A plenária
terminou com a leitura de algumas propostas, com destaque para a criação de uma
comissão que debaterá violência e segurança, e um grupo de trabalho para
organizar o conselho de representantes de funcionários das empresas. Ficou
acertado que os interessados em participar desses grupos devem informar nome e
contatos ao sindicato. Serão marcadas reuniões para iniciar os trabalhos.
Fonte: http://www.mundosindical.com.br/sindicalismo/noticias/noticia.asp?id=17795
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