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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sindicato dos Jornalistas do Rio teme golpe após evento com ativistas

A presidenta do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, Paula Máiran, e diretoria, eleitos em 2013 para mandato até 2015, sofrem com a pressão por parte de trabalhadores, mídia tradicional e entidades patronais. O motivo é uma entrevista, realizada no último dia 25 de julho, na sede do sindicato, com a presença de ativistas que foram presos ou feridos pela polícia durante a repressão aos protestos antes e durante a Copa do Mundo.
À ocasião, a coletiva terminou em bate-boca porque jornalistas julgaram inadequadas as críticas feitas ao trabalho da mídia na cobertura dos enfrentamentos de manifestantes com a polícia, além de criticarem o sindicato por supostamente minimizar os casos de profissionais feridos por manifestantes nas ruas ao divulgar dados sobre jornalistas agredidos. Em material de divulgação, o sindicato destacava que as agressões por parte de policiais contra repórteres eram muito mais numerosas.

Em plenária com a categoria na última quinta-feira (7) para discutir o assunto, Fernando Molica, colunista de O Dia, que atuou como liderança e porta-voz do grupo de oposição, foi o primeiro a falar e citou diversas conversas pelas redes sociais que teve com a presidenta do sindicato. Mencionando falas e trechos de notas e entrevistas dos quais discorda, foi enfático no pedido de renúncia da diretoria e considerou que os sindicalistas não têm mais condição de gerir a entidade. “Esta diretoria já acabou”, vaticinou Molica.
Na mesma reunião, no entanto, um grupo expressivo seguia apoiando a permanência da diretoria – parte concordando com a postura a respeito das agressões, parte discordando. Embora não fossem unânimes quanto à posição da diretoria no assunto, os apoiadores defendiam a legitimidade dos diretores eleitos democraticamente. Alguns jornalistas da EBC se apresentaram para falar, ressaltando a atuação do sindicato na defesa dos profissionais da empresa, sobretudo durante a greve de novembro de 2013, que durou 15 dias. O veterano Cid Benjamin foi um dos que discordaram da postura da direção, mas defendeu a permanência. “Exigir a renúncia da diretoria tem cheiro de golpe”, avaliou.
Os apoiadores também ressaltaram as diversas ações que o sindicato vem desenvolvendo desde a posse, há quase um ano. Essas ações foram listadas em material distribuído pelos sindicalistas à entrada da plenária e algumas foram citadas pela secretária-geral, Claudia de Abreu, durante fala na abertura da plenária. Além de uma campanha salarial dura que teve, entre outras reivindicações, a tentativa de incluir o piso salarial na convenção coletiva, a entidade tem atuado também nas questões do dia a dia. O assédio moral, as condições de trabalho precárias, o não pagamento de horas-extras e a extrapolação de jornada têm sido combatidos pelo sindicato.
A quem interessa a renúncia?
No entender de muitos que participaram da plenária, há interferência das empresas no processo. Um indício foi o recebimento de 70 cartas de oposição ao desconto assistencial entregues por motoboys pagos por empresários do setor. Com atuação mais dura junto aos empregadores, a atual direção do sindicato desagrada os patrões.
A impressão dos sindicalistas é que a questão da violência contra jornalistas e a coletiva dos ativistas foram apenas pretextos para desacreditar a diretoria com objetivo de enfraquecê-la. O pedido de renúncia – que não tem legalidade, segundo o estatuto do sindicato – foi o golpe final na estratégia.
Os opositores não demonstraram disposição para o diálogo e a plenária, por pouco, não acabou mal. A jornalista Cátia Guimarães, da Fiocruz criticou duramente a atitude de uma profissional presente que, do plenário e sem se identificar, classificou os ativistas libertados de Bangu como assassinos. Alguns dos presentes se exaltaram. Os seguranças foram acionados e evitaram que a situação fosse além de empurra-empurra e bate-boca.
Fico
Com a saída dos opositores mais ferrenhos, o clima foi amenizado. Profissionais defenderam a permanência da diretoria. A jornalista Clarisse Basso, da EBC, deu testemunho da atuação da diretoria na defesa dos trabalhadores e fez uma reivindicação direta: “Eu me sindicalizei para participar da eleição e votei na chapa que agora ocupa a diretoria do sindicato. Peço para a direção honrar o meu voto e permanecer.”
A presidenta Paula Máiran anunciou que os sindicalistas não vão renunciar. Ela reconheceu que faltou sensibilidade na ocasião da coletiva, já que o confronto entre ativistas e jornalistas era tão recente, o que tornou o constrangimento inevitável. Admitiu também que a direção precisa ouvir mais a categoria sobre alguns assuntos e se dispôs a manter o diálogo e buscar uma melhor relação com os profissionais. “A gente sempre tem como melhorar, sempre tem como fazer mais. E a gente tem toda essa disposição para construir juntos. A gente tem que trabalhar com e não para a categoria. O sindicato é um instrumento de luta da nossa categoria e não substituto dela”, concluiu.
A plenária terminou com a leitura de algumas propostas, com destaque para a criação de uma comissão que debaterá violência e segurança, e um grupo de trabalho para organizar o conselho de representantes de funcionários das empresas. Ficou acertado que os interessados em participar desses grupos devem informar nome e contatos ao sindicato. Serão marcadas reuniões para iniciar os trabalhos.

Fonte: http://www.mundosindical.com.br/sindicalismo/noticias/noticia.asp?id=17795

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