A greve na USP já dura três meses e tem
originado diversas atividades culturais. Além de eventos promovidos por uma comissão de mobilização composta por docentes em
assembleia que decidiu pela greve da categoria, funcionaram e alunos dos
departamentos também se organizam para promover espaços de debate.
A
Faculdade de Educação, por exemplo, durante os meses de agosto e setembro,
recebe a exposição “Verás que um filho
teu não foge à luta – A História da Luta Democrática no Brasil”. O evento
reúne imagens e textos sobre vários
movimentos sociais históricos ocorridos no país, incluindo o Golpe de 1964 e as
Greves de 1968 e do ABC.
Já na
Escola de Comunicações e Artes (ECA), professores e alunos do curso de
Educomunicação criaram um espaço para
discutir o contexto universitário durante o período de greve. Todas as quartas-feiras, às 19h30, acontece
o evento “Atividades culturais e analítico-reflexivas do período de greve na
ECA-USP”, no Auditório Paulo Emílio.
“O CCA
(Departamento de Comunicações e Artes), em greve, decidiu que o processo exigiria muito mais do que parar
as atividades. Exigiria possibilitar
um debate constante entre alunos, professores e servidores
técnicos-administrativos sobre questões que envolvem diretamente a USP e também
outros elementos da cidadania”, afirma Ricardo Alexino Ferreira, professor
do departamento.
A
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) também se mobilizou.
Até o dia 29 de agosto, acontece a
“Semana da memória, cultura e resistência: cotas e as lutas do povo negro”,
promovida por alunos do curso de história, bolsistas do Programa de Educação
Tutorial (PET-História USP), pelo Centro Acadêmico de História (CAHIS USP) e
por membros do Núcleo de Consciência Negra.
Segundo
integrantes do PET, o evento promove a discussão
de temas relacionados a experiências históricas da população negra brasileira,
em convergência com demandas encampadas pelo Movimento Negro desde 1970. O
objetivo, durante a greve, seria fomentar
o debate sobre cotas e acesso à Universidade entre os estudantes, propiciar a
extensão dos conhecimentos produzidos no ambiente universitário para fora dos
muros da USP.
CANCELAMENTOS
Por outro lado, a greve também causa prejuízos
culturais. Não só aulas e serviços foram interrompidos em várias das unidades,
como muitos eventos extracurriculares tiveram de ser suspensos.
Em alguns
locais, a programação foi paralisada pelo bloqueio de parte dos prédios que
abrigariam os eventos. No site do Cinusp, por exemplo, há um aviso dizendo que
a programação está suspensa por conta da impossibilidade de acesso à sala. Caso
similar ocorre com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), que teve o Café
Acadêmico do último dia 7 cancelado em virtude do fechamento do prédio pelo
Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo).
Outras
unidades, como a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e o Museu da Maria
Antônia, também tiveram a programação afetada pela falta de funcionários. A
biblioteca, como o IEB, teve um Café Acadêmico cancelado, que será reagendado,
mas ainda não tem data prevista para acontecer. No Maria Antônia, cursos que
deveriam ter acontecido em junho serão remarcados, mas não se sabe para quando.
Para
Fabiana Jardim, professora da Faculdade de Educação (FE) e participante da
comissão de mobilização dos docentes, a greve é um espaço de formação, já que o
debate entre pessoas de diversas unidades propicia a união de perspectivas
pluridisciplinares. “O ideal seria que tivéssemos condições de garantir espaços
de diálogo sobre a Universidade mesmo em tempos ‘normais’. Talvez um dos ganhos
dessa greve seja a explicitação de quão ‘anormais’ têm sido os tempos no que se
refere à cultura universitária”, conclui.
COMISSÃO
DE MOBILIZAÇÃO DE DOCENTES
Mesmo com
a interrupção de alguns eventos culturais, a greve proporciona atividades e
discussões que não teriam espaço para acontecer no dia a dia da Universidade.
Nesse sentido, a comissão formada por docentes é responsável pelas programações
de greve e tem reuniões semanais para selecionar temas, preparar e divulgar os
eventos.
De acordo
com Fabiana Jardim, o grupo atua em dois eixos. Um deles é responsável por
propor e organizar as atividades do calendário e o outro recebe e divulga as
informações de eventos das unidades. Para a professora, apesar de suspender
tarefas rotineiras, a greve possibilita a organização de atividades capazes de
ampliar o diálogo entre os três setores (professores, alunos e funcionários) da
Universidade e deles com o público em geral.
“Um dos objetivos das atividades é trazer para o universo da greve pessoas que
não costumam participar de espaços como assembleias, por exemplo. As atividades culturais possibilitam o
engajamento daqueles que, por quaisquer razões, não estão nos espaços de
decisão, mas gostariam de estar nos espaços de debate”, esclareceu Fabiana.
Além das
reuniões semanais, a comissão troca
mensagens diariamente sobre acontecimentos e propostas de atividades e leituras
nas unidades. A comissão se
responsabiliza pelo contato com os convidados, reserva de auditórios e certo de
agendas. Depois, ocorre a programação e divulgação do calendário geral, seja
pelo site da Adusp (Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo), seja
pela página da comissão no Facebook.
por
VICTORIA SALEMI e FABÍOLA COSTA
Fonte: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2014/08/greve-modifica-cenario-cultural-na-usp/
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