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domingo, 9 de março de 2014

Reflexão: As forças verdadeiramente democráticas, no nível local e nacional, dentro ou fora do Estado, podem fazer uma real diferença (Ellen Wood)

“Com ou sem a intenção malévola dos que colocarão em prática esta política, a dinâmica do capitalismo ameaça a justiça social, a paz, a democracia e o meio ambiente sustentável. O capital precisa se expandir incessantemente, e sempre encontrará barreiras no caminho, inclusive aquelas emanadas das suas próprias contradições internas. O capitalismo sempre comportará crises e recessões e para aliviar a pressão decorrente da sua própria lógica contraditória apelará para o recurso de deslocar ou postergar as conseqüências. Em épocas passadas, o capitalismo nascente foi capaz de superar seus obstáculos internos estendendo seu alcance geográfico. Mas, na medida em que se aproximou dos limites do crescimento territorial possível, exauriram-se as possibilidades de deslocamento das suas contradições através da expansão geográfica. Passou a depender cada vez mais do artifício de jogar o peso de seus problemas nas classes trabalhadoras e de subordinar economias utilizando-se de meios que as prejudicam (ou fazendo-as pagar os custos desta subordinação). As estratégias da globalização combatidas pelos anticapitalistas fazem parte desse processo.
[...] Mas é importante notar que a lógica essencial do capitalismo permanece e será, de um modo ou de outro, sempre sentida até que os princípios fundamentais que operam o sistema sejam substituídos por uma sociedade democrática na qual a vida humana não esteja subordinada aos imperativos do mercado.
Não estou querendo dizer que o capitalismo regulado não seja mais humano que o desregulado, nem que as lutas para reformar o sistema são pura perda de tempo. Ao contrário, continua vitalmente importante lutar por toda melhoria possível nas condições de vida e exercer a maior vigilância possível sobre os efeitos destrutivos do capitalismo. Isso significa lutar pela desmercantilização e pela democratização do maior número possível de esferas da vida, por exemplo, nos serviços públicos e sistemas de saúde, na questão da moradia e no provimento das necessidades básicas, entre outras. Ao final, será preciso haver uma verdadeira transformação sistêmica; enquanto isso, a boa notícia é que as possibilidades de lutar dentro do sistema capitalista, para obter o possível, são maiores do que permite entrever a maioria das concepções sobre a globalização.
Essas concepções retratam um mundo no qual o poder do capital está em todo lugar e em lugar nenhum, movendo-se livremente ao redor do globo, fora do alcance de qualquer controle democrático. Mas este retrato é muito enganador. Por mais livremente que o capital se mova ao redor do mundo, ignorando fronteiras territoriais, a verdade é que ele ainda depende tanto quanto sempre dependeu (ou mais) do suporte local, especialmente aquele proporcionado pelos Estados nacionais. Isso significa que as forças verdadeiramente democráticas, no nível local e nacional, dentro ou fora do Estado, podem fazer uma real diferença. [...] e provar ao mundo o que a oposição democrática ao poder imperial pode fazer.”


(WOOD, Ellen Meiksins. O que é (anti)capitalismo?. Net: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/critica17-A-wood.pdf. p. 48-49. Acesso em 09/março/2014)

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