Apesar do “fim” do regime racista do apartheid na África do
Sul desde 1994, no dia 16 de agosto de 2012 todo o mundo viu através das
câmeras o fuzilamento de trabalhadores da empresa britânica Lonmin. Estes
trabalhadores estavam em greve desde o dia 10 de agosto em uma mina localizada
na cidade Marikana, de onde a Lonmin extrai 96% da platina que exporta para o
mundo.
Durante os cinco dias de mobilizações que antecederam o massacre, a
governista N.U.M (União Nacional dos Mineiros) se esforçava para desmobilizar
os trabalhadores e acabar com greve, enquanto a ascendente Associação dos
Mineiros e Trabalhadores da Construção (A.M.C.U, fundada por dissidentes da
N.U.M) se posicionou a favor da greve e atuou pela conquista da pauta
reivindicativa. Tal divergência causou muitos confrontos entre os associados
das duas forças e serviu de pretexto para a intervenção policial durante os
piquetes, resultando em oito mineiros mortos e dois policiais justiçados.
As reivindicações dos mineiros giravam em torno de melhores
condições de trabalho, aumento salarial e exigiam o fim da relação trabalhista
de semiescravidão que é imposta através de vigilância armada e muita punição.
Após o massacre, 270 mineiros foram presos acusados pelo assassinato de seus
próprios companheiros, pois foram enquadrados em uma lei da época do apartheid
que responsabiliza todos os envolvidos em uma manifestação por qualquer morte
ocorrida durante a mesma. Somente após forte pressão social a acusação de
homicídio foi retirada e parte dos trabalhadores foram libertados sem pagar
fiança, mas devem se apresentar à Justiça em fevereiro de 2013.
O massacre ocorreu dois anos após a Copa do Mundo, que
prometia um legado de desenvolvimento e diminuição da desigualdade social.
Porém, o que se vê na África do Sul é um abismo social onde existem ilhas privadas
de segurança e luxo que contrastam com a miséria dos guetos. Foram gastos
bilhões em construção de estádios que hoje estão inutilizados, pois a
manutenção é milionária e enquanto isso a população sai às ruas por direitos
essenciais como saneamento, água potável e emprego. O desemprego atinge 25% da
população e em localidades da capital, como em Soweto (reduto negro e símbolo
da resistência ao apartheid), o índice de desemprego chega aos alarmantes 48%.
O único legado que a classe trabalhadora herdou dos investimentos públicos para
realização da Copa do Mundo foi uma polícia bem armada para defender os
interesses da burguesia nacional e internacional, assassinando e controlando os
trabalhadores que ousam lutar por direitos básicos, e que custaram U$ 115
milhões para os cofres públicos. Já a burguesia e os governantes herdaram da
Copa segurança, enriquecimento ilícito e aumento patrimonial.
No Brasil, a indústria de segurança está em plena ascensão,
impulsionada pelos altos investimentos nos megaeventos (sobretudo Copa e
Olimpíadas). A Security Industry Association (SIA) estima que o setor faturará
até 2017 cerca de R$ 3,7 bilhões de reais tirados do povo e que serão usados
contra o povo. A aprovação do uso do exército para reprimir manifestações e
greves durante os megaeventos pelo governo brasileiro já indica que a classe
trabalhadora haverá de passar por um período de repressão extrema contra as
mobilizações populares, assim como passam nossos irmãos africanos.
[...]
Fonte: UNIPA (2012)
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