“Nos anos seguintes à Guerra, os Estados Unidos, e as
principais economias capitalistas em geral, viveram um longo boom econômico. Em
tais condições, eles tinham um interesse real em desenvolver as economias do
Terceiro Mundo, na medida em que isso favorecesse as suas economias, porque
precisavam expandir seus mercados. Esta foi, portanto, a era das estratégias de
‘desenvolvimento’ e ‘modernização’. Mas o boom terminou nos anos 1970 – em
parte porque a competição entre as potências capitalistas produziu uma crise de
superprodução e queda de lucros; e um movimento descendente começou. O que os
Estados Unidos e seus aliados passaram a exigir do resto do mundo passou a ser
algo diferente. Entre outras coisas, os Estados Unidos precisavam encontrar
emprego para o excesso de capital que não podia mais ser aplicado
lucrativamente em investimentos produtivos. Precisavam deslocar seus problemas
internos para outros lugares. Então os Estados Unidos usaram o controle que
possuíam sobre o sistema financeiro mundial para facilitar a movimentação de
capitais e desencadearam uma orgia de especulação financeira, facilitada (mas
certamente não causada) por avanços tecnológicos que tornaram possível a
movimentação instantânea de capitais.
Condições foram impostas às economias em desenvolvimento
para se adaptarem a essas novas necessidades. No que ficou conhecido como o ‘Consenso
de Washington”, e especialmente através do FMI, o poder imperial exigiu uma gama
de medidas que teriam o efeito de tornar essas economias mais vulneráveis às pressões
do capital global liderado pelos Estados Unidos: por exemplo, a ênfase em
produtos para a exportação e a remoção dos controles de importação, tornando os
produtores totalmente dependentes do mercado para sua sobrevivência, enquanto,
ao mesmo tempo, sujeitava-os, especialmente na área agrícola, à competição dos
produtores ocidentais altamente subsidiados; a privatização dos serviços
públicos, que assim poderiam passar ao controle das companhias sediadas nas
principais potências capitalistas; altas taxas de juros e desregulação
financeira, que proporcionaram enormes ganhos aos interesses financeiros dos
Estados Unidos, enquanto criavam uma crise de endividamento no Terceiro Mundo
(e, numa das perenes contradições do capitalismo, provocavam a recessão “em
casa” no centro do império); e assim por diante.
Este regime é o que conhecemos por “globalização” – e a
primeira coisa que devemos saber sobre ele é que foi resultado não dos sucessos
do capitalismo, mas dos seus fracassos. Foi e é um modo de adiar o momento da
prestação de contas para o capital sediado no centro do império e um modo de
jogar o peso dos encargos em outro lugar. [...]”
(WOOD, Ellen Meiksins. O que é (anti)capitalismo?. Net: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/critica17-A-wood.pdf. p. 43. Acesso em 09/março/2014)
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