“Toda a história do
capitalismo é a história da luta mais encarniçada da classe operária contra
seus exploradores”. (História das Idéias Políticas – Academia de Ciências da
URSS – 1954)
As origens e o início da organização sindical classista no Brasil
A
classe operária brasileira tem sua origem em meados do século XIX, em um
contexto de decadência da utilização do trabalho escravo, onde a economia se
baseava na produção de monocultura do café para exportação. Foi com o capital
do café e subordinado aos interesses do capital financeiro inglês que surgiram
as primeiras indústrias no Brasil. O surgimento e desenvolvimento do
capitalismo trouxe consigo o surgimento de uma nova classe – o proletariado.
Surgiram então as primeiras formas de organização da classe operária. Foram
organizadas a Sociedades de Socorro
Mútuo e Uniões operárias, que tinham um caráter assistencialista e que
acabaram por dar origem aos sindicatos. O objetivo inicial era ajudar os associados
no caso de doenças, invalidez, desemprego, pensões para as viúvas, etc. A Imperial Associação Tipográfica Fluminense,
fundada em 1853, foi uma das mais antigas organizações
profissionais surgidas no Brasil. Em 1858,
funda-se a Sociedade Beneficente dos Caixeiros. Em 1873, fundam-se a Associação
de Auxílio Mútuo dos Empregados da Tipografia Nacional e a Associação dos
Socorros Mútuos, chamada Liga
Operária. Em 1880, organiza-se a
Associação Central Emancipacionista.
Em 1884, funda-se a União Beneficente dos Operários da Construção Naval. Em 1900, funda-se o Círculo Operário do Distrito Federal, e, antes disso, em 1890, o Centro das Classes Operárias, atuava no Rio de Janeiro. Essa
organização teve vida relativamente longa.
A
partir de 1900, aumenta a organização de
associações e sindicatos. A Constituição
de 24 de fevereiro de 1891 já assinalava a liberdade de associação. Em 1906, surgem os sindicatos dos trabalhadores em ladrilhos, em pedreiras, dos pintores,
dos sapateiros, o Sindicato Operário
de Ofícios Diversos, etc. Principalmente
no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, começa a disseminar-se
a organização sindical.
Uma das primeiras lutas
organizadas, realizada no Rio de Janeiro, ocorreu em 1858, quando os tipógrafos
insatisfeitos com os míseros salários que percebiam, declararam-se em greve, exigindo uma elevação
de 10 tostões diários em seus vencimentos. Essa greve durou vários dias e foi vitoriosa. Os tipógrafos foram
vanguardas não só das lutas como também da organização da classe operária no
Brasil.
Junto
com a maior ocorrência das greves nasceram também outras formas de organização:
o Manifesto aos Proletários
elaborado no II Congresso Socialista
Brasileiro (1902), demonstra, ainda que timidamente, a influência das
idéias de Marx e Engels:
“A história das
sociedades humanas, desde que se constituíram e onde quer que se
desenvolvessem, é a história mesma da luta de classes; e desse pugnar
incessante resultou, com o decorrer dos tempos, a eliminação de algumas dessas
classes, podendo-se atualmente considerar que somente duas permanecem,
extremadas em campos adversos, inconciliáveis em seus interesses: tais são a
classe da burguesia e a classe dos assalariados.”
A
luta já demonstrava que a vitória só
poderia ser alcançada levando-se em conta que a luta da classe operária é uma
só e não de várias categorias isoladas. Assim nasceram os sindicatos, cujo
objetivo principal era conquistar direitos. As principais reivindicações da
época eram: melhoria salarial e redução da jornada de trabalho.
Já
em 1892, realizou-se um congresso nacional operário, sem que no
entanto se estruturasse a prevista organização nacional dos trabalhadores. A organização dos operários em âmbito
nacional se deu no primeiro Congresso Operário Brasileiro (1906) que,
contando com a participação de 43
delegados, formou a Confederação Operária Brasileira (COB), cuja luta era
voltada para as reivindicações básicas, com intensa campanha de solidariedade as lutas operárias de outros
países. Nesse período a luta era mais intensa em São Paulo e Rio de Janeiro
e predominava as idéias do
anarco-sindicalismo que se
concentrava na luta dentro das fábricas, através da ação direta, mas negava a
importância da luta política e a necessidade de se constituir um Partido da
classe operária. Via nos sindicatos
o modelo de organização para a sociedade anarquista.
A
Confederação Operaria Brasileira foi
organizada, efetivamente, em 1908,
por 50 associações sindicais do Rio de
Janeiro, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco, e de outros estados.
A COB comandou lutas importantes. Entre elas, realizou grande agitação popular
de ordem geral: organizou e dirigiu, em 1908, o movimento popular
antimilitarista; a campanha contra o fuzilamento do líder anarquista espanhol
Francisco Ferrer, chegando a realizar uma passeata da qual tomaram parte mais
de 5 mil pessoas. Sob a influência dos anarquistas, a COB tinha uma estrutura frouxa e começou a fenecer, verificando-se sua
inatividade até 1912.
No
ano de 1912, por iniciativa da Federação Operária do Rio de Janeiro,
organizou-se uma comissão reorganizadora da COB e convocado um congresso
para esse fim. Ressurgiu novamente a COB e, com ela, a Voz do Trabalhador, seu órgão de imprensa, que chegou a alcançar
uma tiragem de 4.000 exemplares. A COB desenvolveu então intenso trabalho entre
os operários e entidades sindicais, destacando-se uma ampla campanha contra a
carestia, com assembléias e comícios em todos estados e um grande ato e
passeata no Rio de Janeiro, em 16 de março de 1913, com a participação de mais
de 10 mil pessoas. E o comando da greve dos portuários de Santos, em 1912, e a
luta contra a lei de expulsão dos
grevistas. Essa lei previa a expulsão não como grevistas e revolucionários, mas
como cafetões e ladrões, o que despertou grande indignação entre os operários.
A COB enviou delegados à Espanha,
Portugal e a Itália – países de onde provinha o grosso da imigração – para
narrar aos trabalhadores daqueles países o que se passava no Brasil.
Ecoou
no Brasil a Revolução Russa de 1905: por ocasião da revolta dos marinheiros
contra a chibata, comandados por João Cândido, proclamaram: “façamos no Brasil
o que os russos fizeram na Rússia em 1905”.
Desde
o início, os líderes das classes
dominantes e seu Estado já procuravam controlar o movimento sindical. Para
isso usam de várias formas de cooptação,
como em 1912, quando o presidente da “República”, marechal Hermes da Fonseca,
patrocina a realização de um congresso operário, no Palácio Monroe (sede do
Senado) com o objetivo de formar “lideranças” sindicais conciliadoras com o
governo. Esse congresso foi
organizado diretamente pelo tenente Mário Hermes, filho do presidente. A classe
operária considerou essa iniciativa como uma “palhaçada” e a mesma não deu
frutos. A organização tirada nesse congresso veio natimorta e não foi
adiante. O período que vai de 1903 até 1909 é marcado por um ascenso de greves
e mobilizações. Em 1903, uma greve de
carroceiros abala a capital do país (Rio de Janeiro). Em 1905, é uma grande greve de ferroviários
paulistas e outra dos trabalhadores do Porto de Santos (e note-se que entre
as greves mais duramente reprimidas estarão estas que afetam diretamente a
comercialização do café). Em 1907,
declararam-se em greve e conquistaram a jornada de 8 horas de trabalho, em São
Paulo, os pedreiros, os gráficos de diversas empresas e os pedreiros da cidade
de Santos. Também conseguiram reduzir a jornada de trabalho para 9 horas os
metalúrgicos da fábrica Ipiranga, em São Paulo.
Nos
anos de 1911 até 1913 passa-se por certo
refluxo, quando os desmantelamentos de sindicatos pela polícia serão
acompanhados de legislação mais repressiva para expulsão de operários
estrangeiros. Enquanto os anarco-sindicalistas, ao deflagrarem greve
viam-na como um momento de “preparar a greve geral” que destruiria o
capitalismo, os que dirigiam os sindicatos “amarelos” eram imediatistas e não
questionavam o sistema.
Durante
toda a guerra imperialista de 1914-1918
o movimento operário no Brasil lutou contra a guerra. Grandes manifestações
de rua foram realizadas e em outubro de
1915, a COB realizou um Congresso da Paz, lançando um manifesto aos
trabalhadores que dizia: “Concitamos o proletariado da Europa e da América a
uma ação revolucionária, que dê por terra com o atual estado de coisas,
varrendo da face do mundo as quadrilhas de potentados e assassinos que mantêm
os povos na escravidão e no sofrimento”.
O
período que abrange os anos de 1917 a
1920, caracterizou-se por uma onda irresistível de greves de massas que em
muitos lugares assumiram proporções grandiosas. Era a resposta a
vertiginosa queda dos salários dos operários e intensificação da exploração com
a crise de produção após a I Guerra. Foi o caso da greve geral de 1917, em São Paulo, iniciada numa fábrica de tecidos e que recebeu a solidariedade e adesão
inicial de todos os trabalhadores do setor têxtil, seguindo-se às demais
categorias. A paralisação foi total, atingindo inclusive o interior. Em poucos dias o número de grevistas cresceu
de 20.000 para 45.000 pessoas. A repressão
desencadeada aos grevistas foi violenta levando, não raro, alguns operários à
morte como foi o caso do sapateiro Antônio Martinez, atingido por um tiro no
estômago durante uma manifestação operária. Apesar disto, as greves se
alastravam.
Em
1917, o proletariado russo abriu uma nova época na história da humanidade. Os
operários russos, em unidade com os camponeses, derrubaram a burguesia do poder
e estabeleceram seu estado proletário, constituindo-se num exemplo e na
vanguarda do movimento operário mundial. A Revolução Socialista de Outubro de
1917 na Rússia repercutiu intensamente no Brasil, e os sindicatos promoveram
assembléias, conferências e comícios de solidariedade à Revolução e contra a
intervenção estrangeira que promoveu ataque ao poder soviético. No Congresso Sindical realizado em 1920
foi aprovada uma saudação em que dizia: “Saudamos o proletariado russo, que tão
bem alto tem erguido o facho da revolta triunfante, abrindo o caminho do
bem-estar e da liberdade aos trabalhadores mundiais”.
Entre
1918 a 1920 elas eclodiram no Rio de
Janeiro, em São Paulo, Santos, Porto Alegre, Pernambuco, Bahia, etc.,
sempre reivindicando aumento de salários
e melhores condições de trabalho. Nesse período verificou-se uma ampla
campanha dos trabalhadores pelo estabelecimento da jornada de 8 horas de
trabalho. Nesse movimento cabe ressaltar a
greve sui generis dos operários da
construção do então Distrito Federal (atual cidade do Rio de Janeiro). Estes,
após trabalharem 8 horas, retiravam-se para casa. Assim, obtiveram vitória a
sua causa, o que constituiu um passo importante para o posterior
estabelecimento da jornada de 8 horas para todos os trabalhadores.
Esse
período correspondeu ao auge do
movimento anarquista, que era até
então a liderança mais significativa do movimento operário brasileiro. Mas,
ao mesmo tempo, o anarquismo mostrava os sérios limites que jamais conseguiu
superar. Astrogildo Pereira, então militante anarquista e que posteriormente se
tornou um dos mais importantes lideres comunistas assim se refere, às greves
daquela época: “as grandes greves e agitações de massas do período de 1919/20
puseram a nu a incapacidade teórica, política e orgânica do anarquismo para
resolver os problemas de direção de um movimento revolucionário de envergadura
histórica, quando a situação objetiva do país (em conexão com a situação
mundial criada pela guerra imperialista de 1914/18 e pela vitória da revolução
operária e camponesa na Rússia) abrira perspectivas favoráveis à derrubada do
poder feudal burguês dominante. A constatação desse fato, resultante de um
processo espontâneo e a bem dizer instintivo de autocrítica, que se acentuou
principalmente durante a segunda metade de 1921, sob a forma de acaloradas
discussões nos sindicatos operários, levou diretamente a organização dos
primeiros grupos comunistas, que se constituiriam como passo inicial para a
fundação do Partido Comunista”. (Astrojildo Pereira, revista Problemas, nº 39,
1952.)
Nesse
período, o Estado – em virtude de sua
atuação parcial, por ocasião das lutas da classe operária, sempre em defesa das
classes dominantes – apareceu, claramente, diante do proletariado tal qual é:
uma instituição da classe dominante. O proletariado começou a compreender que
não lhe bastava lutar somente por reivindicações econômicas. O problema da
conquista do poder político surgia com força diante da classe operária. Os anarquistas não podiam dar solução a essa
questão, de vez que queriam de imediato uma sociedade sem Estado, sem governo e
sem leis, constituída por federações de trabalhadores. Pregavam utopicamente
uma sociedade sem Estado e sem governo e
não só eram incapazes de dar uma justa direção ao movimento operário como, o
que é pior, desviavam a sua ação do curso histórico correto desse movimento.
Acelerou-se então a queda vertical da influência anarco-sindicalista no
movimento operário. O proletariado avançava na compreensão que precisa desatar
lutas políticas e ideológicas, não se restringir às lutas de caráter econômico,
constituir um partido político independente das demais classes e desenvolver
uma política própria em relação as demais classes da sociedade e do Estado e
preparar as condições para a conquista do poder pelos operários e camponeses.
O avanço da luta operária com a fundação do
P.C.B. - Partido Comunista do Brasil
A
fundação do Partido Comunista se dá em meio à intensificação da luta operária
no país e à poderosa influência da Revolução de Outubro na Rússia que, dirigida
de forma magistral pelo camarada Lênin, derrotou o absolutismo, pôs fim à
exploração sobre os trabalhadores e libertou a Rússia do julgo do imperialismo.
Esse acontecimento repercutiu grandemente no mundo inteiro impulsionando os
povos para a luta.
A
fundação do Partido Comunista constitui um marco no movimento operário e na
vida do povo brasileiro. Corresponde às necessidades do desenvolvimento social.
Com o crescimento do capitalismo, a luta de classes se vai definindo com
nitidez. Os trabalhadores realizam combativas greves, levam a cabo
manifestações de rua e reivindicam seus direitos. As transformações de caráter
democrático-burguês se colocam na ordem do dia e começam a reclamar solução
radical. Já à época, a revolução agrária e antiimperialista requer a direção do
proletariado, condição indispensável para que ela possa cumprir plenamente suas
tarefas básicas. Mas a classe operária, ao fundar seu Partido, é ainda bastante
jovem. Somente durante a I Guerra Mundial, o capitalismo no Brasil adquire
maior impulso. Expande-se a indústria leve, particularmente o ramo têxtil e se
ampliam os meios de transporte, marítimo e ferroviário. Junto à burguesia, se
desenvolve o proletariado, que vende sua força de trabalho não só a
capitalistas nacionais como, principalmente, a empresas imperialistas.
A
classe operária se compõe em boa parte por trabalhadores provindos do campo e
de oficinas e pequenas empresas, notadamente padeiros, pedreiros, carpinteiros,
marceneiros, gráficos, ferreiros, chapeleiros e outros setores profissionais. O movimento sindical, ainda que combativo,
apresenta muitas debilidades. O proletariado mal começa a adquirir consciência
política. Nele, influem imigrantes estrangeiros que, embora com experiência de
luta e espírito de organização, são, em geral, partidários do
anarco-sindicalismo. Até então, o marxismo é pouquíssimo conhecido no Brasil e
mesmo entre a intelectualidade avançada prevalece o anarquismo. Tudo isso não
poderia deixar de repercutir no Partido recém-fundado, que reflete as virtudes
e defeitos da classe operária. Apesar de ter surgido sob a égide da III
Internacional - à qual se filia como uma de suas seções e cujo programa e
estatutos aceita - o Partido pouco conhece o marxismo e muito longe está de
dominá-lo. Falta-lhe suficiente clareza para se orientar com acerto na
realização das grandes e históricas tarefas que se propõe realizar.
Nos
dias 25, 26 e 27 de março de 1922 foi
fundado em Niterói, o Partido Comunista do Brasil, PCB, sob a sigla inicial de
PCSB-IC (Partido Comunista, Seção Brasileira da Internacional Comunista).
Seus fundadores foram: Joaquim Barbosa (alfaiate),
João Pimenta (tipógrafo), Abílio de
Nequete (barbeiro), Astrogildo
Pereira e Cristiano Cordeiro (jornalistas),
Manoel Cedon (alfaiate), Luiz Peres
(varredor), Hermógenes da Silva (eletricista) e José Elias (operário da construção civil), quase todos oriundos do anarco-sindicalismo,
exceção a Manoel Cédom.
Mesmo
com suas debilidades, a fundação do Partido representará um salto na luta da classe operária. Ele alcançará grande
influência nos meios operários, elevando a luta econômica da classe ao patamar
da luta política, da luta revolucionária pelo poder. Todo o crescente movimento
operário da década de 20, após a fundação do PCB entrará em uma nova etapa. As
greves tornam-se cada vez mais constantes e radicalizadas. Surgem várias
organizações e sindicatos classistas e combativos o que faz com que o Estado
tenha que ceder em formular leis que regulamentem o trabalho. As principais
reivindicações da época são a jornada de
8 horas, direito de férias, fim do trabalho noturno, melhorias salariais,
regulamentação para o trabalho feminino e infantil entre outras.
Trava-se
a luta por superar a herança
anarco-sindicalista, o obreirismo1 e por compreender a realidade dos países dominados pelo imperialismo, a
semi-feudalidade, as relações pré-capitalistas. Foram realizados os três
primeiros congressos do Partido, calcados na falsa tese de agrarismo versus
industrialismo, demonstrando já no nascedouro a incompreensão do caráter da
grande burguesia nativa e advogando que o país estava regido por uma suposta contradição
no seio das classes dominantes, que opunha a manutenção do sistema agrário a um
processo industrializante. Na tentativa de romper com o economicismo toma-se o
atalho do Bloco Operário Camponês (BOC),
ingressando pela primeira vez — o que se repete em muitas outras
oportunidades — no eleitoralismo reformista. Em 1928, o BOC concorreu as
eleições e elegeu dois intendentes no Rio de Janeiro.
Embora
o país vivesse o fim do processo de dominação e falência das velhas oligarquias
escravocratas e passasse por momentos de grande agitação produzidos pelos
movimentos revolucionários democráticos burgueses, o Partido Comunista não foi
o protagonista daquela riquíssima situação revolucionária, desprovido que
estava de uma ideologia e linha proletárias, da compreensão científica que
pudesse indicar as tarefas imediatas e as de longo prazo. Ainda que não
estivesse no centro dos acontecimentos (o Tenentismo, a Coluna Prestes, a
Aliança Liberal, Movimento de 30), esteve claramente influenciado pelas teses
da frágil burguesia nacional, que se batia em movimentos militares pela simples
troca de mandatários do país.
A intervenção Getulista no movimento sindical
Os
anos 30 são marcados no seu começo por profunda crise do capitalismo a nível
mundial, seguida da ascensão do nazi-facismo na Europa. A crise de 1929
instigou os apetites dos imperialistas pelas riquezas do Brasil, e a luta entre
eles pela posse dessas riquezas intensificou-se. Nesse período intensificou-se
a penetração dos imperialismos alemão e japonês no Brasil, além do inglês já
fortemente instalado. Com a crise do café que se seguiu ao crack da bolsa de
Nova Iorque, em 1929, criou-se um clima de efervescência revolucionária, decai
o poder dos latifundiários, e financiados pelos monopolistas ianques, a grande
burguesia e setores da pequena burguesia, principalmente os setores militares,
tendo a frente Getúlio Vargas, assumem o poder derrubando o governo pro-inglês
de Washington Luís. Lá instalado, Getúlio recompõe com os barões do café, os
senhores da república velha, traindo as aspirações democráticas do movimento
tenentista.
Era
crescente a ascensão das forças no nazi-facismo na Europa como alternativa do
imperialismo à crise e ao crescimento da luta revolucionária dos povos. Também
no Brasil a ameaça fascista era evidente, com Getulio Vargas cada dia mais
próximo dos nazistas e seus seguidores no país, os integralistas. No mundo
inteiro são formadas frentes populares antifascistas, com destacada
participação operária.
Fruto
de uma cisão nas classes dominantes, o Estado varguista procurou, numa primeira
fase controlar o movimento operário e sindical trazendo-o para dentro do
aparelho de Estado. Uma de suas primeiras medidas foi a criação do Ministério
do Trabalho em 1930, com o nítido objetivo de elaborar uma política sindical
visando conter a classe operária dentro dos limites do Estado e formular uma
política de conciliação entre o capital e o trabalho. Não foi outro o objetivo
da “lei de sindicalização” de 1931
(decreto 19.770) que, contrariando a liberdade de associação sindical
existente no início do século XX, criou os pilares do sindicalismo de Estado no
Brasil. Os sindicatos foram reconhecidos e oficializados pelo Governo, e para
obterem “personalidade jurídica” e representar a classe operária, necessitavam
além de registro em cartório, ser também reconhecidos pelo Ministério do
Trabalho. A lei proibia toda “propaganda
ideológica” (leia-se comunista) nos sindicatos.
Na
apresentação do decreto de sindicalização assim se pronunciou Lindolfo Collor, primeiro ministro do
trabalho do governo Vargas: “Os sindicatos ou associações de classes serão
assuntos de sua prerrogativa imediata, sob as vistas cautelosas do Estado”
e em um comício a que compareceram trabalhadores e sindicalistas, em São Paulo,
em junho de 1931, disse: “Já é hora de
substituir o velho e negativo conceito de luta de classes pelo conceito novo,
construtivo e orgânico de colaboração de classes”. O decreto estabelecia também o controle financeiro do Ministério do
Trabalho sobre os recursos dos sindicatos proibindo a sua utilização pelos
operários durante as greves e definia o sindicato como órgão de colaboração e
cooperação com o Estado. Permitia aos delegados do Ministério do Trabalho o
direito de participarem das assembléias operárias, proibia o desenvolvimento de
atividades políticas e ideológicas dentro dos sindicatos, vetava sua filiação a
organizações sindicais internacionais, negava o direito de sindicalização aos
funcionários públicos e limitava a participação de operários estrangeiros nos
sindicatos, visto que boa parte da liderança operária combativa era ainda
naqueles tempos, de origem estrangeira. Pode-se dizer que o único ponto
favorável para a classe operária nesta lei - definida pelos operários como
“Súmula da ‘Carta Del Lavoro’ do fascismo italiano” - foi garantir a unicidade.
De resto atrelava as entidades sindicais ao Estado.
É
importante ressaltar a forma como parcelas
significativas da classe operária reagiram frente a esta lei. Suportando a
coerção e a pura repressão e ao mesmo tempo, a manipulação ideológica, os
operários resistiram respondendo aos chamamentos das direções operárias e não
se sujeitaram às normas oficiais. A autonomia sindical, oriunda das primeiras
décadas deste século foi mantida até meados de 30. Somente 25% dos sindicatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
e Rio Grande do Sul aceitaram as normas desta lei de sindicalização. O movimento grevista, ao contrário do que diz
a história oficial foi intenso durante este período e, como conseqüência, o
proletariado conquistou inúmeras vantagens trabalhistas, como a lei de férias,
descanso semanal remunerado, jornada de 8 horas, regulamentação do trabalho da
mulher e do menor, etc. Frise-se que algumas
destas leis já existiam mesmo antes de 1930, porém limitadas a algumas
categorias como ferroviários e portuários. Nestes casos a luta operária visou a extensão destas vantagens a todas
as categorias da classe. Nesta época, existia no seio do movimento operário
essas tendências: os anarco-sindicalistas que embora em decadência conseguiram
agrupar seus seguidores na Federação Operária de São Paulo; os socialistas que criaram a coligação de
sindicatos proletários em 1934 e também lutavam pela completa autonomia
sindical; e os comunistas que também em 1934, criaram a Federação Sindical
Regional no Rio e em São Paulo e que no ano seguinte realizaram a Convenção
Nacional de Unidade dos Trabalhadores, reunindo 300 delegados representando
mais de 500 mil trabalhadores quando reorganizaram a Confederação Sindical
Unitária, central sindical de todo o movimento operário no Brasil.
Em
7 de outubro de 1934 ocorre uma
significativa manifestação que
demonstrava a elevação da consciência política das massas operárias. Nesse
dia, os integralistas anunciam a realização de uma grande manifestação e
desfile militar em São Paulo, para comemorar o segundo aniversário da criação
da Ação Integralista. Na Praça da Sé, tradicional centro de manifestações
operárias em São Paulo, os integralistas pretendiam prestar juramento de
fidelidade ao “Füher brasileiro”, Plínio Salgado.
Uma
frente antifascista foi formada e tomada a deliberação de esclarecer ao povo
com um manifesto e comunicados à imprensa sobre as razões das organizações
operárias se manifestarem contra a manifestação integralista, pois os
integralistas alardeavam que empregariam no Brasil os mesmos métodos de
liquidação física dos adversários políticos e das organizações opositoras que
estavam sendo aplicadas ferozmente na Alemanha e na Itália.
Para combater a
manifestação integralista foram formadas duas comissões: uma de mobilização
popular e outra militar. Da segunda faziam parte o líder tenentista João Cabanas, o
ex-comandante Roberto Sisson e Euclydes Krebs, representando o PCB. Ela organizou a estratégia para o ataque a manifestação
integralista. Cada área da Praça da Sé, onde deveria culminar a marcha
fascista, deveria ser guarnecida por uma das organizações participantes do
movimento. Foi elaborada também uma
convocação conjunta para o ato. Assinavam
além dos grupos acima citados, a Coligação dos Sindicatos Proletários e dezenas
de sindicatos e organizações antifascistas. Os jornais A Classe Operária, O
Homem Livre, A Manhã, A Plebe, A Platéia passaram a divulgar o evento. No dia 4
de outubro, A Platéia estampava na primeira página: “O PCB convida todos os
partidos da esquerda e sindicatos operários para uma Frente Única
anti-fascista”. No dia 6 a manchete era: “Pela primeira vez, em São Paulo, um
comício monstro contra o fascismo”.
A marcha dos “camisas
verdes” foi protegida pela polícia e chegou a tomar quase dois quilômetros da
Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Quando se iniciavam a palavras-de-ordem
fascistas, os militantes de esquerda iniciavam o coro de “abaixo o
integralismo!”. Estas primeiras manifestações de protestos foram reprimidas
violentamente. Uma rajada de metralhadora foi efetuada para limpar a Praça da
Sé dos manifestantes que a ocupavam. Mas, isto apenas acirrou os ânimos. Quando
se reiniciou a contramanifestação estourou um novo tiroteio entre as forças de
segurança, ao lado dos integralistas, e os antifascistas. Realizaram-se, então,
minicomícios em cada canto da praça. Neles falaram Fúlvio Abramo, Hermínio Sachetta,
entre outros. O grosso dos militantes
integralistas fugiu logo no início do conflito. Uma testemunha descreveu a
cena: “Despiam as camisas mesmo correndo. Naquela capital do inferno em que se
transformara a Praça da Sé, desabusada e corajosamente, rindo, um antifascista,
Vitalino, carroceiro, dono de um ferro-velho, divertia-se, ajudando-os a
despi-las. Tempos depois vangloriava-se de possuir, como recordação, em sua
casa, mais de uma dúzia delas, guardadas como troféus de um momento histórico”.
Diante desta fuga desorganizada, ironizou o humorista comunista Barão de
Itararé: “Um integralista não corre, voa”. O embate resultou na morte de três fascistas, dois policiais e um
estudante antifascista, além de 121
feridos. No dia seguinte a polícia ocupou os sindicatos do Rio e São Paulo
e prendeu 74 dirigentes antifascistas,
mas o integralismo em São Paulo havia recebido um golpe do qual nunca se
restabeleceria inteiramente.
O
acontecimento histórico ocorrido na Praça da Sé naquela tarde de domingo serviu
de exemplo para todo o país. Os conflitos se multiplicaram e as forças
democráticas e populares não permitiram que os fascistas brasileiros
assaltassem as ruas das grandes cidades e intimidassem o proletariado. Não
permitiriam que acontecesse aqui o que aconteceu na Itália e na Alemanha. A Batalha da Praça da Sé foi também o
momento inicial da constituição da ampla Frente Antifascista no Brasil e que
teria sua principal expressão na Aliança Nacional Libertadora, fundada no ano
seguinte.
Junto com as lutas
sindicais, crescia a mobilização das massas trabalhadoras. Em resposta a esta
situação e seguindo as orientações da Internacional Comunista – IC, em março de
1935, o Partido Comunista do Brasil, então já tendo Luiz Carlos Prestes em suas
fileiras, funda a ANL, Aliança Nacional Libertadora, que atuando como frente
popular antifascista, antiimperialista e lutando pelo estabelecimento de um
governo popular revolucionário no país, rapidamente se transforma em movimento
de massas.
Citada inclusive como exemplo de frente
popular democrática pelo VII Congresso da Internacional Comunista, a ANL, em
poucos meses, atingiu 400 mil membros, grande parte deles operários e
trabalhadores assalariados.
O
governo, prevendo o avanço popular, iniciou sua ação repressiva. E em 4 de abril de 1935, 5 dias após o
primeiro comício da ANL, decretou Lei de Segurança Nacional, que proibia o
direito de greve e dissolvia a Confederação Sindical Unitária, tida como
clandestina por se constituir à margem dos sindicatos oficiais. Alguns
meses depois Filinto Muller, chefe da
policia do Distrito Federal e adepto do nazismo, a mando do governo decreta a
ilegalidade da ANL. Assim, afastada das massas pela ilegalidade imediata, a ANL
e o Partido, incorrendo em erros de concepção, promovem um levante armado, que
por falta de preparação das massas da cidade e do campo, acaba se reduzindo a
sublevações de unidades militares. A insurreição é derrotada e uma escalada
repressiva que já vinha sendo gestada anteriormente ao levante pelo governo
varguista cai sobre as massas populares. Ainda assim, conseguiu-se tomar o
poder por 3 dias em Natal e algumas cidades de Pernambuco. O governo
intensificou a repressão e decretou o Estado de Sítio. Criou ainda a Comissão
de Repressão ao Comunismo; as lideranças sindicais e operárias foram presas,
deportadas e mortas e os sindicatos combativos foram sumariamente fechados.
A
partir de então as associações
“amarelas” já existentes desde as décadas anteriores avançaram sobre o campo
sindical e intensificou-se o processo de controle e cooptação de dirigentes
sindicais por parte do Ministério do Trabalho. Criou-se uma burocracia sindical
dócil, vinculada e escolhida a dedo pelo Estado, cujo objetivo não era outro
senão o de controlar as reivindicações operárias. Implantou-se o “peleguismo”,
configurando um sindicalismo sem raízes autênticas e que permaneceu distante da
classe operária durante os 15 anos da ditadura do Estado Novo.
Em
1939, visando consolidar ainda mais
a estrutura sindical subordinada ao Estado, promulgou-se o Decretou-Lei nº
1.402 que institui o enquadramento sindical; uma
categoria, para ser reconhecida enquanto tal, teria de ser aprovada pela
comissão de Enquadramento Sindical, órgão governamental vinculado ao Ministério
do Trabalho. Assim a estrutura sindical passou a ser decidida à revelia dos
trabalhadores e com os setores organizados de forma separada e estanque, de
forma vertical. A lei não permitia a organização de forma horizontal nos
âmbitos municipal, estadual e nacional. Também o Ministério do Trabalho é que
decide sobre a base territorial de cada organização sindical. Criou-se também
neste ano o Imposto Sindical, estabelecido à revelia do movimento operário e
que através do pagamento compulsório de um dia de trabalho por ano de todos os
assalariados, constituiu-se numa robusta fonte financeira para o Estado e para
a manutenção dos dirigentes pelegos. Por
não ser dinheiro sequer controlado pelos operários e não podendo ser utilizados
nos momentos mais necessários, como durante as greves, o imposto sindical criou
as condições financeiras necessárias para a transformação de sindicatos, que de
órgão de luta da classe tornaram-se organismos prestadores de um
assistencialismo social, função esta que seria do Estado e não dos sindicatos
operários.
Na
década de 40, o movimento operário
continuou a desenvolver-se em meio a muitas dificuldades. Em 1943 o governo Vargas proibiu os dissídios
coletivos e o direito de greve. Durante a Segunda Guerra Mundial, a direção
do Partido Comunista apregoava a “união nacional contra o fascismo”, sob
alegação de pressionar o governo reacionário de Vargas a declarar guerra à
Alemanha e auxiliar a União Soviética. Esta política desprezava a luta
revolucionária, priorizando o apoio ao governo, que nunca escondera sua
simpatia pelo fascismo, e só entrou na guerra pressionado pelos ianques e sob
suas ordens, sem abrir mão de perseguir o Partido Comunista. Sofismava a forma
justa de apoiar a URSS na guerra em que teria de isolar o governo pró-nazista
de Vargas e desenvolver a luta revolucionária pelo poder. Vargas chegou ao
final da guerra aos trastes e foi liquidado por um golpe militar. Após o fim da Segunda Guerra Mundial,
funda-se o Movimento Unificador dos
Trabalhadores, no dia 30 de abril de
1945, que publica um manifesto
assinado por mais de 300 dirigentes sindicais de 13 estados, onde defende-se a
liberdade e autonomia sindical, as liberdades democráticas, mas se cai no mesmo
desvio de lutas por “Código Eleitoral democrático que estabeleça normas sadias
e respeitáveis para a realização de livres e honestas eleições.”
Terminada a Segunda
Guerra Mundial, com o enorme prestígio alcançado pela URSS e os comunistas de
todo o mundo, o Partido Comunista sai da clandestinidade bastante fortalecido. Sua direção, longe de investir
na organização das massas, na construção de instrumentos de luta pelo poder
político, mergulhou no eleitoralismo e na constitucionalidade. O P.C.B., chegou a atingir cerca de 200 mil membros e, nas eleições de
1946, elegeu uma bancada de 15 deputados federais, sendo Luiz Carlos Prestes o
senador eleito com maior número de votos.
Processo semelhante
ocorreu em toda a América Latina e em inúmeros países da Europa, como Itália e
França, com as devidas particularidades. Novamente a reação golpeou o Partido
Comunista por etapas. Primeiro decretou sua ilegalidade, servindo-se do Plano
Cohen1, e com isso os 200 mil afiliados desapareceram da noite para
o dia; em seguida cassaram-se os mandatos comunistas em meio a uma violenta
repressão. Golpeado duramente e de volta à clandestinidade, o Partido inicia,
com o Manifesto de Janeiro de 48 e o de Agosto de 50, a tentativa de
autocrítica frente às ilusões legalistas.
As lutas classistas dos anos 50 e a busca do
caminho classista
Depois
de passar por um momento de grande perseguição aos comunistas e às lutas da
classe em geral, gerando uma desorganização e predominância de posições
reformistas no meio da direção, o movimento sindical tem um novo auge.
Em
finais dos anos 40 já se travava no seio do Partido Comunista a luta pela sua
reorganização no caminho revolucionário. Com as derrotas e fracassos da linha
política, que tornam evidente seu caráter oportunista, o Partido Comunista
inicia a busca do caminho revolucionário. Em agosto de 1950, o Partido faz
séria tentativa de romper com as posições reformistas e de adotar uma linha
verdadeiramente revolucionária. O Manifesto de Agosto, que encarna essa
tentativa, se orienta para a revolução e para a luta armada. Assim procedendo,
o Partido obtém alguns êxitos e isso, evidentemente, irá se refletir nas lutas
da classe operária. Não foram poucas as manifestações por liberdades sindicais,
contra a presença das forças imperialistas, em defesas das riquezas nacionais.
Neste contexto, a campanha pela criação da Petrobrás foi a de maior vulto e
formou-se uma ampla Frente Única contra a aprovação e aplicação do Acordo
Militar Brasil-EUA.
Ocorrem
importantes greves dirigidas pelo
Partido, que procura imprimir maior combatividade às ações de massas nas
cidades e dar atenção ao desenvolvimento da luta no campo. Foi criado o Pacto de Unidade Intersindical. Surgem
alguns movimentos camponeses de cunho revolucionário e eclodem poderosas greves
nos principais centros operários. Dirigidas pelo Partido, as greves têm sentido
mais radical e as ações camponesas em vários lugares resultam em choques com a
polícia, com prévia preparação de autodefesa. São exemplos as batalhas de
Porecatu (PR), no início da década de 50 e Trombas e Formoso (GO). Esta última
foi uma luta árdua e longa entre posseiros e latifundiários, terminando com a
vitória dos posseiros.
É
assim que, no início dos anos 50, sob o
último governo de Vargas, o movimento sindical atingiu novamente grande
dimensão. É importante lembrar que a
classe operária brasileira, de 1940 a 53 dobrou seu contingente e atingiu cerca
de 1.500.000 trabalhadores nas indústrias. As greves começaram a se tornar constantes. Em 1951 realizaram-se quase
200 paralisações atingindo quase 400 mil trabalhadores. No ano seguinte
alastraram-se totalizando quase 300 em todo o território nacional. Em 1953 a luta da classe operária contra a
fome e a carestia atingiu cerca de 800 mil operários. Somente em São Paulo
realizaram-se mais de 800 greves abarcando todas as categorias profissionais. Data
deste ano a greve dos 300 mil
trabalhadores de São Paulo da qual participaram os têxteis, metalúrgicos,
marceneiros, pedreiros, gráficos, entre outros. As celebrações de 1º de Maio
caracterizam por seu caráter político levantando a bandeira da defesa das
riquezas nacionais e contra a presença das forças imperialistas.
As várias comissões de
fábrica criadas pelos comunistas ampliavam dentro das fábricas a presença dos
sindicatos, dando-lhes uma configuração horizontal. Foram sem dúvida anos
de avanço da organização da classe operária. Suas reivindicações fundamentais
se voltavam contra a fome e a carestia, mas, como já ficou demonstrado acima,
não se limitavam ao plano econômico. Especialmente de 1950 a 1955, dirigidas
pelos comunistas, as lutas operárias assumem um caráter classista.
Em
janeiro de 48, o Comitê Central publicou
um manifesto que inicia a autocrítica das ilusões constitucionais, que torna-se
mais enfática e profunda com o Manifesto de Agosto de 1950. Neste, propõe a formação de uma Frente Democrática
de Libertação Nacional para conquistar o poder, estabelecendo um governo
democrático popular destinado a realizar o programa da revolução democrática,
agrária, antifeudal e antiimperialista.
Na
prática também se registram importantes
avanços, como a campanha pelo voto em branco nas eleições presidenciais de
1950, uma linha mais classista para o movimento sindical e, apesar da pouca
penetração no campo, são desencadeadas importantes lutas pela terra, como as de
Porecatu, no Paraná (50). Elas se
desdobrarão em luta armada por alguns anos, a de Trombas e Formoso (em Goiás,
de 54 a 57), que dirigida pelo Partido Comunista, conquistaria a terra. Todo o
período é marcado por covardes assassinatos e massacres de militantes pelos
órgãos repressivos do Estado.
No
Informe Sindical, em maio de 1949, o dirigente comunista Maurício Grabois
chamava a “colocar o partido à frente das massas”, “organizar o proletariado
nas empresas”, “organizar as lutas no campo”, “mobilizar as mulheres e os
jovens” e “lutas contra o imperialismo”. Dava ênfase que “a tarefa mais
importante no trabalho de massas é organizar e unir a classe operária, tendo
por base as empresas e os locais de trabalho onde devem ser organizados fortes
organismos sindicais capazes de conduzir a massa à luta por suas reivindicações
e enfrentar os ataques e arbitrariedades da reação...Quanto aos sindicatos controlados pelo Ministério do Trabalho e pela
polícia, a nossa posição é de combate e desmascaramento de toda burocracia
ministerialista que impede a livre organização dos trabalhadores, de defesa da
liberdade sindical, contra o regime de intervenção nos sindicatos, de luta
contra a traição e a corrupção das juntas constituídas pelos pelegos e contra
todos meios que a reação utiliza ou pretende utilizar para impor o seu controle
nos sindicatos... Isso, no entanto, não significa que devemos abandonar,
pura e simplesmente, os atuais sindicatos. Ao contrário, nos sindicatos onde for possível atuar em defesa da massa, com a
utilização de sua sede e do seu patrimônio, devemos neles ingressar sem o menor
receio ou sectarismo, mobilizando os trabalhadores, pondo o sindicato a serviço
da corporação principalmente tendo em vista a preparação e o desencadeamento de
lutas pôr suas reivindicações. Mas esse trabalho no sindicato deve também estar
apoiado na organização dos operários na fábrica, organização essa capaz de
garantir a continuidade da luta em face de qualquer golpe da reação no
sindicato... Sobre a organização das greves orienta que “não devem apoiar-se
exclusivamente nas comissões centrais, mas também nas subcomissões das seções
da empresa, que garantem a organização e um melhor entrosamento da massa na
luta.”. Nesse período viveu-se a
importante experiência de criação de associações operárias livres apoiadas nas
organizações de base dos locais de trabalho, passando esta orientação do P.C.B.
a ser a linha principal de atuação sindical, embora enfatizasse a necessidade
de intervir também nos sindicatos reacionários. De fato, as grandes lutas
operárias dos anos 50 tiveram como base organizativa as associações operárias e
o seu impulso nesta linha classista e combativa.
Porém,
na essência, a direção do Partido
Comunista persiste na linha do reformismo, com prioridade ao que chama de
burguesia nacional, e, principalmente, não vendo com a relevância necessária a
questão agrária e o papel do campesinato. Consequentemente, não deu seqüência
às definições de luta, deixando de formular e definir uma linha clara e
concreta para desenvolvê-la. Por exemplo, o exército popular, segundo o
Manifesto de 50, seria formado a partir da simples depuração dos “elementos
fascistas” das forças armadas burguesas. Mais uma vez, e de forma inequívoca,
fica patente a falta de confiança nas massas. Na verdade, a política expressa
no Manifesto de 50 foi largamente boicotada. As posições direitistas, com Prestes à frente, vão ganhado vulto, e em
55, de volta ao circo eleitoral, o Partido Comunista está envolvido na campanha
presidencial de Juscelino Kubitschek, consolidando a tática eleitoreira e
pacifista.
A volta ao sindicalismo reformista com a
autocrítica de Prestes
Com
as novas orientações colocadas por Prestes no Manifesto de 1955, a força
acumulada pelo sindicalismo classista nos cinco anos anteriores não servirá à
elevação da organização política da classe operária, inclusive para resistir ao
golpe que ocorrerá em 1964.
Os
anos 60 são de predomínio do
reformismo e as lutas operárias eram hegemonizadas por setores operários
ligados ao PTB. Após imensas manifestações grevistas realizou-se o III Congresso Sindical Nacional, onde buscava-se uma única organização nacional de coordenação da luta sindical: o Comando
Geral dos Trabalhadores (CGT). O CGT tinha o predomínio das posições
reformistas e mantinha um contato estreito com o governo, principalmente com o
governo João Goulart. Nesse período, o Pacto
de Unidade e Ação (PUA), intersindical que congregava os trabalhadores
portuários, marítimos e ferroviários, teve intensa atuação.
Em 1960, o CGT teve
marcante participação na Greve da Paridade, em que 400.000 trabalhadores civis
paralisaram os transportes marítimo, ferroviário e portuário em todo o país,
exigindo a equiparação salarial aos militares. Também em 1962 teve grande importância política na
greve geral que reivindicava, dentre outras questões, a revogação da Lei de
Segurança Nacional, concessão do direito de greve, aumento salarial de 100%,
reforma agrária radical, imediato congelamento de preço dos gêneros de primeira
necessidade, aplicação rigorosa da Lei que controlava a Remessa de Lucros para
o exterior e direito de organização sindical aos camponeses.
Graças as grandes
mobilizações operárias e greves que sacudiam o país, no dia 13 de julho de
1962, foi instituída em lei (n.º: 4.090), a conquista do o 13º salário ou
gratificação de Natal, durante o governo João Goulart.
As
greves se sucediam com rapidez. Em 1963
a célebre greve dos 700.000 que, entre
outras reivindicações, pretendia a unificação da data-base dos acordos
salariais, com o fim de evitar que os reajustes fossem realizados em épocas
diferentes para as várias categorias. Se esta reivindicação tivesse sido
vitoriosa significaria uma mudança importante na legislação sindical vigente
desde o Estado Novo. Apesar disso a greve
conseguiu outras vitórias, obtendo 80% de aumento para todos os trabalhadores,
além de forçar os patrões a dialogar com várias categorias operárias
representadas pelo Pacto de Ação Conjunta (PAC), intersindical que dirigiu a
paralisação. A greve dos 700 mil constituiu-se numa das maiores
manifestações grevistas de toda a história do movimento operário brasileiro.
Lembre-se,
a título de exemplo, que os metalúrgicos
de São Paulo atingiram no período alto grau de mobilização. Segundo o relato de
um militante sindical “não existia nenhuma empresa em São Paulo onde não
existiam delegados sindicais”. Ao que acrescenta que os metalúrgicos não faziam piquetes na sua categoria, pois a adesão era
unânime, mas sim para buscar a adesão de outros setores, como têxteis,
químicos, calçados, etc. Cita ainda que, com o Golpe de 64, além de toda
liderança ter sido esmagada, os 1.800 delegados sindicais metalúrgicos de São
Paulo foram denunciados à polícia e perderam seus empregos.
O
campo também foi atingido pelo avanço das lutas populares, fazendo ecoar a luta
contra o latifúndio, por todo o país. A luta contra o imperialismo e o
latifúndio foi assumida por todo o movimento sindical combativo. Os
trabalhadores iniciaram o processo de mobilização desde 1955, com o surgimento da primeira
Liga Camponesa, no Engenho Galiléia. Um ano antes havia sido criada a União dos Trabalhadores Agrícolas
do Brasil (ULTAB) e pouco a pouco floresceram os sindicatos rurais. Era a
entrada decisiva do campesinato no cenário político nacional, exigindo uma
radical transformação da estrutura agrária, através da substituição dos
latifúndios pela propriedade camponesa e pela propriedade estatal. Exigiam o
acesso à terra para aqueles que desejavam trabalhar, além da extensão da
legislação trabalhista para o campo, com o objetivo de garantir alguns direitos
mínimos aos trabalhadores rurais.
A falta de uma direção
justa causou muitos danos à luta operária no Brasil. Entre junho de 1963 e
novembro de 1964, o Partido Comunista da China denuncia minuciosamente as cinco
teses kruschovistas. Os Dois Todos, (Partido de todo o povo e Estado de todo o
povo), dizia, decretam o fim do partido de classe e da ditadura do
proletariado, negando a luta de classes no socialismo. As Três Pacíficas
(tomada do poder pela via pacífica, coexistência pacífica e emulação pacífica)
desarmam os partidos comunistas para o combate contra o Estado das classes exploradoras
e contra o imperialismo, pela libertação nacional.
A
teoria da “transição” pacífica, acusava o PCCh, empurra os partidos para o
eleitoralismo e a conciliação. O conceito de coexistência pacífica, deturpado,
passa a apregoar o pacifismo nos países capitalistas, não separa mais as
guerras justas das injustas e capitula-se frente ao imperialismo.
Com
a “emulação pacífica” é superestimado o papel das forças produtivas, colocando
a necessidade de melhor desempenho nas empresas à maneira do gerenciamento
capitalista, sob a máscara de concorrência com o imperialismo.
De
fato, iniciou-se uma política de conluio
e pugna do social-imperialismo russo com o imperialismo pela partilha do mundo.
Devido ao profundo desgaste dos PCs pela colaboração aberta com a burguesia de
seus países, muitos de seus quadros romperam com as direções, em busca da
revolução.
Ante a vergonhosa
capitulação da direção do Partido Comunista Brasileiro de Prestes frente ao
golpe de 1964, os quadros revolucionários que ali ainda restavam, como
Marighela, Joaquim Câmara Ferreira e Mario Alves, bem como inúmeros jovens
revolucionários, rompem com a direção e fundam diversas organizações, passando
à luta armada contra a ditadura. A grande maioria foi abatida pela reação ou
pelo conluio do revisionismo e da reação, se desintegrando lentamente no
enfrentamento, nos cárceres, no exílio, mais tarde, nos partidos burgueses, ou
se esgotaram heroicamente no tempo. Outros sobreviveram de forma digna.
O movimento operário durante o regime militar
O
movimento operário, juntamente com a luta camponesa, foi alvo prioritário na
repressão desencadeada pelo regime que se instaurou em 1964 como
contra-revolução armada no poder.
Através
de um discurso ufanista e da propaganda
de crescimento, aumento da produção e controle da inflação (melhor, manipulação
dos índices de inflação), os golpistas justificavam o arrocho salarial; a
repressão aos sindicatos e às greves; o fim da estabilidade de emprego; o
aumento da jornada de trabalho; a concentração da terra, inclusive em mãos
estrangeiras etc. A lei antigreve
data de 1º de junho de 64.
A
legislação antiproletária se constituiu
não apenas no instrumental para o aumento da exploração da força de trabalho,
mas numa peça antinacional imprescindível para as classes
contra-revolucionárias internas. O arrocho provocou o rebaixamento em mais
de um terço dos salários dos trabalhadores , extenuados em jornadas longas, ao
que se acrescentou a necessidade de outros membros da família se incorporarem
ao trabalho.
No
campo, o capital estrangeiro assenhoreou-se da produção de equipamentos,
sementes, fertilizantes, além da comercialização. A crescente necessidade de
exportar produtos agrícolas para compensar as inversões do capital monopolista
no país promoveu o aumento da concentração fundiária, a conseqüente e massiva
expulsão dos camponeses de suas terras para as cidades, ampliando o exército de
reserva, enquanto o Brasil começava a importar alimentos.
Apesar
da violenta repressão desencadeada pelo regime militar, ocorreram greves
importantes. Em 1967 foi criado o Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA)
e uma parcela dos dirigentes sindicais
queria manter o movimento dentro dos limites tolerados pelo Ministério do
Trabalho. Entretanto, antecipando-se à greve geral prevista para outubro de
1968, época do dissídio coletivo dos metalúrgicos, a direção de Osasco
desencadeou uma greve, acreditando na possibilidade de sua extensão para outras
regiões. Iniciada no dia 16 de julho, com a ocupação da Cobrasma a greve
atingiu as empresas Barreto Keller, Braseixos, Granada, Lonaflex e Brown
Boveri. No dia seguinte o Ministério do Trabalho declarou a ilegalidade da
greve e determinou a intervenção no sindicato. Houve ainda a presença das
forças militares que passaram a controlar todas as saídas da cidade, além de
efetivarem o cerco e a invasão das fábricas, o que fez a greve perder seu
fôlego inicial. No seu 4º dia os operários retornaram ao trabalho. Era o fim da
greve de Osasco que entrou para a história da resistência da classe operária
contra a ditadura e o arrocho salarial.
Deflagrou-se também em
Contagem outra greve, no mês de outubro de 1968, contra o arrocho salarial, com
4 dias de paralisação, terminando com a ocupação militar da Mannesman e
intervenção no sindicato.
No
final dos anos 70 as greves voltaram à tona. Especialmente no ano de 1979 ocorreram greves importantes como a da
Volkswagem no ABC paulista, da Mannesman, dos operários da construção e dos
professores estaduais em Minas Gerais, dentre outras. Entretanto, a combatividade das massas, expressa em
tais greves, em geral, foi canalizada para o jogo eleitoreiro, o que fica claro
hoje, quando o oportunismo encontra-se no núcleo da gerência do Estado
reacionário.
O
gerenciamento militar evoluiu para a
forma de Estado de Direito. Os gerentes civis que se sucederam deram
continuidade ao arrocho salarial, cujo mínimo chegou à “vultosa” quantia de R$
300,00. As siderúrgicas, a Vale do Rio Doce, o setor elétrico, o petróleo e
tudo o mais continua sendo entregue a preço de banana e a isso se somam as
contra-reformas e os ataques aos direitos dos trabalhadores que estão sendo
levadas a cabo pelo gerenciamento de plantão.
Criação da CUT: Novo sindicalismo ou
Sindicalismo Laranja (vermelho por fora e amarelo por dentro)?
A
CUT foi criada com base nos quadros formados pela igreja católica, com a benção
de Karol Wojtyla e pelo Sindicalismo ianque (IADESIL), com forte financiamento
das centrais sindicais européias socialdemocratas.
A
criação da CUT consumou a divisão orgânica do movimento sindical brasileiro e
obedeceu ao projeto político do PT. Em junho de 1980, alguns dias após a
formalização da criação do PT, com a realização do seu 1º encontro nacional,
surge o chamado “ENTOES (Encontro
Nacional dos Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical), que mais tarde
viria a chamar-se “ANAMPOS” (Articulação Nacional de Movimentos Populares e
Sindical). Nesse movimento está
articulado o núcleo de sindicalistas que iriam formar a CUT em 1983. A Igreja Católica, embalada com as prédicas
do papa João Paulo II e seu filhote Lech Valesssa teve um peso decisivo nessas
articulações, através de setores da Pastoral Operária, Pastoral da Terra,
Comunidades Eclesiais de Base, fornecendo locais para reunião, todo tipo de
infra-estrutura, recursos e quadros, com a intervenção direta de ativistas e de
padres militantes no movimento operário. Marcada por arraigado anticomunismo, a ANAMPOS, o então braço sindical
do PT além da cobertura da igreja, principalmente católica, foi financiada com
vultosos recursos das centrais sindicais européias, com as construções de
grandes espaços físicos como Escolas Sindicais, recursos para sua movimentação
e financiamento, salários para sindicalistas, viagens por todo o país e
exterior, etc.. Esses recursos nunca deixaram de jorrar no caixa do PT.
Cursos
contra-revolucionários do IADESIL
(Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre) e CIOSL foram feitos para treinar sindicalistas, como o próprio Luiz Inácio,
realizados através de longas viagens ao USA. Lula havia sido introduzido em 1969 no sindicato de São Bernardo pelo
então “interventor” policialesco, amigo dos milicos, senhor Paulo Vidal, de
quem herdou a direção do sindicato em 1975. Foi treinado na Jonh Hopkins
University, em Baltimore, Estados Unidos, ali pôr volta de 1972, 1973, já como
sindicalista amestrado num desses “cursos de formação” onde se aprende a mais
refinada arte da demagogia dos pelegos equilibristas e anticomunistas que se
apresentam como pessoas de esquerda (aparentando ser radical ou moderado
segundo as conveniências dos oportunistas à serviço do imperialismo). Em
1978, Luiz Inácio junta-se a outros dirigentes sindicais (Jacó Bittar e Wagner
Benevides, petroleiros; Olívio Dutra, bancário; João Paulo Pires, Henos Amorina
e José Cicote, metalúrgicos; entre outros) que como ele freqüentaram cursos do
IADESIL/CIOLS, para discutir a criação de um novo partido político. Todo o auto denominado “novo sindicalismo”
impulsionado a partir de São Bernardo do Campo contava com quadros formados pôr
ele e pelos “círculos operários” da Igreja Católica. Como é amplamente
conhecido, desde a greve do ABC que abriu uma grande crise política no país,
Luiz Inácio era recomendado pela eminência parda do regime militar fascista, o
general Golbery do Couto e Silva, como uma reserva estratégica contra o avanço
dos comunistas e outras forças de esquerda no meio sindical e popular. Mais
tarde Luiz Inácio juntamente com Fernando Henrique Cardoso e outras
“personalidades” como Roberto Civita, Celso Lafer, Celina Vargas do Amaral
Peixoto y Jacqueline Pitanguy, tomam parte da iniciativa de círculos
imperialistas ianques, o "Dialogo Interamericano".
Vale
recordar que foi posição unânime entre
as correntes políticas que se denominavam marxistas à época, com raríssimas
exceções, atacar Luiz Inácio de pelego empurrado pelas massas, assim que
ocorreram as primeiras greves no ABC. Mas, assim que Luiz Inácio aderiu à tese
de se criar o “Partido dos Trabalhadores”, toda essa gente mudou o tom e
tornaram seus adoradores.
Em
1º de maio de 1979, em São Bernardo, é
lançado o manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores. Naquele
período estava em curso o processo de transição do gerenciamento militar
impulsionado pelo imperialismo e contando com a colaboração da esquerda
brasileira, que, em quase sua totalidade, já havia capitulado perante a reação.
A suspensão do AI-5, o pluripartidarismo e a lei da anistia, aprovados em 1979,
marcavam um novo pacto social, o da concertação, da colaboração de classes. Os
dirigentes sindicais fundadores do PT, notoriamente anticomunistas, ganhavam
projeção pelos monopólios de comunicação com a onda de greves operárias que
sacudiam o Brasil.
No
plano internacional, surgem novos
ingredientes na disputa entre as potências imperialistas, que deixarão marcas
na conformação do PT. Em 1978, o clérigo polonês Karol Wojtyla assume o papado,
sob a denominação de João Paulo II, e irá cumprir importante papel na ofensiva
ideológica do imperialismo contra a revolução.
A
restauração burguesa na China havia se consumado e o imperialismo tirava
proveito das manifestações de descontentamento que ocorriam nos países
submetidos ao domínio do social-imperialismo russo. Na Polônia, uma onda de greves levava em 1980 à fundação do sindicato
Solidariedade, organização clerical dirigida por Lech Walesa, íntimo de Karol
Wojtyla. Com sua pregação
anticomunista e por ter conseguindo atrair relativo apoio de massas, o
Solidariedade transforma-se em uma coqueluche mundial para o qual convergem
todas as correntes reacionárias e contra-revolucionárias (com exceção daquelas
ligadas ao revisionismo soviético).
Esta mesma aliança da
Igreja Católica (todas suas alas), com as diversas correntes trotskistas e
semitrotskistas, os renegados e ex-guerrilheiros arrependidos, que começavam a
voltar ao país, conformam o PT. O discurso
de defesa do socialismo pequeno-burguês e radicalismo antipatronal, é empregado
para angariar prestígio junto às massas. Os revisionistas, que se opuseram inicialmente ao petismo, logo irão se
incorporar à frente popular eleitoreira de Lula presidente. Derrotado nas primeiras disputas
presidenciais, o PT assume descaradamente suas posições burguesas, com
sucessivos rachas internos.
A
trajetória da CUT é semelhante, é parte
do mesmo processo. Assim como a CIOLS, seu
surgimento em agosto de 83, já traz a marca de sindicalismo amarelo.
Divisionistas, os sindicalistas petistas rompem com um processo que estava em
curso desde o início dos anos 80, e que apoiava-se na onda de greves do período,
para a construção de uma única central sindical no país. E o papel da CUT é impulsionar a construção do PT. E, assim como ele, a
CUT adotou no início um discurso ultra-radical, antipeleguista e antigetulista.
Pouco a pouco, esse discurso e sua prática foram transitando do radicalismo
liberal para a colaboração de classes como doutrina. Hoje, tanto o partido
quanto a central estão sob domínio absoluto da mesma corrente Articulação,
oriunda da CIOLS e dirigida por Luiz Inácio, que passou a denominar-se Campo
Majoritário e agora mesmo com o processo de afundamento do PT, continua
mantendo a hegemonia.
Em
artigo publicado na revista Democracia e
Socialismo – nº 1- o economista Paulo de Tarso Venceslau, então membro de um
diretório do PT, em São Paulo, assume que essas centrais sindicais européias
contribuíram com cerca de 400 mil dólares e que o fato foi amplamente divulgado
pela imprensa na época e assumido publicamente pela ANAMPOS.
A
dispersão do movimento operário, causada
pelo golpe militar, a falta de uma orientação classista e combativa e
conseqüente predomínio do oportunismo de direita no seio do movimento
revolucionário e sindical, totalmente atrelado ao Estado (como caracterizava o
PT em suas origens), facilitou a implementação do projeto político do PT.
Assim, encontrou-se um terreno propício
e um caminho relativamente fácil para que à frente de sindicalistas
anticomunistas, guerrilheiros arrependidos, estudantes trotskistas,
intelectuais da pequena-burguesia liberal (CEBRAP, financiado pela Fundação
Ford) e outros tantos de renegados do marxismo e traidores, financiados pela
burguesia européia e pela Igreja pudessem progredir com seu projeto. Partidos políticos que inicialmente foram
contra o projeto divisionista da CUT, como é o caso do MR8, PCdoB e PCB entre
outros (ainda na clandestinidade), hoje já se encontram ou devidamente
abrigados em cargos na central e no governo ou em total apoio a sua política
antipovo.
Em sua fundação a CUT,
inegavelmente financiada pelo imperialismo, teve que assumir posições
combativas para atrair seguidores, arrastar massas e ganhar força, marcando sua
atuação por greves, lutas por reajustes salariais, defesa da “reforma agrária
radical sob controle dos trabalhadores”, repúdio ao FMI e disputas acirradas
pelo controle de sindicatos com os pelegos tradicionais.
Durante
o governo Sarney radicaliza suas posições contra a proposta de pacto social
feita pelo governo, caracterizando-se este, como o período por excelência, de
sua projeção nacional e internacional. Em setembro de 1988, a CUT aprova o
apoio a 1ª candidatura de Luiz Inácio e inicia o processo gradual, porém
sistemático, de abrandamento do discurso e incrementação da burocratização da
central, dificultando crescentemente a participação dos delegados para os próximos
congressos.
Durante
o governo Collor fica mais explícita a política de colaboração de classes da
CUT, com a priorização da “negociação” e “concertação” e as parcerias com a
patronal, através da participação nas Câmaras Setoriais (mecanismo adotado pelo
governo para defender os interesses dos setores monopolizados e prejudicar os
trabalhadores).
A combativa greve de 32
dias dos petroleiros, no governo FHC, em 1995, é
desautorizada por Luiz Inácio e a Central, através de seu presidente
Vicentinho, atua para isolá-la pressionando os trabalhadores ao recuo sem
conquista alguma. Aliado ao embate eleitoreiro também ocorre a
contemporização com a participação na reforma da Previdência do governo e a
traição de aceitar a mudança do tempo de serviço pelo tempo de contribuição,
entre outras.
As
medidas de flexibilização de direitos de
FHC de banco de horas, terceirização, contrato temporário, tiveram acolhida nas
discussões com a CUT e praticadas nos sindicatos a ela filiados. Ademais de
ter sido da iniciativa do cutista Luiz
Gushiken, os projetos de previdência privada através dos Fundos de Pensão,
dando plena assessoria a FHC.
A CUT culmina o seu
caminho eleitoreiro e papel de trampolim eleitoreiro do PT com a eleição de
Luiz Inácio a presidente da “República”, tendo como vice o grande
burguês/latifundiário José Alencar, em uma conformação da aliança dos
oportunistas com forças da grande burguesia burocrática junto com o latifúndio.
Luiz Inácio Marinho posto no comando da CUT
Sem a menor cerimônia, o
presidente Luiz Inácio indicou e garantiu a eleição de Luiz Marinho para
presidente da entidade. Ele não havia sido indicado pelos delegados do
congresso da CUT, nem mesmo surgiu de qualquer debate na base da própria
Articulação, foi mesmo uma “indicação” direta do Presidente da República. Isto não é novidade; entre outros episódios destaca-se o da
decisão de filiação à CIOLS, decidida na 5ª Plenária Nacional da CUT, realizada
de 15 a 18 de julho de 1992, questão
que encontrava enorme resistência na base da central, Luiz Inácio foi a
plenária e comandou pessoalmente o rolo compressor pela sua aprovação, através
das manobras típicas do sindicalismo mafioso praticado no Sindicato dos
Metalúrgicos do ABCD e outros. Homem da sua confiança pessoal, Marinho
notabilizou-se no ABC pelo bom relacionamento com as montadoras transnacionais,
a defesa ardorosa da participação nas câmaras setoriais, flexibilização dos
direitos trabalhistas, banco de horas, redução de salários, negociação das
cotas de demissão e terceirização.
Em 1984, Marinho já
entra para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no cargo de tesoureiro, função
que exerce por seis anos; na gestão de 1990-93 foi secretário-geral, sucedeu
Vicentinho na presidência em 1993, cargo que ocupou até recentemente. Sua atuação a frente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é marcada pelo bom e direto relacionamento
com as matrizes das transnacionais instaladas no ABC. Sempre se dobrando às pressões das montadoras, Marinho fez várias
viagens a Alemanha, Estados Unidos, assinando acordos nocivos aos
trabalhadores, encobertos por um discurso corporativo e de colaboração de
classes.
Prova do relacionamento
íntimo com as transnacionais é o apoio da Volksvagen, Ford, GM, Mercedes Benz,
Scania ao Centro de Documentação e Memória do Sindicato (ABC de Luta – sic) e a
todas atividades sociais do Sindicato. A Fundação
Friedrich Ebert (FES) e o Instituto Latino-Americano de Desenvolvimento
Econômico e Social (ILDES), órgãos da social-democracia e diretamente
financiados pelo governo alemão, são os principais parceiros do Sindicato.
Toda essa colaboração de classes se traduz no arrocho salarial dos metalúrgicos
do ABC e na terceirização aplicada em larga escala, além dos bancos de horas,
negociação de férias, 13º salário, entre outras violações de direitos, e até
implantação de controles típicos da GESTAPO nazista de comissões de avaliação
de desempenho formadas por chefia e comissão de empresa para avaliar a
produtividade dos trabalhadores e encaminhar demissões.
E
Luiz Inácio Marinho, hoje ministro do
Trabalho está mostrando para o que veio: uma de suas primeiras ações como
presidente da CUT foi entregar ao governo um documento onde a CUT além de
defender a reforma da previdência, faz apologia de que as reformas ampliam
direitos. Depois de se reunir com o ministro da fazenda, Antonio Pallocci, saiu
com a tese de que seria possível a redução da taxa de juros com os empréstimos
bancários descontados diretamente da folha de pagamento dos trabalhadores, isto
é, os trabalhadores passariam a ser reféns dos bancos e sofreriam desconto
antes mesmo de receber os salários. Luiz Inácio Marinho, quando na presidência
da CUT, também se empenhou nas articulações de sabotagem da greve de julho de
2003 dos servidores federais .
Cúpula da CUT ajuda a implementar contra-reformas
A
nomeação de Luiz Marinho para o Ministério do Trabalho, desmascara o papel
nefasto da cúpula da CUT para a luta operária e jogou de vez no chão a máscara
de classista que cobria sua cara monstruosa de nascença. Além de defender,
ocupam postos na direção do Estado burguês-latifundiário para aplicar a
política ordenada pelo imperialismo de cortes de direitos dos trabalhadores e
intervenção do Estado no movimento sindical. Através das contra-reformas
sindical e trabalhista visam saciar os ditames do FMI de mais arrocho sobre os
trabalhadores e buscam estabelecer o monopólio sindical nas mãos da CUT e
pelegos congêneres.
Os
últimos escândalos de corrupção, mensalão, etc., têm comprovado qual sempre foi
o real interesse do grupo que criou e conduziu esta central sindical. Da
primeira diretoria da CUT fizeram parte aqueles que hoje estão no centro da
crise do mensalão, dentre eles, Delúbio Soares. Apesar da ação eleitoreira dos que dirigem a formação da Conlutas e
demais centrais que se mantêm presos aos desvios eleitoreiros, as perspectivas
para a luta são crescentes. Esse desmascaramento tem intensificado a
decisão de outros setores combativos de romperem com a CUT e construírem um
movimento sindical em torno da luta classista que se desenvolve passo à passo.
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