Material |
O II
Encontro Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador no Ramo de Comércio e
Serviços - Planejando a Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador
ocorreu nos dias 13, 14 e 15 de maio de 2013, a partir das 19h, no auditório do
Hotel Amuarama, em Fortaleza/CE, organizado pela CONTRACS (Confederação
Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços -
http://www.contracs.org.br).
A abertura
do evento ocorreu com mesa formada pelo Presidente da CONTRACS/CUT Alci Matos
Araújo, o Secretário de Saúde e Segurança do Trabalhador da CONTRACS/CUT
Domingos Braga Mota, o Presi dente da FETRACE (Federação dos Trabalhadores no
Comércio no Estado do Ceará) Elizeu Rodrigues Gomes, a Presidente Estadual da
CUT/CE (Central Única dos Trabalhadores no Estado do Ceará) Joana D’arc Barbosa
Almeida, a Secretária estadual de Saúde do Trabalhador da CUT/CE Telma Maria de
Castro Dantas e pelo Assessor da Secretaria de Saúde do Trabalhador da
CUT/Nacional.
Público atento |
Em
seguida, houve a apresentação das cartilhas das Normas Regulamentadoras de
Saúde do Trabalhador (NRs), com foco na Norma Regulamentadora nº 17, Anexos I e
II.
Na manhã
do dia 14 de maio, a mesa Política Nacional de Saúde do Trabalhador teve como
ministrantes o Diretor Técnico da Fundacentro (MTE) Domingos Lino e o Assessor
da Secretaria de Saúde do Trabalhador da CUT/Nacional Plinio Pavão.
Participação das lideranças |
O
representante da Fundacentro dispôs sobre a Fundação e seu papel na elaboração
das Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, bem como sobre
as atuais NRs e os debates sobre possíveis regulamentações quanto à saúde e a
segurança do trabalhador. Reiterou a importância da negociação coletiva e do
tripartismo, como fonte viável para o diálogo social e a melhoria das condições
do trabalho. “Saúde se negocia, não se deve fazer a negociata”, ressaltou,
fortalecendo o papel técnico (NRs) conjuntamente com a luta política de cunho
ideológico. Ser técnico de segurança do trabalho é muito além de estar
entregando EPI e impor o cumprimento das normas.
A Fundação
Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro -
www.fundacentro.gov.br), conforme o sítio digital da Fundação, foi criada
oficialmente em 1966, tendo os primeiros passos de sua história dados no início
da década, quando a preocupação com os altos índices de acidentes e doenças do
trabalho crescia no Governo e entre a sociedade. A ideia de criar uma
instituição voltada para o estudo e pesquisa das condições dos ambientes de
trabalho, com a participação de todos os agentes sociais envolvidos na questão,
começou a ganhar corpo, inspirada no modelo da Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Sua vinculação, em 1974, ao Ministério do Trabalho - MTb, fez
com que crescessem as atribuições e atividades da instituição, exigindo um novo
salto da entidade: a implantação do Centro Técnico Nacional, cuja construção
teve início em 1981, sendo concluído em 1983, no bairro de Pinheiros, em São
Paulo.
Fundacentro |
A missão
da Fundacentro está na produção e difusão de conhecimentos que contribuam para
a promoção da segurança e saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras, visando
ao desenvolvimento sustentável, com crescimento econômico, equidade social e
proteção do meio ambiente. Assim, dispõe de uma rede de laboratórios em
segurança, higiene e saúde no trabalho e de uma das mais completas bibliotecas
especializadas, além de profissionais formados em várias áreas, muitos deles
pós-graduados no Brasil e exterior, que atuam basicamente em três frentes:
desenvolvimento de pesquisas em segurança e saúde no trabalho; difusão de
conhecimento, por meio de ações educativas como cursos, congressos, seminários,
palestras, produção de material didático e de publicações periódicas
cientificas e informativas; prestação de serviços à comunidade e assessoria
técnica a órgãos públicos, empresariais e de trabalhadores.
Debate real |
Hoje, a
Fundacentro está presente em todo País, por meio de suas unidades
descentralizadas, distribuídas em 11 Estados e no Distrito Federal. Atuando de
acordo com os princípios do tripartismo, tem no Conselho Curador sua instância
máxima.
Plínio |
Plínio
Pavão asseverou que o debate sobre saúde e segurança nas relações de trabalho
ultrapassa os limites técnicos, como os propostos pela Fundacentro e pelo
Estado, gerando problemas, inclusive, em face do tripartismo. Ressaltou que é
um debate essencialmente ideológico, do qual a categoria patronal sempre se
esquiva partindo dos argumentos relacionados à livre iniciativa e à gestão
própria da empresa, com prejuízo para o diálogo social e à produção de normas autônomas
como as Convenções e os Acordos Coletivos de Trabalho (CCTs e ACTs). Ressaltou
a importância da ampliação do diálogo com participação mais efetiva dos
trabalhadores. “Não podemos colocar todas as nossas fichas no tripartismo, pois
ele é muito limitado [...] a técnica é importante, mas não podemos falar com o
patrão apenas em relação às normas, mas trazendo ideologias para avançar”,
finalizou.
Rui (CONTRACS) compromisso |
Nos
debates, o Presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho Marvão
questionou sobre o sucateamento da Fundacentro e ressaltou a importância de
mesclar a positivação de normas de saúde e segurança e as questões ideológicas,
aprimorando as relações laborais.
Ana
Rueder, Sindicato dos Comerciários de Jaraguá do Sul, destacou vários
problemas, especialmente relacionados com a aferição dos acidentes de trabalho
e os resultados das auditorias junto à Previdência Social.
NR 17 |
Dentre os
demais participantes do debate, ressaltou-se o papel dos CERESTs (Centros de
Referência em Saúde do Trabalhador); as dificuldades na efetivação da Rede
Nacional de Saúde do Trabalhador (RENAST); o não reconhecimento de diversas
doenças como incapacitantes para a Previdência; os problemas do tripartismo nos
órgãos do governo.
A mesa
seguinte, Organização do Trabalho e Saúde e Segurança do Trabalhador, trouxe
apresentações da representante da Fundacentro Cristiane Queiroz Barbeiro Lima e
do Membro do GRUPE (Grupo de Estudos e Defesa do Direito do Trabalho e do
Processo Trabalhista), Vice Presidente da Comissão de Direito Sindical OAB/CE,
advogado Clovis Renato Costa Farias.
Esclarecimentos |
Cristiane
Queiroz destacou os aspectos problemáticos relacionados à postura ideológica
adotada pelo governo brasileiro quanto à saúde do trabalhador, bem como sobre
as políticas públicas voltadas para a saúde do trabalhador. Em tal contexto,
passou a tecer esclarecimentos primordiais sobre as normas regulamentadoras do
MTE atinentes ao comércio e a apresentar estudos desenvolvidos pela Fundacentro
para aprimorar as NRs.
Proximidade |
Clovis
Renato iniciou sua fala agradecendo a oportunidade, concedida pela CONTRACS por
indicação do Coordenador do DIEESE/CE Reginaldo Aguiar, de trabalhar tema tão
relevante e invisibilizado pela sociedade como o assédio moral e sexual nas
relações de trabalho, ressaltando a relevância de tais entidades no
aprimoramento das relações laborais. Para tanto, partiu da análise com base nas
teorias de Boaventura de Sousa Santos, no tocante à sociologia das ausências, a
sociologia das emergências e a ecologia dos saberes, para poder tornar visível
e instigar o combate a tais medidas acintosas no Brasil.
Alegria |
Partiu em
suas considerações trazendo conceitos importantes a serem trabalhados para a
melhor compreensão da temática do assédio, tais como, trabalho Decente,
Solidariedade, Justiça e Saúde nas relações de trabalho. Assim, explicou
Trabalho decente, como “ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos
da Organização Internacional do Trabalho (OIT): o respeito aos direitos no
trabalho (em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa
aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adotada em
1998: (i) liberdade sindical e
reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii) eliminação de
todas as formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho
infantil; (iv) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de
emprego e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão
da proteção social e o fortalecimento do diálogo social. Solidariedade como
adesão circunstancial à causa ou à empresa dos outros; Justiça como virtude que
consiste em uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é
devido; e Saúde, conforme a Organização Mundial de Saúde como "um estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de
afecções e enfermidades".
Clovis Renato |
Ressaltou
que compreende existirem diferenças de abordagem quanto ao serviço público e a
iniciativa privada, mas, diante da natureza do evento, disporia com ênfase no
setor privado. Ainda, ressaltou compreender serem tais atitudes de assédio
fruto de uma consciência coletiva que confunde subordinação laboral com
conceitos de superioridade/inferioridade humana, o que deve, identicamente, ser
repensado e modificado.
Na
definição de assédio moral, sugerindo a cartilha do MTE, de distribuição e
reprodução gratuita, como os atos cruéis e desumanos que caracterizam uma
atitude violenta e sem ética nas relações de trabalho, praticada por um ou mais
chefes contra seus subordinados. Trata-se da exposição de trabalhadoras e
trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o
exercício de sua função. É o que chamamos de violência moral. Esses atos visam
humilhar, desqualificar e desestabilizar emocionalmente a relação da vítima com
a organização e o ambiente de trabalho, o que põe em risco a saúde, a própria
vida da vítima e seu emprego.
Visibilização de situações invisibilizadas pelos meios hegemônicos de comunicação |
Com
relação ao assédio sexual, também valorizando a cartilha do Ministério do
Trabalho e Emprego, dispôs consistir, no ambiente de trabalho, em constranger
colegas por meio de cantadas e insinuações constantes com o objetivo de obter
vantagens ou favorecimento sexual. Em atitude pode ser clara ou sutil; pode ser
falada ou apenas insinuada; pode ser escrita ou explicitada em gestos; pode vir
em forma de coação, quando alguém promete promoção, desde que ceda; ou, ainda,
em forma de chantagem.
Comerciários do Ceará e do Brasil |
Demonstrou
casos hipotéticos para apresentar um quadro passível de viabilizar o combate de
tais condutas, nos seguintes passo: 1 - Constatação inequívoca – Registros das
ações em arquivo pessoal (maior número de detalhes possível) - Comunicação aos
colegas ‘de confiança’ e anônima às entidades e órgãos de proteção (organização
sindical – órgãos públicos trabalhistas) – Prevenção/Diálogo (entes coletivos
e/ou estatais – contato direto com o assediador e/ou responsável, com
perspicácia para não identificar o denunciante); 2 - Comprovação - Ação
Judicial – Criação de precedentes.
Participação dos ouvintes |
O período
vespertino tratou sobre Seguridade Social e Estratégias Sindicais, com
apresentação por Janaina Barreto da Silva (Castagna Maia Advogados).
A partir
das 16h houve o desenvolvimento das mesas temáticas A Juventude e o adoecimento
no trabalho e suas consequências, seguida pela mesa A Saúde da mulher
trabalhadora, com encerramento pela mesa A Saúde do trabalhador/a negra.
No último
dia, foram desenvolvidos trabalhos em grupo com os motes: a) quais os maiores
problemas identificados junto à categoria; b) quais os maiores problemas para a
ação sindical; c) a partir dos levantamentos das dificuldades proposições de
duas ações de âmbito nacional que possam ser desenvolvidas em conjunto com a
confederação. Tais debates foram seguidos de apresentações, sistematização e
encaminhamentos dos trabalhos em grupo.
Ao final,
foi eleito o Coletivo Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador, continuando
com a avaliação do evento e o encerramento com o lançamento das Cartilhas NR-17
– Anexos I e II e com o Ato no Call Center da CONTAX – representante OI no
Ceará, empresa vizinha do hotel.
A CONTRACS
surgiu no Brasil após uma história de lutas organizadas, como demarcado pela
entidade, em fases distintas, das quais se destacaram: a) em 1987, a proposta
da CUT de uma nova organização dos trabalhadores no comércio e a ineficácia da
estrutura oficial de organização sindical do ramo motivou sindicatos de
comerciários de várias partes do país, filiados à CUT, a se unirem pela criação
de uma entidade verdadeiramente voltada à defesa dos trabalhadores do comércio
em nível nacional. b) Com essa mentalidade de inovação e luta, em 09 de
setembro de 1987, a Secretaria de Política Sindical da CUT reuniu os sindicatos
de comerciários do Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa
Catarina para formar uma comissão provisória com o objetivo final de criar o
Departamento Nacional de Comerciários, o DNC, embrião da Contracs/CUT. c) Em
1993, o 2° Congresso do Departamento Nacional de Comerciários, realizado de 27
a 29 de janeiro, em Vitória – ES, inaugurou uma nova fase da instituição. Os
participantes do congresso aprovaram uma alteração significativa na organização
do DNC que avançou para o conceito de construção de ramo, aglutinando comércio
e serviços e transformando o Departamento em Confederação, que passou a
representar os trabalhadores no comércio e serviços. Nasce daí a CONTRACS –
Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT. João de
Deus do SEC de João Pessoa – PB e Antonio Limberg do SEC Santo Ângelo – RS
foram eleitos Presidente e Vice-Presidente, respectivamente, da entidade.
Clovis
Renato Costa Farias
Doutorando em Direito da UFC/Bolsista da
CAPES
Professor membro do EDH/Unichristus
Orientado do Projeto Comunidade e Direitos
Sociais
Membro do GRUPE, do Instituto Pensar Direito
(IPD) e da ATRACE
Vice Presidente da Comissão de Direito
Sindical da OAB/CE
Autor da obra ‘Desjudicialização: conflitos
coletivos do trabalho’ e das Páginas:
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