Reitor da
UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Targino de Araújo Filho assumiu
neste mês a presidência da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior) com dois grandes desafios: corrigir
os problemas da expansão da rede federal e planejar o aumento de vagas proposto
pelo PNE (Plano Nacional da Educação).
Na
entrevista, o reitor reconhece o déficit de servidores e professores na rede e
diz que o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e a implantação da Lei de Cotas
trouxeram mais demanda por assistência estudantil. Leia a entrevista a seguir:
UOL
Educação - Na sua opinião, quais são os maiores desafios das universidades
federais e, portanto, da nova gestão da Andifes?
Targino de
Araújo Filho - A diretoria anterior entregou à presidente Dilma e nós
pretendemos entregar aos demais candidatos um novo plano para o desenvolvimento
das universidades, que implica em terminar a consolidação do processo de
expansão da rede federal. Ele contempla o desenvolvimento nacional, o
desenvolvimento regional, a inovação tecnológica e a internacionalização-- e
outros dois eixos transversais, que são a formação de professores e a educação
a distância. Eu considero que esse [plano] é o nosso grande desafio.
UOL - Nos
últimos anos, houve uma expansão significativa da rede federal. No entanto,
professores, alunos e servidores reclamam que falta infraestrutura e pessoal
nas universidades. O que tem sido feito para resolver esse problema?
Araújo
Filho - Na verdade, o processo de expansão começa em 2005/2006, o que se chamou
de fase 1, em que foram criados alguns campi. E depois, em 2007, nós tivemos o
Reuni [programa de expansão de vagas], que teve um grande impacto -- o sistema
federal dobrou de tamanho. E tudo o que foi pactuado pelo MEC tem sido
cumprido. Agora, é claro que essa ampliação toda trouxe um impacto sobre a
universidade que já existia, e estamos tentando acabar de acertar os efeitos
dessa expansão toda.
UOL - O
senhor acha que não há falta de infraestrutura e de pessoal?
Araújo
Filho - Nós temos um deficit de servidores técnico-administrativos, eu não tenho
isso quantificado, mas é anterior [ao Reuni]. Nós ficamos sem contratar
professores e servidores de 1995 em diante. Os professores [que se aposentavam]
voltaram a ser repostos a partir de 2006, mas os servidores só a partir de
2011. Então, nós temos um deficit que precisa ser equacionado. Esse processo de
equacionamento se iniciou neste ano em março e nós temos uma promessa do MEC de
que em novembro ainda teríamos a alocação de mais servidores. Esse é um deficit
real nas universidades que já existiam, não nas universidades novas.
UOL -
Neste ano, servidores de várias universidades federais entraram em greve. Qual
é a posição da Andifes quanto à paralisação?
Araújo
Filho - Nós entendíamos que o MEC estava cumprindo o acordo com relação ao que
foi pactuado em 2012. No entanto, houve a greve, que trouxe um prejuízo grande
para as universidades, porque foram mais de 90 dias de greve.
UOL - O
PNE prevê um aumento expressivo do número de vagas da graduação e da
pós-graduação. Como fazer essa expansão em dez anos e resolver os problemas que
já existem?
Araújo
Filho - O PNE traz um desafio imenso para as universidades e para o país.
Quando eu falo das universidades, é principalmente no que diz respeito ao
aumento da pós-graduação, que ela se expanda pelo país como um todo de maneira
mais homogênea. Só assim a gente vai conseguir manter os professores, porque
eles querem ter o seu espaço para a pesquisa, que se dá com a pós-graduação e a
instalação dos laboratórios. O país também precisa aumentar muito o número de
mestres e doutores. Além disso, existem as metas em relação aos outros níveis
de ensino, e aí passa pela formação de professores. São todos desafios imensos.
UOL -
Grande parte das universidades federais tem usado o Sisu (Sistema de Seleção
Unificada) como forma de ingresso, mas os alunos reclamam que o aumento do
número de estudantes "de fora" não foi acompanhado pela assistência
estudantil. O que a Andifes tem estudado para resolver esse problema?
Araújo
Filho - Nós temos discutido muito a questão dos recursos. Por exemplo, há uma
ampliação do Pnaes (Plano Nacional de Assistência Estudantil) para o ano que
vem na ordem de 20% dos recursos. Porque, além do Sisu, nós temos a Lei de
Cotas, e com isso a demanda desses alunos por apoio é muito maior.
UOL - Mas
esse recurso é suficiente?
Araújo
Filho - Nesse momento, eu diria que ele dá conta sim.
UOL - A
adoção do Sisu como forma de ingresso aumentou a evasão nas instituições
federais?
Araújo
Filho - Nós não dispomos desse dado. Na verdade, o que pode ocorrer no Sisu não
é nem a questão da evasão, mas da desistência, porque você tem uma quantidade
de chamadas muito grande. Os resultados do Sisu são muito muito afetados por
outras universidades que soltam os seus resultados depois.
UOL - Em
São Paulo, a USP está com mais de 100% do orçamento comprometido com folha de
pagamento. Essa é uma realidade também das universidades federais?
Araújo
Filho - O grau de comprometimento [com folha de pagamento] não chega a isso. Na
UFSCar, 76% do orçamento é folha de pagamento. Existe uma diferença: como nós
ainda não temos ainda autonomia para essa questão, nós não decidimos sobre as
nossas contratações – essa é uma luta nossa, nós queremos poder decidir onde
investir.
UOL - Na
sua opinião, quais deveriam ser as deveriam ser os principais compromissos do
próximo presidente com as instituições federais de ensino superior?
Araújo
Filho - Primeiro, é a garantia de que a educação é um bem público
insubstituível e, portanto, defendemos o ensino público e gratuito, e a
garantia de que esse processo de expansão e valorização do ensino público tenha
continuidade. Quando a gente coloca o plano de desenvolvimento das
universidades, é exatamente a aposta nessa perspectiva. A continuidade da
valorização do ensino público e gratuito. E é por isso que nós vamos entregar
esse plano aos candidatos.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/08/26/apesar-de-falta-de-servidores-universidades-federais-planejam-novas-vagas.htm
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