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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Contradições no mundo do trabalho e a Literatura: A novela picaresca na Espanha (Otto Maria Carpeaux)



Palácio das Cibeles - Madrid/Espanha

A Espanha da segunda metade do século [XVI] resume os males da Renascença e do Barroco: imperialismo econômico e inflação monetária, burocracia rigorosíssima com toda a corrupção da administração feudal, desemprego e vagabundagem generalizada de soldados reformados, aristocratas empobrecidos, clérigos vigilantes, parasitos e ladrões de toda espécie. É o ambiente em que o acaso substitui o esforço, porque inflação e a administração comem os frutos do trabalho honesto: então, ninguém quer trabalhar, mesmo morrendo de fome, preferindo-se os pequenos truques que imitam os grandes truques da diplomacia. O ideal da política maquiavélica, transplantado para o meio de mendigos e ladrões, eis o assunto do romance picaresco.
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Instituto Cervantes - Madrid/Espanha

O pícaro é o ladrão ou charlatão que tem, no entanto, a sua honra de cavaleiro: e isso não é apenas um meio para manter-se numa sociedade na qual os valores aristocráticos continuavam em vigor; é também um meio de se conformar com uma ordem social hostil ao mendigo e a todos os pobres. Na sociedade espanhola continuam em vigor valores aristocráticos: na estrutura socioeconômica, os valores em vigor são os do mercantilismo. O pícaro, vítima da ordem econômica, é conformista com respeito à ordem aristocrática.

(Otto Maria Carpeaux. História da literatura ocidental. O Cruzeiro, Rio de Janeiro (I-A): 599, 1961)

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