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domingo, 1 de setembro de 2019

A fonte não precisa perguntar pelo caminho (Bert Hellinger)


"No decorrer de muitos meses pude observar e vivenciar em mim mesmo quão diferentemente atuam os sentimentos, que alguns sentimentos substituem ações e que outros as possibilitam." (17)
"reconheci, por exemplo, que a história do “Pequeno Príncipe” na verdade é um eufemismo do suicídio e que as pessoas que gostam especialmente dessa história nutrem secretamente pensamentos suicidas. " (18)
"Com as Constelações Familiares adquiri, uma após outra, compreensões das ordens do amor e os limites e modos de atuação da consciência." (18)
"Existem muitos acessos à verdade. (...) É realmente estranho que existam tantos compositores e, contudo, nenhum deles encontrou a mesma melodia. Cada um tem a sua própria compreensão. 
Cada melodia é diferente e cada uma delas é bela, a seu modo. (...) A plenitude não se deixa limitar apenas a um caminho." (23)
"O pensamento sem percepção gira sempre sobre o mesmo, sobre o conhecido. Somente através do pensamento não advém nenhuma 
compreensão. A compreensão se origina da percepção e, então, segue o 
pensamento. Por isso, a compreensão começa com a percepção e continua com o pensamento." (23)
"Eu queria compreender o que é a consciência e como a consciência atua. Nisso, a primeira coisa que precisamos fazer no método fenomenológico é esquecer tudo o que escutamos antes sobre a consciência. Não levamos em consideração o que sabemos até então. Isso causa um esvaziamento interior. A segunda coisa é não ter intenções, por 
exemplo, não ter intenções de fazer uma grande descoberta. 
Abstraímo-nos de tudo isso e nos expomos à consciência, assim como quando nos expomos à escuridão. Então esperamos. (....)Então, depois de anos, emergiu da escuridão a primeira compreensão sobre a consciência. 
De repente, compreendi o que é a consciência. Percebi também que 
existem muitas consciências, em vários níveis, e que essas consciências 
seguem ordens. São, basicamente, as ordens do amor." (24)
"O método fenomenológico é originalmente um método filosófico. 
Acontece quando alguém se expõe a alguma coisa, sem intenção, sem medo, esquecendo tudo aquilo que sabia, até então, sobre ela. A pessoa se expõe a um contexto obscuro e, de repente, apreende a essência de uma coisa. (...) Este é o modo fenomenológico de trabalho. Não se apoia em nenhuma teoria e tampouco em experiências anteriores, mas se trabalha apenas com o momento. Isso é muito difícil, porque a terapia é sempre um novo risco." (25)
"A psicoterapia fenomenológica se encontra em certa contradição com relação à psicoterapia científica. A ciência experimental quer descobrir, através da experiência, modelos reproduzíveis para que o mesmo resultado possa ser alcançado através do mesmo procedimento. Isso pode ser feito de modo relativamente fácil nas ciências naturais, alcançando, através da mesma experiência, os mesmos resultados. Na alma, isso não é possível." (26)
"A psicoterapia científica é linear, isto é, aqui atua uma determinada causa e ali resulta um determinado efeito.
A psicoterapia fenomenológica, ao contrário, significa que eu, como terapeuta, me exponho a um contexto sem intenção e sem temor. 
Portanto, também sem a intenção de curar. Por isso, o terapeuta que quer perceber fenomenologicamente precisa estar de acordo com o mundo tal qual ele é. Não tem nenhuma necessidade de transformar o mundo. Isso exige que se recolha totalmente. Também está de acordo com a doença de um cliente, tal como ela é. Não tem a necessidade de interferir." (27)
"Então, quando me recolho e me exponho ao todo, sem intenção e sem medo do que poderia vir à luz, percebo repentinamente o essencial, aquilo que ultrapassa os fenômenos visíveis. Percebo, então, que este é o ponto." (27)
"A colocação da constelação é relativamente fácil. Mas só posso encontrar a solução quando estou em harmonia com isso. Então ela reluz repentinamente. 
Esta é a percepção fenomenológica. É como um relâmpago e está sempre em harmonia com algo maior. E é sempre uma percepção com amor, e isso é o decisivo. Então, podemos nos deixar levar.
Por isso, este tipo de trabalho não pode ser aprendido, como quando se aprendem regras, mas o essencial é que nós nos deixemos levar por este tipo de percepção e que adquiramos isso através de exercício e acompanhamento. Então, pode-se proceder assim." (28)
"É claro que também cometo erros. Isso está bem claro para mim. Assim, é necessária uma ressonância de participantes atentos. Eles veem de repente algo que eu não tinha visto. Então, confio na percepção deles." (28)
"O guerreiro, nesse sentido, não tem qualquer medo do limite extremo. No limite extremo, tudo pode falhar ou tudo pode dar certo, tanto um quanto o outro. Contudo, na prática experimentei que quando o terapeuta vai realmente até esse limite extremo, geralmente dá certo. Mas o risco continua. Quem se atemoriza perante o risco não pode trabalhar dessa forma. Porque nas coisas essenciais, onde se trata de vida e morte, a decisão é sempre tomada no limite extremo, não antes." (28)
"Nesse tipo de psicoterapia o que vem à luz é, ao mesmo tempo, uma instrução para a ação à qual, talvez, precisemos nos entregar, mesmo que não a entendamos. Porque o que realmente é, e para onde conduz, torna-se visível somente no final, não no início." (28)
"Gostaria de dizer algo sobre a amplidão. Muitos problemas surgem porque nós nos agarramos, por assim dizer, ao próximo e ao estreito. Quando olhamos para os nossos problemas, ou para os problemas num relacionamento, ou outro qualquer, então olhamos muitas vezes apenas para o estreito, o próximo, o nítido, e todo o contexto a que isso pertence, nos escapa. Entretanto, o estreito e o próximo só têm o seu significado e sua força na ligação com aquilo que os ultrapassa. Por isso, via-de-regra, a solução consiste em ir para além do estreito e do próximo para o distante, para o amplo. Então, em vez de olharmos para nós mesmos, por exemplo, para os nossos desejos e para aquilo que vemos como nossos problemas ou como nossas feridas ou nossos traumas, olhamos para os nossos pais, para a família. De repente, estamos ligados a algo mais, estamos ligados a muitos. Então, aquilo que experimentamos como algo nefasto ou que causa sofrimento tem seu lugar em um contexto maior. (...) desenvolvimento em direção à amplidão. 
(...)
Então se pode ir além da terapia familiar, para algo maior. Isso se torna possível se nos deixarmos conduzir pelos movimentos da alma, pois esses movimentos caminham em direção a algo maior." (28-29)
"Permaneço apenas permeável. Por isso, eu próprio não estou envolvido. A fonte não está envolvida na água. Ela somente flui através dela.
Como é que se consegue esta postura? Permanecemos sem intenção. A água que flui através da fonte não tem intenções. Não tem nenhuma meta. Contudo, alcança os campos, traz frutos e, no fim, deságua no mar. Portanto, a ausência de intenções é o pressuposto para este trabalho." (31)
"Somente aquele que renunciou ao seu conceito do bom e do mau pode estar sem intenção. Não luta nem pelo bom, nem pelo mau. Está de acordo com tudo como é. Está de acordo com a vida. Está de acordo com a morte. Está de acordo com a felicidade. Também está de acordo com o sofrimento. Está de acordo com a paz e a guerra, porque é permeável, algo de bom acontece sem sua intervenção." (31)
"Religiões conduzem à guerra." (31)
"A ausência de intenção que procura a harmonia com a lei universal, com as ordens profundas, que confia nos movimentos da alma profunda, da “grande alma” como vocês veem - serve à paz e ao amor." (31-32)
"...precisaríamos somente olhar e nos limitar ao que percebemos. Mais nada. Mas isso exige modéstia." (32)
"Limitar-se à percepção é uma grande renúncia. Renuncio com isso à liberdade de formar o mundo arbitrariamente. Contudo, curiosamente, tenho nesse limitar-me a liberdade de agir e, de fato, de agir certo.
Não é válido deixar-se levar pelo ouvir e pelo ouvir dizer. " (32)
"Quem tem uma compreensão da solução possível ou necessária não deve agir imediatamente. Isto é perigoso. (...) Forma-se uma imagem, e agora esta imagem deve mergulhar na alma. Deixa-se primeiro atuar na alma, e isso pode atuar por um longo tempo. Depois de um certo tempo, de repente, fica claro qual é a ação certa. A imagem é tomada pela alma e pode, aí, atuar e se desenvolver até que a solução certa, a definitiva, seja encontrada. De repente, sentimos claramente: “Agora chegou a hora de agir”. Então agimos agora, não antes, porque caso contrário poderíamos agir fora de nosso centro, não em contato com a imagem, porque esta ainda não pôde atuar na alma. Embora saibamos o que é o certo, pode demorar meses até que a força para a atuação se concentre." (33)
"Quando hesito e duvido, isso também é transmitido. A questão é: o que é melhor? Por isso, quando trabalho, preciso contar com os outros. Por outro lado, o terapeuta não deve negar a sua percepção. Existe na percepção direta uma experiência importante." (33)
"Quando alguém percebe algo e, então, expressa uma dúvida ou uma objeção, mesmo que seja só interior, a percepção desaparece. A percepção não tolera a objeção e o protesto." (33-34)
"... não me deixo conduzir somente pela minha própria percepção, mas também pela percepção dos outros que veem e têm, à sua frente, o mesmo acontecimento." (34)
"Rupert Sheldrake descreveu em seus livros as propriedades e o efeito dos campos morfogenéticos, isto é, de campos de força que determinam certas estruturas. Ele me disse que se pode ver, diretamente nas constelações familiares, como os campos morfogenéticos atuam." (34)
"Sheldrake viu que, quando se forma um novo cristal, esse ainda não está pre-estruturado e, quando se forma um cristal do mesmo composto, ele já se estrutura segundo o modelo do anterior. Então, já existe uma memória do cristal anterior. O campo morfogenético tem, portanto, uma memória. Por isso, o próximo cristal se desenvolve, com grande probabilidade, de forma semelhante ao primeiro. Quando isso se repete muitas vezes, então existe um padrão fixo. Assim, talvez também os destinos possam se reproduzir de forma semelhante." (34)
"A interrupção do padrão: Esse movimento deve ser interrompido. O reconhecimento desse movimento e a interrupção exigem muita coragem para o totalmente novo. Quando a interrupção dá certo, isto é uma conquista especial. A interrupção não dá certo simplesmente deixando-se levar pela corrente. 
Devemos retroceder. Em vez de nadar na corrente, vai-se até a margem, olha-se a corrente até compreender o velho e reconhecer o novo e, então, decide-se o que fazer." (35)
"A purificação que prepara para a compreensão não pode ser nem encurtada nem atenuada." (36)
"A grande mística ocidental conhece três caminhos. O primeiro é o caminho da purificação, o segundo, o caminho da iluminação e o terceiro, o caminho da união. Entretanto, no fundo trata-se de seguir o caminho da purificação." (36)
"Com isso, chegam as compreensões mais profundas que podemos imaginar. Elas vêm da noite do espírito. A noite do espírito exige de nós também o esquecimento. Ela exige, por exemplo, que se esteja disposto a esquecer a sua origem, a sua própria história." (36)
"Sabedoria

O sábio concorda com o mundo tal como é, sem temor e sem intenção.
Está reconciliado com a efemeridade e não almeja além daquilo que se dissipa com a morte.
Conserva a orientação, porque está em harmonia, e somente interfere tanto quanto a corrente da vida o exige.
Pode diferenciar entre é possível ou não, porque não tem intenções.
A sabedoria é o fruto de uma longa disciplina e exercício, mas aquele que a possui, a possui sem esforço.
Ela está sempre no caminho e chega à meta, não porque procura.
Mas porque cresce." (37)

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"Existem sentimentos através dos quais podemos reconhecer algo e existem aqueles que impedem a compreensão. Existem sentimentos que possibilitam 
soluções, por exemplo, o amor, e aqueles que impedem as soluções, por exemplo, o ódio. Por isso, é muito importante para a compreensão e para a solução diferenciar os sentimentos." (40)
"O primeiro é o sentimento primário, isto é, um sentimento que resulta da situação imediata e é condizente a ela. Quando a mãe morre e a criança é dominada pela dor, chora e soluça, isto é, então, um sentimento primário." (40)
"O critério principal para reconhecer se é um sentimento secundário são os olhos fechados. O sentimento secundário segue uma imagem interna, não a realidade. Precisa-se fechar os olhos, porque ele retira a sua força de uma imagem interna." (41)
"O terceiro tipo são os sentimentos adotados, os sentimentos alheios, por exemplo, como efeito de uma identificação." (41)
"Por trás do sentimento adotado atua geralmente o amor primário. Mas, nós o alcançamos somente quando a identificação foi anulada. A identificação impede que eu veja a pessoa com a qual estou identificado." (42)
"O quarto tipo de sentimento, denomino de metassentimentos ou sentimentos intrínsecos. São sentimentos superiores. Na verdade, são sentimentos sem emoções. São forças puras para a ação. (...)
Os metassentimentos são sentimentos em harmonia. 
" (43)
"Através dessa raiva nós nos colocamos ilusoriamente acima de nossos pais." (44)
"Quando na terapia alguém quer ficar com raiva dessa forma eu o paro, porque a raiva é nesse momento um sentimento de defesa. Quando ele, então, não pode mais expressar a sua raiva, chega a uma ligação com o sentimento que está por trás disso, isto é, com o amor e a dor. Esses dois sentimentos estão ligados. Esse amor é muito mais doloroso que a raiva. 
É o sentimento mais doloroso que existe, porque é vivenciado junto com a sensação de total impotência. Quando expresso a raiva, nego a minha impotência. Não a sinto de forma nenhuma." (44)
"O ódio nos prende ao agressor. A vítima está livre do agressor quando se retira. Através dessa retirada deixa o agressor com a sua própria alma e seu próprio destino. Isso é uma forma de respeito. Dessa forma, a vítima fica livre. Esse afastamento do agressor e daquilo que fez para o centro vazio - assim denomino isso - dá força e, de vítima, nos transformamos em protagonistas. Mas, aqueles que perseguem e ficam indignados, os moralistas e os inocentes são, na alma, criminosos. As suas fantasias violentas são frequentemente piores do que os atos dos agressores." (46)
A ALMA

"(...) dimensões da alma: na alma do corpo, na alma da família e na “grande alma” (47)
"Determinadas pessoas reivindicam para si maior direito de pertencer, porque se sentem superiores. Entretanto, a alma da família não faz diferenciações entre bom e mau nesse sentido. Porque o denominado mau é apenas um outro lado da diversidade, sobre a qual o bom pode se construir. Sem o mau não existe o bom. Uma pessoa totalmente boa é terrível. Ou alguém que se considera perfeito é terrível. É também perigoso. Aqueles que se consideram melhores que os outros são perigosos." (49)
"Para a alma, a saúde não é o bem máximo. Nem mesmo a vida é o bem máximo para a alma. A alma está ligada simultaneamente a algo mais profundo e trata de trazê-lo à luz. Quando se está ligado a isso, surgem efeitos singulares no corpo." (51)
"O homem entrou em sintonia com a morte, com o destino e com o fim - por assim dizer, com a origem da qual a vida emerge e depois imerge, e dessa sintonia veio a força que cura." (51)
"(...) não vou trabalhar aqui de uma forma como se, por assim dizer, quisesse curar alguém, como se pudesse fazer isso, como se pudesse me colocar acima do destino ou do movimento da alma. Pelo contrário, vou com o movimento da alma e espero que os clientes que estão seriamente enfermos se reconciliem com o destino e com a origem. Espero que daí venha algo que cure." (51)
"(...) quando se olha exatamente, um ser humano se origina porque duas células que têm almas se unem. Por isso, o corpo tem alma desde sua origem. Não é a sua alma que o vivifica. Essa alma já estava lá bem antes dele. Como a alma é um elo na longa corrente daqueles que lá estiveram antes e depois e ao seu lado, ou que estão lá ou estarão, assim a alma também está ligada a muitos." (51-52)
"A alma atua no corpo unindo e conduzindo, altamente inconsciente para nós, mas muito sábia. E se estende muito além do corpo. Ela se encontra em intercâmbio com a redondeza, senão, não existiria, por exemplo, nenhum metabolismo nem reprodução.
A alma não vai para além de nós somente dessa forma, ela penetra na família e nos une com os membros de nossa família e nosso clã. Assim como a alma une o corpo, dentro de seus limites, une e conduz também a família dentro de determinados limites. A família tem um limite. Vemos se a alma recebe alguém nesse círculo e une com os outros membros da família ou se ela não o inclui." (52)
"Algumas vezes, a alma da família abrange também muitas gerações anteriores, principalmente se houve destinos duros. Então, nela ainda atuam membros da quarta, quinta e sexta gerações. Por isso, é bem claro que os vivos e mortos de uma 
família formam uma unidade. Estão todos ligados uns aos outros." (52)
"A alma vai também além da família, une-se com outros grupos e 
com o mundo como um todo. Aqui a alma mostra-se como a “grande alma”. Na “grande alma os opostos se anulam, aqui não existem nem jovens e velhos, nem grandes e pequenos, nem vivos e mortos. Nela estão todos unidos." (52)
"Entretanto, existe também uma parte da alma que pode se opor a ela. Pode se opor ao corpo, pode se opor à família e pode se opor à 
“grande alma”. Essa parte da alma denominamos o “eu”. Entretanto, o “eu” pode também se submeter, pode se submeter ao corpo, pode se submeter à família, pode-se submeter a grande alma”. Muitas doenças psicossomáticas originam-se pelo fato dessa parte da alma opor-se a algo, contra o corpo, contra a família, contra a “grande alma”. A cura segue, então, o caminho contrário. Nela, o “eu” se submete ao corpo, à família, à “grande alma”. Vivenciamos esse submeter-se como humildade. Vivenciamos o opor-se como arrogância. Quem se arroga dessa forma cai, e quem se submete dessa forma é carregado." (53)
"Mas, o que é a alma? Creio que, em primeiro lugar, precisamos 
nos despedir da ideia ocidental de que o ser humano tem uma alma. Uma 
alma pessoal que lhe pertence e que ele vela pela sua salvação, por assim 
dizer, que está aprisionada no seu corpo e que almeja, mais tarde, a 
imortalidade. Essa é a ideia ocidental que remonta a Platão." (53)
"As experiências que se mostram nas constelações familiares são bem outras. Mostram que participamos de uma “grande alma”, isto é, que não temos uma alma, mas que estamos numa alma. Essa alma maior ou, aliás, a alma mostra-se em duas funções. Como primeira função, une algo a um todo, por exemplo, une tudo o que está em nosso corpo a uma unidade. Assim, pertence ao corpo como princípio unificador. Como segunda função, a alma dirige. Conduz nosso corpo e nossa vida. Como, não sabemos. É, portanto, um princípio condutor, algo que une e algo que conduz.
Bem, podemos observar que na família, agora num sentido amplo, atua uma alma em comum, que dirige a família como um todo. Aqui, nesta constelação pudemos ver isso. Todos foram conduzidos por algo que os ultrapassa e mesmo assim os une em uma unidade. 
Poderíamos denominar isso de alma familiar. Esta é uma dimensão da alma. Mas isso não é o fim. A alma sempre vai além daquilo que existe. 
Portanto, a alma que sentimos no nosso corpo, que nos move, vai além de nós, porque sem a alma não existiria nenhum intercâmbio com o mundo exterior e com outros seres humanos. Somente porque a nossa alma vai além de nós mesmos, podemos nos relacionar com outras pessoas e, por exemplo, amá-las." (53)
"Por exemplo, quando o homem e a mulher são conduzidos um ao outro através do amor, é uma alma, e ela se reproduz na criança. Portanto, a alma é sempre algo em movimento, sempre para algo maior, que nos ultrapassa." (54)
"(...) a alma apenas entra lentamente na consciência com os seus verdadeiros movimentos profundos. Entra na consciência num nível superficial e, nesse nível superficial, tem determinadas funções que estão em contraposição às funções mais profundas da alma. Portanto, em nós a alma precisa vir à consciência. Ela se mostra passo a passo, e então nos vem à consciência." (54)
"Algumas vezes, seguimos a alma cegamente, então ela nos conduz também à perdição. Precisamos saber disso. Isso também é uma dimensão da alma. Portanto, as ordens do amor, como descrevi no meu livro Ordens do amor, são algumas vezes cegas e levam, por exemplo, a emaranhamentos, ao infortúnio e sofrimento. E existem outras ordens do amor que levam à prosperidade, à felicidade e à vida plena. Portanto, um movimento é cego, e o outro vê." (54)
"(...) consciência coletiva, que é inconsciente. Essa consciência coletiva ata a família e um grupo. Vela para que ninguém se perca. É uma consciência grupal na qual todos participam da mesma forma e que, como uma instância superior, conduz todos a uma meta. Essa meta é, primordialmente, a sobrevivência do grupo. Por isso, essa consciência não tolera que alguém desse grupo seja excluído ou esquecido." (54)
"Essa consciência abarca tanto os vivos como os mortos. Aqui, o reino dos vivos e o dos mortos é ligado a uma unidade através dessa consciência. Dessa forma os mortos atuam em nossa vida. Por isso, essa consciência pune qualquer violação, através da qual um membro é excluído ou esquecido, e isso é punido de forma que, em uma geração posterior, um membro familiar tem que representar a pessoa excluída, de tal forma que essa pessoa, por assim dizer, esteja representada nesse grupo e seja trazida à consciência. Porém elas não são trazidas realmente à consciência, pois esses movimentos são cegos, não podemos compreendê-los. Os movimentos da consciência coletiva fazem apenas com que destinos anteriores sejam repetidos, sem que se chegue a uma solução. Por isso, somente se pode ultrapassar os limites dessa consciência quando se compreende esses movimentos." (54-55)
"(...) nesse contexto há mais coisas que estão em jogo além da alma familiar. Parece-me que existe um campo, Sheldrake o denomina campo morfogenético, no qual nos movimentamos. É um 
campo que armazena memória. Portanto, o campo morfogenético que Sheldrake observou, em primeiro lugar, na biologia mostra: quando algo se desenvolve, isto será repetido em outro lugar porque está armazenado numa memória." (55)
"(...) em famílias certos destinos se repetem, não no sentido de emaranhamento, mas sob a influência de um campo morfogenético.
Entretanto, o campo morfogenético também é cego, só pode repetir a mesma coisa. Daí, não se pode fugir, a não ser que entremos em 
um novo, um outro movimento que nos leve para fora disso. A esses movimentos pertence o que denomino de movimentos profundos da alma. Eles se desprendem do até então conhecido e entram em contato com uma força maior que aqui denomino de “grande alma”." (55)
"Quando observamos as constelações familiares, por exemplo, esta última aqui, pôde-se ver que cada um dos representantes estava em contato com algo maior sem que tivessem tido qualquer informação. Isto é, quando nos deixamos levar pelos profundos movimentos da alma eles conduzem a uma solução que une a todos e, de fato, além da alma familiar. É um movimento em direção à reconciliação." (55)
"(...) vê-se que esses movimentos da alma são bem lentos. A alma tem tempo, não está sob pressão. Esses movimentos da alma surgem bem lentamente e levam a uma solução, à paz, ao reconhecimento de que todos que pertencem, que foram incluídos nesse movimento, na profundeza são iguais." (55)
" No todo isso não tem grande importância, porque tudo se une novamente." (56)
"Quando somos confrontados com situações difíceis, ajuda, portanto, nos despedirmos de nossos pensamentos costumeiros e concentrarmos num nível mais profundo - denomino isso o centro vazio - e então confiarmos em que os movimentos da alma nos conduzirão. Tudo que tem a ver com vocação vem desses profundos movimentos da alma, para além do que planejamos." (56)

O sentido da vida
"A pergunta pelo sentido da vida pressupõe que a vida não tenha seu valor em si mesma, mas naquilo para que serve. Entretanto, a vida emerge e está aí, e tem valor porque está aí, não por outro motivo. Tem valor por si mesma, este é o meu pensamento. Aquele que não está em paz consigo mesmo pergunta pelo sentido da vida. Quem está em paz consigo mesmo não faz essa pergunta." (56)
"De repente, compreendi o que Frankl entendia sobre o sentido da vida. Para ele, era o mesmo o que entendo por harmonia. Quem está em harmonia encontrou realização. A vida está em harmonia de qualquer modo. Mas o “eu”, frequentemente, não está em harmonia. O “eu” se submete lentamente ao movimento da vida e, com isso, chega a uma harmonia com o mesmo. A pergunta pelo sentido da vida cessa quando se encontra a harmonia." (57)

O serviço

"Tenho uma ideia singular da alma, isto é, que estamos nela, ao invés da ideia usual de que a alma está em nós. Essa “grande alma”, seja o que for, determina e toma o indivíduo a seu serviço, seja como for. Alguns tem um serviço agradável, outros um serviço pesado. Alguns têm um serviço benéfico e alguns um serviço destrutivo, um serviço terrível. Entretanto, é o mesmo serviço. Partindo da alma, da “grande alma”, é o mesmo serviço. Ninguém pode ir contra essa alma.
Mas existem pessoas que têm a ideia de que o mundo está em suas mãos. Como se existissem pessoas que pudessem aniquilar o mundo se quisessem, e como se existissem outras que pudessem salvar o mundo se quisessem. Elas se encontram desligadas da corrente." (57)
"(...) estamos conectados, seja qual for o nosso destino, e o que cada indivíduo experimenta como sua tarefa - sua tarefa pessoal: “Cada um de nós encontra a canção que deve cantar”. Quem canta essa canção está feliz, bem profundamente, não importa qual seja a sua tarefa." (58)
"Os bons, os chamados bons e os chamados ruins estão no mesmo serviço. Essa atitude acaba com a soberba e a arrogância. Se cada um estiver em harmonia consigo mesmo, então pode respeitar a todos e, acima de tudo, respeita também a si mesmo." (58)
"“Este é o meu destino”. E assim foi. Foi inevitável para ele. Se tivermos essa atitude, ficaremos humildes e poderemos concordar com o mundo tal como ele é, sem a pretensão de melhorá-lo, como se não fosse a grande alma que governa como quer. Nós apenas estamos inseridos naquilo que ela dirige. Com essa postura, também podemos lidar diferentemente com doenças, morte, acidente, destino difícil, tanto como atingidos, submetendo-nos, ou como terapeutas, que assistem a essas pessoas. Se fizermos isso com essa postura de concordar com tudo tal como é, e fizermos isso de ser humano para ser humano, fizermos o que pudermos e nos for permitido e estivermos conscientes desses limites, então se origina a paz." (58)
"...os grandes destinos são inevitáveis." (58)
"Tenho a firme convicção de que cada um de nós é tomado a serviço. Seja como for. Por isso, ninguém pode se esquivar do serviço. Nem mesmo através da culpa. Quando alguém se torna culpado, será tomado a serviço através da culpa. Isso é muito duro. Quando o culpado vê isso e diz: “Serei tomado a serviço através de minha culpa, mas carrego assim
mesmo as consequências” - porque elas lhe são inerentes - está totalmente em harmonia." (58)
"O chamado bom tem maior sorte, talvez, mas não é superior. Na profundidade existe uma concordância elementar entre os seres humanos. Ai todos são iguais. Todos serão tomados a serviço, um de um jeito, o outro de outro. Então, posso ter compaixão por todos, porque me coloco ao lado deles. Posso ter compaixão pelos maus, pelos doentes, pelos grandes. Posso, da mesma forma, colocar-me ao lado deles. Desta harmonia com a profundidade vem a força e, partindo dessa força, pode-se atuar muito." (58)
"Generalizar aqui traz muito pouco, porque as diferenças são demasiadamente grandes. Mas, gostaria de advertir sobre o “aumentar da importância do passado”. Senão, de repente, os vivos tornam-se como mortos e os mortos como os vivos. Então, tudo fica invertido e isso é contra o curso da vida." (59)
"Por trás da acusação pública contra os agressores e o conselho
para se recordar desses crimes, a fim de que isso não aconteça de novo, atua a ideia de que esses acontecimentos foram dirigidos por pessoas e que poderiam ter sido evitados ou colocados em ordem. Para mim, é uma presunção ter a ideia de que tais movimentos monstruosos, como essa guerra, pudessem ter sido evitados por pessoas ou que se possam impedi-los no futuro, só pelo fato de se pensar de maneira diferente. Assim nos envaidecemos facilmente, como se fôssemos Deus, e isso prejudica muito a própria alma. Nesse contexto, devemos levar algo mais em consideração. Quando nutrimos essas ideias na alma, frequentemente julgamos ser melhores do que os agressores de outrora. Contudo, os agressores de outrora cometeram esses atos terríveis porque julgavam ser melhores. Se eu os acuso, talvez me equipare com eles internamente. Por isso, é tão perigoso." (59-60)
"O passo importante é que a pessoa concorde com o que aconteceu sem lamentação. Por exemplo, alguém sofreu um acidente grave e talvez tenha ficado paraplégico. Ele se recorda disso de qualquer forma. Contudo, não existe solução se não concordar com o que aconteceu - sem lamentação. Este é um passo difícil. Mas, o contrário é pior. Precisa-se somente imaginar o que acontece se ele não faz isso, se lamenta isso.
(...)
Nós e os sobreviventes precisamos ter a força de concordar com o que foi, senão, estaremos desligados desse acontecimento. Essa concordância só é possível quando nós percebemos isso como algo que está inserido em algo maior, o qual não compreendemos. Temos a necessidade de desviar do terrível como se isso não pudesse existir. Entretanto, é o terrível que, no fim, está na origem de tudo e o sustenta. Apenas aquele que pode concordar com o terrível é totalmente livre." (61)
"... com o agressor em mim, estou totalmente reconciliada. Não é nada que me bloqueie”." (62)
"Quando em tais constelações deixa-se que os acontecimentos sigam o seu curso livremente, em um nível bem profundo, chega-se a uma união entre as vítimas e os agressores. Eles se tornam iguais. Em um nível profundo tornam-se iguais. Neste momento as vitimas não são mais vitimas, e os agressores não são mais agressores. Os vivos precisam se afastar do grande acontecimento que transcorre aqui entre as vítimas e os agressores. Então existe paz." (62)

Xxx
Os assassinos se sentem atraídos pelas vítimas

"Entregamos um assassino ao movimento de sua alma. Ele se sente atraído pelos mortos, pelas suas vítimas. Lá ele encontra a paz. Não se deve interromper o seu caminho. Quando ele reconhece os mortos, quando os fita em seus olhos, então não pode fazer outra coisa a não ser seguir o caminho em sua direção. Isso agora não significa que ele deve se matar, mas deve reconhecer que, através do assassinato, pertence a eles.
Existem, contudo, situações em que se torna evidente que os assassinos persistem em sua convicção. Então, ajuda-se os seus descendentes a se afastarem deles, a retirá-los de seu coração e entregá-los a um poder maior." (62)

A paz para os agressores e vítimas

"Nas constelações familiares recebemos indicações que não podemos comprovar. Quando então digo: Os assassinos se sentem atraídos pelos mortos”, isso iria pressupor que sei disso. Mas aqui não se trata disso. Nas constelações familiares, com descendentes de agressores, trata-se de ajudar os vivos a se libertarem de um emaranhamento." (63)
"(...) é importante saber que não se pode redimir o assassino de sua culpa, mesmo que seja um jovem. O olhar do terapeuta se dirige, em primeiro lugar, para a vítima. A única medida que se pode tomar é fazer com que o assassino olhe para a vítima. Daí surge, para ele, um movimento em direção às vítimas. Com elas, o assassino encontra a paz, caso esse movimento tenha êxito." (63)


Bom e mau

"No nosso modo de pensar estamos presos à ideia de que somos livres e, portanto, responsáveis pelos nossos atos e nosso destino e que, por isso, existe o bom e o mau. Quando se observam famílias, fica claro que isso não é assim. As vítimas nos campos de concentração, embora fossem inocentes, não puderam, através do fato de serem boas, mudar os seus destinos. Da mesma forma, muitos assassinos não puderam mudar os seus destinos. Também estavam emaranhados. Mesmo assim, cada um é responsável. A simples diferenciação em dizer que ele era livre e poderia ter se modificado e, portanto, é responsável, não está certa. Ele não era livre, estava emaranhado, mesmo assim é responsável e precisa arcar com as consequências. Somente depois que tivermos essa visão das coisas podemos chegar à harmonia com as forças mais profundas, e a luta contra o mau, como o imaginamos, chega ao fim." (63)
"A ideia de que o mundo deveria ser diferente do que é e de que o ser humano tem o seu destino em suas mãos vai longe demais. Pois mesmo os piores destinos e também os crimes têm um efeito sobre o todo, que nós talvez pressentimos, mas não entendemos. Vejo também os piores destinos nesse contexto. Então, não são terríveis para mim." (63)
"O terapeuta não tem qualquer intenção. Por exemplo, não tem a intenção de curar e também não tem receio daquilo que pode emergir, seja a morte ou o fim ou a felicidade e a vida, depende. Ele se expõe ao que é. Isso significa também que em sua alma está em harmonia com o mundo tal qual ele é,com os destinos como eles são, tanto com a vida quanto com a morte. Ele não se apresenta como aquele que vai
contra algo e quer melhorá-lo. Ele está em harmonia." (64)
"Isso significa para muitos terapeutas uma total reorientação. Quem está acostumado a perguntar, estudar e descobrir ainda mais exatamente o que foi - (...) - precisa se despedir disso, se quiser proceder fenomenologicamente. (...) o terapeuta permanece recolhido em seu centro, aguenta o sofrimento e concorda com o que acontece." (66)
"A alma se movimenta passo a passo. Por isso, quem ajuda dá com ela somente um passo. E, quando o próximo passo está preparado, então a alma trabalha novamente por si e quem ajuda a acompanha nesse próximo passo." (66)
"Faz parte da higiene da alma que ela saiba que está inserida num todo maior e que também o reconheça. Em primeiro lugar, estamos ligados à família à qual pertencemos, então ao clã familiar e ao nosso meio-ambiente. Desse trabalho podemos ver que a alma nos transcende, que estamos em uma alma e não uma alma em nós.
Portanto, faz parte da higiene da alma submetermos a essa alma maior. Que nós, por exemplo, aprendamos a entender que essa alma maior nos governa para o bom e, quando não entendemos as suas leis ou as desrespeitamos, para a doença, também." (66)
"Na espiritualidade ocidental se exercita a postura da indiferença. Este recolher-se é também uma postura básica austera.
Quem está recolhido e centrado, para ele é tudo igual, o bom e o mau, a vida e a morte. Está em paz com tudo. De vez em quando nos evadimos, por exemplo, para o carnaval. Isso também é necessário." (66-67)
"Nas constelações familiares atuam forças que não entendemos. Portanto, eu não as entendo. (...) O ficar parado perante o mistério é, creio eu, a mais importante fonte de força para o terapeuta.(...)
A postura de ficar parado é a mais adequada ao mistério. Do respeito frente a esse mistério, algo flui do oculto. Muitas soluções ou palavras que emergem desse trabalho me são presenteadas, porque fico parado perante o mistério. Porque fico centrado perante um limite, da escuridão vem algo a luz para mim, algo que ajuda: um próximo passo ou uma solução, seja o que for." (67)
"Começo a constelar uma família sem que saiba para onde me leva. Dou o primeiro passo, então espero, chego a um limite, não sei como vai prosseguir e, de repente, através dessa postura de ficar parado, chega a mim, como um relâmpago, uma indicação de como agir.
Frequentemente é tão inesperada que dá medo e, algumas vezes, até parece ser algo perigoso. Se, nesse momento, reflito. Posso fazer isso ou não?” - por assim dizer, interrogo o mistério - então ele se afasta imediatamente de mim e fico sem força." (68)
"Portanto, essa coisa surpreendente que ocorre aqui, algumas vezes tem algo a ver com o fato de que o terapeuta não quer saber. Do não querer saber e da disposição de se expor ao mistério e as forças que ele não entende, chega-lhe a coragem e a possibilidade de lidar com isso de um modo que ajude." (68)
"É verdade que se podem aprender certas regras sobre as constelações familiares, porque certos padrões se repetem. Eu posso utilizá-las porque as conheço. Mas se me deixo levar por elas, não estou mais em conexão com as forças mais profundas e talvez alcance muito pouco. O essencial que comove e transforma só pode ocorrer quando nos recolhemos." (68)
"Quando, por exemplo, alguém se senta ao meu lado e entra, imediatamente, num sentimento profundo quando tomo a sua mão, isso não significa que o simples fato de ter pegado a sua mão esteja atuando, mas porque ele sabe que isso não me causa medo. Seu sentimento fica acolhido, porque não tenho intenção e porque estou internamente vazio.
Neste tipo de terapia trata-se dessas posturas básicas, nem tanto do aprender como se faz isso ou aquilo. Porque o aprender não faz jus à riqueza da alma." (68)
"O ficar parado perante o mistério é, creio eu, a mais importante fonte de força para o terapeuta.
(...)
Esse recolher-se e ficar no limite custa muita força, especialmente no início. Este vazio entre nós e o mistério é difícil de suportar. Procuramos explicações para banir a ameaça do mistério.
(...)
Dou o primeiro passo, então espero, chego a um limite, não sei como vai prosseguir e, de repente, através dessa postura de ficar parado, chega a mim, como um relâmpago, uma indicação de como agir.
Frequentemente é tão inesperada que dá medo e, algumas vezes, até parece ser algo perigoso. Se, nesse momento, reflito. Posso fazer isso ou não?” - por assim dizer, interrogo o mistério - então ele se afasta imediatamente de mim e fico sem força." (67-68)
"(...) algumas vezes tem algo a ver com o fato de que o terapeuta não quer saber. Do não querer saber e da disposição de se expor ao mistério e as forças que ele não entende, chega-lhe a coragem e a possibilidade de lidar com isso de um modo que ajude." (68)
"Destino é aquilo que alguém segue e, na verdade, frequentemente sem saber por quê. Quando se olha com exatidão, pode-se ver que o destino é determinado por uma consciência coletiva inconsciente que atua nas famílias. Essa consciência só pode ser reconhecida em seus efeitos." (68-69)
"A consciência consciente é, na tragédia grega, a pessoa - a consciência coletiva inconsciente, os deuses. Aquilo que é atribuído aos deuses é o que atua na consciência coletiva inconsciente. Da atuação conjunta dessas duas consciências é que se origina o destino e de um modo que não podemos controlar, se não entendermos a atuação dessa consciência inconsciente." (69)
"A consciência é vivenciada como um sentido através do qual percebemos diretamente o que é necessário para que pertençamos. É semelhante ao senso de equilíbrio: logo que perdemos o equilíbrio, temos uma sensação de tontura, e essa sensação faz com que corrijamos, imediatamente, a nossa postura, para voltarmos novamente ao equilíbrio e ficarmos firmes. A consciência pessoal atua de forma semelhante. Tão logo alguém se desvie daquilo que é válido em sua família, em seu grupo, isto é, quando precisa temer que através de seus atos coloca em jogo a sua pertinência, tem uma consciência pesada. A consciência pesada é tão desagradável que faz com que ele mude o seu comportamento de tal forma que possa pertencer novamente. Assim atua a consciência pessoal. Naturalmente, que é apenas uma de suas funções." (69)
"A consciência coletiva é uma instância que não atua pessoalmente, mas coletivamente, isto é, é uma instância da qual participam igualmente vários membros da família. Essa consciência abarca os filhos, os pais, os irmãos dos pais, os avós, algumas vezes um ou outro dos bisavós e todas as pessoas que através de desvantagem ou prejuízo possibilitaram vantagem a outros do sistema. Dentro desse grupo ou desse sistema, a consciência coletiva atua
como uma instancia que vela para que nenhum dos membros seja excluído." (69)
"Portanto, se um dos membros não é reconhecido, é difamado ou é esquecido, então essa consciência vela para que essa pessoa seja representada por outros membros da família. Isso fica sendo, então, o destino desse membro, sem que ele saiba disso. Portanto, quando um membro de uma família é escolhido pela consciência coletiva para representar outro membro que foi excluído, então para esse membro que foi escolhido isso é um destino, sem que entenda as conexões.
Quando se sabe como essa consciência coletiva inconsciente atua, pode-se libertar essa pessoa desse destino. Então, acolhe-se novamente a pessoa excluída na família ou grupo, reverenciando-a. Assim, ninguém mais precisa imitá-la." (69)


A consciência pessoal

Três necessidades: 1) Pertinência; 2) Equilíbrio; 3) Ordem.

"Quando olhamos para a consciência pessoal consciente, vemos que segue três necessidades. No fundo, é idêntica a essas necessidades.
A primeira necessidade é a de pertinência. A consciência vela pela pertinência. Se faço algo que coloca em perigo a pertinência fico com a consciência pesada, e isso me faz mudar o meu comportamento de tal modo que possa tornar a pertencer. A sensação de inocência significa aqui nada mais do que: Tenho a certeza de que posso pertencer. E a sensação de culpa significa aqui nada mais do que: Receio ter colocado em jogo a minha pertinência. Essa é a primeira necessidade.
A segunda necessidade é a do equilíbrio entre o dar e o tomar. Essa necessidade possibilita o intercâmbio entre os membros de um sistema.
Por estar vinculado a uma necessidade de pertinência, via-de-regra, se expressa assim: Se recebi algo de bom, tenho a necessidade de compensar. Mas porque me sinto pertencente e amo, dou um pouco mais do que recebi. Para o outro é a mesma coisa, ele também dá um pouco
mais e, assim, o intercâmbio cresce. Com isso, um relacionamento se aprofunda.
Mas essa necessidade de compensação tem também um lado negativo: se alguém me faz algo de mau, tenho a necessidade também de fazer-lhe algo de mau. E porque me sinto com razão, faço, via-de-regra, algo um pouco pior do que ele me fez. Então, ele se sente também com razão, e volta a me fazer algo de mau e, assim, aumenta o intercâmbio no mau. Essa necessidade de justiça e de vingança é tão forte que a necessidade de pertinência é, frequentemente, sacrificada em seu nome. Muitas discórdias e desavenças entre os povos também têm a ver com essa necessidade de vingança e de justiça. Essa é a segunda necessidade
da consciência pessoal.
A terceira é a necessidade de ordem, isto é, que determinadas regras do jogo sejam válidas e devam ser obedecidas. Quem as segue sente-se consciencioso, e quem não as segue sente que precisa pagar por isso, por exemplo, com castigo. Essas seriam, portanto, as necessidades básicas da consciência pessoal consciente." (70-71)

A consciência coletiva

"As mesmas necessidades dominam na consciência coletiva inconsciente, mas de uma maneira totalmente diferente, pois aqui não se trata de uma pessoa e sim do coletivo.
A consciência coletiva tem a necessidade da pertinência de todos os participantes. Não é um indivíduo que tem essa necessidade, mas um coletivo. Isto significa que quando um membro é excluído, essa consciência procura restabelecer a totalidade perdida, fazendo com que um outro membro represente essa pessoa excluída, como acabo de descrever.
Tem também a necessidade de compensação. Pois, o que acabei de descrever resulta de uma necessidade de compensação. Mas essa consciência não tem nenhuma compaixão com o membro posterior que é escolhido para restabelecer a pertinência e a compensação, ela o sacrifica em nome da necessidade coletiva. Essa experiência é também transferida frequentemente para Deus.
A terceira é a necessidade de ordem, também totalmente diferente. Segundo essa ordem, aqueles que estiveram antes têm a precedência com relação aos que vieram depois. Por isso, os pais têm precedência aos filhos, o primogênito tem precedência ao segundo filho e assim por diante. Toda vez que essa ordem é transgredida - quando, por exemplo, um filho interfere nos assuntos dos pais, quer expiar pela culpa dos pais - então a consciência coletiva castiga essa tentativa com fracasso. O contraditório e trágico nisso, é que a consciência coletiva escolhe um membro posterior para representar um membro anterior excluído. Mas, porque ele faz isso, deixa-o fracassar, já que isso vai contra a ordem da precedência dos anteriores." (71-72)

Destino e liberdade

"Como é que o senhor vê, na realidade, a liberdade dos seres humanos? O ser humano é livre ou isso é uma ilusão?
Depende dos contextos em que a vejo. Com relação à consciência pessoal, posso me decidir em prol ou contra algo, porque tenho uma certa ideia, embora ela também seja limitada. Com relação a consciência
coletiva inconsciente não tenho nenhuma liberdade, a não ser que tenha aprendido a entender suas leis. Essas leis vêm à luz através das constelações familiares. " (72)
Constelações familiares: É um método em que pessoas estranhas são colocadas num recinto, umas em relação às outras, e representam os membros de uma família. De repente, os representantes sentem como as pessoas que estão sendo representadas, sem que as conheçam. Existe, portanto, um saber que vai além de uma comunicação normal. Numa constelação familiar pode se ver, por exemplo, que alguém pode representar uma outra pessoa, embora não tenha sabido disso anteriormente. Assim pode-se explicar, através deste método, as ordens segundo as quais a consciência coletiva inconsciente atua." (72)
"Naturalmente que somos marcados pelo que vivenciamos. Mas a ideia de que com isso não somos livres não pode ser mantida." (72)
"Existe uma ideia largamente difundida de que merecemos a felicidade e que temos direito a uma vida cômoda, na qual tudo corre como queremos. Essa é uma ideia muito superficial.
Contudo, grandeza humana é algo totalmente diferente. Ela se origina da superação, também, de destinos difíceis. Considerar apenas como negativos os destinos que se originam da atuação da consciência coletiva inconsciente é, para mim, inaceitável." (73)

Uma vida plena

"O sentido da vida é a vida em si, nada além disso. A vida, tomada como ela é, tem sentido. Somente quando não nos expomos a ela, tal como ela é, a experimentamos sem sentido. Por isso, o sentido da vida depende, amplamente, daquilo que cada um faz com aquilo que lhe foi predeterminado." (73)
"Uma vida plena, quero denominar assim, é aquela na qual me sinto em harmonia com a realidade tal como ela é." (73)
"A situação tem, em si, a semente para o desenvolvimento. Se vejo isso e me deixo levar pelo movimento que surge, então a minha situação é sempre capaz de se desenvolver." (73)
"Cada um vivencia uma tarefa especial, uma capacidade especial. Pode-se dizer que cada um canta sua própria canção. Quando consegue cantá-la, sente-se bem e realizado. Isso não é fácil de encontrar, mas existem certos pontos de referência. Quando me proponho a fazer algo - algo que quero alcançar de qualquer jeito e percebo um obstáculo, se permaneço parado e me reoriento até que saiba em que direção posso me desenvolver, para algo que seja adequado para mim, então serei conduzido pelas circunstâncias em uma direção que me é adequada." (74)
"Perguntando novamente: como se chega a uma decisão certa? O que é certo se ajusta.
(...) Portanto, nos expomos a uma situação e de repente sentimos: onde está a força, o que é adequado, e o que enfraquece e é inadequado." (74)
"Quem está em harmonia não tem medo. Quem está em harmonia tampouco tem desejos. Está em harmonia e, com isso, feliz, seja lá o que for. Por isso, consegue
se expor também a uma situação difícil; e quando for uma situação feliz, para ele não é nada diferente de uma situação comum, porque está em harmonia." (74)
"Espiritual é a concordância com a vida como ela é, a uma vida totalmente trivial, com suas tarefas, com os seus desejos, com as suas dificuldades, exatamente como ela é. Isso é espiritual, isso é harmonia. Não o outro, onde nos retiramos, por assim dizer, do trivial." (75)
"(...) um homem que se casa com uma mulher em cuja família vigoram outros valores e não reconhece essa família, então o casamento fracassa. Precisa-se ampliar os limites de sua pertinência. O
homem precisa, de certo modo, se afastar de sua família. E, assim, ele se desenvolve. Quem está conectado com o todo está, ao mesmo tempo, ligado e solitário." (75)
"Muita fé em Deus reflete o efeito da consciência coletiva inconsciente e reflete também, o efeito da consciência pessoal. Por isso, a limitada experiência pessoal fica envaidecida e transferida a Deus. Esse tipo de fé tem um mau efeito. Existe, por exemplo, nas religiões, a ideia da predestinação e a ideia da exclusão.
(...)
Por isso, a diferenciação entre o bom e o mau, como é aplicada nas religiões, tem na alma do indivíduo um efeito devastador. Pode-se ver que em famílias devotas, frequentemente, tem que existir uma ovelha negra que faz realçar o lado renegado, e desmascara que é insustentável a reivindicação da representação única do bom." (75-76)
"Para dominar a vida é necessária a coragem de assumir a culpa, isto é, coragem para se desviar daquilo que é predeterminado pela consciência, pois a consciência sempre restringe." (77)
"A alma não é nada individual, algo que o indivíduo tem, mas o indivíduo participa dessa alma. Para mim essa “grande alma” dirige a evolução. A evolução é dirigida por algo que sabe, e isso é a alma. Quem pode se entregar aos movimentos da alma, pode evoluir.
(...)
A evolução é dirigida por algo que sabe, e isso é a alma. Quem pode se entregar aos
movimentos da alma, pode evoluir. Mas, frequentemente, somos desconectados dos movimentos da alma pelo nosso vínculo a ambas as consciências. E é preciso esclarecimento e purificação para perceber os movimentos profundos da alma e segui-los." (77)
"O emaranhamento consiste, principalmente, que sou arrastado para os destinos de outros que viveram antes de mim sem que saiba disso." (77)
CONSTELAÇÃO: "...não nos liberta, mas nos torna maiores." (78)

A Felicidade

"Algumas pessoas correm atrás da felicidade porque pensam que precisam agarrá-la. Então usam viseiras e correm... e correm. Mas a felicidade corre atrás delas e não pode alcançá-las, porque elas estão atrás da felicidade." (81)
"Quando poderia ter terminado mal e tudo correu bem, então, nos inclinamos humildemente perante a sorte e dizemos: agradeço por ter vindo. Assim a tomamos sem fazer nada. Nós a acolhemos enquanto permanece e, quando quiser ir, deixamos também humildemente que se vá. Assim chega paz na alma. É, então, uma felicidade serena. " (82)
"Mas descobri algo sobre a verdadeira perfeição. Ela começa quando se está em harmonia consigo mesmo. Esse é o primeiro passo. Muitos estão em conflito interno. Não estão contentes consigo mesmos. Quando se investiga isso pode-se ver que expulsaram um dos pais de seu coração ou até os dois. Então, estão desligados da fonte de sua vida. Quando alguém está desligado de um de seus pais tem somente a metade da força vital, e quando alguém tem apenas a metade da força vital, fica deprimido." (82)
"Depressão é um sentimento de vazio, não de luto. Ter uma sensação de vazio significa que falta um dos pais. Então, somente a metade do coração está preenchida.
A depressão desaparece e fica-se em paz consigo mesmo quando se respeita e ama ambos os pais." (82)
"O segundo nível da verdadeira perfeição é alcançado quando todos os que pertencem ao meu sistema têm um lugar em meu coração. A ele pertencem os avós, os tios e tias, todos que deram lugar para mim, os repudiados que tiveram um mau
destino, os desprezados e quem quer que seja que ainda pertença a ele. Se apenas um deles fica excluído, sinto-me incompleto. Quando todos estão em meu coração, sinto-me completo." (82)
"Muitos médicos e doentes comportam-se como se a saúde fosse o maior bem. Mas não é assim. Ou como se a vida fosse o maior bem. Também não é isso. A alma tem outros critérios. Se for permitido que ao lado da saúde também o estar doente seja significativo e grande, e que o morrer, em sua hora, é significativo e grande, então poder-se-ia lidar com a doença e a morte mais serenamente." (84)
"(...) quem se retém à vida além do tempo, peca na essência. Nós vamos com a corrente da vida e com a corrente da morte. Essa é a grande harmonia. Dentro dessa corrente resultam tanto o bem-estar e a cura como também o estar doente e o morrer. Então, teremos perante a vida e a morte uma outra postura." (84)
"moral significa para muitos o que é válido em nossa família, e imoral significa aquilo que na nossa família não é válido. Portanto, o conteúdo é extraído totalmente do sistema." (84)
"A bondade real significa servir a muitos e reconhecer também as diferenças de outros grupos e outros sistemas ou outras religiões como sendo igualmente válidas." (85)
"Ele é dirigido por uma consciência comum. Essa consciência determina que ninguém desse sistema pode ser esquecido. Portanto, se sob a influência da consciência pessoal, que trouxe ao mundo a diferenciação entre o bom e mau, alguém da família é repudiado ou excluído ou esquecido, então, sob a influência da consciência coletiva, um outro membro da família é escolhido para representar essa pessoa excluída, por assim dizer, como reparação.
Essa consciência segue ainda uma outra lei, quer dizer que aqueles que aí estavam antes têm precedência perante aqueles que vêm depois.
(...)
Essa consciência coletiva é cruel. Castiga essa arrogância com o fracasso e decadência. " (86)
"A pior culpa que experimentamos é quando fazemos algo que coloca em perigo a nossa pertinência à família de origem. Portanto, o medo da exclusão é o pior sentimento de culpa. Esse sentimento é tão terrível, que nos impele a fazer algo para que possamos reconquistar ou preservar a pertinência. Essa culpa tem algo a ver com o vínculo original. A consciência vela para que não percamos a pertinência e, quando fazemos algo que coloca em perigo a pertinência, a consciência reage e nos impele a mudar o nosso comportamento para que possamos voltar a pertencer. Essa é uma forma de culpa. Tem uma importante função social. Está a serviço do relacionamento e do vínculo." (87)
"Existe também uma segunda forma de culpa. Tem a ver com o equilíbrio entre o dar e o tomar. Quando alguém me presenteia com algo, sinto-me em dívida em relação a ele. O que recebi não me deixa em paz até que devolva algo equivalente. Esse tipo de culpa é vivenciado como obrigação." (88)
"A reivindicação é um sentimento de superioridade. Existem muitos ajudantes que desfrutam a sensação de reivindicação. Por isso, não tomam nada daqueles que ajudam. Portanto, nesse contexto, a culpa é sentida como obrigação, e a inocência é vivenciada aqui como estar livre da obrigação ou como reivindicação." (88)
"Existem também acordos, regras para a vida em comum. Quem preenche essas regras, sente-se consciencioso. Essa também é uma sensação de inocência. A culpa é vivenciada, nesse contexto, como a transgressão de uma regra." (88)
"(...) o terapeuta precisa ter cuidado quando quer ajudar um cliente, para não se elevar acima de seus pais, como se fosse um melhor pai ou mãe ou ainda o parceiro mais compreensivo. Caso contrário - assim como o cliente - ele também expia com o fracasso por causa de sua arrogância." (89)
"O maior bem que existe nas famílias é a pertinência de todos. A vida é venerada e protegida nas famílias. Aqui se precisa proteger a vida. Essa é a dinâmica dentro da família." (90)
"Quem se expõe a isso, quem compartilha o destino de seu povo, mesmo que seja difícil, está em paz com a sua alma e tem força." (90)

Equilíbrio

"Os sistemas têm uma profunda necessidade de compensação interna. Essa necessidade ultrapassa frequentemente os limites estabelecidos. A necessidade de equilíbrio serve ao relacionamento." (93)
"Quando, por exemplo, na família o homem faz algo de bom para a sua mulher, ela fica sob a pressão da compensação. Com isso, ela lhe faz também algo de bom e, porque o ama, faz um pouco mais do bom para ele do que ele para ela. Então, ele fica sob pressão e lhe dá um pouco mais do bom e, assim, a união da necessidade de compensação e do amor conduz a um intercâmbio crescente. Isso é a base da felicidade num relacionamento. Por isso, a necessidade de compensação é tão importante." (93)
"A paz é promovida quando o passado pode ficar passado.
Isso e também um ponto importante aqui, nas constelações familiares. Nós levantamos o passado para liberá-lo." (93)
"Tudo aquilo que é espiritual é graça. Também o esquecimento." (94)
"A base do relacionamento de casal é a diferença entre o homem e a mulher. A mulher, para se tornar mulher, precisa de um homem. E o homem, para se tornar homem, precisa de uma mulher. Pois somente tem sentido ser homem quando existe também uma mulher. E somente tem sentido ser mulher quando existe também um homem e quando ambos se completam. Um homem quer uma mulher, porque para ele como homem lhe falta a mulher. E uma mulher quer um homem, porque para ela como mulher lhe falta o homem. Assim, um bom relacionamento de casal começa com o reconhecimento de que um precisa do outro." (99)
"Esse intercâmbio fica em perigo quando um faz de conta que não está carente e, por assim dizer, não faz caso do outro.
(...)
Os relacionamentos de casal obtêm sucesso quando o homem e a mulher reconhecem que são diferentes, mas equivalentes. Quando se defrontam como iguais." (99)
"E o relacionamento obtém sucesso através do intercâmbio entre o dar e o tomar. Quando um dá, o outro toma, e através de seu amor acrescenta algo àquilo que recebeu e devolve. E o outro acrescenta algo mais, porque ama e torna a devolver. E, assim, o relacionamento de casal, no intercâmbio, dá certo onde existe uma contínua compensação com algum acréscimo." (100)
"No relacionamento de casal é necessária a compensação também no mau. Portanto, não é somente no bom que temos a necessidade de compensação, mas também no mau. Se um fere o outro, quaisquer que sejam as razões, então o outro tem a necessidade de feri-lo também. E ele precisa ferir, senão o equilíbrio fica perturbado. Mas se fere com amor, isto é, ele fere um pouco menos do que o outro, aí o equilíbrio positivo pode recomeçar. Esses seriam pequenos segredos para um relacionamento com êxito." (100)
"O intercâmbio entre um casal baseia-se em duas necessidades. Uma é a necessidade pela compensação, a outra é a necessidade pelo amor." (100)
O futuro

"Hoje de manhã um amigo me contou que Joseph Campbell disse que quando um homem ou uma mulher encontra o parceiro certo, então ele ou ela sabe imediatamente: Agora encontrei o meu futuro. Esta é uma linda frase." (101)
"O futuro é o que vem inevitavelmente ao nosso encontro. Quem alcançou o futuro está vinculado. Ele nos aprisiona." (101)
"A consciência masculina é diferente da consciência feminina e culpa e inocência masculina são diferentes da culpa e inocência feminina. O que é bom para o feminino talvez seja prejudicial para o masculino. Quando o masculino não pode se afirmar, precisa se separar ou resignar. Mas pode também concordar com o limite e através da renúncia fica unido a algo maior e, através disso, eficaz." (101)
"A palavra unidade é somente compreensível, se existe algo diverso. Sem algo diferente não existe unidade, pois a unidade é aquilo que sintetiza e une coisas diferentes. A imagem mais linda da unidade de coisas diferentes é o casal. Não se pode imaginar uma coisa tão diferente como um homem e uma mulher. Eles são diferentes sob todos os aspectos, mas mesmo assim relacionados um ao outro." (103)
"(...) sou defensor da manutenção da diversidade e do cultivo das diferenças." (104)
"A base para que o amor entre o homem e a mulher dê certo é o amor da criança pelos pais e dos pais pela criança. Quando existem dificuldades no relacionamento a dois, isto frequentemente está ligado ao fato de que aquilo que antecede o amor entre o casal ainda precisa de uma solução. Isto porque no relacionamento a dois queremos alcançar algo que talvez não tenhamos conseguido no amor pelos nossos pais. Mas isso não dá certo sem que, primeiramente, o amor pelos pais comece a fluir." (105)
"O relacionamento de casal tem precedência à paternidade e à maternidade. Na verdade o relacionamento a dois está direcionado à
paternidade e à maternidade, mas a paternidade e a maternidade são a
continuação do relacionamento a dois. Por isso o homem tira a força para ser pai do amor pela mulher. E se ama os filhos, ama também a sua mulher em seus filhos - e vice-versa." (105)
"A mulher tem a força de ser mãe porque sabe que o homem está ao seu lado e toma dele a força para se dedicar aos filhos. Isso dá certo quando ela ama o marido nos filhos, quando o seu amor por eles é a continuação de seu amor pelo marido. E os filhos ficam felizes, quando seus pais se amam mutuamente neles. Os filhos nunca são tão felizes como quando vivenciam seus pais como par. Então são realmente felizes - e se sentem confortados.
Mas essa não é a única fonte de força que possibilita aos pais estarem aí para os seus filhos. Uma outra é a necessidade de passar para diante o que receberam de seus pais. Em vez de devolver isso a seus pais - o que na verdade não conseguem - eles dão aos seus filhos." (105)
"PARTICIPANTE Então qual é a ordem quando um dos parceiros ou ambos já foram casados anteriormente e existem filhos de um relacionamento anterior? HELLINGER O parceiro anterior precisa, em primeiro lugar, ser respeitado." (106)
Não importa qual tenha sido o motivo da separação, a solução exige que o parceiro anterior seja respeitado. Porque todos os seres humanos são igualmente bons, mesmo que isso soe estranho. Embora
muitos afirmem isso continuamente, na prática parece que é muito difícil entender. Todas as pessoas são igualmente boas. São diferentes, mas igualmente boas." (106)
"(...) a criança que representa um parceiro anterior tende algumas vezes a desenvolver neurodermite ou também asma. Isso tem a ver com o fato de que precisa da bênção do parceiro anterior. Essa bênção vem automaticamente quando o parceiro anterior é respeitado. Isso com relação às ordens em famílias complexas." (107)
"PARTICIPANTE O senhor falou que filhos do segundo casamento podem representar parceiros anteriores. Em que medida é também possível que um filho de um primeiro casamento que é levado para o
segundo relacionamento possa assumir esse papel?
HELLINGER Naturalmente. Essa criança representa o pai ou a mãe excluído. Quando, por exemplo, a criança foi atribuída à mulher, então ela representa no novo relacionamento o pai e vice-versa. A solução é bem simples: o parceiro precisa respeitar na criança o parceiro anterior.
Então a criança se sente bem e não precisa representá-lo. Ela o representa, quando ele não é respeitado." (108)
"Bem profundamente na alma existe uma necessidade irresistível de respeitar cada um do jeito que é. Essa é uma ordem do amor que atua na profundeza. Quanto mais as entendemos, tanto mais facilmente podemos encontrar a solução." (108)
"PARTICIPANTE No início você sempre pergunta: “Existem relacionamentos dos pais antes do casamento, existem filhos ilegítimos ou algo semelhante?” Mas existem outros relacionamentos do casal também durante o casamento, eles não têm importância?
HELLINGER Têm uma certa importância, mas para a dinâmica familiar, os relacionamentos anteriores ao casamento desempenham o papel mais importante. Através da consumação do amor, resulta do relacionamento um vínculo que é indissolúvel. Por isso, um segundo vínculo só pode dar certo quando o primeiro é reconhecido. Se o primeiro vínculo não é reconhecido, o marido anterior ou a mulher anterior será representado por uma criança, sem que alguém perceba e sem que alguém force a criança a isso. Por isso, aqui ninguém é culpado. Mas esse parceiro anterior é automaticamente representado por uma criança." (109)
"Normalmente um parceiro anterior é representado por uma criança do mesmo sexo. Mas se não existe tal criança, então uma outra precisa representá-lo. Essa criança se torna algumas vezes homossexual, porque está identificada com uma pessoa de um outro sexo. Isso também pode levar a psicoses. Mas só o fato de que uma criança precise representar um parceiro anterior já pesa sobre ela." (109)
"PARTICIPANTE O senhor disse que o relacionamento anterior precisa ser reconhecido. Reconhecido por quem? Pela própria pessoa ou pelo parceiro? O que o senhor quer dizer com isso?
HELLINGER Por ambos os parceiros. O segundo marido, por exemplo, precisa reconhecer que é o segundo e que a mulher ainda está ligada ao primeiro. Se reconhecer isso, pode tomar a mulher como parceira. Então, ele precisa, via-de-regra, se colocar entre o parceiro anterior e a mulher numa constelação familiar. Com isso, demonstra que toma a mulher como sua parceira. Mas porque isso está ligado a sentimentos de culpa, alguns não fazem isso. Também pode-se observar que, quando o segundo marido se sente melhor do que o primeiro, então secretamente, quer tornar-se como o outro. Isso significa que vai se esforçar para também perder a mulher. Isso vale também para a mulher. Quando a segunda mulher se sente superior à primeira, então vai se esforçar também para perder o marido." (109)
"PARTICIPANTE O que significa isso: reconhecimento?
HELLINGER Isso significa que se reconhece que o outro deu lugar. Portanto, o segundo marido reconhece que o primeiro deu lugar, que tem a mulher agora às suas custas e que é o segundo. O mesmo é válido, inversamente, para a mulher. Ela reconhece que a mulher anterior deu lugar, que tem o marido agora às suas custas e que é a segunda. Isso é
reconhecimento.
A solução é que o segundo marido diga ao primeiro marido. “Eu respeito você por ter dado lugar. Entretanto, tomo-a como minha mulher. Agora sou o marido dela ’. Isso é muito difícil para ele, porque se sente culpado. O bom aqui só pode ser feito com sentimentos de culpa.
PARTICIPANTE É preciso dizer isso pessoalmente para o marido?
HELLINGER Não. Essa é uma imagem e se faz isso imaginando o outro. Pode- se solucionar tudo na própria alma." (110)
"Os filhos tem, na verdade, duas patrias, a do pai e a da mãe. Mas, via-de-regra, a do pai tem precedência." (110)
"Quando se casa com um gêmeo deve-se ter em conta que não se pode casar com um gêmeo assim como se casa com alguém que cresceu sem ter irmão gêmeo. O parceiro precisa reconhecer que gêmeos são inseparáveis, que existe uma ligação bem profunda entre eles. Por isso, o parceiro precisa frequentemente ocupar o segundo lugar depois do gêmeo. Então dá certo. Se o parceiro não fizer isso, algumas vezes o gêmeo procura fora do casamento um substituto para o outro." (111)
"É preciso realmente coragem para a felicidade maior. A grande conquista
é segurar o fácil e claro e olhar adiante, deixando para trás todo o anterior." (112)
"A felicidade tem também uma necessidade. Tem a necessidade de crescer. Descobri algo mais sobre a felicidade. Ela corre atrás." (112)
"A curiosidade fere o amor, é contra o respeito. Pertence ao amor deixar a alguém um espaço no qual a sua alma encontra seu caminho." (113)
"O amor não é possível sem medo e sem nostalgia. Tanto um quanto o outro." (114)
"Só se pode ter um grande medo com os olhos fechados ou quando se desvia o olhar. Pois ao olhar talvez sintamos um pouco de amor. Nós nos protegemos desviando o olhar." (114)
"Medo do amor tem aquele que não ama. No próprio amor esquecemos o medo. É como na guerra. Os que estão atrás têm medo. Os que estão na linha de combate não têm medo. Vá até a primeira linha." (114)
"O íntimo é um segredo entre aqueles que o vivenciaram juntos. Não pode ser divulgado. " (114)

O maternal e o paternal entre homem e mulher

"Quando, num relacionamento a dois, o cuidado maternal por parte da mulher e a proteção paternal por parte do homem são excluídos através da acentuação unilateral da equiparação adulta, o relacionamento
empobrece.
Mas se um dos parceiros encontra o outro pronunciadamente como pai ou mãe, por exemplo, quando ele lhe possibilita os estudos, então o presenteado se sente como uma criança perante seus pais. E como uma criança que nunca conseguirá compensar, e por isso quer se separar de seus pais para finalmente ser independente. Assim o parceiro presenteado se separa para ficar livre da pressão da obrigação. Mas como à semelhança do que acontece quando a criança se separa dos pais, essa separação tem também algo de adolescente." (115)
"(...) aquele que vê precisa aprender a ouvir e aquele que ouve precisa aprender a ver." (115)

Opinar e perceber

"Há ainda algo importante nas discussões entre um casal. Eles se acirram frequentemente por causa de opiniões diferentes. Mas todas as opiniões são erradas, inclusive a própria. Não são percepções, mas apenas opiniões. Por isso, não existe entendimento sobre opiniões. Mas sobre percepções, sobre aquilo que cada um pode observar existe um entendimento." (115)
"Quem quer o triunfo, quer a perda. E quem quer o poder, quer a perda." (115)
"Uma pessoa não é ciumenta porque quer ficar com a outra. Muito pelo contrário: o ciúme é um ato para se livrar do pa
 rceiro e, na verdade, sem assumir a própria culpa Assim pode-se empurrar a culpa no outro pelo fracasso. Quando se olha exatamente para isso, fica claro." (116)
Separação: ''Eu amei muito você. O que dei para você, del com muito prazer. Você também me deu muito, vou guardar isso com honra. Assumo a minha parte da responsabilidade pelo que não deu certo conosco e deixo a sua com você. E agora deixo você em paz.'' Então, separa-se e cada um segue o seu caminho." (118)

O novo começo

"Existe um segredo, como é que um relacionamento a dois pode continuar bem, depois de uma crise. É um passo bem simples: a gente se permite mutuamente um novo começo - com amor. Para o novo começo é preciso que não se volte mais ao anterior. Se foi uma crise muito grave, começa-se de novo com apaixonar-se, ficar noivo, casar-se e com o brilho do primeiro amor. Pode-se buscá-lo de novo." (117-118)
"Eu me disse: quando o sol se põe, ele nasce de novo. Após cada crise num relacionamento, é necessário um novo começo. Novo começo significa que o difícil agora passou e que não se retorna ao anterior. Nem mesmo em pensamentos. Com isso o modelo ruim rompe." (117)

O soltar

"O relacionamento de casal se desenvolve através do soltar, de soltar os sonhos. A felicidade almejada não tem o mesmo valor. O primeiro sonho que deve ser deixado é o seguinte: agora encontrei o que me faltou quando criança. É o sonho da criança que, finalmente, encontrou a mãe, que preenche tudo. Isso é válido tanto para os homens quanto para as mulheres.
O apaixonar-se começa quando a criança no homem ou na mulher imagina no parceiro a mãe ideal. Por isso também é cego pois, no apaixonar-se, o outro não é visto como a pessoa que ele ou ela é. Depois é que se aprende lentamente a ver o outro como ele é e a amá-lo como ele é.
Isto é, de um lado, um processo de morte." (117)
"O relacionamento de casal é sempre um exercício para a morte, para o soltar. É, na verdade, a experiência mais intensa de unidade, mas permanece sempre incompleta, porque atrás disso espera uma outra unidade, uma maior, para a qual nós nos desenvolvemos. Eu a denomino algumas vezes de origem. É a base da qual a vida emerge." (117)
"O relacionamento se desenvolve para uma unidade maior, e isto é tanto um processo doloroso quanto de realização. As crises que acontecem nos relacionamentos a dois são partes desse processo de morrer. Mas a morte é um processo da vida, pode-se ver assim. Algumas vezes é assim: se morre cedo ou se solta muito cedo. Isso tira a plenitude desse processo. Portanto, tudo no seu tempo." (118)
"A separação
Uma boa separação dá certo quando os parceiros dizem um para o outro: “Eu amei muito você. O que dei para você, dei com muito prazer. Você também me deu muito, vou guardar isso com honra. Assumo a minha parte da responsabilidade pelo que não deu certo conosco e deixo a sua com você. E agora deixo você em paz.” Então, separa-se e cada um segue o seu caminho." (118)
"Gostaria de explicar-lhe o pano de fundo. Quando existe uma separação, procura-se frequentemente o motivo. Quando se procura o motivo tem-se a ideia: se tivesse sabido o motivo, poderia ter impedido a separação. Dessa forma, a procura do motivo é dominada por uma ideia de poder.
Quando renuncio a procurar o motivo, sou obrigado a me submeter a um destino que não compreendo. Se faço isso, tenho uma outra possibilidade de me expor à separação, e também de me expor ao
parceiro, do qual me separo. Aí não existem mais discussões.
Reconhece-se: aconteceu algo e não está em meu poder mudar isso.
Quando houve uma culpa que levou à separação, o que levou à culpa, também não está em nosso poder. Então se acabam essas
diferenciações e isso promove a paz. E o que quero dizer quando falo de um segredo e isso deve ser reconhecido." (119)
"Quem é o culpado? Sou eu ou o outro? Por trás da procura de uma culpa ou das censuras, atua a ideia de que poderia ter sido diferente ou poderia ser revertido. Mas a corrente da vida flui para frente - não para trás." (120)
"O vínculo entre um casal, principalmente quando se tornam pais, é muito profundo. É o vínculo do casal que dá também aos pais a força para cuidar dos filhos.
A vida plena ou a grande vida é aquela em que o casal se encontra, tem filhos e se expõe ao esforço total, ao risco total, à felicidade total e ao sofrimento na família. Essa é a verdadeira grandeza humana. E é a vida mais trivial de todas. A maioria vive essa vida trivial." (120)
"Aqueles que têm um problema conseguem, via-de-regra, também resolvê-lo. Eles têm a força para isso. Aqueles que pensam que precisam ajudar, são, via-de-regra, fracos. Nunca iriam assumir o todo. Dão talvez bons conselhos, mas quando a coisa fica séria..." (120)
"Aqueles que têm o problema e o carregam, conseguem fazê-lo e não precisam dos outros. Precisam, talvez, algumas vezes, de um pouco de apoio, mas nada mais. Principalmente não precisam de nenhuma compaixão. Nós os rebaixamos com a compaixão." (121)
"Alguns cavalgam um jumento e quando ele não quer prosseguir, colocam uma cenoura na sua frente. O jumento corre atrás da cenoura e continuamos a cavalgar. A cenoura incita o jumento de modo que continue o seu caminho, e este nem percebe o peso que carrega consigo.
De vez em quando aqui é assim também. Existem aqui ilusões em jogo que desconhecemos: quem é que cavalga o outro e para onde é que o outro realmente o conduz. Então, de vez em quando, há um despertar e isso é o que cura. Quando duas pessoas estão tão fascinadas uma pela outra, aí seguramente atuam muitas forças secretas, que não conhecemos. Isso ultrapassa a atração imediata. Aí emergem as mais diversas recordações." (123)
"No fundo é bem simples para um casal. Quando se olham nos olhos, realmente se olham nos olhos, veem somente a alma. Quando as almas se encontram, então é possível o amor. Mas essas almas se encontram de forma que não permite ao indivíduo possuir a outra alma. Ele não a possui, somente a vê. Mas existe, então, nessas almas um vínculo que é profundo, fiel e firme, com poucas ilusões. Ele não é tão estreito, porque a outra alma é respeitada continuamente, no entanto, pode mantê-los." (123)
"No enamoramento concordo com o outro do jeito que eu o imagino, não como ele é. Por isso o despertar do enamoramento é uma condição prévia para o amor." (125)
"No enamoramento tenho uma imagem do outro sem que o conheça. Eu ainda não o vejo. Vejo um ideal, num duplo sentido. Quando se torna realidade, vê-se lentamente o outro, do jeito que ele é. Concordar com isso, com o outro como ele é, com sua grandeza e suas fraquezas, isso é amor. No enamoramento concordo com o outro do jeito que eu o imagino, não como ele é. Por isso o despertar do enamoramento é uma condição prévia para o amor.
(...)
Fecunda o amor através da felicidade do começo. Quando agora se une isso a ver o outro como ele é, ao assentimento para com o outro, do jeito que é, com a recordação da felicidade anterior, então, isso tem um efeito estimulante e é benéfico." (125-126)
"As soluções estão sempre além do imediato." (126)
"É uma ferida que não pode ser mais curada. Existem atos que têm consequências que não podem ser mais revertidos. É preciso reconhecer isso. Naturalmente, vai contra a ideia largamente difundida de que se pode e é permitido solucionar tudo.
Por outro lado, algumas vezes é necessário saber do emaranhamento. A separação é inevitável quando não existe esse reconhecimento e onde não existe a disposição de procurar um possível emaranhamento e, talvez, trazê-lo à luz. Mas a separação não é nenhuma solução, porque isso continua no relacionamento seguinte. A separação é, portanto, uma fuga daquilo que no final das contas a vida exige de cada um de nós." (126-127)
"O relacionamento tem um aspecto muito importante. É, na verdade, uma encenação contra a morte. Isso tudo serve para a conservação da vida. Tão logo haja filhos, foi atingido a finalidade e o sentido do relacionamento. Aqueles que têm filhos ou querem ter filhos mostram, com isso, que estão conscientes de que se aproximam do fim. Esse olhar para o fim é muito importante. Então, despedem- se lentamente." (127)
"...tudo se dirige a um fim." (127)
"A morte precisa ser levada a sério como completude da vida e também como completude do relacionamento. Somente aí é que ficamos plenos e completos." (128)
"Toda vida nova está baseada em que outros cederam lugar. É preciso ver isso. Mesmo aquilo que parece estar orientado para ser duradouro como um relacionamento amoroso, é, face à morte, passageiro. O que há depois, permanece." (128)
Parentificação: "Aqui fica evidente que somente se olha para o que acontece entre essas pessoas, ou seja, entre esses pais e a criança ou entre essa criança e seus pais. Mas isso só pode ser entendido se for visto num contexto maior. Se, por exemplo, a mãe rejeita sua própria mãe e não quer saber nada dela, então a sua filha vai representar para ela a sua mãe. O relacionamento não resolvido, da mãe com a sua mãe, será transferido para o relacionamento da mãe com a filha. Isso se denomina parentificação. Não existirá
nenhuma solução entre a mãe e sua filha antes que a mãe olhe para sua mãe, faça uma reverência e a honre como sua mãe. E antes que tome o que a sua própria mãe lhe deu, honre-o e deixe que se desenvolva dentro de si e presenteie a filha com isso. A filha fica imediatamente aliviada, quando a mãe realiza esse ato perante a própria mãe." (127)
"Não é um relacionamento a dois. Nem nas famílias nem nos casais existe um relacionamento a dois. São sempre relacionamentos entre sistemas. Se permaneço fixado no relacionamento a dois, não há solução." (128)
"Reverenciar significa que reconheço que o outro pertence." (129)
"A solução simples entre pais e filhos é que os filhos reconheçam: Recebi a vida de vocês. Você são meus pais, e eu os tomo agora como vocês são, como os pais certos para mim”. Então a criança fica em paz consigo mesma. Pode, então, tomar os pais e as outras coisas que oferecem." (129-130)
"Se esses simples fatos forem reconhecidos: que tenho pais, e que são os únicos certos, que se os pais fossem diferentes eu também seria diferente, e que não posso estar em harmonia comigo mesmo se rejeito os meus pais, pois com isso rejeito a mim mesmo - quando reconheço essas coisas bem simples, então já ganhei muito." (131)
"Ordem e amor se completam. E, aliás, a ordem vem primeiro. O amor está a serviço dessa ordem maior. Quando nos submetemos a ela, podemos nos desenvolver dentro dela, também, da melhor forma possível." (131)

O direito à pertinência
"Gostaria ainda de dizer algo sobre a ordem na família. No sistema familiar reina, na profundeza, uma lei fundamental. Podemos ver o que ela exige através dos seus efeitos. Essa lei diz: todos aqueles que pertencem têm o mesmo direito à pertinência. Todos, também os mortos. Na verdade, os mortos não estão fora do sistema, estão presentes de uma forma especial. Quando os mortos que foram excluídos ou esquecidos são reinseridos na família, os outros vivenciam isso como completude. Quando todos estão lá, os vivos se sentem completos e, ao mesmo tempo, livres." (134)
"Quem pertence ao sistema familiar? Quero dizer quem pertence ao sistema familiar, isto é, a quem se aplica a completude. Pertencem à família os irmãos vivos e mortos, os pais e seus
irmãos, também os vivos e os mortos. Pertencem também os avós, algumas vezes ainda um ou outro dos bisavós, mas isso raramente. Se uma bisavó morreu no parto ou por consequência deste, ela sempre vai pertencer ao sistema. A ele pertencem também todos aqueles que deram lugar para um outro, por exemplo, um marido anterior ou uma mulher anterior dos pais ou avós." (134)
"Sinto-me pleno e completo se todos forem reconhecidos, e eu lhes der um lugar de honra em meu coração. Ao mesmo tempo fico livre dos emaranhamentos do sistema. Nada que estava pendente me prende mais. Os membros da família me acompanham como uma boa força e não estou ligado mais a coisas ruins. Então, posso me erguer." (134)
"Alguns são excluídos de um sistema porque se diz que não são dignos dele. Por exemplo, porque são jogadores, alcoólatras, homossexuais ou criminosos. Sempre que alguém é excluído e outros membros da família dizem “tenho maior direito de pertencer do que ele”, o sistema fica perturbado e, então, pressiona para o restabelecimento e reparação. Assim, aquele que foi excluído ou deixado de lado dessa maneira é representado mais tarde por um descendente, sem que esse perceba isso. Ele se sente como o excluído, comporta- se como ele e, frequentemente, tem o mesmo destino.
Aqui só existe uma solução. É preciso reinserir no sistema essa denominada pessoa “má”, que foi excluída, reconhecendo que tem o mesmo direito de pertencer que os outros. E é preciso dizer a ela: “Nós cometemos uma injustiça com você e sentimos muito”. Então, pode-se ver que justamente dessa pessoa que foi excluída vem uma grande e boa força para os descendentes. Fica sendo um protetor para eles.
(...)
Por isso, só se pode fazer terapia sistêmica quando incluímos os excluídos e maus no coração, tratando-os com respeito. O estranho é que no momento em que faço isso, ganho a confiança de todos os outros do sistema. Instintivamente passam a confiar em mim.
(...)
Só existem soluções através do amor. Quando se compreende essas dinâmicas não se consegue fazer outra coisa senão trabalhar, respeitando esse amor." (134-135)
"Os mortos e excluídos encontram a paz, porque têm um lugar dentro de mim. Eles me deixam em paz porque têm um lugar dentro de mim. Posso deixá-los em paz, e
eles continuam a atuar dentro de mim, mesmo estando mortos." (136)
"(...) bem no fundo da alma, atua uma força que dirige todo o sistema para a reconciliação, para o respeito e reconhecimento mútuos - e, na realidade, por si mesma, se confiamos nela e nos recolhemos. Denomino isso de procedimento fenomenológico. Isto é, ganho compreensão através da renúncia do querer saber. E ganho força e influência através da renúncia ao poder." (137)

"PARTICIPANTE Hoje vi como podemos nos reconciliar com falecidos ou mortos. Como podemos fazer isso com os vivos? Basta reconciliarmos com eles no coração ou devemos fazer isso junto com eles?
HELLINGER De quem se trata?
PARTICIPANTE Do pai.
HELLINGER Qual é o conflito?
PARTICIPANTE Tenho a sensação de que me intrometi num certo tema que, na verdade, é somente da conta de meus pais. Não era da minha conta. Foi um conflito terrível, como nunca houvera antes e tampouco houve depois. Quando refleti hoje sobre isso, tive a sensação de ter me reconciliado com meu pai.
HELLINGER Não, você perdeu o seu pai.
PARTICIPANTE Agora eu...
HELLINGER Você perdeu o seu pai. Aceite isso e diga-lhe internamente: “Eu perdi você. Sinto muito pelo que fiz, mas agora eu o reverencio como meu pai”. Sem esse conhecimento da perda, não existe reconciliação.
PARTICIPANTE Devo dizer-lhe isso pessoalmente?
HELLINGER Não, nada mais deve ser dito. Quero dizer com isso que você perdeu a chance. Mas você pode fazer isso internamente. Então, você ficará em paz consigo mesmo. Contudo, externamente não se pode colocar isso em ordem. Não se pode pretender ainda que o pai coloque isso em ordem para você, se você for conversar com ele sobre isso. Você mesmo é que carrega as consequências. Está bem?" (137)
"Quando alguém trata a mãe ou o pai como se fossem eles que dão a vida,
surgem muitas dificuldades. Como se estivesse nas mãos dos pais darem a vida que têm. Na verdade, essa é uma ideia maluca. Frequentemente isso impede o soltar-se dos pais." (138)
"Olhar para longe, para lá de onde vem a vida, tira o poder dos pais. Por um lado, libera o filho para tomar totalmente a vida assim como vem até ele, através deles. Por outro lado, os pais recebem através disso uma dignidade maior, porque estão conectados a uma longa corrente de gerações passadas. Isso libera ambos, tanto os pais quanto o filho." (138)
"A realidade como foi, pode ser vista e deixada em paz." (139-140)
"Alguns pensam que a principal necessidade da criança é ser amada. A principal necessidade de uma criança é amar e mostrar esse amor. Os pais precisam ajustar-se a isso e permitir à criança que mostre o seu amor." (140-141)
"Quando o amor mais profundo aflora é, ao mesmo tempo, o sentimento mais profundo e doloroso. E é sempre ligado à experiência de total impotência. Então, cessa a preocupação superficial e é preciso confiar tudo a uma força maior que não conhecemos. Isso seria aqui a solução. Ela se realiza num nível superior." (141)
"(...) bem no fundo da alma, atua uma força que dirige todo o sistema para a reconciliação, para o respeito e reconhecimento mútuos - e, na realidade, por si mesma, se confiamos nela e nos recolhemos. Denomino isso de procedimento fenomenológico. Isto é, ganho compreensão através da renúncia do querer saber. E ganho força e influência através da renúncia ao poder." (142)
"A vida é algo que os próprios pais receberam e passaram para seus filhos. Uma bênção é sempre um dar a vida, vai na mesma direção de dar a vida. Por isso, compete aos pais dar uma bênção. Mas não é a sua bênção pessoal. É a bênção dentro do grande movimento da vida, que vem de bem longe e segue fluindo através dos pais. Os pais estão nesse movimento e o passam adiante para os filhos." (142)
"(...) a criança falecida precocemente deve poder partir depois de um certo tempo. Quanto mais ela é respeitada, tanto mais fácil pode-se fazê-lo. Quando os vivos a acolheram em seu meio, podem deixá-la partir depois de algum tempo e precisam deixá-la partir para que o passado possa ser passado." (144)


"A alma não perdoa quando uma mãe dá uma criança. O sistema também não perdoa isso. Então existe uma necessidade de expiação. Naturalmente que a mãe tem necessidade de expiação." (149)
"Tudo aquilo que toca o relacionamento íntimo dos pais ou alguma culpa deles não é da conta dos filhos." (150)
"(...) eu me curvo perante o meu destino. Respeito o seu e o meu. Tomo a minha vida como ela me foi dada e deixo a sua como lhe foi dada." (151)
"Nunca é demais honrar. Como liberta, honrar os pais." (155)
"Quando é uma submissão com amor, então, isso é honrar." (156)
"(...) concorde com o seu destino assim como é. Em grande parte, o nosso destino é determinado através de nossos pais. De nossos pais temos o que somos e também o que nos falta. Os pais nos deixam um caminho livre e também nos limitam através deles mesmos, pelos seus destinos e sua origem, seja lá como for. Nesse sentido, quando nos submetemos com amor e concordamos com o destino, com todas as suas consequências, esta é uma forma de submissão. Pode-se dizer também que é uma entrega. Essa é uma palavra totalmente diferente. Dessa entrega vem a grandeza. Quando alguém consegue honrar seus pais dessa forma, pode-se colocar ao lado deles no mesmo nível e, ao mesmo tempo, libertar-se." (156)
"A reverência principal é sempre perante a mãe." (156)
"Honrar a mãe, isso é o mais difícil e o maior. Mas é claro que uma criança precisa se curvar também perante seu pai. Mas a reverência principal, a reverência necessária é perante a própria mãe." (157)
"Quando aqui se fala em ordem não se trata de regras ou leis, mas de uma realidade percebida. Por isso, tampouco podemos escolhê-la. Ela atua por si só." (157)
"O amor precisa se submeter à ordem para poder se desenvolver." (157)
"A criança precisa de seus pais para poder viver e, quando o pai ou a mãe morre cedo, aquele que morreu deve ter um lugar na família." (157)
"HELLINGER Nós somos os nossos pais. Nós os carregamos dentro de nós. Por isso a maior honra aos pais é quando alguém honra seus pais em si mesmo. Quando honrou os pais em si, sente-se bem consigo mesmo. Ele não precisa de um golpe de libertação. Está em paz consigo.
Uma maneira de se lidar com isso é que a criança, cujos pais faleceram, diga: “Querido papai ou querida mamãe, você continua a viver em mim, e vou viver de forma que você possa se alegrar com isso”. Isso significa “honrar”. Para a criança isso atua de maneira benéfica. E para os pais mortos é como se existisse paz." (159)
"Não pode ser diferente e não poderia ter sido diferente." (160)
"A vida é sempre algo transitório e efêmero, quando comparada com o algo do qual emerge. A vida tem o seu movimento e força plena somente quando em consonância com esse movimento de emergir e imergir, tanto um como o outro. Então, está-se em harmonia com algo maior que a vida e isso é o que conta. Quem está em harmonia com isso, toma vida e morte, saúde e doença como equivalentes, cada evento em seu significado. A partir dessa harmonia ele pode suportar e realizar tanto um como o outro, crescendo com isso." (165)
"Felicidade dual
A felicidade procurada pelo eu nos escapa facilmente. Crescemos quando ela se vai. A felicidade da alma chega e permanece. E cresce conosco." (165)
"Mas eu não me oriento pelas doenças, nem tampouco se alguém será curado ou não. Trabalho com o sistema. Olho se em uma família atuam forças que fazem adoecer. Trago-as à luz. Ou, dizendo de maneira mais drástica, olho se há pessoas que fazem adoecer, porque não são dignificadas. Trago-as de volta à família. Quando entram, atuam curando. Para mim já não é importante o que resulta com relação à doença. Trabalho somente nessa área sistêmica." (167)
"Quando se olha para famílias pode-se ver que a maioria de suas dificuldades e doenças graves são condicionadas através do amor, a partir da tentativa secreta de salvar os outros com o amor ou a eles vincular-se. A doença e a morte são frequentemente somente um meio de dar expressão a esse amor. Quando reconhecemos isso podemos olhar essas dificuldades e doenças de maneira completamente diferente, ou seja, com simpatia e compreensão muito profundas." (169)
"Psicoterapia e medicina
Quando se fala de doenças psicossomáticas, pode existir o perigo de que se pense poder curar uma doença somente com meios psíquicos, usando assim a psicoterapia como um medicamento que é engolido e então tudo fica bem. Esse é um sério mal-entendido. Ele também é muito difundido entre certos psicoterapeutas e está implicado num desprezo pela medicina clássica.
Em especial quanto aos psiquiatras, diz-se frequentemente que só
enchem os pacientes de medicamentos e nada mais fazem por eles. Eu considero issomuito ruim. Muitos remédios ajudam realmente e somente devem ser aplicados convenientemente. Com frequência, só é possível uma psicoterapia se são tomados também os medicamentos receitados pelo psiquiatra. A psicoterapia deve apoiar o médico, mas não deve ser colocada em seu lugar. Pois as doenças são também condicionadas pelo soma ou até podem ser de natureza puramente somática." (170)
"quando são consteladas famílias de doentes vê-se
que sempre que existem doenças crônicas graves ou psicoses atuam na família graves destinos. Existe, portanto, conexão entre doenças graves e emaranhamentos nos destinos de membros da família. Quando se pode criar uma ordem na mesma, que traga paz e reconciliação, partindo da alma, isso também tem um efeito atenuante ou favorável e frequentemente até curativo sobre a doença, isso, entretanto, em ação conjunta com muitas outras medidas, principalmente aquelas da medicina." (170-171)
"Somente quando o emaranhamento que age em segundo plano vem à luz, pode-se mudar alguma coisa. Às vezes, uma doença também pode ser benéfica para a alma.
Então, não se pode tentar logo afastá-la sem que o doente tenha suportado e, para formular de maneira paradoxal, sem que a doença tenha desenvolvido o seu efeito curativo. Somente então ela pode ir embora." (171)
"Na maioria das vezes, as doenças são vistas como algo mau, do
qual queremos nos livrar. Mas, ao mesmo tempo, doenças também são processos de cura, principalmente para a alma. Não se pode simplesmente colocá-las de lado. Pode-se ver frequentemente que, quando se admite que uma doença possa servir a uma causa, talvez mais elevada, então ela pode retirar-se. Ela cumpriu o seu dever. Mas deve ficar presente, não pode ser jogada fora. Então, às vezes, ela se retira." (172)
"O método, com o qual trabalho, prevalentemente, traz à luz tais
encadeamentos encobertos. Esse método chama-se Constelações Familiares e desejo aqui explicar sucintamente de que se trata. Um cliente escolhe, dentre um grupo de pessoas presentes, representantes para as pessoas importantes de sua família. Pode ser a família atual, portanto ele como o homem ou ela como a mulher eadicionalmente as crianças. Ou, pode ser a família de origem, portanto o próprio pai, a própria mãe e ele ou ela mesmos na série de irmãos.
Pois então, quando o cliente, centrado e sem ter objetivos
predeterminados distribui essas pessoas no espaço, repentinamente, ficará surpreendido com o que vem à luz. Nisso, o curioso é: as pessoas que ele escolheu sentem como as pessoas que representam, sem que tenham qualquer ideia das mesmas. Elas sentem até os seus sintomas ou, de repente, mudam de voz, que soa semelhante àquela das pessoas representadas. Portanto, através da constelação familiar vem à luz algo oculto, que até então não era conhecido.
Não posso explicar esse processo. Ele mostra que não somente o próprio cliente, mas também pessoas totalmente estranhas, tão logo estejam na constelação, ficam conectadas a um campo mais amplo e compartilham um conhecimento que está presente nesse campo que, com a sua ajuda, vem à luz. Portanto, assim decorre uma constelação familiar." (172-173)
"Alergias Eu tenho uma hipótese sobre as causas sistêmicas por trás de alergias. Que as alergias estão amplamente ligadas a um movimento interrompido, a um movimento prematuramente interrompido ou em direção à mãe - na maioria das vezes em direção à mãe - e, às vezes, em direção ao pai." (177)
"Ambos, as constelações familiares e os movimentos da alma se completam e implicam um no outro." (180)
"Em uma constelação pode-se ver o que provoca - pode provocar doenças e quais são as forças benéficas na família. Na cura há uma transição de um nível arcaico do sentir e do pensar para um nível ciente." (186)
"Em famílias existe a dinâmica de que um carrega algo para um outro. Quando ele se livra de sua carga, frequentemente, outro membro da família a assume. Mas aquele que se livrou num bom sentido não pode ajudar o outro, pelo contrário, tem que confiar que seja dado ao outro discernimento semelhante ao dele. Portanto, toma sua a própria solução com humildade. Então se espera e tem-se a esperança de que também para o outro flua algo bom." (187)
"estar integrados em uma rede,na qual cada um tem o mesmo tamanho e cada um tem o mesmo direito, e que ninguém pode dispor sobre uma outra pessoa dizendo: “O que acontece com você não é da minha conta, eu procuro a minha realização.” Isso não é possível. Isso tem más consequências e, na verdade, de tal maneira que as crianças expiam por isso. Frequentemente, os pais ficam muito bem, mas as crianças assumem para os pais a culpa e a expiação." (188)
"Sistemas familiares atuam num plano muito profundo de igualdade e, sempre onde um se eleva acima de outro, se eleva acima de sua dor ou quando acha que pode tomar a sua vida em suas mãos, sem levar em consideração e respeitar a do outro, a sua alma se levanta contra isso e providencia a compensação. Por isso, a cura sempre começa com a dignificação do outro, ao qual fiz algo ou o qual expulsei da minha vida, apesar de ele pertencer a ela. Dando-lhe a honra que lhe cabe, a igualdade volta a vibrar e então o bom pode desenvolver-se." (190)
"Como terapeuta, sei que a constelação não depende de mim, mas
de que algo venha à luz através da mesma, e eu me exponho àquilo que vem à luz, assim como é. É, portanto, fundamentalmente um método muito comedido. Eu trabalho com o que se mostra. Mas, então, com engajamento total. Para tanto, assumo também a minha parte da responsabilidade." (198)
"Daquilo que vem à luz resulta, então, cada passo para uma solução, quando existe uma solução. Trabalho com as forças que se mostram no sistema, na família, com as forças positivas. Tento mobilizá-las e torná-las úteis para o cliente." (198)
"Provavelmente também é assim nas famílias que certos padrões se repetem. Da força do campo não existe nenhum impulso que rompa isso. Para rompê-lo, necessita-se poder sair desse campo, talvez penetrar em um nível mais elevado e dali iniciar o novo e expor-se a ele corajosamente. (...) se trata de um
processo vivo, no qual se exige dele um passo de crescimento." (199)
"Essa transição a um nível mais elevado tem algo de religioso, no sentido de que nisso me entrego a algo maior. Desprendo-me de algo estreito, passo a algo mais amplo e confio em que este me oriente." (199)
"(...) o mesmo amor, que enquanto estiver ofuscado leva à doença, também pode levar à solução quando se torna sensato."(199)
"Nas constelações familiares, o profundo emerge à superfície de maneira muito simples. Com o amor que se torna visível, podemos, então, encontrar soluções através das quais pode ser realizada a cura na alma. Simplesmente através de uma realidade que se torna visível." (200)
"Por isso, este aqui é, também, um trabalho muito humilde. E é um trabalho e tipo de procedimento no qual não se necessita crer. Olha-se e vê, assim é." (200)
"Quando se confia na alma, muitas coisas movimentam-se por si mesmas." (201)
"Uma dinâmica desenvolve-se totalmente por si mesma, sem que se intervenha." (201)
"Não há uma intervenção que se assemelhe a uma anterior. Por isso, nesse trabalho deve-se ficar sempre aberto para o novo e para o insólito." (201)
"Eu tenho perguntas básicas. Pergunto se alguém é casado, se tem filhos, se houve um antigo parceiro. Também pergunto se alguém morreu, se morreu uma criança ou se nasceu morta. Assim tenho, mais ou menos, asinformações mais importantes sobre a família atual. Eu necessito somente destes acontecimentos externos. Por exemplo, não necessito saber se o pai bebe ou se é bom ou mau, se é dominante ou submisso. Isso não tem importância aqui. Aqui só conta o que é público.
Então, pergunto pela família de origem, se houve lá algo especial.
Mas também aqui somente por acontecimentos externos. Portanto, quantas crianças havia, se alguém havia sido casado anteriormente, quem morreu e como morreu. Na verdade, isso é tudo pelo qual pergunto. Se alguém quiser me dar mais informações, eu o freio, porque não as necessito para a constelação familiar. Quando então constelo a família, recebo daí outras informações e pergunto mais alguma coisa. Essa seria a lista de minhas perguntas básicas." (202)
"No procedimento sistêmico trata-se de conseguir enxergar o completo e o todo. Por isso, olho primeiro para aqueles que estão excluídos do sistema, para os membros da família aos quais é negado o reconhecimento ou para aqueles aos quais é negado o amor. O meu coração pertence imediatamente a eles. E porque o meu coração pertence a eles, posso fazê-los entrar. Portanto, aqui não se solicita tomar partido por indivíduos, mas tomar partido pelo todo. Pois, colocando-me ao lado desses excluídos, os outros têm de se reorientar. Portanto, tomando partido pelo todo, os outros também entram em contato com os excluídos." (203-204)
"A clareza somente se apresenta para alguém que dominou o
temor." (208)
"Existe um contexto no qual digo algo. Se me engano, frequentemente vem um outro do grupo e me corrige. Também o cliente corrige isso. Então, existe um movimento contrário que o ajusta. Mas nem sempre. Por isso, sempre permanece um risco." (209)

"Os erros atuam como corretivo. Quando se quer evitá-los, evita-se
também o correto. Por isso, tenho dificuldades em exprimir advertências." (209)
"Não são permitidas perguntas indiscretas. Elas atraem a energia do cliente para aquele que pergunta e isso tem um mau efeito. Por isso, sou tão reservado, vocês percebem: não pergunto quase nada, quero saber pouco e, entretanto, posso trabalhar. Eu não atraio a energia para mim, eu a deixo lá onde está - com as pessoas importantes." (209)
"Esse é todo o segredo desse procedimento. Quer dizer: “Tocar o amor na alma”. (209)
"se agora o terapeuta permanecer na ideia de que primeiro
tem de perguntar tudo e só então sabe o que tem a fazer, estorva o campo de força no qual se encontra." (211)

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