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quarta-feira, 3 de julho de 2019

Evangelho Segundo o Espiritismo - Tradutor José Herculano Pires


"Este livro foi publicado, inicialmente, com o título de Imitação do Evangelho. Kardec explica o seguinte: "Mais tarde, por força das observações reiteradas do Sr. Didier e de outras pessoas, mudei-o para "O Evangelho Segundo o Espiritismo': Trata-se do desenvolvimento dos tópicos religiosos de O Livro dos Espíritos, e representa
um manual de aplicação moral do Espiritismo." (9 - Herculano Pires)
"Estas comunicações, cuja leitura completa pode ser feita em 'Obras Póstumas', revelam-nos a importância fundamental de O Evangelho Segundo o Espiritismo, na Codificação Kardeciana.
Enquanto O Livro dos Espíritos nos apresenta a Filosofia Espírita
em sua inteireza e O Livro dos Médiuns a Ciência Espírita em seu desenvolvimento, este livro nos oferece a base e o roteiro da Religião Espírita." (10 - Herculano Pires)
"Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos." (11)
"Homens, irmãos amados, estamos juntos de vós. Amai-vos também uns aos outros e dizei, do fundo de vosso coração, fazendo a vontade do Pai que está no Céu: "Senhor! Senhor!" e podereis entrar no Reino dos Céus." (11)
"Muitas passagens do Evangelho, da Bíblia, e dos autores sagrados em geral são ininteligíveis, e muitas mesmo parecem absurdas, por falta de uma chave que nos dê o seu verdadeiro sentido. Essa chave está inteirinha no Espiritismo, como já se convenceram os que estudaram seriamente a doutrina, e como ainda melhor se reconhecerá mais tarde. O Espiritismo se encontra por toda parte, na Antiguidade, e em todas as épocas da humanidade." (14)
"Se essas instruções tivessem surgido de uma fonte única, poderiam ter sofrido uma influência pessoal ou do meio, enquanto diversidade de origens prova que os Espíritos dão os seus ensinamentos por toda parte, e que não há ninguém privilegiado a esse respeitos." (15)
"As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à prática do Evangelho." (15)
"Poderíamos dar, sem dúvida, sobre cada assunto, maior número de comunicações obtidas numa multidão de outras cidades e centros espíritas, além dos que citamos. Mas quisemos, antes de tudo, evitar a monotonia das repetições inúteis, e limitar a nossa escolha às que, por seu fundo e por sua forma, cabem mais especialmente no quadro desta obra, reservando para publicações posteriores as que não entraram aqui.
Quanto aos médiuns, deixamos de cita-los. Na maioria, em virtude de seus próprios pedidos, e depois, porque não convinha fazer exceções. Os nomes dos médiuns não acrescentariam, aliás, nenhum valor à obra dos Espíritos. Sua citação seria apenas uma satisfação do amor-próprio, pela qual os médiuns verdadeiramente sérios não se interessam. Eles compreendem que, sendo puramente passivo seu papel, o valor das comunicações não aumenta em nada o seu mérito pessoal, e que seria pueril envaidecerem-se de um trabalho intelectual a que prestam apenas a seu
o seu concurso mecânico." (15 - Kardec)
"Um homem pode ser enganado e pode enganar-se a si mesmo, mas não aconteceria assim, quando milhões vêem e ouvem a mesma coisa: isto é uma garantia para cada um e para todos. Demais, pode fazer-se desaparecer um homem, mas não se faz desaparecerem as
massas; podem-se queimar livros, mas não se podem queimar Espíritos. Ora, queimem-se todos os livros, e a fonte da doutrina não será menos inesgotável, porque não se encontra na Terra, surge de toda parte e cada um pode capta-la. Se faltarem homens para a propagar, haverá sempre os Espíritos, que atingem a todos e que ninguém pode atingir.
São realmente os próprios Espíritos que fazem a propaganda, com a ajuda de inumeráveis médiuns, que eles despertam por toda parte. Se houvesse um intérprete único, por mais favorecido que esse fosse, o Espiritismo estaria apenas conhecido. Esse intérprete, por sua vez, qualquer que fosse a sua categoria, provocada a prevenção de muitos; não seria aceito por todas as nações. Os Espíritos, entretanto, comunicando-se por toda parte, a todos os povos a todas as seitas e a todos os partidos, são aceitos por todos. O Espiritismo não tem nacionalidade, independe de todos os cultos particulares,
não é imposto por nenhuma classe social, visto que cada um pode receber instruções de seus parentes e amigos de além túmulo. Era necessário que assim fosse, para que ele pudesse conclamar todos
os homens à fraternidade, pois se não se colocasse em terreno neutro teria mantido as dissenções, em lugar de apazigua-las." (16)
"Se, portanto, o Espiritismo é uma verdade, ele não teme nem a má vontade dos homens, nem as revoluções morais, nem as transformações físicas do globo, porque nenhuma dessas coisas pode atingir os Espíritos." (17)
"Sabe-se que os Espíritos, em conseqüência das suas diferenças de capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade: que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais do que os homens; que há, entre eles, como entre e estes, presunçosos e falsos sábios, que crêem saber aquilo que não sabem: sistemáticos, que tomam suas próprias idéias pela verdade; enfim, que os Espíritos da ordem mais elevada, que são completamente desmaterializados, são os únicos libertos das idéias e das preocupações terrenas. Mas sabe-se também que os Espíritos embusteiros não têm escrúpulos para esconder-se atrás de nomes emprestados, a fim de fazerem aceitar suas utopias. Disso resulta que, para tudo o que está fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que alguém possa obter
são de caráter individual, sem autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou daquele Espírito, sendo imprudência aceita-las e propaga-las levianamentel como verdades absolutas." (17)
"O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é necessário submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em contradição manifesta com o bom senso, com uma lógica rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada." (17)
"A única garantia segura do ensino dos Espiritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares." (18)
"A experiência prova que, quando um novo
princípio deve ser revelado, ele é ensinado espontaneamente, ao mesmo tempo, em diferentes lugares, e de maneira idêntica, senão na forma, pelo menos quanto ao fundo. Se, portanto, apraz a um Espírito formular um sistema excêntrico, baseado em suas próprias idéias e fora da verdade, pode-se estar certo de que esse sistema
ficará circunscrito, e cairá diante da unanimidade das instruções dadas por toda parte, como já mostraram inúmeros exemplos." (18)
"Esta é a base em que nos apoiamos, para formular um princípio da doutrina. Não é por concordar ele com as nossas idéias, que o damos como verdadeiro. Não nos colocamos, absolutamente, como árbitro supremo da verdade, e não dizemos a ninguém: "Crede em tal coisa, porque nós vo-la dizemos". Nossa opinião não é, aos nossos próprios olhos, mais do que uma opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa, porque não somos mais infalíveis do que os outros. E não é também porque um princípio nos foi ensinado que o consideramos verdadeiro, mas porque ele recebeu a sanção da concordância.
Na nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo, estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa concordância se estabelece. É esta observação que nos tem guiado até hoje, e é igualmente ela que nos guiará, através dos novos campos que o Espiritismo está convocado a explorar." (18-19)
"O que determinou o sucesso da doutrina formulada no O Livro dos Espíritos e no Livro dos Médiuns, foi que, por toda parte, cada qual pode receber, diretamente dos Espíritos, a confirmação do que eles afirmavam." (19)
"Os Espíritos Superiores procedem, nas suas revelações, com extrema prudência. Só abordam as grandes questões da doutrina de maneira gradual, à medida que a inteligência se torna apta a compreender as verdades de uma ordem mais elevada, e que as circunstâncias são propícias para a emissão de uma idéia nova. Eis porque, desde o começo, eles não disseram tudo, e nem o disseram até agora, não cedendo jamais à impaciência de pessoas muito apressadas, que desejam colher os frutos antes de amadurecerem. Seria, pois, inútil, querer antecipar o tempo marcado pela Providência para cada coisa, porque então os Espíritos verdadeiramente sérios recusam-se positivamente a ajudar. Os Espíritos levianos, porém, pouco se incomodando com a verdade, a tudo respondem. É por essa razão que, sobre todas as questões prematuras, há sempre respostas contraditórias." (20-21)
"Os Espíritos verdadeiramente sábios, quando não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questão, não a resolvem jamais de maneira absoluta. Declaram tratar do assunto de acordo com a sua opinião pessoal, e aconselham esperar-se a confirmação.
Por maior, mais bela e justa que seja uma idéia, é impossível que reúna, desde o princípio, todas as opiniões. Os conflitos que dela resultam são a conseqüência inevitável do movimento que se processa, e são mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade." (21)
"Os espíritas que revelam alguns temores devem ficar tranquilos. Todas as pretensõe s isoladas cairão pela força mesma das coisas, diante do grande e poderoso criterium do controle universal.
Não será pela opinião de um homem que se produzirá a união, mas pela unanimidade da voz dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós que qualquer outro, que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco um Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. É a universalidade dos Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Este é o caráter essencial da doutrina espírita, isto está a sua força e a sua autoridade. Deus quis que a sua lei fosse assentada sobre uma base inabalável, e foi por isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só." (21)
"Diante desse grandioso acordo de todas as vozes do céu, que pode a opinião de um homem ou de um Espírito? Menos que uma gota d'água que se perde no oceano,
menos que a voz de uma criança abafada pela tempestade.
A opinião universal, eis portanto o juiz supremo, aquele que pronuncia em última instância. Ela se forma de todas as opiniões individuais. Se uma delas é verdadeira, tem na balança o seu peso
relativo; se uma é falsa, não pode sobrepujar as outras. Nesse imenso concurso, as individualidades desaparecem, e eis aí um novo revés para o orgulho humano." (22)
RESUMO DA DOUTRINA DE SÓCRATES E PLATÃO
"0 homem é uma alma encarnada. Antes de sua encarnação, ela existia junto aos modelos primordiais, às idéias do verdadeiro, do bem e do belo. Separou-se delas ao encarnar-se, e lembrando seu passado, sente-se mais ou menos atormentada pelo desejo de a elas voltar." (29)
"Assim, o homem que considera as coisas de baixo, terra à terra, do ponto de vista material, vive iludido. Para aprecia-la com justeza, é necessário vé-las do alto, ou seja, do ponto de vista espiritual. O verdadeiro sábio deve, portanto, de algum modo, is isolar a alma do corpo, para ver com os olhos do espírito. É isso que ensina o Espiritismo (Cap. 11, n' 5)." (29)
"Enquanto tivermos o nosso corpo e a nossa alma se encontrar mergulhada nessa corrupção, jamais possuiremos o objeto de nossos desejos: a verdade." (29)
" E, há mais, pois, afirma-se que a reencarnação é uma consequência da impureza da alma, enquanto as almas purificadas estão livres dela. O Espiritismo não diz outra coisa, apenas acrescenta que a alma que tomou boas resoluções na erraticidade, e que tem conhecimentos adquiridos, trará menos defeitos ao renascer, mais virtudes e mais ideias intuitivas do que na existência precedente, e que, assim, cada existência marca para ela um progresso intelectual e moral." (30)
"Esta é a doutrina dos Anjos guardiães ou Espíritos protetores, e das reencarnações sucessivas, após intervalos mais ou menos longos de erraticidade." (31)
"O Espiritismo ensina também que os Espíritos povoam o espaço; que Deus não se comunica com os homens senão por intermédio dos Espíritos puros, encarregados de nos transmitir a sua vontade; que os Espíritos se comunicam conosco durante o estado de vigília e durante o sono." (31)
"A preocupação constante do filósofo (tal como o compre entendem Sócrates e Platão) é a de ter o maior cuidado com a alma, menos em vista desta vida, que é apenas um instante, do que em vista da eternidade. Se a alma é imortal, não é sábio viver com vistas à eternidade?" (31)
"De tantas opiniões, a única que permanece inabalável é a de que miais vale sofrer que cometer uma
injustiça, e que antes de tudo devemos aplicar-nos, não a parecer,
mas a ser um homem de bem. (Conversações de Sócrates com os
discípulos na prisão)." (32)
"Segundo Sócrates, os homens que viveram na Terra encontram-se depois da morte e se reconhecem. O Espiritismo no-los mostra continuando suas relações, de tal maneira que a morte não é uma interrupção, nem uma cessação da vida, mas uma transformação, sem solução de continuidade.
Sócrates e Platão, se tivessem conhecido os ensinamentos que o Cristo traria quinhentos anos mais tarde, e os que o Espiritismo hoje nos dá, não teriam falado de outra maneira. Nisso, nada há que nos deva surpreender, se considerarmos que as grandes verdades são eternas, e que os Espíritos adiantados devem tê-las conhecido antes de vir para a Terra, para onde as trouxeram." (33)
"Não se deve nunca retribuir a injustiça com a injustiça, nem fazer mal a ninguém, qualquer que seja o mal que nos tenham feito. Poucas pessoas, entretanto, admitem esse princípio, e as que não concordam com ele só podem desprezar-se umas às outras." (33)
"As mais belas preces e os mais belos sacrifícios agradam menos à Divindade, do que uma alma virtuosa que se esforça por
assemelhar-se a ela. Seria grave que os deuses se interessassem mais pelas nossas oferendas do que pelas nossas almas. Dessa maneira, os maiores culpados poderiam conquistar os seus favores. Mas não, pois só são verdadeiramente sábios e justos os que, por suas palavras e seus atos, resgatam o que devem aos deuses e aos homens. (Cal). X, oP 7 e 8)." (34)
"A virtude não pode ser ensinada, ela vem por um dom de Deus aos que a possuem." (34)
"A sabedoria está em não pensares que sabes aquilo que não sabes." (35)
"... não busquemos mais do que a verdade. Tratemos se nos instruir, mas não nos aborrecamos." (35)

Capítulo I - Não vim destruir a lei


"4. Mas o papel de Jesus não foi simplesmente o de um legislador
moralista, sem outra autoridade que a sua palavra. Ele veio cumprir as profecias que haviam anunciado o seu advento. Sua autoridade decorria da natureza excepcional do seu Espírito e da natureza divina da sua missão. Ele veio ensinar aos homens que a verdadeira vida não está na terra, mas no Reino dos Céus; ensinar-lhes o caminho que os conduz até lá, os meios de se reconciliarem com Deus, e os advertir sobre a marcha das coisas futuras, para o cumprimento dos destinos humanos. Não obstante, ele não disse tudo, e sobre muitos pontos limitou-se a
lançar o germe de verdades que ele mesmo declarou não poderem ser então compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou menos claros, de maneira que, para entender o sentido oculto de certas palavras, era preciso que novas idéias e novos conhecimentos viessem dar-nos a chave. Essas idéias não podiam surgir antes de um certo grau de
amadurecimento do espírito humano. A ciência devia contribuir poderosamente para o aparecimento e o desenvolvimento dessas idéias. Era preciso, pois, dar tempo à ciência para progredir." (39)
"5. O Espiritismo é a nova ciência que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo material. Ele nos mostra esse mundo, não mais como sobrenatural, mas, pelo contrário, como uma das forças vivas e incessantemente atuantes na natureza, como a fonte de uma infinidade de fenômenos até então incompreendidos..." (39)
"O Espiritismo é a chave que nos ajuda a tudo explicar com facilidade.
6. A lei do Antigo Testamento está personificada em Moiséa; a do Novo Testamento, em Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus. Mas não está personificado em ninguém, porque ele
é o produto do ensinamento dado, não por um homem, mas pelos Espíritos, que são as vozes do céu, em todas as partes da Terra e por inumerável multidão de intermediários. Trata-se, de qualquer
maneira, de um ser coletivo, compreendendo o conjunto dos seres do
mundo espiritual, cada qual trazendo aos homens o tributo de suas Luzes, para fazê-los conhecer esse mundo e a sorte que nele os espera.
7. Da mesma maneira que disse o Cristo: "Eu não venho destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento", também diz o Espiritismo: "Eu não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe cumprimento". Ele nada ensina contrário ao ensinamento do Cristo, mas o desenvolve, completa e explica, em termos claros para todos, o que foi dito sob forma alegórica. Ele vem cumprir, na época predita, o que o Cristo anunciou, e preparar o cumprimento das coisas futuras. Ele é, portanto, obra do Cristo, que o preside,
assim como preside ao que igualmente anunciou: a regeneração que se opera e que prepara o Reino de Deus sobre a Terra." (40)
"Mas nisto, como em tudo, há os que ficam retardados, até que sejam arrastados pelo movimento geral, que os esmagará, se quiserem resistir em vez de se entregarem." (41)
"É toda uma revolução moral que se realiza neste momento, sob a ação dos Espíritos. Depois de elaborada durante mais de dezoito séculos, ela chega ao momento
de eclosão, e marcará uma nova era da humanidade. São fáceis de prever as suas conseqüências: ela deve produzir inevitáveis modificações nas relações sociais, contra o que ninguém poderá opor-se, porque elas estão nos desígnios de Deus e são o resultado da lei do progresso, que é uma lei de Deus." (41)
"Os mandamentos de Deus, dados por Moísés, trazem o germe da mais ampla moral cristã. Os comentários da Bíblia reduziam-lhes o sentido, porque, postos em ação em toda a sua pureza, não seriam
então compreendidos. Mas os Dez Mandamentos de Deus nem por isso deixaram de ser o brilhante frontispício da obra, como um farol que devia iluminar para a humanidade o caminho a percorrer.
A moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos chamados a regeneração." (42)
"O Cristo foi o iniciador da mais pura moral, a mais sublime: a moral evangélica, cristã, que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torna-los fraternos; que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade e o amor do próximo, e criar entre todos os homens uma solidariedade comum. Uma moral, enfim, que deve transformar a Terra, fazê-la morada de Espíritos superiores aos que
hoje a habitam. É a lei do progresso, a que a natureza está sujeita, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca de que Deus se serve para elevar a humanidade.
São chegados os tempos em que suas idéias morais devem desenvolver-se, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus." (42)
"Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá." (42)
"10. Um dia, Deus em sua inesgotável caridade, permitiu ao homem ver a verdade através das trevas. Esse dia foi o do advento de Cristo. Depois do vivo clarão, porém, as trevas se fecharam de novo." (43)
"O Espiritismo é de ordem divina, pois repousa sobre as próprias leis da natureza. E crede que tudo o que é de ordem divina tem um objeto elevado e livre." (43)
"... o coração e o amor devem marchar unidos à ciência." (43)
"Tudo é fácil para aquele que crê e que ama: o amor o enche de gozo inefável." (43)
"Curvai-vos sob o sopro precursor da tempestade, para não serdes derrubados." (43)
"Vós sois o grão de areia, mas sem os grãos de areia não haveria montanhas." (43)
"A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. A formiga não constrói o seu formigueiro, e animaizinhos insignificantes não formam continentes? A nova cruzada começou: apóstolos da paz universal, e não da guerra, modernos São-Bernardos, olhai para a frente e marchai! A lei dos mundos é a lei do progresso." (43)
"Quando, em meio de seus desregramentos, ele sentiu na própria alma a estranha vibração que o chamava para si mesmo e Ihe fez compreender que a felicidade não estava nos prazeres enervantes e fugidios; quando, enfim, na sua Estrada de Damasco, ele também ouviu a santa voz que Ihe clamava: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" Exclamou: "Meu Deus! Meu Deus, perdoa-me, eu creio,
sou cristão!" E desde então se tornou um dos mais firmes pilares do Evangelho." (44)
"NOTA - Santo Agostinho vem, por acaso, modificar aquilo que ensinou? Não,
seguramente, mas como tantos outros, ele vê com os olhos do espírito o que não
podia ver como homem. Sua alma liberta percebe claridades novas, e compreende
o que antes não compreendia. Novas idéias Ihe revelaram o verdadeiro sentido de certas palavras." (44)

Capítulo II - Meu reino não é deste mundo

"2. Por estas palavras, Jesus se refere claramente à vida futura, que ele apresenta, em todas as circunstâncias, como o fim a que se destina a humanidade, e como devendo ser o objeto das principais preocupações do homem sobre a Terra. Todas as suas máximas se
referem a esse grande princípio. Sem a vida futura, com efeito, a maior parte dos seus preceitos de moral não teriam nenhuma razão de ser. É por isso que os que não crêem na vida futura, pensando
que ele apenas falava da vida presente, não os compreendem ou os acham pueris." (45)
"Jesus, entretanto, conformando o seu ensino ao estado dos homens da época, evitou de lhes dar o esclarecimento completo, que os deslumbraria em vez de iluminar, porque eles não o teriam compreendido. Ele se limitou a colocar, de certo modo, a vida futura como um principio, uma lei da natureza, à qual ninguém pode escapar." (46)
"O Espiritismo veio completar, nesse ponto, como em muitos outros, o ensinamento do Cristo, quando os homens se mostraram maduros para compreender a verdade. Com o Espiritismo, a vida
futura não é mais simples artigo de fé, ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos fatos." (46)
"Ora, a procura do bem-estar força o homem a melhorar todas as coisas, impulsionando como ele é pelo instinto do progresso e da conservação, que decorre das próprias leis da natureza. Ele trabalha, portanto, por necessidade, por gosto e por dever, e com isso cumpre os desígnios da Providência, que o colocou na Terra para esse fim. Só aquele que considera o futuro pode dar ao presente uma importância
relativa, consolando-se facilmente de seus revezes, ao pensar no destino que o aguarda.
Deus não condena, portanto, os gozos terrenos, mas o abuso desses gozos, em prejuízo dos interesses da alma. É contra esse abuso que se previnem os que compreendem estas palavras de
Jesus: 'O meu reino não é deste mundo'.
Aquele que se identifica com a vida futura é semelhante a um homem rico, que perde uma pequena soma sem se perturbar; aquele que concentra os seus pensamentos na vida terrestre é como
o pobre que, ao perder tudo o que possui, cai em desespero.
7. O Espiritismo dá amplitude ao pensamento e abre-lhe novos
horizontes. Em vez dessa visão estreita e mesquinha, que o concentra na vida presente, fazendo do instante que passa sobre a Terra o único e frágil esteio do futuro eterno, ele nos mostra que esta vida é um simples elo do conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador, e revela a solidariedade que liga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Oferece, assim, uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma, no momento do nascimento de cada corpo, faz que todos os seres sejam estranhos uns dos outros. Essa solidariedade das partes de um mesmo
todo explica o que é inexplicável, quando apenas consideramos uma parte. Essa visão de conjuntos, os homens do tempo de Cristo não podiam compreender, e por isso o seu conhecimento foi reservado
para mais tarde." (48-49)
"Oh, Jesus! Disseste que teu reino não era deste mundo, porque é necessário sofrer para chegar ao céu, e os degraus do trono não levam até lá. São os caminhos mais penosos da vida os que conduzem a ele. Procurai, pois, o caminho através de espinhos e abrolhos e não por entre as flores!" (50)

Capítulo III - HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI

"1. Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. - Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos o lugar. E depois que eu me for, e vos aparelhar o lugar, virei outra vez e tomar-vos-ei para mim, para que lá onde estiver, estejais vós também. (João, XIV: 1/3)." (51)
"DIFERENTES ESTADOS DA ALMA NA ERRATICIDADE
2. A Casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, oferecendo aos Espíritos desencarnados estações apropriadas ao seu adiantamento.
Independentemente da diversidade dos mundos, essas palavras podem também ser interpretadas pelo estado feliz ou infeliz dos Espíritos na erraticidade. Conforme for ele mais ou menos puro e liberto das atrações materiais, o meio em que estiver, o aspecto das coisas, as sensações que experimentar, as percepções que possuir, tudo isso varia ao infinito." (51)
"DIVERSAS CATEGORIAS DE MUNDOS HABITADOS
3. Do ensinamento dado pelos Espíritos, resulta que os diversos mundos possuem condições muito diferentes uns dos outros, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes." (
"6. Admira-se de haver sobre a Terra tantas maldades e tantas paixões inferiores, tantas misérias e enfermidades de toda sorte, concluindo-se que miserável coisa é a espécie humana. Esse julgamento decorre de uma visão estreita, que dá uma falsa idéia do conjunto. É desnecessário considerar que toda a humanidade não se encontra na Terra, mas apenas uma pequena fração dela." (52)
"Pois bem: consideremos a Terra como um arrabalde, um hospital, uma penitenciária, um pantanal, porque ela é tudo isso a um só tempo, e compreenderemos porque as suas aflições sobrepujam os prazeres. Porque não se enviam aos hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correção os que não praticaram crimes, e nem os
hospitais, nem as casas de correção são lugares de delícias." (53)
"8. A classificação de mundos inferiores e mundos superiores é antes relativa do que absoluta, pois um mundo é inferior ou superior em relação aos que se acham abaixo ou acima dele, na escala progressiva." (54)
"Entre esses graus inferiores e mais elevados, há inumeráveis degraus, e entre os Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, é difícil reconhecer os que animaram os seres primitivos, da mesma maneira que, no homem adulto, é difícil reconhecer o antigo embrião." (54)
"A morte não tem nenhum dos horrores da decomposição, e longe de ser motivo de pavor, é considerada como uma transformação feliz, pois não existem dúvidas quanto ao futuro. Durante a vida,
não estando a alma encerrada numa matéria compacta, irradia e goza de uma lucidez que a deixa num estado quase permanente de emancipação, permitindo a livre transmissão do pensamento.
10. Nos mundos felizes, as relações de povo para povo, sempre amigáveis, jamais são perturbadas pelas ambições de dominação e pelas guerras que lhes são consequentes. Não existem senhores
nem escravos, nem privilegiados de nascimento. Só a superioridade moral e intelectual determina as diferentes condições e confere a supremacia. A autoridade é sempre respeitada, porque decorre unicamente do mérito e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se sobre o seu semelhante, mas sobre si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é atingir a classe dos Espíritos puros, e esse desejo incessante não constitui um tormento, mas uma nobre ambição, que o faz estudar com ardor para os igualar. Todos os sentimentos ternos e elevados da natureza humana apresentam-se engrandecidos e purificados. Os ódios, as mesquinharias do ciúme, as baixas cobiças da inveja, são ali desconhecidos. Um sentimento de amor e fraternidade une a todos os homens, e os mais fortes ajudam os mais fracos. Suas posses são correspondentes às possibilidades de aquisição de suas inteligências, mas ninguém sofre a falta do
necessário, porque ninguém ali se encontra em expiação. Em uma palavra, o mal não existe." (55)
"12. Esses mundos afortunados, entretanto, não são mundos privilegiados. Porque Deus não usa de parcialidade para nenhum de seus filhos. A todos concede os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem até lá. Fez que todos partissem do mesmo ponto, e não dota a uns mais do que aos outros. Os primeiros lugares são acessíveis a todos: cabe-lhes conquista-los pelo trabalho, atingi-los o mais cedo possível, ou abandonar-se durante séculos e séculos
no meio da escória humana." (56)
"Os Espíritos em expiação aí estão, se assim nos podemos exprimir, como estrangeiros. Já viveram em outros mundos, dos quais foram excluídos por sua obstinação no mal, que os tornava causa de perturbação para os bons. Foram relegados, por algum tempo, entre os Espíritos mais atrasados, tendo por missão fazê-los avançar, porque trazem uma inteligência desenvolvida e os germes dos conhecimentos adquiridos. É por isso que os Espíritos punidos se encontram
entre as raças mais inteligentes, pois são estas também as que sofrem mais amargamente as misérias da vida, por possuírem maior sensibilidade e serem mais atingidas pelos atritos do que as raças primitivas, culo senso moral é mais obtuso." (57)
"17. Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os felizes. A alma que se arrepende neles encontra a paz e o descanso, acabando por se purificar. Sem dúvida, mesmo nesses mundos, o homem ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade experimenta as vossas sensações e os vossos desejos, mas está isenta das paixões desordenadas que vos
escravizam. Neles, não há mais o orgulho que emudece o coração, a inveja que o tortura e o ódio que o asfixia. A palavra amor está escrita em todas as frontes; uma perfeita eqüídade regula as relações
sociais; todos manifestam a Deus e procuram elevar-se a Ele, seguindo as suas leis.
Nesses mundos, contudo, ainda não existe felicidade, mas a aurora da felicidade. O homem ainda é carnal e por isso mesmo sujeito às vicissitudes que só estão isentos os seres completamente desmaterializados. Ainda têm provas a sofrer, mas estas não se revestem das pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são mais felizes e muitos de vós gostariam de habita-los, porque representam a calma após a tempestade, a convalescença após um doença cruel." (58)
"18. Mas, ah! Nesses mundos o homem ainda é falível, e o Espírito do mal ainda não perdeu completamente o seu domínio sobre ele. Não avançar é recuar, e se ele não estiver firme no caminho do bem, pode cair novamente em mundos de expiação, onde o esperam novas e mais terríveis provas. Contemplai, pois, durante a noite, na hora do repouso e da prece, essa abóbada azulada, e entre as inumeráveis esferas que brilham sobre as vossas cabeças, procurai as que levam a Deus, e pedi que um mundo regenerador vos abra o seu seio, após a expiação na Terra." (58)
"19. O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece, para os homens, o fim das coisas, é apenas um meio de leva-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta para o nada." (59)
"A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá, sob esses dois aspectos, um grau mais avançado. Ela chegou a um de seus períodos de transformação, e vai passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os homens encontrarão nela a felicidade, porque a lei de Deus a governará." (59)

Capítulo IV - Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo

"4. A reencarnação fazia parte dos dogmas judeus, sob o nome de ressurreição. Somente os saduceus, que pensavam que tudo acabava com a morte, não acreditavam nela." (62)
"Donde se segue que negar a reencarnação é renegar as palavras de Cristo. Suas palavras, um dia, constituirão autoridade sobre este ponto, como sobre muitos outros, quando forem meditadas sem partidarismo." (66)
"OS LAÇOS DE FAMÍLIA SÃO FORTALECIDOS PELA REENCARNAÇÃO E ROMPIDOS PELA UNICIDADE DE EXISTENCIA
18. Os laços de família não são destruídos pela reencarnação como pensam certas pessoas. Pelo contrário, são fortalecidos e reapertados. O princípio oposto é que os destrói.
Os Espíritos formam, no espaço, grupos ou famílias, unidos pela afeição, pela simpatia e a semelhança de inclinações. Esses Espíritos. felizes de estarem juntos, procuram-se. A encarnação só os separa momentaneamente, pois que, uma vez retornado à erraticidade, eles se reencontram, como amigos na volta de uma viagem.
Muitas vezes eles seguem juntos na encarnação, reunindo-se numa mesma família ou num mesmo círculo, e trabalham juntos para o seu progresso comum. Se uns estão encarnados e outros não, continuarão unidos pelo pensamento. Os que estão livres velam pelos que estão cativos, os mais adiantados procurando fazer progredir os retardatários. Após cada existência, terão dado mais um passo na
senda da perfeição.
Cada vez menos apegados à matéria, seu afeto é mais vivo, por isso mesmo que mais purificado, não perturbado pelo egoísmo nem obscurecido pelas paixões. Assim, eles podem percorrer um número
ilimitado de existências corporais, sem que nenhum acidente perturbe sua afeicão comum.
Entenda-se bem que se trata aqui da verdadeira afeição espiritual, de alma para alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, pois os seres que se unem na Terra apenas pelos sentidos, não têm
nenhum motivo para se preocuparem no mundo dos Espíritos. Só são duráveis as afeições espirituais. As afeições carnais extinguem-se com a causa que as provocou; ora, essa causa deixa de existir no mundo dos Espíritos, enquanto a alma sempre existe. Quanto às pessoas que se unem somente por interesse, nada são realmente uma para a outra: a morte as separa na terra e no céu.
19. A união e a afeição entre parentes indicam a simpatia anterior que as aproximou. Por isso, diz-se de uma pessoa cujo caráter, cujos gostos e inclinações nada têm de comum com os dos parentes, que ela não pertence à família. Dizendo isso, enuncia-se uma verdade maior do que a que se pensa. Deus permite essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com a dupla finalidade de servirem de provas para uns e de meio de progresso para outros. Os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e pelas atenções que deles recebem, seu caráter se abranda, seus costumes se depuram, as antipatias desaparecem. É assim que se produz a fusão das diversas categorias de Espíritos, como se faz na Terra entre as raças e os povos." (67-68)
"23. Em resumo, quatro alternativas se apresentam ao homem para o seu futuro de além-túmulo: 1) o nada, segundo a doutrina materialista; 2) a absorção no todo universal, segundo a doutrina
panteísta; 3) a conservação da individualidade, com fixação definitiva
da sorte, segundo a doutrina da igreja; 4) a conservação da individualidade, com o progresso infinito, segundo a doutrina espírita. De acordo com as duas primeiras, os laços de família são rompidos pela
morte, e não há nenhuma esperança de se reencontrarem; com a terceira, há possibilidade de se reverem, contanto que estejam no mesmo meio, podendo esse meio ser o inferno ou o paraíso; com a
pluralidade das existências, que é inseparável do progresso gradual, existe a certeza da continuidade das relações entre os que se amam, e é isso o que constitui a verdadeira família." (69)
"24. Quais são os limites da encarnacão?
- A encarnação não tem, propriamente falando, limites nitidamente traçados, se por isto se entende o envoltório que constitui o corpo do Espírito, pois a materialidade desse envoltório diminui à medida que o Espírito se purifica. Em certos mundos, mais avançados que a Terra, ele já se apresenta menos compacto, menos pesado e menos grosseiro, e conseqüentemente menos sujeito a vicissitudes. Num grau mais elevado, desmaterializa-se e acaba por se confundir com o perispírito. De acordo com o mundo a que o Espírito é chamado a viver, ele se reveste do envoltório apropriado à natureza desse mundo. O perispírito mesmo sofre transformações sucessivas. Eteriza-se mais e mais, até a purificação completa, que constitui a natureza dos Espíritos puros." (69)
"Temos ainda a considerar que, no estado de erraticidade, ou seja, no intervalo das existências corporais, a situação do Espírito está em relação com a natureza do mundo a que o liga o seu grau de adiantamento. Assim na erratícidade ele é mais ou menos feliz, livre e esclarecido, segundo for mais ou menos desmaterializado." (70)
"25. A encarnação é uma punição, e somente os Espíritos culpados é que Ihe estão sujeitos?
- A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é necessária, para que eles possam realizar, com a ajuda do elemento material, os propósitos cuja execução Deus lhes confiou. É ainda necessária por eles mesmos, pois a atividade que então se vêem obrigados a desempenhar ajuda-os a desenvolver a inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve aquinhoar eqüitativamente a todos os seus filhos. É por isso que Ele concede a todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de ação. Todo privilégio seria uma preferência, e toda preferência uma injustiça. Mas a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, no princípio da existência, como primeira prova do uso que farão do seu livre-arbítrio. Os que executam essa tarefa com zelo, sobem rapidamente, e de maneira menos penosa, os primeiros degraus da iniciação, e gozam mais cedo o resultado do seu trabalho. Os que, ao contrário, fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concede, retardam o seu progresso. E é assim que por sua obstinação, podem prolongar indefinidamente a necessidade de se reencarnarem. E é então que a encarnação se torna um castigo." (70)
"É o que se passa com o homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que está quase no começo da vida espiritual, a encarnação é um meio de desenvolver a inteligência. Mas, para o homem esclarecido, em que o senso moral está largamente desenvolvido, e que se vê obrigado a repetir as etapas de uma vida corporal cheia de angústias, enquanto já podia ter atingido o fim, é um castigo, pela
necessidade em que se acha de prolongar a sua permanência nos mundos inferiores e infelizes. Aquele que, ao contrário, trabalha ativamente para o seu progresso moral, pode não somente abreviar a duração de sua encarnação material, mas franquear de uma vez os graus intermediários, que o distanciam dos mundos superiores." (71)
"Deus, cujas leis são todas soberanamente sábias, nada faz de inútil. Pelas reencarnações no mesmo globo, quis que os mesmos Espíritos se ponham de novo em contato, tendo assim ocasião de reparar as suas faltas recíprocas. E tendo em conta as suas relações anteriores, quis, ainda, fundar sobre uma base espiritual os
laços de família, apoiando numa lei natural os princípios de solidariedade, fraternidade e igualdade." (71)


Capítulo V - Bem aventurados os aflitos 

"JUSTIÇA DAS AFLIÇOES
3. As compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra só podem realizar-se na vida futura. Sem a certeza do porvir, essas máximas seriam um contra-senso, ou mais ainda, seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, compreende-se dificilmente a utilidade de sofrer para ser feliz. Diz-se que é para haver mais mérito." (73)
"Entretanto, desde que se admite a existência de Deus, não é possível concebê-lo sem suas perfeições infinitas. Ele deve ser todo poderoso, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. E se Deus é soberanamente justo e bom, não pode agir por capricho
ou com parcialidade. As vicissitudes da vida têm, pois, uma causa, e, como Deus é justo, essa causa deve ser justa. Eis do que todos devem compenetrar-se. Deus encaminhou os homens na compreensão dessa causa pelos ensinos de Jesus, e hoje, considerando-se suficientemente maduros para compreendê-la, revela-a por completo através do Espiritismo, ou seja, pela voz dos Espíritos." (74)
"Quantos pais infelizes com os filhos, por não terem combatido as suas más tendências desde o princípio. Por fraqueza ou indiferença, deixaram que se desenvolvessem neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração. Mais tarde coIhendo o que semearam, admiram-se e afligem-se com a sua falta de respeito e a sua ingratidão.
Que todos os que têm o coração ferido pelas vicissitudes e as decepções da vida, interroguem friamente a própria consciência. Que remontem passo a passo à fonte dos males que os afligem, e verão se, na maioria das vezes, não podem dizer: "Se eu tivesse ou não tivesse feito tal coisa não estaria nesta situação".
A quem, portanto, devem todas essas aflições, senão a si mesmos? O homem é, assim, num grande número de casos, o autor de seus próprios infortúnios. Mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, e menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a falta de oportunidade, sua má estrela, enquanto, na verdade, sua má estrela é a sua própria incúria.
Os males dessa espécie constituem, seguramente, um números considerável das vicissitudes da vida. O homem os evitará, quando trabalhar para o seu adiantamento moral e intelectual." (74-75)
"5. A lei humana alcança certas faltas e as pune. O condenado pode então dizer que sofreu a conseqüência do que praticou. Mas a lei não alcança nem pode alcançar a todas as faltas. Ela castiga especialmente as que causam prejuízos à sociedade, e não as que prejudicam apenas os que as cometem. Mas Deus vê o progresso de todas as criaturas. Eis porque não deixa impune nenhum desvio do caminho reto. Não há uma só falta, por mais leve que seja, uma única infração à sua lei, que não tenha conseqüências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos conseqüentes são então uma advertência de que ele andou mal. Dão-lhe a experiência e o fazem sentir a diferença entre o bem e o mal, bem como a necessidade de se melhorar, para evitar no futuro o que já foi para ele uma causa de
mágoas. Sem isso, ele não teria nenhum motivo para se emendar, e confiante na impunidade, retardada o seu adiantamento, e portanto a sua felicidade futura." (75)
"Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida atual, é que pertence a uma existência precedente. Por outro lado, Deus não podendo punir pelo bem que se fez, nem pelo mal que não se fez, se somos punidos, é que fizemos o mal. E se não fizemos o mal nesta vida, é que o fizemos em outra. Esta é uma alternativa a que não podemos escapar, e na qual a lógica nos diz de que lado está a justiça de Deus.
O homem não é, portanto, punido sempre, ou completamente punido, na sua existência presente, mas jamais escapa às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea, e se ele não expia hoje, expiará amanhã, pois aquele que sofre está sendo submetido à expiação do seu próprio passado. A desgraça que, à primeira vista, parece imerecida, tem portanto a sua razão de ser, e aquele que sofre pode sempre dizer: "Perdoai-me, Senhor, porque eu pequei". (76-77)
"O homem não deve esquecer-se jamais de que está num mundo inferior, onde só é retido pelas suas imperfeições. A cada vicissitude, deve lembrar que, se estivesse num mundo mais avançado, não teria de sofrê-la, e que dele depende não voltar a este mundo, desde que trabalhe para se melhorar.
8. As tribulações da vida podem ser impostas aos Espíritos endurecidos, ou demasiado ignorantes para fazerem uma escolha consciente, mas são livremente escolhidos e aceitas pelos Espíritos
arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e tentar fazer melhor. Assim é aquele que, tendo feito mal a sua tarefa, pede para recomeça-la, a fim de não perder as vantagens do seu' trabalho.
Essas tribulações, portanto, são ao mesmo tempo expiações do passado, que castigam, e provas para o futuro, que preparam." (77-78)
"9. Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento porque se passa neste mundo seja necessariamente o indício de uma determinada falta: trata-se freqüentemente de simples provas escolhidas pelo Espírito, para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas a prova
nem sempre é uma expiação. Mas provas e expiações são sempre sinais de uma inferioridade relativa, pois aquele que é perfeito não precisa de ser provado." (78)
"IO. Os Espíritos não podem aspirar à perfeita felicidade enquanto não estão puros; toda mancha lhes impede a entrada nos mundos felizes. Assim acontece com os passageiros de um navio tomado
pela peste, aos quais fica impedida a entrada numa cidade, até que estejam purificados. É nas diversas existências corpóreas que os Espíritos se livram, pouco a pouco, de suas imperfeições
As provas da vida fazem progredir, quando bem suportadas; como expiações, apagam as faltas e purificam; são o remédio que limpa a ferida e cura o doente, e quanto mais grave o mal, mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, portanto, que muito sofre, deve dizer que tinha muito a expiar e alegrar-se de ser curado logo. Dele dependo, por meio da resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não perder os seus resultados por causa de reclamações, sem o que teria de recomeçar." (78-79)
"O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu. Ele nasce exatamente como se fez. Cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco Ihe importa saber o que foi: se está sendo punido, é porque fez o mal, e suas más tendências atuais indicam o que lhe resta corrigir em si mesmo. É sobre isso que ele deve concentrar toda a sua atenção, pois daquilo que foi completamente corrigido já não restam sinais. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, que o adverte do bem e do mal e Ihe dá a força de resistir às más tentações." (79)
"A lembrança só se apaga durante a vida exterior de relação. A falta de uma lembrança precisa, que poderia ser-lhe penosa e prejudicial às suas relações sociais, permite-lhes haurir novas forças nesses momentos de emancipação da alma, se ele souber aproveita-los." (80)
"O homem que sofre é semelhante a um devedor de grande soma, a quem o credor dissesse: "Se me pagares hoje mesmo a
centésima parte, darei quitação do resto e ficarás livre; se não, vou perseguir-te até que pagues o último centavo". O devedor não ficaria feliz de submeter-se a todas as privações, para se livrar da dívida, pagando somente a centésima parte da mesma? Em vez de queixar-se do credor, não Ihe agradeceria?" (80)
"Ora, cada nova falta aumenta a dívida, pois não existe uma única falta, qualquer que seja, que não traga consigo a própria punição, necessária e inevitável." (80)
"Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem é semelhante ao trabalhador que comparece no dia de pagamento. A uns, dirá o patrão: "Eis a paga do teu dia de trabalho". A outros, aos felizes da Terra, aos que viveram na ociosidade, que puseram a sua felicidade na satisfação do amor-próprio e dos prazeres mundanos, dirá: "Nada tendes a receber, porque já recebestes o vosso salário na Terra. Ide,
e recomecai a vossa tarefa". (81)
"Se, portanto, graças à maneira porque o Espiritismo o faz encarar as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até mesmo com alegria, os revezes e as decepções que em outras circunstâncias o levariam ao desespero, é evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que o poderiam perturbar. parte dos casos de loucura são provocados pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, graças à maneira porque o Espiritismo o faz encarar as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até mesmo com alegria, os revezes e as decepções que em outras circunstâncias o levariam ao desespero, é evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que o poderiam perturbar." (81)
"Ninguém pode abreviar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida." (82)
"Poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao
Reino de Deus. O desânimo é uma falta; Deus vos nega consolações, se não tiverdes coragem. A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é necessário que se apóie numa fé ardente na bondade de Deus. Tendes ouvido frequentemente que Ele não põe um fardo pesado em ombros frágeis. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem. " (83)
"Sede como o militar, e não aspireis a um repouso que enfraqueceria o vosso corpo e entorpeceria a vossa alma. Ficai satisfeitos, quando Deus vos envia à luta. Essa luta não é o fogo das batalhas, mas as amarguras da vida, onde muitas vezes necessitamos de mais coragem que num combate sangrento, pois aquele que
enfrenta firmemente o inimigo poderá cair sob o impacto de um sofrimento moral. O homem não recebe nenhuma recompensa por essa espécie de coragem, mas Deus Ihe reserva os seus louros e um lugar glorioso. Quando vos atingir um motivo de dor ou de contrariedade, tratai de elevarvos acima das circunstâncias. E quando chegardes a dominar os impulsos da impaciência, da cólera ou do desespero, dizei, com justa satisfação: "Eu fui o mais forte!"
Bem-aventurámos os aflitos, pode, portanto, ser assim traduzido; bem-aventurados os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança e a sua submissão à vontade de Deus, porque eles terão centuplicadas as alegrias que lhes faltam na Terra, e após o trabalho virá o repouso." (84)
"Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Chegado ao último degrau da
abjeção e da miséria, estendido sobre um monturo, ele clamou a Deus: "Senhor!Conheci todas as alegrias da opulência, e vós me reduzistes à mais profunda miséria! Graças, graças, meu Deus, por
terdes querido provar o vosso servo!" (84)
"Vós, que pedistes para lutar de alma e corpo contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais dura fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que, se saísseis triunfantes, mesmo que vossa carne
fosse lançada sobre um monturo, na ocasião da morte, ela deixaria escapar uma alma esplendente de alvura, purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédios, pois, poderíamos dar aos que foram atingidos por obsessões cruéis e males pungentes? Um só é infalível: a fé, voltar os olhos para o céu. Se, no auge de vossos mais cruéis sofrimentos, cantardes em louvor ao Senhor, o anjo de vossa guarda vos mostrará o símbolo da salvação e o lugar que devereis ocupar um
dia. A fé é o remédio certo para o sofrimento. Ele aponta sempre os
horizontes do infinito, ante os quais se esvaem os poucos dias de sombras do presente." (85)
"Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus." (85)
"20. Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem, em todas as posições sociais. Isto prova, meus caros filhos, melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo". Com efeito nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor, são condições essenciais da felicidade. Digo mais: nem mesmo a
reunião dessas três condições, tão cobiçadas, pois que ouvimos constantemente, no seio das classes privilegiadas, pessoas de todas as idades lamentarem amargamente a sua condição de existência.
Diante disso, é inconcebível que as classes trabalhadoras invejem com tanta cobiça a posição dos favorecidos da fortuna. Neste
mundo, seja quem for, cada qual tem a sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e desengano. Pelo que é fácil chegar-se à conclusão de que a Terra é um lugar de provas e de expiações." (86)
"(...) está demonstrado, por uma experiência multissecular, que este globo só excepcionalmente reúne as condições necessárias à felicidade completa do indivíduo.
Num sentido geral, pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia, a cuja perseguição se lançam as gerações, sucessivamente, sem jamais a alcançarem. Porque, se o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem realmente feliz não se encontra com maior
facilidade." (86)
"Criaturas humanas, é nisto que tendes necessidade de vos elevar, para compreender que o bem está muitas vezes onde pensais ver a cega fatalidade. Por que medir a justiga divina pela medida da
vossa? Podeis pensar que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-vos penas cruéis'? Nada se faz sem uma finalidade inteligente, e tudo o que acontece tem a sua razão de ser." (87)
"A morte prematura é quase sempre um grande benefício que Deus concede ao que se vai, sendo assim preservado das misérias da vida ou das seduções que poderiam arrasta-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade não é uma vítima da fatalidade pois Deus julga que não Ihe será
útil permanecer maior tempo na Terra.
É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperanças seja cortada da Terra tão cedo! Mas de que esperanças quereis falar? Das esperanças da Terra onde aquele que se foi poderia briIhar, fazer sua carreira e sua fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acama da matéria! Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida tão cheia de esperanças, segundo entendeis? Quem vos diz que ela não poderia estar carregada de amarguras? Considerais como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da vida efêmera que arrastais pela terra? Pensais, então,
que mais vale um lugar entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados?
Regozijai-vos em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos deste vale de misérias. Não é egoísmo desejar que ele fique para sofrer conosco Ah! Essa dor se concebe entre os que
não têm fé, e que vêem na morte a separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor quando livre de seu invólucro corporal. Mães, sabeis que vossos filhos bem-amados estão
perto de vós; sim, eles estão bem perto; seus corpos fluÍdicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os inebria de contentamento; mas também as vossas dores sem razão os afligem, porque revelam uma falta de fé e constituem uma revolta contra a vontade de Deus.
Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações de vosso coração, chamando esses entes queridos. E se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós mesmas a consolação poderosa que faz secarem as lágrimas e essas aspirações sedutoras, que vos mostram o futuro prometido pelo Soberano Senhor." (88)
"Se morre um homem de bem, vizinho de um malvado, apressai-vos a dizer: seria bem melhor se ticesse morrido aquele. Cometeis então um grande erro, porque aquele que parte terminou a sua tarefa,
e o que ficou talvez nem a tenha começado. Por que, então, quereis que o mau não tenha tempo de acaba-la, e que o outro continue preso à gleba terrena? Que diríeis de um prisioneiro que, tendo concluído a sua pena, continuasse na prisão, enquanto se desse a liberdade a outro que não tinha direito? Ficai sabendo, pois, que a verdadeira liberdade está no desprendimento dos laços corporais, e que
enquanto estais na Terra, estais em cativeiro.
Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender, e crede que Deus é justo em todas as coisas. Frequentemente, o que vos parece um mal é um bem. Mas as vossas faculdades são tão limitadas, que o conjunto do grande todo escapa aos vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por superar, pelo pensamento, a vossa estreita
esfera, e à medida que vos elevardes, a importância da vida terrena diminuirá aos vossos olhos. Porque, então, ela vos aparecerá como um simples incidente, na infinita duração da vossa existência espiri-
tual, a única verdadeira existência." (89)
"...inevitável cortejo desta vida, ele poderia pelo menos gozar de uma felicidade relativa. Mas ele a procura nas coisas perecíveis, sujeitas às mesmas vicissitudes, ou seja, nos gozos materiais, em vez de busca-la nos gozos da alma, que constituem uma antecipação das
imperecíveis alegrias celestes. Em vez de buscar a paz do coração, única felicidade verdadeira neste mundo, ele procura com avidez tudo o que pode agita-lo e perturba-lo. E, coisa curiosa, parece criar de propósito os tormentos, que só a ele cabia evitar." (90)
"Quantos tormentos, pelo contrário, consegue evitar aquele que sabe contentar-se com o que possui, que vê sem inveja o que não Ihe pertence, que não procura parecer mais do que é! Está sempre rico, pois, se olha para baixo, em vez de olhar para acima de si mesmo, vê sempre os que possuem menos do que ele. Está sempre calmo, porque não inventa necessidades absurdas, e a calma em
meio das tormentas da vida não será uma felicidade?" (90)
"24. Todos falam da desgraça, todos a experimentaram e julgam conhecer o seu caráter múltiplo. Venho dizer-vos, porém, que quase todos se enganam, pois a verdadeira desgraça não é, de maneira
alguma, aquilo que os homens, ou seja, os desgraçados, supõem. Eles a vêem na miséria, na lareira sem fogo, no credor impaciente, no berço vazio do anjo que antes sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e coração partido, na angústia
da traição, na privação do orgulhoso que desejava vestir-se de púrpura e esconde sua nudez nos farrapos da vaidade. Tudo isso, e muitas outras coisas ainda, chamam-se desgraça, na linguagem humana. Sim, realmente são a desgraça, para aqueles que nada vêem além do presente. Mas a verdadeira desgraça está mais nas condeqüências de uma coisa do que na própria coisa.
Dizei-me se o mais feliz acontecimento no momento, que traz funestas conseqüências, não é, na realidade, mais desgraçado que aquele inicialmente aborrecido, que acaba por produzir o bem? Dizei-me se a tempestade, que despedaça as árvores, mas purifica a atmosfera, dissipando os miasmas insalubres que poderiam causar a morte.não é antes uma felicidade que uma desgraça?
Para julgar uma coisa, é necessário, portanto, ver-lhe as consequências. É assim que, para julgar o que é realmente feliz ou desgraçado para o homem é necessário transportar-se para alem desta
vida, porque é lá que as conseqüências se manifestam. Ora, tudo aquilo que ele chama desgraça, de acordo com a sua curta visão, cessa com a vida e tem sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a desgraça sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais, com todas as forças de vossas almas iludidas. A desgraça é a alegria, o prazer, a fama, a fútil inquietação, a louça satisfação da vaidade, que asfixiam a consciência, oprimem o pensamento, confundem o homem quanto ao seu futuro. A desgraça, enfim é o opio do esquecimento, que buscais com o
mais ardente desejo.
Tende esperanças, vós que chorais! Tremei, vós que rides, porque tendes o corpo satisfeito! Não se pode enganar a Deus: ninguém escapa ao destino. As provas, credoras, mais impiedosas que a malta que vos acossa na miséria, espreitam o vosso repouso ilusório, para vos mergulhar de súbito na agonia da verdadeira desgraça, daquela que surpeende a alma enlanguescida pela indiferença e o egoísmo." (90-91)
"PROVAS VOLUNTÁRIAS E VERDADEIRO CILÍCIO (Um Anjo da Guarda, Paris, 1863)
26. Perguntais se é permitido abrandar as vossas provas. Essa pergunta lembra estas outras: é permitido ao que se afoga procurar salvar-se? E a quem espetou-se num espinho, retira-lo? Ao que está
doente, chamar um médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, assim como a paciência e a resignação. Um homem pode nascer numa posição penosa e difícil, precisamente para obriga-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. Mérito consiste em suportar sem murmurações as consequências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar quando não se sai bem, e nunca em deixar as coisas correrem, que seria antes preguiça que virtude." (92)
"Torturar voluntariamente, martirizar o vosso corpo, é infringir a lei de Deus, que vos dá os meios de sustenta-lo e de fortalecê-lo. Debilitá-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis: tal é a lei. O abuso das melhores coisas traz as suas punicões, pelas conseqüências inevitáveis.
Bem outra é a questão dos sofrimentos que uma pessoa se impõe para aliviar o próximo. Se suportardes o frio e a fome para agasalhar e alimentar aquele que necessita, e vosso corpo sofrer com isso. eis um sacrifício que é abençoado por Deus. Vós, que deixais vossos toucadores perfumados para levar consolação aos
aposentos infectos; que sujais vossas mãos delicadas curando chagas; que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que é vosso irmão em Deus; vós enfim, que aplicais a vossa saúde na prática das boas obras, tendes nisso o vosso cilício, verdadeiro cilício de bênçãos, porque as alegrias do mundo não ressecaram o vosso coração. Vós não adormecestes no seio das voluptuosidades enlanguescedoras da fortuna, mas vos transformastes nos anjos consoladores dos pobres deserdados.
Mas vós que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, qual a vossa utilidade na Terra? Onde está a vossa coragem nas provas, pois que fugis da luta e desertais do combate? Se quiserdes um cilício, aplicai-o à vossa alma e não ao vosso corpo; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho; recebei as humilhações sem vos queixardes; machucai vosso amor-próprio; insensibilizai-vos para a dor da injúria e da calúnia, mais pungente que a dor física. Eis aí o verdadeiro cilício, cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus." (93-94)
"Já vos dissemos e repetimos, muitas vezes, que estais na terra de expiação para completar as vossas provas, e que tudo o que vos acontece é conseqüência de vossas existências anteriores, as parcelas da dívida que tendes a pagar. Mas este pensamento provoca em certas pessoas reflexões que devem ser afastadas, porque
podem ter funestas conseqüências.
Pensam alguns que, uma vez que se está na Terra para expiar, é necessário que as provas sigam o seu curso. Há outros que chegam a pensar que não somente devemos evitar de atenua-las, mas
também devemos contribuir para torna-las mais proveitosas, agravando-as. É um grande erro. Sim, vossas provas devem seguir o curso que Deus lhes traçou, mas acaso conheceis esse curso? Sabeis até que ponto elas devem ir, e se vosso Pai Misericordioso não disse ao sofrimento deste ou daquele vosso irmão: "Não irás além disto?" Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício, para agravar o sofrimento do culpado, mas como bálsamo consolador, que deve cicatrizar as chagas abertas pela sua justiça?
Não digais, portanto, ao verdes um irmão ferido: "É a justiça de Deus, e é necessário que siga o seu curso", mas dizei, ao contrário: "Vejamos que meios nosso Pai Misericordioso me concedeu, para aliviar o sofrimento de meu irmão. Vejamos s
meu amparo material meus conselhos, poderão ajuda-lo a transpor esta prova com mais força, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pos nas mãos os meios de fazer cessar este sofrimento; se não me deu, como prova também, ou talvez como expiação, o poder de cortar o mal e substituí-lo pela bênção da paz". Auxiliai-vos sempre, pois, em vossas provas mútuas, e jamais vos encareis como instrumentos de tortura. Esse pensamento deve revoltar todo homem de bom coração, sobretudo os espíritas. Porque o espírita, mais que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. O espírita deve pensar que sua vida inteira tem de ser um ato de amor e de abnegação, e que por mais que faça para contrariar as decisões do Senhor, sua justiça seguirá o seu curso. Ele pode, pois, sem medo, fazer todos os esforços para
aliviar o amargor da expiação, porque somente Deus pode corta-la ou prolonga-la, segundo o que julgar a respeito.
Não seria excessivo orgulho, da parte do homem, julgar-se com o direito de revolver, por assim dizer, a arma na ferida? De aumentar a dose de veneno para aquele que sofre, sob o pretexto de que essa
é a sua expiação? Oh! Considerai-vos sempre como o instrumento escolhido para fazê-la cessar. Resumamos assim: estais todos na Terra para expiar; mas todos, sem exceção, deveis fazer todos os
esforços para aliviar a expiação de vossos irmãos, segundo a lei de amor e caridade." (94-95)
"Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até a beira da sepultura, para, em seguida, retira-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e miodificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. A Ciência, por acaso, nunca se enganou nas suas previsões?" (95)
"Aliviai os últimos sofrimentos o mais que puderdes, mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro." (96)
"Quer o homem se mate ou se faça matar, o objetivo é sempre o de abreviar a vida, e por conseguinte, há o suicídio de intenção,
embora não haja de fato. O pensamento de que a sua morte servirá para alguma coisa é ilusório, simples pretexto, para disfarçar a ação criminosa e desculpa-lo aos seus próprios olhos. Se ele tivesse seriamente o desejo de servir à pátria, procuraria antes viver para dedicar-se à sua defesa, e não morrer, porque uma vez morto já não serve para nada. A verdadeira abnegação consiste em não temer a morte quando se trata de ser útil, em enfrentar o perigo e oferecer o sacrifício da vida, antecipadamente e sem pesar, se isso for necessário. Mas a intenção premeditada de procurar a morte, expondo-se para tanto ao perigo, mesmo a serviço, anula o mérito da ação." (96)
"Não havendo a intenção de procurar a morte, não há suicídio, mas devotamento e abnegação, mesmo com a certeza de perecer. Mas quem pode ter essa certeza? Quem diz que a Providência não reservará um meio inesperado de salvação, no momento mais crítico? Não pode ela salvar até mesmo aquele que estiver na boca de um canhão? Pode ela, muitas vezes, querer levar a prova da resignação até o último limite e en ão uma circunstancia ines erada des-
via o golpe fatal." (97)

Capítulo VI - O  Cristo consolador 

"1. Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendeo de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo
é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30).
"O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento
auxilia o seu adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que Ihe assegura o salário. O Espiritismo Ihe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera Ihe dá a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho.
Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança." (100)
"Crede e orai! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual vossas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro. Homens fracos, que vos limitais às trevas de vossa inteligência, não afasteis a tocha que a clemência divina vos coloca nas mãos, para iluminar vossa rota e vos reconduzir, crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai." (101)
"... não mistureis o joio ao bom grão, as utopias com as verdades." (101)
"Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instrui-vos, eis o seguro. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana; e eis que, de além-túmulo, que acreditáveis vazio, vozes vos clamam: Irmãos!
Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da imoiedade!" (101)
"Nada se perde no Reino de nosso Pai. Vossos suores e vossas misérias formam um tesouro, que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas, e onde o mais desnudo entre vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são os meus bem-amados. Instrui-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da prova humana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe a vossa inveja dos ricos do mundo, que são
frequentemente os mais miseráveis, porque suas provas são mais perigosas que as vossas. Estou convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na fonte viva do amor, e preparai-vos, cativos da vida, para vos lançardes um dia, livres e alegres, no seio d'Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfeitos, e deseja que modeleis vós mesmos a vossa dócil argila, para serdes os artífices da vossa imortalidade." (102)
"O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram profundo ensinamento: a sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender esta verdade, em vez de reclamar contra as dores, os sofrimentos morais, que são aqui na Terra o vosso quinhão. Tomai, pois, por divisa, essas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque eles resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará a tranqüilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a alma se acalma, e o corpo ja não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito." (103)

Capítulo VII - Bem aventurados os pobres de espírito 

"Entretanto, digam o que quiserem, terão de entrar, como os outros, nesse mundo invisível que tanto ironizam. Então seus olhos se abrirão, e reconhecerão o erro. Mas Deus, que é justo, não pode receber da mesma maneira aquele que desconheceu o seu poder e aquele que
humildemente se submeteu às suas leis, nem aquínhoá-los por igual." (106)
"Mais vale, portanto, para a felicidade do homem, ser pobre de espírito, no sentido mundano, e rico de qualidades morais." (106)
"5. E aconteceu que, entrando Jesus num sábado em casa de um dos principais fariseus, a tomar a sua refeição, ainda eles o estavam observando. E notando como os convidados escolhiam os primeiros assentos à mesa, propôs-lhes esta parábola: Quando fores convidado a alguma boda, não te assentes no primeiro lugar, porque pode ser que esteja ali outra pessoa, mais autorizada que tu, convidada pelo dono da casa, e que, vindo este, que te convidou a ti e a ele, te diga: dá o teu lugar a este; e tu, envergonhado, vás buscar o último lugar. Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga:
amigo, senta-te mais para cima. Servir-te-á isto então de glória, na presença dos que estiverem juntamente sentados à mesa.
Porque todo o que se exalta será humilhado; e todo o que se humilha será exaltado. (LucAS, XIV: 1, 7-11)." (107)
"O Espiritismo nos mostra outra aplicação desse princípio nas encarnações sucessivas, onde aqueles que mais se elevaram numa existência, são abaixados até o último lugar na existência seguinte,
se se deixaram dominar pelo orgulho e a ambição. Não procureis, pois, o primeiro lugar na Terra, nem queiras sobrepor-vos aos outros: se não quiserdes ser obrigado a descer. Procurai, pelo contrário, o mais humilde e o mais modesto, porque Deus saberá vos dar um mais elevado no céu, se o merecerdes." (108)
"O poder de Deus se revela nas pequenas como nas grandes coisas. Ele não põe a luz sob o alqueire, mas a derrama por toda a parte; cegos são os que não a vêem." (109)
"O orgulho é a venda que lhes rapa os olhos. Que adianta apresentar a luz a um cego? Seria preciso, pois, curar primeiro a causa do mal; eis porque, como hábil médico, Ele castiga primeiramente o orgulho. Não abandona os filhos perdidos, pois sabe que, cedo ou tarde, seus olhos se abrirão; mas quer que o façam de vontade própria. E então, vencidos pelos tormentos da incredulidade, atirar-se-ão por si mesmos em seus braços, e como o filho pródigo Ihe pedirão perdão." (109)
"Orgulhosos! Que fostes, antes de serdes nobres e poderososos? Talvez mais humildes que o último de vossos servos. Curvai, portanto, vossas frontes altivas, que Deus as pode rebaixar, no momento
mesmo em que as elevais mais alto. Todos os homens são iguais na balança divina; somente as virtudes os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos
foram feitos da mesma massa. Vossos títulos e vossos nomes em nada a modificam; ficam no túmulo; não são eles que dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus títulos de lnobreza." (111)
"E todos vós que sofreis as injustiças dos homens, sede indulgentes para as faltas dos vossos irmãos, lembrando que vós mesmos não estais sem manchas: isso é caridade, mas é também humildade." (112)
"Sede generosos e caridosos, sem ostentação. Quer dizer: fazei o bem com humildade. Que cada um vá demolindo aos
poucos os altares elevados ao orgulho. Numa palavra: sede verdadeiros cristãos, e atingireis o reino da verdade." (112)
"Não podeis ser felizes, sem mútua benevolencia, e como poderá esta existir juntamente com o orgulho? O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males. Dedicai-vos, pois, à tarefa de destruí-lo, se não quiserdes perpetuar as suas funestas consequencias." (113)
"Não esqueçais que um tal estado de coisas é sempre o sinal da decadência moral. Quando o orgulho atinge o seu extremo, é indício de uma próxima queda, pois Deus pune sempre os soberbos. Se às
vezes os deixa subir, é para lhes dar tempo de refletir e de emendar-se, sob os golpes que, de tempos a tempos, desfere no seu orgulho como advertência. Entretanto, em vez de humilharem, eles se revoltam. Então, quando a medida está cheia, Ele a virá de repente, e a queda é tanto mais terrível, quanto mais alto tiverem se elevado." (114)
"MISSÃO DO HOMEM INTELIGENTE NA TERRA
13. Não vos orgulheis por aquilo que sabeis, porque esse saber tem limites bem estreitos, no mundo que habitais." (114)
"Mesmo supondo que sejais mais uma das sumidades desse globo, não tendes nenhuma razão para vos envaidecer. Se Deus, nos seus desígnios, vos fez
nascer num meio onde pudestes desenvolver a vossa inteligência, foi
por querer que a usásseis em benefício de todos. Porque é uma missão que Ele vos dá, pondo em vossas mãos o instrumento com o qual podeis desenvolver, ao vosso redor, as inteligências retardatárias e conduzi-las a Deus. A natureza do instrumento não indica o uso que dele se deve fazer? A enxada que o jardineiro põe nas mãos do seu ajudante não indica que ele deve cavar? E o que diríeis se o
trabalhador, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu senhor? Diríeis que isso é horroroso, e que ele deve ser expulso." (115)
"O homem abusa de sua inteligência, como de todas as suas faculdades, mas não Ihe faltam lições, advertindo-o de que uma

poderosa mão pode retirar-lhe o que ela mesma Ihe deu." (115)

Capítulo VIII - Bem aventurados os puros de coração 

"1 . Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a DEUS. (MATEUS, V: 8)." (117)
"Em verdade vos digo que todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança não entrará nele... (Marcos, X,13- 16)
3. A pureza de coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho. Eis por que Jesus toma a infância como símbolo dessa pureza tomara por símbolo da humildade." (117)
"4. Mas se o Espírito da criança já viveu, por que não se apresenta, ao nascer, como ele é? Tudo é sábio nas obras de Deus. A
criança necessita de cuidados delicados, que só a ternura materna Ihe pode dispensar, e essa ternura aumenta, diante da fragilidade e da ingenuidade da criança. Para a mãe, seu filho é sempre um anjo,
e é necessário que assim seja, para Ihe cativar a solicitude. Ela não poderia trata-lo com a mesma abnegação, se em vez da graça ingênua, nele encontrasse, sob os traços infantis, um caráter viril e as
idéias de um adulto; e menos ainda, se conhecesse o seu passado.
É necessário, aliás, que a atividade do princípio inteligente seja proporcional à debilidade do corpo, que não poderia resistir a uma atividade excessiva do Espírito, como verificamos nas crianças precoces. É por isso que, aproximando-se a encarnação, o Espírito começa a perturbar-se e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo. Durante certo período, ele permanece numa espécie de
sono, em que todas as suas faculdades se conservam em estado latente. Esse estado transitório é necessário, para que o Espírito tenha um novo ponto de partida, e por isso o faz esquecer, na sua nova existência terrena, tudo o que Ihe pudesse servir de estorvo.
Seu passado, entretanto, reage sobre ele, que renasce para uma vida maior, moral e intelectualmente mais forte, sustentado e secundado pela intuição que conserva da experiência adquirida.
A partir do nascimento, suas idéias retomam gradualmente o seu
desenvolvimento, acompanhando o crescimento do corpo. Pode-se assim dizer que, nos primeiros anos, o Espírito é realmente criança, pois as idéias que formam o fundo do seu caráter estão ainda adormecidas. Durante o tempo em que os seus instintos permanecem latentes, ela é mais dócil, e por isso mesmo mais acessível às impressões que podem modificar a sua natureza e fazê-la progredir, o que facilita a tarefa dos pais.
O Espírito reveste, pois, por algum tempo, a roupagem da inocência. E Jesus está com a verdade, quando, apesar da anterioridade da alma, torna a criança como símbolo da pureza e da simplicidade." (118)
"PECADO POR PENSAMENTO E ADULTÉRIO
5. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo o que olhar para uma mulher, cobiçando-a, já no seu coração adulterou com ela. (Mateus, V: 27-28)." (118)
"6. A palavra adultério não deve ser aqui entendida no sentido exclusivo de sua acepção própria, mas com sentido mais amplo. Jesus a empregou freqüentemente por extensão, para designar o mal, o pecado, e todos os maus pensamentos, como, por exemplo, nesta passagem: "Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, acompanhado dos santos anjos". (MARcos, V111 38). (119)
"7. Este princípio leva-nos naturalmente a esta questão: sofrem-se as consequências de um mau pensamento que não se efetivou? Temos de fazer aqui uma importante distinção. A medida que a alma, comprometida no mau caminho, avança na vida espiritual, vai-se esclarecendo, e pouco a pouco se liberta de suas imperfeições, segundo a maior ou menor boa vontade que emprega, em virtude do seu livre-arbítrio. Todo mau pensamento é portanto o resultado da imperfeição da alma. Mas, de acordo com o desejo que tiver de se purificar, até mesmo esse mau pensamento se toma para ela um motivo de progresso, porque o repele com energia. É o sinal de uma mancha que ela se esforça por apagar." (120)
"Aquela que, pelo contrário, não tomou boas resoluções, ainda busca a ocasião de praticar o mau ato, e se não o fizer, não será por não querer, mas apenas por falta de circunstâncias favoráveis. Ela é, portanto, tão culpada, como se o houvesse praticado.
Em resumo: a pessoa que nem sequer concebe o mau pensamento, já realizou o progresso; aquela que ainda tem esse pensamento, mas o repele, está em vias de realiza-lo; e por fim, aquela que tem esse pensamento e nele se compraz, ainda está sob toda a força do mal. Numa, o trabalho está feito; nas outras, está por fazer. Deus.
que é justo, leva em conta todas essas diferenças, na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem." (120)
"Assim é que vós tendes feito vão o mandamento de Deus, pela vossa tradição. Hipócritas, bem profetizou de vós outros lsaías, quando diz: Este povo honra-me com lábios, mas o seu coração esta longe de mim." (Mateus, 15: 1-20). (120)
"Toda a planta que meu Pai não plantou, será arrancada pela raiz".
A finalidade da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o homem não chega a Deus enquanto não se fizer perfeito.Toda religião, portanto,
que não melhorar o homem, não atinge a sua finalidade." (121)
"Não é suficiente ter as aparências da pureza, é necessário antes de tudo ter a pureza de coração." (121)
"13. É necessário que sucedam escândalos no mundo, disse Jesus, porque os homens, sendo ainda imperfeitos, têm inclinação para o mal e porque as más árvores dão maus frutos. Devemos pois
entender, por essas palavras, que o mal é uma consequência da imperfeição humana, e não que os homens tenham obrigação de pratica-lo.
14. E necessário que venha o escândalo, para que os homens, em expiação na Terra, se punam a si mesmos, pelo contato de seus próprios vícios, dos quais são as primeiras vítimas, e cujos inconvenientes acabam por compreender. Depois que tiverem sofrido o mal, procurarão o remédio no bem. A reação desses vícios serve, portanto, ao mesmo tempo de castigo para uns e de prova para outros. É
assim que Deus faz sair o bem do mal, e que os próprios homens aproveitam as coisas más ou desagradáveis." (122)
"17. Se tua mão te serve de causa de escândalo, corta-a: figura enérgica, que seria absurdo tomar-se ao pé da letra, e que significa simplesmente a necessidade de destruirmos em nós todas as causas de escândalo, ou seja, do mal. É necessário arrancar do coração todo sentimento impuro e toda tendência viciosa. Quer dizer ainda que mais vale para o homem ter a mão cortada, do que esta ser para ele o instrumento de uma ação má; ser privado da vista, do que os seus
olhos Ihe servirem para maus pensamentos. Jesus nada disse de absurdo, para quem souber compreender o sentido alegórico e profundo das suas palavras; mas muitas coisas não podem ser compreendidas: sem a chave oferecida pelo Espiritismo." (123)
"Meus bem-amados, eis chegados os tempos em que os erros explicados se transformarão em verdades. Nós vos ensinaremos o verdadeiro sentido das parábolas. Nós vos mostraremos a correlação poderosa, que liga o que foi ao que é. Eu vos digo, em verdade: a
manifestação espírita se eleva no horizonte, e eis aqui o seu enviado,
que vai resplandecer como o sol sobre o cume dos montes" (124)
"A todos os instantes de vossa vida direis: "Meu Pai, que se faça a tua vontade e não a minha! Se te apraz experimentar-me pela dor e pelas tribulações, bendito sejas! Porque é para o meu bem, eu o sei que a tua mão pesa sobre mim. Se te agrada, Senhor, apiedar-te de tua frágil criatura, dar-lhe ao coração as alegrias puras, bendito sejas também! Mas faze que o divino não se amorteça na sua alma, e que incessantemente suba aos teus pés a sua prece de gratidão". (124)
"É evidente que nesta, como em qualquer circunstância, a intenção agrava ou atenua a falta. Mas por que uma simples palavra pode ter tamanha gravidade, para merecer tão severa reprovação?" (124)
"Se tiverdes amor, tendes tudo o que mais se pode desejar na Terra, pois tereis a pérola sublime, que nem as mais diversas circunstâncias, nem os malefícios dos que vos odeiam e perseguem, poderão jamais arrebatar. Se tiverdes amor, tereis colocado o vosso tesouro onde nem a traça nem a ferrugem os devoram, e vereis desaparecer insensivelmente da vossa alma tudo o que Ihe possa manchar
a pureza. Dia a dia sentireis que o fardo da matéria se torna mais leve. E, como um pássaro que voa nos ares e não se lembra da terra, subireis incessantemente, subireis sempre, até que a vossa alma,
inebriada, se impregne da verdadeira vida, no seio do Senhor!" (125)

Capítulo IX - BEM-AVENTURADOS OS MANSOS E PACÍFICOS 

"É evidente que nesta, como em qualquer circunstância, a intenção agrava ou atenua a falta. Mas por que uma simples palavra pode ter tamanha gravidade, para merecer tão severa reprovação?" (127)
"Não basta que os lábios destilem leite e mel, pois se o coração nada tem com isso, trata-se de hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas, jamais se desmente. É o mesmo para o mundo ou na intimidade, e sabe que se pode enganar os homens pelas aparências, não pode enganar a Deus." (129)
"A PACIENCIA - 'Um Espírito Amigo' - Havre, 1862
7. A dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos. Não vos aflijais, portanto, quando sofrerdes, mas, pelo contrário, bendizei a Deus todo-poderoso, que vos marcou com a dor neste mundo, para a glória no céu.
Sede pacientes, pois a paciência é também caridade, e deveis praticar a lei de caridade, ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste em dar esmolas aos pobres é a mais fácil de todas. Mas há uma bem mais penosa, e consequentemente bem mais meritória, que é a de perdoar os que Deus colocou em nosso caminho para serem os instrumentos de nossos sofrimentos e submeterem à prova a nossa paciência." (129)
"Coragem, amigos: o Cristo é o vosso modelo. Sofreu mais que qualquer um de vós, e nada tinha de que se acusar, enquanto tendes a expiar o vosso passado e de fortalecer-vos para o futuro. Sede,
pois, pacientes, sede cristãos: esta palavra resume tudo." (129)
"A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração. Ambas são forças ativas, porque levam o fardo das provas que a revolta insensata deixa cair." (130).
"Cada época é assim marcada pelo cunho da virtude ou do vício que a devem salvar ou perder." (130)
"Toda resistência orgulhosa deverá ceder,
cedo ou tarde. Mas bem-aventurados os que são mansos, porque darão ouvidos dóceis aos ensinamentos." (130)
"A CÓLERA - Um Espírito Protetor
9. 0 orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na
finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.
Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz
repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade,
perante a qual julgais que todos devem curvar-se." (130)
"Em suma: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar os esforços para domina-la. O espírita, aliás, é incitado por outro motivo de que ela é contrária à caridade e à humildade cristãs." (131)
"10. Segundo a idéia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiram muita perseverança." (131)
"O corpo não dá impulsos de cólera a quem não os tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade?
O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam aos vossos olhos? Dizei, pois, que o homem só permanece vicioso porque o quer, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode fazer. De outra maneira, a lei do progresso não existiria para o homem." (132)

Capítulo X - Bem aventurados os misericordiosos 

"Em todas as contendas, aquele que se mostra mais conciliador, que revela mais desinteresse próprio, mais caridade e verdadeira grandeza de alma, conquistará sempre a simpatia das pessoas imparciais." (134)
"O obsedado e o possesso são, pois, quase sempre, vítimas de uma vingança anterior, a que provavelmente deram motivo por sua conduta. Deus permite a situação atual, para os punir do mal que fizeram, ou se não o fizeram, por haverem faltado com a indulgência e a caridade,
ddeixando de perdoar." (135)
"Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não quer apenas evitar as discórdias na vida presente, mas também evitar que elas se perpetuem nas
existências futuras. Não sairás de lá, disse ele, enquanto não pagares o último ceitil, ou seja, até que a justiça divina não esteja completamente satisfeita." (135)
"8. Quando Jesus disse: "Vai te reconciliar primeiro com teu irmão, e depois virás fazer a tua oferta", ensinou que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o dos próprios ressentimentos; que antes de pedir perdão ao Senhor, é preciso que se perdoe aos outros, e que, se algum mal se tiver feito contra um irmão, é necessário tê-lo reparado. Somente assim a oferenda será agradável, porque é proveniente de um coração puro de qualquer mau pensamento." (135)
"Ao entrar no templo do Senhor, deve deixar lá fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão." (135)
"É o orgulho, incontestavelmente, o que leva o homem a disfarçar os seus próprios
defeitos, tanto morais como físicos. Esse capricho é essencialmente contrário à caridade, pois a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. A caridade orgulhosa é um contra-senso, pois esses
dois sentimentos se neutralizam mutuamente." (136)
"Se o orgulho é a fonte de muitos vícios, é também a negação de muitas virtudes. Encontramo-lo no fundo e como móvel de quase todas as ações." (136)
"Ensina que não devemos julgar os outros mais severamente do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar nos outros o que nos desculpamos em nós. Antes de reprovar uma falta de alguém, consideremos se a mesma reprovação não nos pode ser aplicada." (137)
"... porque a letra mata e o espírito vivifica." (137)
"A única autoridate legítima, aos olhos de Deus, é a que se apóia no bom exemplo. É o que resulta evidentemente das palavras de Jesus." (137)
"... ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que nos torna invulneráveis às agressões, aos maus tratos e às injúrias, serás doce e humilde de coração, não medindo jamais a mansuetude e farás, enfim, para os outros, o que desejas o que o Pai celeste faça por ti. Não tem Ele de te perdoar sempre, e acaso conta o número de vezes que o seu perdão vem apagar as tuas faltas?" (138)
"Ouvi, pois, essa resposta de Jesus, e como Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai a indulgência, sede caridosos, generosos, e até mesmo pródigos no vosso amor. Dai, porque o Senhor vos dará; abaixai-vos, que o Senhor vos levantará; humilhar-vos, que o Senhor vos fará sentar à sua direita." (138)
"... porque o mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal, e não haveria nenhum em passar por alto os erros de vossos irmãos, se estes apenas vos incomodassem de leve.
Espíritas, não vos olvideis de que, tanto em palavras como em atos, o perdão das injúrias nunca deve reduzir-se a uma expressão vazia. Se vos dizeis espíritas, sede-o de fato: esquecei o mal que vos
tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer. Aquele que entrou nesse caminho não deve afastar-se dele, nem mesmo em pensamento, pois sois responsáveis pelos vossos pensamentos, que Deus conhece. Fazei, pois, que eles sejam desprovidos de qualquer sentimento de rancor. Deus sabe o que existe no fundo do coração de cada um. Feliz aquele que pode dizer cada noite, ao dormir: nada tenho contra o meu próximo." (139-140)
"15. Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se melhora." (140)
"O verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado. E o único que vos será levado em conta, pois Deus não se contenta com as aparências: sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos, e não se satisfaz com palavras e simples fingimentos. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de baixeza e de inferioridade. Não
esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras." (140)
"A indulgência não vê os defeitos alheios, e se os vê, evita comenta-los e divulga-los. Oculta-os, pelo contrário, evitando que se
propaguem, e se a malevolência os descobre, tem sempre uma desculpa à mão para os disfarçar, mas uma desculpa plausível, séria, e não daquelas que, fingindo atenuar a falta, a fazem ressaltar com pérfida astúcia.
A indulgência jamais se preocupa com os maus atos alheios, a menos que seja para prestar um serviço, mas ainda assim com o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, nem traz censuras nos lábios. mas apenas conselhos, quase sempre velados. Quando criticais, que dedução se deve tirar das vossas palavras? A de que vós, que censurais, não praticastes o que condenais, e valeis mais do que o culpado. Oh, homens! Quando passareis a julgar os vossos próprios corações, os vossos
próprios pensamentos e os vossos próprios atos, sem vos ocupardes do
que fazem os vossos irmãos? Quando fitareis os vossos olhos severos somente sobre vós mesmos? Sede, pois, severos convosco e indulgentes para com os outros.
Aquele que Julga em ultima instância, que vê os secretos pensamentos de cada coração, e que, em conseqüência, desculpa freqüentemente as faltas ai
que condenais, ou condena as que descul-
pais, porque conhece o móvel de todas as ações. Pensai que vós, que clamais tão alto: "Anátema!" talvez tenhais cometido faltas mais graves.
Sede indulgentes meus amigos, porque a indulgência acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita." (140-141)
"17. Sede indulgentes para as faltas alheias, quaisquer que sejam; não julgueis com severidade senão as vossas próprias ações, e o Senhor usará de indulgência para convosco, como usastes para com os outros.
Sustentai os fortes: estimulai-os à perseverança; fortificai os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor arrependimento; mostrai a todos o anjo da contrição, estendendo suas brancas asas sobre as faltas humanas, e assim ocultando-as
aos olhos daqueles que não podem ver o que é impuro." (141)
"Quando perdoardes os vossos irmãos, não vos contenteis com estender o véu do esquecimento sobre as suas faltas. Esse véu é quase sempre muito transparente aos vossos olhos. Acrescentam o amor ao vosso perdão, fazendo por ele o que pedis a vosso Pai Celeste que faça por vós. Substituí a cólera que mancha, pelo amor que purifica. Pregai pelo exemplo essa caridade ativa, infatigável, que Jesus vos ensinou. Pregai-a como ele mesmo o fez por todo o tempo em que viveu na Terra, visível para os olhos do corpo, e como ainda prega, sem cessar, depois que se fez visível apenas para os olhos do espírito. Segui esse divino modelo, marchai sobre as suas pegadas: elas vos conduzirão ao refúgio onde encontrareis o descanso após a luta. Como ele, tomai a vossa cruz e subi penosamente, mas corajosamente, o vosso calvário: no seu cume está a glorificação." (141)
"18. Queridos amigos, sede severos para vós mesmos e indulgentes para as fraquezas alheias. Essa é também uma forma de praticar a santa caridade, que bem poucos observam. Todos vós
tendes más tendências a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar." (142)
"Deus o castigará no dia da sua justiça. O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, e consiste em não se verem superficialmente os defeitos alheios, mas em se procurar destacar o
que há de bom e virtuoso no próximo. Porque, se o coração humano é um abismo de corrupção, existem sempre, nos seus mais ocultos refolhos, os germes de alguns bons sentimentos, centelhas ardentes da essência espiritual.
Espiritismo, doutrina consoladora e bendita, felizes os que te conhecem e empregam proveitosamente os salutares ensinos dos Espíritos do Senhor! Para esses, o ensino é claro, e ao longo de todo
o caminho eles podem ler estas palavras, que lhes indicam a maneira de atingir o alvo: caridade prática, caridade para o próximo como para si mesmo. Em uma palavra, caridade para com todos e amor de Deus sobre todas as coisas, porque o amor de Deus resume todos os deveres, e porque é impossível amar a Deus sem praticar a caridade, da qual Ele faz uma lei para todas as criaturas." (142-143)
"... e ainda assim, a censura que se faz do outro deve ser endereçada também a nós mesmos, para vermos se não a merecemos." (143)
"Tudo depende da intenção. Certamente que não é proibido ver o mal, quando o mal existe. Seria mesmo inconveniente ver-se por toda a parte somente o bem: essa ilusão prejudicaria o progresso." (143)
"Conforme as circunstâncías, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia, do que muitos serem enganados e se tornarem suas vítimas. Em semelhante caso, é necessário balancear as vantagens e os inconvenientes." (144)

Capítulo XI - Amar o próximo como a si mesmo 


"8. 0 amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensaçõesi mais 
instruído e purificado, tem sentimentos e o amor é o requinte do sentimento." (147)
"Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Trazem consigo o progresso, como a bolota oculta o carvalho. Os seres menos adiantados 
são os que, libertando-se lentamente de sua crisálida, permanecem subjugados pelos instintos. 
O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda a riqueza futura depende do trabalho atual. E mais que os bens terrenos, ele vos conduzirá à gloriosa elevação. Será então que, compreendendo 
a lei do amor, que une a todos os seres, nela buscareis os suaves prazeres da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes." (148)
"9. 0 amor é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuis, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado." (148)
"Há algumas pessoas a quem repugna a prova da reencarnação, pela idéia de que outros participarão das simpatias afetivas de que são partes. Pobres irmãos! O vosso afeto vos torna egoístas. Vosso amor se restringe a um círculo estreito de parentes ou de amigos, e todos os demais vos são indiferentes. Pois bem: para praticar a lei do amor, como Deus a quer, é necessário que chegueis a amar, pouco a pouco, e indistintamente, a todos os vossos 
irmãos. A tarefa é longa e difícil, mas será realizada. Deus o quer, e a lei do amor é o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que deve um dia matar o egoísmo, sob qualquer aspecto em que se apresente, pois além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade." (149)
"Não acrediteis na esterilidade e no e 
endurecimento do coração humano, que cederá, mesmo de malgrado, ao verdadeiro amor. Este é um ímã a que ele não poderá resistir, e o seu contato vivificía e fecunda os germes dessa virtude, que estão latentes em vossos 
corações. A Terra, morada de exílio e de provas, será então purificada por esse fogo sagrado, e nela se praticarão a caridade, a humildade, a paciência, a abnegação, a resignação, o sacrifício, todas essas virtudes filhas do amor." (150)
"Não vos canseis, pois, de escutar as palavras de João Evangelista. Sabeis que, quando a doença e a velhice interrompiam o curso de suas pregações, ele repetia apenas estas doces palavras: "Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros!" 
Queridos irmãos, utilizai com proveito essas lições: sua prática é difícil, mas delas retira a alma imenso benefício. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos peço: "Amai-vos", e vereis, muito em breve, 
a Terra modificada tornar-se um novo Eliseu, em que as almas dos justos virão gozar o merecido repouso."" (150)
"Deveis também elevar-vos bem alto, para julgar sem as restrições da matéria, e assim não condenar o vosso próximo, antes de haver dirigido o vosso pensa- 
mento a Deus." (150)
"A todos os sofrimentos, dispensai pois uma palavra de ajuda e de esperança, para vos fazerdes todo amor e todo justiça. 

Crede que estas sábias palavras: "Amai muito, para serdes amados", seguirão o seu curso. Esta máxima é revolucionária e segue uma rota firme e invariável. Mas vós já haveis progredido, vós que me escutais: sois infinitamente melhores do que há cem anos; de tal maneira vos modificastes para melhor, que aceitais hoje sem repulsa uma infinidade de idéias novas sobre a liberdade e a fraternidade, que antigamente teríeis rejeitado. Pois daqui a cem anos aceitareis também, com a mesma facilidade, aquelas que ainda não puderam entrar na vossa cabeça." (151)
"O egoísmo é portanto o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem. Digo coragem, porque esta é a qualidade mais necessária para vencer-se a si mesmo do que para vencer aos outros. Que cada qual, portanto, dedique toda a sua atenção em combatê-lo em si próprio, pois esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho, é a fonte de todas as misérias terrenas. Ele é a negação da caridade, e por isso mesmo, o maior obstáculo à felicidade dos homens." (152)
"Expulsar o egoísmo da Terra, para que ela possa elevar-se na escala dos mundos, pois já é tempo da humanidade vestir a sua toga viril, e para isso é necessário primeiro expulsa-lo de vosso coração." (152)
"Começai por dar o exemplo vós mesmos. Sede caridosos para com todos, indistintamente. Esforçai-vos para não atentar nos que vos olham com desdém. Deixai a Deus cuidar de toda a justiça, pois
cada dia, no seu Reino, Ele separa o joio do trigo." (153)
"Certo que Deus nos criou para sermos felizes na eternidade, mas a vida terrena deve servir unicamente para o nosso aperfeiçoamento moral, o qual se conquista mais facilmente com a ajuda do corpo e do mundo material. Sem contar as vicissitudes comuns da vida, a diversidade de vossos gostos, de vossas tendências, de vossas necessidades, são também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Porque somente a custa de concessões e de sacrifícios mútuos
é que podeis manter a harmonia entre elementos tão diversos." (153)
"Não julgueis, oh! Não julgueis, meus queridos amigos, porque o juízo com que julgardes vos será aplicado ainda mais severamente, e tendes necessidade de indulgência para os pecados que cometeis
sem cessar. Não sabeis que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza, mas que o mundo não considera sequer como faltas leves?" (154)
"Deveis a esses de que vos falo o socorro de vossas preces: eis a verdadeira caridade. Não deveis dizer de um criminoso: "É um miserável, deve ser extirpado da Terra; a morte que se Ihe inflige é muito branda para uma criatura dessa espécie" . Não, não é assim que deveis falar! Pensai no vosso modelo, que é Jesus. Que diria ele, se visse esse infeliz ao seu lado? Havia de lastima-lo, considera-lo como um doente muito necessitado, e Ihe estenderia a mão. Não
podeis, na verdade, fazer o mesmo, mas pelo menos podeis orar por ele, dar-lhe assistência espiritual durante os instantes que ainda deve permanecer na Terra. O arrependimento pode tocar-lhe o coração, se orardes com fé. É vosso próximo, como o melhor dentre os homens. Sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar. Ajudai-o, pois, a sair do lamaçal, e orai por ele!" (155)
"Entretanto, não deveis perguntar se ele o fará ou não, mas correr em seu socorro, pois, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração que vos diz: "Podeis salva-lo; salvai-o"." (156)

Capítulo XII
"1 . Tendes ouvido o que foi dito: Amarás ao teu próximo e aborrecerás ao teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos
e injustos. Por que, se não amardes senão aos que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também assim?" (158)
"Amai, pois, os vossos inimigos fazei o bem e emprestai, sem nada esperar, e tereis muito avultada recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que faz bem aos mesmos que Ihe são ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso (Lucas, Vl: 32-36)." (158)
"Esse sentimento, por outro lado, resulta de uma lei física: a da assimilação e repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo emite uma corrente fluídica que causa penosa impressão; o pensamento
benévolo envolve-nos num eflúvio agradável." (158)
"Amar aos inimigos, não é, pois, ter por eles uma afeição que não é natural, uma vez que o contato de um ínimigo faz bater o coração de maneira inteiramente diversa que o de um amigo. Mas é não lhes ter ódio, nem rancor, ou desejo de vingança. É perdoa-los sem segunda intenção e incondicionalmente, pelo mal que nos fizeram. É não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em vez do mal. É alegrar-nos em lugar de aborrecer-nos com o bem que os atinge. É estender-lhes a mão prestativa em caso de
necessidade. É abster-nos, por atos e palavras, de tudo o que possa prejudicá-los. É, enfim, pagar-lhes em tudo o mal com o bem, sem a intenção de humilhã-los. Todo aquele que assim fizer, cumpre as condições do mandamento: Amai aos vossos inimigos." (158)
"O ponto de vista em que se coloca torna-lhe as vicissitudes menos amargas, quer venham dos homens ou das coisas. Se não se queixa das provas, não deve queixar-se também dos que lhe servem de instrumentos. Se, em lugar de lamentar agradece a Deus por experimenta-lo, deve também agradecer a mão que Ihe oferece a ocasião de mostrar a sua paciência e a sua resignação. Esse pensamento o dispõe naturalmente ao perdão. Ele sente, alias, que quanto mais generoso for, mais se engrandece aos próprios olhos e mais longe se encontra do alcance dos dardos do seu inimigo." (159)
"5. 0 espírita tem ainda outros motivos de indulgência para com os inimigos. Porque sabe, antes de mais nada, que a maldade não é o estado permanente do homem, mas que decorre de uma imperfeição momentânea, e que da mesma maneira que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom." (159)
"Amai aos vossos inimigos. Não há coração tão perverso que não se deixe tocar pelas boas ações, mesmo a contragosto. O bom procedimento não dá, pelo menos nenhum pretexto a represálias, e com ele se pode fazer de um inimigo, um amigo antes e depois da morte. Com o mau procedimento ele se irrita, e é então que serve de instrumento à Justiça de Deus, para punir aquele que não perdoou.
6. Pode-se, pois, ter inimigos entre os encarnados e os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações, a que tantas pessoas estão
expostas, e que representam uma variedade das provas da vida.
Essas provas, como as demais, contribuem para o desenvolvimento
e devem ser aceitas com resignação, como uma conseqüência da natureza inferior do globo terrestre: se não existissem homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao redor da Terra. Se devemos, portanto, ter indulgência e benevolência para os inimigos encarnados, igualmente as devemos ter para os que estão desencarnados." (160)
"O Espiritismo vem provar que esses demônios não são mais do que as almas de homens perversos, que ainda não se despojaram dos seus instintos materiais; que não se pode apaziguá-los senão pelo
sacrifício dos maus sentimentos, ou seja, pela caridade; e que a caridade não tem apenas o efeito de impedi-los de fazer o mal mas também de induzi-los ao caminho do bem e contribuir para a sua salvação." (160)
"O próprio instinto de conservação, que é uma lei da natureza nos diz que não devemos entregar de boa vontade o pescoço ao assassino. Por essas palavras Jesus não proibiu a defesa, mas condenou a vingança. Dizendo-nos para oferecer uma face quando formos batidos na
outra, disse, por outras palavras, que não devemos retribuir o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que tende a reduzir-lhe o orgulho; que é mais glorioso para ele ser ferido que ferir, suportar pacientemente uma injustiça que cometê-la; que mais vale ser enganado que enganar, ser arruinado que arruinar os outros. Isto, ao mesmo tempo, é a condenação do duelo, que nada mais é que uma manifestação do orgulho. A fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa o mal impune, é a única que nos pode dar força de suportar, pacientemente, os atentados aos nossos interesses e ao nosso amor próprio. Eis porque vós dizemos incessantemente: voltai os vossos olhos para o futuro; quanto mais vos elevardes, pelo pensamento, acima da vida material, menos sereis feridos pelas coisas da Terra." (161)
"Mas Deus existe, e pune, nesta e na outra vida, os que não cumprem a lei do amor. Não vós esqucais meus queridos filhos que o amor nos aproxima de Deus, e o ódio nos afasta d'Ele." (163)
"11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que tem um destino certo, não se incomoda com as asperezas do caminho, não se deixa desviar nem por um instante da rota certa. De olhos fixos no seu objetivo, pouco se importa de que os obstáculos e os espinhos da senda o ameacem; estes apenas o roçam, sem o ferirem, e não o impedem de avançar." (163)
"Pelo perdão vos aproximais da Divindade, porque a clemência é irmã do poder." (164)
"12. 0 duelo pode, sem dúvida, em certos casos, ser uma prova de coragem física, de menosprezo pela vida, mas é incontestavelmente uma prova de covardia moral, como o suicídio. O suicida não
tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida: o duelista não a tem para suportar as ofensas." (164)
"Amigos, lembrai-os deste preceito: Amai-vos uns os outros, e então ao golpe do ódio respondereis com um sorriso, e ao ultraje com o perdão. O mundo sem dúvida se erguerá furioso e vos chamará de covarde: erguei a fronte bem alto e mostrai, então, que a vossa fronte
também não receari ser coroada de espinhos, a exemplo do Cristo,
mas que a vossa mão não quer participar de um assassinato autorizado, podemos dizer, por uma falsa aparência de honra, que nada mais é senão orguIho e amor-próprio. Ao vos criar, Deus vos deu o direito de vida e de morte, uns sobre os outros? Não, pois só deu esse direito à Natureza, para se reformar e se refazer." (165)
"Quando a caridade for a regra de conduta dos homens, eles conformarão os seus atos e as suas palavras a esta máxima:
Não faças aos outros o que não queres que os outros te façam. Então, sim, desaparecerão todas as causas de discórdias, e com elas, as causas dos duelos e das guerras, que são duelos entre povos." (168)

Capítulo XIII

"3. Fazer o bem sem ostentação tem grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório, é o sinal incontestável de uma grande superioridade moral." (169)
"Quantos há que só fazem um benefício com a esperança de que o beneficiado o proclame sobre os tablados; que darão uma grande soma à luz do dia. mas escondido não dariam sequer uma moeda!" (170)
"O benefício sem ostentação tem duplo mérito: além da caridade material, constitui caridade moral, pois contorna a suscetibilidade do beneficiado, fazendo-o aceitar o obséquio sem Ihe ferir o amor-próprio e salvaguardando a sua dignidade humana, pois há quem aceite um serviço mas recuse a esmola. Converter um serviço em esmola, pela maneira porque é prestado, é humilhar o que o recebe, e há
sempre orgulho e maldade em humilhar a alguém. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e habilidosa para dissimular o bebenefício e evitar até as menores possibilidades de melindre, porque todo choque moral aumenta o sofrimento provocado pela necessidade. Ela sabe encontrar palavras doces e afáveis, que põe o beneficiado à
vontade diante do benfeitor, enquanto a caridade orgulhosa o humilha. O sublime da verdadeira generosidade está em saber o benfeitor inverter os papéis, encontrando um meio de parecer ele mesmo agradecido àquele a quem presta o serviço. Eis o que querem dizer estas
Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita." (171)
"4. Nas grandes calamidades, a caridade se agita, e vêem-se generosos impulsos para reparar os desastres. Mas, ao lado desses desas três gerais, há milhares de desastres particulares, que passam desapercebidos, de pessoas que jazem num miserável catre, sem se queixarem. São esses os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham pedir assistência." (171)
"Quando formos visitar os doentes, ajudar-me-ás a cuidar deles, pois dar-lhes cuidados é dar alguma coisa. Isso não te parece suficiente? Nada mais simples: aprende a fazer costuras úteis, e assim confeccionarás roupinhas para essas crianças, podendo dar-lhes alguma coisa de ti mesma". É assim que esta mãe verdadeiramente cristã vai formando sua
filha na pratica das virtudes ensinadas pelo Cristo. É espírita? Que importa?" (172)
"Que as procure e as encontrará. Se não for de uma maneira, será de outra pois não há uma só pessoa, no livre gozo de suas faculdades que não possa prestar algum serviço, dar uma consolação, amenizar um sofrimento físico ou providência útil. Na falta de dinheiro não dispõe cada qual do sei esforço, do seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos outros? Isso também é a esmola do pobre, o obolo da viúva." (173)
"E serás bem-aventurado, porque esses não têm com o que te retribuir". O que vale dizer que não se deve fazer o bem com vistas à retribuição, mas pelo simples prazer de fazê-lo." (174)
"Há um grande mérito, acreditai, em saber calar para que outro mais tolo possa falar, isso é também uma forma de caridade.
Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma boca habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós, quando na vida espírita, a única verdadeira, estão às vezes muito abaixo: eis um merecimento que não é de humildade, mas de caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral." (175)
"Meus amigos, a cada novo regimento o general entrega uma bandeira. Eu vos dou esta máxima do Cristo: "Amai-vos uns aos
outros". Praticai essa máxima: reuni-vos todos em torno dessa bandeira, e dela recebereis a felicidade e a consolação." (176)
"11. A beneficência, meus amigos, vos dará neste mundo os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença." (177)
"Caridade! Palavra sublime, que resume todas as virtudes, és tu que deves conduzir os povos à felicidade. Ao praticar-se, eles estarão semeando infinitas alegrias para o próprio futuro, e durante o seu exílio
na Terra, serás para eles a consolação, o antegozo das alegrias que mais tarde desfrutarão, quando todos reunidos se abraçarem, no seio do Deus de amor." (
"É na caridade que deveis procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. Oh, quando estiveres a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar para baixo, e vereis quantas misérias a avaliar, quantas pobres crianças sem família; quantos velhos sem uma mão amiga para os socorrer e fechar-lhes os olhos na hora da morte! Quanto bem a fazer! Oh, não reclamai, antes agradecei a Deus, e prodigalizai a mancheias a vossa simpatia, o vosso amor, o vosso dinheiro, a todos os que, deserdados dos bens deste mundo, definham no sofrimento e na solidão. Colhereis neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde... somente Deus o sabe!" (177)
"12. Sede bons e caridosos: eis a chave dos céus, que tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima: "Amai-vos uns aos outros". A alma não pode elevar-se às regiões espirituais senão pelo devotamento ao próximo; não encontra felicidade e consolação senão nos impulsos da caridade. Sede bons, amparai os nossos irmãos, extirpai a horrível chaga do egoísmo. Cumprido esse
dever, o caminho da felicidade eterna deve abrir-se para vós." (178)
"Mas, se quisésseis, bastaria a ajuda de Deus e da vossa própria vontade, pois
as manifestações espíritas se produzem somente para os que têm olhos fechados e os corações índóceis.
A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar o edifício das virtudes terrenas sem ela, as outras não existiriam. Sem a caridade, nada de esperar uma sorte melhor, nenhum interesse moral
que nos guie; sem a caridade, nada de fé, pois a fé não é mais do que um raio de luz pura, que faz brilhar uma alma caridosa.
A caridade é a âncora eterna de salvação em todas os mundos; é a mais pura emanação do Criador; é a Sua própria virtude, que Ele transmite à criatura." (178-179)
"Homens de bem, de boa e forte vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra
de propagação da caridade. Encontrareis a recompensa dessa virtude no seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não proporcione desde a vida presente. Permanecei unidos. Amai-vos uns aos outros, segundo os preçeitos do Cristo. Assim seja!" (179)
"13. Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me parque eu sou a meta a que vós todos deveis visar." (179)
"Coragem! Há corações bondosos que velam por vós, que não vos abandonarão; paciência! Deus existe, e vós sois as suas amadas, as suas eleitas." (179)
"Não vos digo o que deveis fazer; deixo a iniciativa aos vossos bons corações; pois se eu vos ditasse a linha de conduta, não
teríeis o mérito de vossas boas ações. Eu vos digo somente: sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos sofredores.
Mas, se peço, também dou, e muito; eu vos convido para um grande festim, e ofereço a árvore em que vós todos podereis saciar-
vos. Vede como é bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide,
ide, colhei, tomai todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. Em lugar dos ramos que Ihe arrancardes, porei todas as boas ações que fizerdes e levarei a árvore a Deus, para que Ele a
carregue de novo, porque a beneficência é inesgotável. Segui-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos possa contar entre os que se distam sob a minha bandeira. Sede intrépidos: eu vos conduzirei pela vía da salvação, porque eu sou a Caridade!" (180)
"A caridade, pelo contrário, liga o benfeitor e o beneficiário, e além disso se disfarça de tantas maneiras! A caridade pode ser praticada mesmo entre colegas e amigos, sendo indulgentes uns para com os
outros, perdoando-se mutuamente suas fraquezas, cuidando de não ferir o amor-próprio de ninguém. Para vós, espíritas, na vossa maneira de agir em relação aos que não pensam convosco, induzindo os menos esclarecidos a crer, sem os chocar, sem afrontar as suas convicções, mas levando-os amigavelmente às reuniões, onde eles poderão ouvir-nos, e onde saberemos encontrar a brecha que nos permitirá penetrar nos seus corações. Eis uma das formas da caridade.
Escutai agora o que é a caridade para com os pobres, esses deserdados do mundo, mas recompensados por Deus, quando sabem aceitar as suas misérias sem murmurações, o que depende de vós." (180-181)
"Vós, que não podeis fazer mais do que a
caridade-indulgência, fazei pelo menos essa, mas fazei-a com grandeza." (182)
"Trabalhar para os pobres é trabalhar na Vinha do Senhor." (182)
"Trabalhai, minhas filhas, e que o resultado de vossas obras seja consagrado ao alívio de vossos irmãos em Deus. Os pobres são os Seus filhos bem-amados: trabalhar para eles é glorifica-Lo. Sede os instrumentos da Providência, que diz: As aves do céu, Deus dá o alimento. Que o ouro e a prata, tecidos pelos vossos dedos, se transformem em roupas e provisões para os necessitados . Fazei isso, e o vosso trabalho será abençoado." (183)
"17. A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos É a irmã da caridade que vos conduz para Deus. Ah, deixai vosso coração enternecer-se, diante das misérias e dos sofrimentos de vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que daria mais nas suas feridas. E quando, tocados por uma doce simpatia
conseguia restituir-lhes a esperança e a resignação, que ventura experimentais! É verdade que essa ventura tem um certo amargor, porque surge ao lado da desgraça; mas, se não apresenta o forte
sabor dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por estes; polo contrário, tem uma penetrante suavidade que encanta a alma.
A piedade, quando profundamente sentida, é amor: o amor é devotamento; o devotamento é o olvido de sí mesmo; e esse olvido, essa abnegação pelos infelizes, é a virtude por excelência, aquela mecha que o divino Messias praticou em toda sua vida, e ensinou na sua doutrina tão santa e sublime. Quando essa doutrina for devolvida à sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a Terra feliz, fazendo reinar na sua face a concórdia, a paz e o amor." (183-184)
"Temei ficar indiferentes, quando puderdes ser úteis! A tranquilidade conseguida ao preço de uma indiferença culposa é a tranqüilidade do Mar Morto, que oculta na profundeza de suas águas a lama fétida e a corrupção." (184)
"Daí com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse ar protetoral, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos." (185)
"18. Meus irmãos, amai os órfãos! Se soubésseís quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo quando crianças. Deus permite que existam órfãos, para nos animar a lhes servirmos de pais. Que divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livra-la da
fome e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vício!" (185)
"Essas pessoas têm mais egoísmo do que caridade, porque fazer o bem somente para receber provas de reconhecimento, é deixar de lado o desinteresse, e o único bem agradável a Deus é o desinteressado." (185)
"Um benefício jamais se perde. Mas, tereis também trabalhado para vós, pois tereis o mérito de haver feito o bem com desinteresse, sem vos deixar abater pelas decepções.
Ah, meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que, na vida presente, vos ligam às existências anteriores! Se pudésseis abarcar a multiplicidade das relações que aproximam os seres uns dos outros, para o seu mútuo progresso, admiraríeis muito melhor a sabedoria e a bondade do Criador, que vos permite reviver para chegardes a Ele!" (186)
"... é sobretudo o espírito de seita e de partido que deve ser abolido, porque todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê irmãos em todos os seus semelhantes, e para socorrer o necessitado, não procura saber a sua crença, a sua opinião seja qual for." (186)
Capítulo XIV - Honrai vosso pai e vossa mãe
"3. 0 mandamento: "Honra a teu pai e a tua mãe", é uma conseqüência da lei geral da caridade e do amor ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais; mas o imperativo honra implica um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Deus quis demonstrar, assim, que ao amor é necessário juntar o
respeito, a estima, a obediência e a condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de maneira ainda mais rigorosa, tudo o que a caridade determina em relação ao próximo. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que se encontram no devotamento é lugar dos pais, e cujo mérito é tanto maior, quanto o devotamento é para elas menos obrigatório. Deus pune sempre de maneira rigorosa toda violação desse mandamento. Honrar ao pai e à mãe não é somente respeita-los, mas também assisti-los nas suas necessidades; proporcionando-lhes o repouso na velhice: cerca-los de solicitude, como eles fizeram por nós na infância." (187-188)
"Não, não é só o estritamente necessário que os filhos devem aos pais pobres, mas também, tanto quanto puderem, as pequenas alegrias do supérfluo, as amabilidades, os cuidados carinhosos, que
são apenas os juros do que receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Essa, somente, é a piedade filial aceita por Deus." (188)
"Certos pais, é verdade, descuidam dos seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser. Mas é a Deus que compete puni-los e não aos filhos. Não cabe a estes censura-los, pois que talvez eles mesmos fizeram por merecê-los assim. Se a caridade estabelece como lei que devemos pagar o mal com o bem, ser indulgentes para as imperfeições alheias, não maldizer do próximo, esquecer e perdoar as ofensas, e amar até mesmo os inimigos, quanto essa obrigação se faz ainda maior, em relação aos pais!" (188)
"Honra a teu pai e a tua mãe', já não é mais a Terra que lhes promete, mas o céu. (Caps. 11 e //J)." (189)
"Porque o que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe." (189)
"...se certas máximas estão em contradição com aquele princípio, é que as palavras que se Ihe atribuem foram mal reproduzidas, mal compreendidas, ou não Ihe pertencem." (
"Jesus não perdia nenhuma ocasião de ensinar. Serviu-se, portanto, da que Ihe oferecia a chegada de sua família, para estabelecer a diferença entre o parentesco corporal e o parentesco espiritual." (190)
"Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consangüinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornar-se amigos, enquanto dois irmãos consangilíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias. Problema moral, que
só o Espiritismo podia resolver, pela pluralidade das existências." (191)
"Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza e vai no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senda -
a caridade. Mas não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias; não há caridade com ódio no coração e sem perdão." (192)
"Não obstante, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons Espíritos que lhes dêem forças no momento mais decisivo da prova.
Enfim, depois de alguns anos de meditação e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se preparara, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os
destinos desse corpo que vem de se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou maior opulência das suas boas resoluções. O contato incessante dos seres que ele odou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe se a sua
vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou ma resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver." (192-193)
"Oh, espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está confiada, e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que Ihe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: "Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?" Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo será o de vê-
la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta, solicitareis uma nova encarnação, para vós e para
ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento. vos envolverá no seu amor.
Não recuseis, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que Ihe enviou. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela
podeis deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido, que um ou outro veio para perdoar ou expiar. Mães! Abraçai, pois a criança que vos causa aborrecimentos, e dizei para vós mesmas: "Uma de nós duas foi culpada." Merecei as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar. Mas, ah! Muitas dentre vós, em vez de expulsar por meio da educação os maus princípios inatos, provenientes das existências anteriores, entretêm e desenvolvem por descuido ou por uma culposa fraqueza. E, mais
tarde, o vosso coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vó, desde esta vida o começo da vossa expiação.
A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la ao revelar a causa das imperfeições do coração Humano." (193-194)
"Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai,
pois, os menores sinais que revelam os germes desses vícios, e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos
à medida que os vê aparecerem na árvore. Se deíxardes que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão." (194)
"Deus não faz as provas superiores às forças daquele que as pede; só permite as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta de possibilidades, mas de vontade. Pois quantos existem, que em lugar de resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem: é para eles que estão reservados o choro e o ranger de dentes, em suas existências posteriores. Admirai, entretanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chega um dia em que o culpado está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim dominado, e é então que Deus abre os braços paternais para
o filho pródigo, que se lança aos seus pés. 'As grandes provas , - escutai bem, são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por
amor a Deus. É um momento supremo e é nele sobretudo que importa não falir pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus que vos oferece a ocasião de vencer, para vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do turbilhão do mundo terreno, entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali aclamado, como o soldado que saiu vitorioso do centro da refrega.
De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria das privações materiais, sucumbe ao peso das
das amarguras domésticas, esmagado pela ingratidão dos seus." (194)
"O que há de mais consolador, de mais encorajador, do que esse pensamento de que depende de si mesmo, de seus próprios esforços, abreviar o sofrimento,
destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é necessário não reter o olhar na Terra e não ver apenas uma existência; é necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande
justiça de Deus se revela aos vossos olhos, e esperais com paciência, porque explicastes a vós mesmos o que vos parecia monstruosidades da Terra." (195)
"Os espíritos cuja similitude de gostos, identidade de progresso moral e de afeição, levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações terrenas, buscam-se para,agrupar-se, como faziam no espaço, dando origem às famílias unidas e
homogêneas. E se, nas suas peregrinações, ficam momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes por seus novos progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos. Deus permite que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de haurirem conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Eles causam, por vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a prova, lá que se encontra a tarefa. Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua vez, poderão salvar outros." (195)
"O NECESSÁRIO PARA SALVAR-SE - O BOM SAMARITANO
1 . Mas quando vier o Filho do Homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade; e serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor que aparta dos cabritos as ovelhas; e assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos à esquerda; então dirá o rei aos que hão de estar à sua direita; vinde, benditos de meu Pai, possui
o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e deste-me de comer; tive sede, e deste-me de beber; era hóspede, e recolheste-me; estava nu, e cobriste-me; estava enfermo,
e visitaste-me; estava no cárcere, e vieste ver-me. Então Ihe responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; ou sequioso, e te demos de beber? E quando
te vimos hóspede, e te recolhemos; ou nu e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo, ou no cárcere, e te fomos ver? E respondendo, o rei lhes dirá: Na verdade vos digo que quantas vezes vós fizestes
isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes. Então dirá também aos que hão de estar à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que está aparelhado para o diabo e para os seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era hóspede, e não me recolhestes; estava nu, e não me cobristes; estava enfermo no
cárcere e não me visitastes. Então eles também Ihe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto, ou sequioso, ou hóspede, ou nu, ou enfermo, ou no cárcere, e deixamos de te assistir? Então lhes responderá ele, dizendo: Na verdade, vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o suplício eterno, e os
justos para a vida eterna. (MATEus, XXV: 31-46)." (197)
"Tem-me cuidado dele; e quanto gastares demais, eu te satisfarei quando voltar. Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu logo o outro: Aquele que usou com o tal de misericórdia. Então Ihe disse Jesus: Pois vai, e faze tu o mesmo. (LucAS. X:25-37)." (198)
"Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas,
se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e o de que ele mesmo dá o exemplo.
Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele fez mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente, em termos explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que Jesus apresenta, do juízo final, como em muitas outras coisas, temos de separar o que pertence à figura e à alegoria. A homens como aos que falava, ainda incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, devia apresentar imagens materiais, surpreendentes e
capazes de impressionar." (199)
"Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da salvação, mas a condição única. Se outras devessem ser
preenchidas, ele as mencionaria. Se ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras; a humildade, a mansidão, a benevolência, a justiça etc; e porque é ela a negação absoluta do orgulho e do egoísmo." (199)
"4. Mas os fariseus, quando viram que Jesus tinha feito calar ajuntaram em conselho. E um deles, que era doutor da lei, tentando-o, perguntou-lhe: Mestre, qual é o grande mandamento da lei? Jesus Ihe disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o maior e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. (Mateus, XII, 30-40).
5. Caridade e humildade, esta é a única via de salvação; egoísmo e orgulho, esta é a via da perdição. Esse princípio é formulado em termos precisos nestas palavras: "Amarás a Deus de toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo; estes dois pensamentos contêm toda a lei e os profetas." E para que não houvesse equívoco na interpretação do amor de Deus e do próximo, temos ainda: "E o segundo, semelhante a este, é", significando que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus, porque tudo quanto se faz contra o próximo, é contra Deus que se faz. Não se podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se encontram resumidos nesta máxima: Fora da caridade não há salvação." (199)
"6. Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver
caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até ao ponto de transportar
montes, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disto me aproveita. A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca jamais há de acabar, ou deixem de ter lugar as profecias, ou cessem as línguas, ou seja abolida a ciência. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas
três virtudes; porém a maior delas é a caridade. (PAULO, Coríntios,
XIII 11 a 7 e 13).
7. São Paulo compreendeu tão profundamente esta verdade, diz: 'Se eu falar as línguas dos anjos se tiver o dom de profecia, e penetrar todos os mistérios; se tiver toda a fé possível, a ponto de transportar montanhas, mas não tiver caridade, nada sou. Entre essas três virtudes: a fé. a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade." Coloca, assim, sem equívoco, a caridade acima da própria fé. Porque a caridade está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do rico e do pobres e porque independe de toda a crença particular. E faz mais: define a verdadeira caridade; mostra-a, não
somente na beneficência, mas no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo." (200)

"FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO - FORA DA VERDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO
8. Enquanto a máxima: Fora da caridade não hã salvação apóia-se num princípio universal, abrindo a todos os filhos de Deus o acesso à felicidade suprema, o dogma: Fora da igreja não hã salvação apóia-se, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, mas na fé especial em dogmas particulares. É, portanto, exclusivista e absoluto. Em vez de unir os filhos de Deus, divide-os. Em vez de incita-los ao amor fraterno, mantém e acaba por legitimar a animosidade entre os sectários dos diversos cultos, que se consideram reciprocamente malditos na eternidade sendo embora parentes ou amigos neste mundo." (200)
"Fora da igreja não há salvação, anatematizam-se e perseguem-se mutuamente, vivendo como inimigos: o pai não ora mais pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que se julguem reciprocamente condenados, sem remissão. Esse dogma é, portanto, essencialmente do Cristo e à lei evangélica.
"A verdade absoluta só é acessível aos Espíritos da mais elevada categoria, e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não Ihe é dado saber tudo, e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao seu adiantamento." (201)
"O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a salva-
ção independe da forma de crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não estabelece: Fora do Espiritismo não hã salvação, e como não pretende ensinar toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, máxima que dividiria em vez de unir, e que perpetuaria a animosidade." (200-201)
"Submetei todas as vossas ações ao controle da caridade, e a vossa consciência vos responderá: não somente ela evitará que façais o mal, mas ainda vos levará a fazer o bem." (202)
"... para fazer-se o bem, mister sempre existe a ação da vontade; para não se praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a negligência." (203)

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