O "remédio amargo" do ajuste fiscal
radical vai agravar ainda mais o desemprego
por
Patrus Ananias — publicado 08/09/2016
Não é a
primeira vez que enfrentamos uma crise econômica. Não é a primeira vez que nos
ameaçam com um ajuste fiscal radical que
sacrifica, principalmente, os mais pobres. Não será, infelizmente, a
primeira vez que essa receita, além de não resolver, agravará mais a crise
brasileira.
Em março de 2002, a taxa de desemprego estava
em 12,1%, quase um ponto percentual acima da taxa atual de 11,2%. O governo Fernando Henrique realizara então um grande ajuste
fiscal, em que a prioridade foi
cortar todos os gastos a fim de pagarmos os achacantes juros que o FMI cobrava
a cada novo empréstimo. “Desestatizar” era a palavra de ordem. E o resultado
foi que, em janeiro de 2003, quando o presidente Lula assumiu, o desemprego
subia a terríveis 13%.
Treze
anos depois, vivemos uma crise novamente. E precisamos enfrentá-la. Mas o
primeiro passo para um enfrentamento sério que nos leve a lugar melhor é
mensurá-la com correção e honestidade.
Em
primeiro lugar, essa não é uma crise
exclusivamente brasileira. A Espanha, a África do Sul e a Itália têm,
hoje, taxas de desemprego maiores do que a nossa, por exemplo. Em segundo
lugar, essa não é a pior crise da
história brasileira. Na crise do governo FHC o desemprego foi maior, num cenário
de IDH bem mais baixo e de ínfimas reservas cambiais – US$ 37 bilhões.
Hoje, podemos reagir à crise em melhores
condições, com PIB per capita anual de US$ 11.726,81 (cinco vezes maior do que
o de 2002 - US$ 2.805,72), com 42 milhões de cidadãos e cidadãs que saíram da
pobreza e com uma reserva cambial dez vezes maior, de US$ 370 bilhões, a sétima
maior do mundo, à frente de países como Coreia do Sul, Alemanha, França,
Dinamarca, Índia e México.
A PEC 241/2016 sintetiza o fundamentalismo
econômico da facção política que usurpou o governo: quer congelar os gastos
sociais federais pelos próximos 20 anos, ao valor de 2016 – ano recessivo.
Propõe,
assim, um rompimento com o núcleo dos
direitos sociais previstos na Constituição, revogando os patamares mínimos
definidos na Carta para a saúde e a educação. É alarmante pensar que,
caso o Brasil tivesse feito durante os governos Lula e Dilma o crescimento
vegetativo proposto pela PEC, teríamos aplicado menos R$ 253 bilhões em saúde,
menos R$ 437 bilhões na assistência social e menos R$ 454 bilhões em educação.
A única certeza que advém da PEC 241 é que o
País terá que trabalhar ainda mais para fortalecer o capital especulativo e
rentista que, só nos últimos 12 meses, recebeu do governo federal R$ 454 bilhões
– quase meio trilhão de reais – de serviço da dívida.
A PEC do desmonte, que cobra investimentos
em saúde, educação e assistência social ao povo brasileiro, só não coloca
limites para o gasto específico com os juros da dívida. Esse valor já exorbitante irá aumentar
astronomicamente nas próximas décadas. E a nação deixará para depois os
investimentos na saúde, na educação, na assistência social e, inclusive, no
apoio à nossa indústria nacional.
Como
uma vez nos disse Karl Marx, a história se repete não só como tragédia, mas
como farsa. E o horizonte que temos é que o remédio, de efeito incerto, será
aplicado em uma superdosagem que somente um golpe na democracia poderia
permitir.
O
efeito colateral – este sim indubitável – agravará ainda mais a doença do
paciente que, nesse caso, se trata dos empregos dos brasileiros. Um agravamento
que poderá ser irrecuperável por atingir em cheio o projeto nacional de
bem-viver definido em nossa Carta Constitucional de 1988.
*Patrus
Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social e do Desenvolvimento Agrário, é
deputado federal pelo PT-MG
Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/economia/pec-241-a-tragedia-e-a-farsa.
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