Por ELTON
RIVAS
No próximo
semestre não estarei mais lecionando na Anhanguera. Essa é a resposta às
perguntas de qual matéria “eu darei” nesse semestre.
Publiquei
artigos. Sou bem avaliado pelos alunos. Não falto, sou pontual e nunca tive
maiores problemas com colegas ou alunos.
Mas sou
Doutor.
O que
acontece quando a educação vira mercadoria?
Vejamos nos
trechos do texto que disponibilizo na íntegra, no rodapé da página
“A
Anhanguera Educacional tornou-se uma empresa S.A., com ações na bolsa de
valores e uma agressiva política de compra de outras instituições. Depois de
gastar R$ 800 milhões com a compra de 12 redes de ensino, o grupo tornou-se a
maior rede de ensino do país.
Segundo
dados da Federação dos Professores de São Paulo (Fepesp), o Grupo Anhanguera
demitiu apenas no Estado de São Paulo 1.497 professores. E esse número deve ser
ainda maior, uma vez que há relatos de demissão em outros estados, como Rio
Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Especula-se
que a Anhanguera deseja reformular seu quadro com professores de titulação mais
baixa. Segundo professores da Anhanguera, a instituição paga a um mestre o
valor de R$ 38,00 por hora-aula e, agora, deverá pagar R$ 26,00 aos novos
contratados”
Imagina o
que ocorreu com os doutores, que ganhávamos quase R$ 60,00.
Mas nem tudo
está perdido. Nos oferecem o feliz retorno em seis meses, desde que aceitemos
ganhar o novo piso. E o que faço com os 6 anos de formação para obtenção dos
títulos de mestre e doutor? Ah, muda de cidade e vai dar aula numa universidade
pública, já me disseram.
A questão
não deveria ser essa. Negar a titulação e a remuneração decorrente dela, seria
incoerência de quem passa a maior parte do tempo repetindo como um mantra aos
alunos a importância da qualificação, da formação acadêmica.
Espero nunca
precisar passar por isso, nunca ceder a essa lógica. Lamento pelos colegas que
não tem escolha, lamento pela política de ensino superior do Ministério da Educação.
Desejo voltar a lecionar lá ou em qualquer outro lugar. Não peço nada além do
óbvio. Não quero fechar portas. Quero escancarar as portas, janelas e derrubar
os muros. Por isso escolhi ser professor.
Para o
sociólogo Wilson Mesquita de Almeida, existe a consolidação de um modelo de
Ensino Superior que prioriza o lucro em detrimento da qualidade. “Hoje, os
fundos de investimento de educação reestruturam as instituições, reduzindo
custos, com o corte de professores e outras medidas que influenciam na qualidade”,
afirma o sociólogo. A lógica da política de ensino superior no Brasil,
construído para suprir a baixa oferta de vagas em universidades públicas, tem
reflexos diretos no modelo e na qualidade do ensino universitário brasileiro.
Fonte:
https://blogdopaulinho.wordpress.com/2016/01/18/fui-demitido-o-relato-de-um-professor-doutor-demitido-pela-anhanguera-por-ser-qualificado/
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