O nome do
caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede
de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos
ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente
investigadas. Embora a investigação
tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se
consagrou. A operação Lava Jato é a
maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve.
Estima-se que o volume de recursos
desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de
bilhões de reais. Soma-se a isso a expressão
econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que
envolve a companhia.
No primeiro
momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014, perante a
Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por
doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas
de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras.
Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos,
grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos
executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos
bilionários superfaturados. Esse suborno
era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo
doleiros investigados na primeira etapa.
As
empreiteiras - Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em
licitações, para conseguir os contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a
empresa que aceitasse fazer a obra pelo menor preço. Neste caso, as empreiteiras se cartelizaram em um
“clube” para substituir uma concorrência real por uma concorrência aparente.
Os preços oferecidos à Petrobras eram
calculados e ajustados em reuniões secretas nas quais se definia quem ganharia
o contrato e qual seria o preço, inflado em benefício privado e em prejuízo dos
cofres da estatal. O cartel tinha
até um regulamento, que simulava regras de um campeonato de futebol, para
definir como as obras seriam distribuídas. Para disfarçar o crime, o registro escrito da distribuição de obras
era feito, por vezes, como se fosse a distribuição de prêmios de um bingo (veja aqui documentos).
Funcionários
da Petrobras - As empresas precisavam
garantir que apenas aquelas do cartel fossem convidadas para as licitações.
Por isso, era conveniente cooptar
agentes públicos. Os funcionários
não só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o
favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as
participantes, em um jogo de cartas marcadas. Segundo levantamentos da
Petrobras, eram feitas negociações
diretas injustificadas, celebravam-se aditivos desnecessários e com preços
excessivos, aceleravam-se contratações com supressão de etapas relevantes e
vazavam informações sigilosas, dentre outras irregularidades.
Operadores
financeiros - Os operadores financeiros
ou intermediários eram responsáveis não só por intermediar o pagamento da
propina, mas especialmente por entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo
aos beneficiários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso
acontecia em espécie, por movimentação
no exterior e por meio de contratos simulados com empresas de fachada. Num
segundo momento, o dinheiro ia do
operador financeiro até o beneficiário em espécie, por transferência no
exterior ou mediante pagamento de bens.
Agentes
políticos - Outra linha da investigação – correspondente à sua verticalização –
começou em março de 2015, quando o Procurador-Geral da República apresentou ao
Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de inquéritos criminais
destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares
de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas que
integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e
manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas
feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador-Geral. A primeira
instância investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na
área criminal aqueles sem prerrogativa de foro. Essa repartição política revelou-se mais evidente em relação às seguintes
diretorias: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e
2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por
Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada
por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR,
esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com
comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes,
dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como
operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT.
Veja a
representação gráfica do esquema:
Fonte: http://www.lavajato.mpf.mp.br/
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