A
biografia do jornalista, compositor e produtor musical Ronaldo Bôscoli, um
mestre da maledicência, é o instantâneo de um período espontâneo e criativo da
cultura carioca
Na mesa do
restaurante Castelo da Lagoa, um dos redutos da boemia carioca da década de 70,
o jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli pratica sua especialidade: a
maledicência. Basta o sujeito deixar o grupo para o “véio”, como era conhecido,
homenageá-lo com uma série de apelidos e observações pouco lisonjeiras.
Com receio
de se tornar mais uma vítima das brincadeiras do amigo, Maurício Sherman,
diretor da Rede Globo, resolve esticar a noitada. Mas às 5 da manhã, caindo de
sono, levanta-se da mesa e dispara: “Seja o que Deus quiser”. Essa anedota,
contada com sabor e mais detalhe em A Bossa do Lobo (Leya; 544 páginas; 44,90
reais), do pesquisador Denilson Monteiro, é uma boa introdução à personalidade
de Bôscoli.
Seu
charme, sua inteligência e sua cultura permitiram que ele estivesse à frente de
movimentos como a bossa nova, reconfigurasse a carreira de artistas como Elis
Regina e Roberto Carlos e atraísse o primeiro escalão do mundo artístico. Por
outro lado, perdeu amigos e destruiu relacionamentos amorosos e profissionais
por causa de uma língua indomável e de uma necessidade incontida de aprontar
com tudo e todos.
“Não sei
como ele se daria no mundo em que estamos vivendo. Provavelmente estaria
atolado em processos”, comenta Monteiro. O biógrafo observa que uma das
diversões favoritas de Bôscoli (e da cantora Maysa, com quem teve um caso) hoje
seria abreviada pela tecnologia: fica mais complicado passar trotes telefônicos
quando todo mundo tem identificador de chamada.
Imersão na
noite e na vida artística começava pela família
Nascido em
1928, Bôscoli é personagem de um período de riqueza cultural do Rio de Janeiro
– as décadas de 50 e 60, quando surgiu a bossa nova e havia uma profusão de
casas noturnas nas quais cantores e músicos aperfeiçoavam suas apresentações.
Nesse Rio cordial, a imersão na noite e na vida artística começava pela família.
Bôscoli
era sobrinho-bisneto da maestrina Chiquinha Gonzaga, primo do ator Jardel Filho
e cunhado do poeta e diplomata Vinicius de Moraes. Sua primeira experiência
profissional não foi na música, mas no jornalismo esportivo. As redações de
jornal, nesse tempo, eram menos profissionalizadas e mais boêmias.
Resguardavam
aquela visão romântica do jornalismo como profissão meio transgressiva, fixada
em filmes como A Primeira Página, de Billy Wilder. O jornalista era uma
criatura da noite, sempre em busca de outro drinque e de uma informação (ou
fofoca) exclusiva. O cumprimento do horário era um mero detalhe. Bôscoli, por
exemplo, cansou de pendurar o paletó na cadeira para disfarçar seus canos na
redação.
Do
jornalismo para compositor e produtor musical
Para
driblar um segurança da revista Manchete Esportiva, de Adolpho Bloch, ele
andava de costas até o elevador – caso fosse pego, bastava voltar a andar para
a frente e dizer que estava chegando. Nos textos, inventava frases que seus
amigos nunca disseram (num anúncio de um empreendimento imobiliário, mandou
ver: “Como diria Tom Jobim, Ipanema é Ipanema”. Jobim, claro, nunca disse essa
bobagem). E carregou esse romantismo irresponsável do jornalismo para sua
carreira de compositor e produtor musical.
Em uma festa,
em 1957, Bôscoli cantava Sente, parceria sua com o violonista Chico Feitosa,
quando foi abordado por Roberto Menescal. Nasciam uma grande amizade e uma
parceria fundamental da bossa nova. No fim dos anos 60, Bôscoli e o amigo Luiz
Carlos Miele ajudaram Roberto Carlos na transição de cantor de iê-iê-iê a
intérprete romântico.
E, mesmo
trabalhando cotidianamente com o cantor, Bôscoli não soube conter sua compulsão
à fofoca: foi o informante de uma matéria da revista masculina Status sobre as
conquistas amorosas de Roberto.
Casou-se
com Elis — e depois o pai da cantora ameaçou lhe dar um tiro
A lista de
conquistas do próprio Bôscoli inclui a modelo e atriz Mila Moreira e as
cantoras Nara Leão, Maysa e Elis Regina. Mas esses romances raramente tinham
final feliz. Bôscoli foi o primeiro homem na vida de Nara, que nunca mais quis
vê-lo depois de descobrir o caso dele com Maysa.
Elis foi a
única que Bôscoli levou para o altar – e já na noite do casamento ele a traiu
com uma convidada da festa. As brigas entre os dois eram barulhentas,
escandalosas e frequentes. Numa delas, o pai da cantora ameaçou dar um tiro no
jornalista.
Ronaldo
Bôscoli morreu em 1994, vencido por um câncer de próstata que talvez fosse
evitado caso ele tivesse superado seu terror por médicos. Sua morte pode ter
sido um dos últimos estertores de uma certa malandragem da Zona Sul.
Um
cafajeste rematado como ele certamente teria problemas nestes tempos menos
espontâneos: Bôscoli, afinal, não conheceu a vigilância da correção política.
Mas nem por isso se pode supor que estaria totalmente deslocado no mundo
contemporâneo.
Pelo menos
um amigo acredita que ele aproveitaria bem o potencial da internet para a
malícia. “As frases, sacadas e apelidos desse gênio da maledicência eram tão
engraçados que às vezes divertiam as próprias vítimas. Imagino o `véio` com um Twitter bem afiado. Seria um massacre
digital”, diz o jornalista e produtor musical Nelson Motta.
Fonte:
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/ronaldo-boscoli/
Ronaldo
Bôscoli
Ronaldo
Fernando Esquerdo e Bôscoli (Rio de Janeiro, 28 de outubro de 1928 — 18 de
novembro de 1994) foi um compositor, produtor musical e jornalista brasileiro.
Nascido
numa família de artistas, era sobrinho-bisneto da compositora Chiquinha Gonzaga
e primo do ator Jardel Filho, e teve como primeira profissão (em 1951) o
trabalho num jornal, Diário da Noite, como jornalista esportivo, período
limitado à juventude. Época que iniciou amizade com Vinicius de Moraes, que já
havia jogado o seu charme para sua irmã, Lila, com quem se casaria tempos
depois.
Amigo de
vários músicos e artistas e disposto a trocar as redações pela noite carioca.
Em 1957 escreveu sua primeira letra, "Sente", musicada por Chico
Feitosa e interpretada por Norma Benguel no mesmo ano. Nesta época, reunia-se
no apartamento de Nara Leão, de quem era namorado. Traiu Nara com a cantora
Maysa Monjardim, ex-Matarazzo. Nara não perdoou o namorado nem a amiga e se
afastou dos dois.
Compunha
com outros artistas as canções que ficariam conhecidas como estilo bossa nova.
Um dos grandes nomes do movimento, compôs, com Roberto Menescal, as célebres
"O Barquinho", "Nós e o Mar", "Telefone" e
"Balançamba". Escreveu com Carlos Lyra duas canções – "Lobo
Bobo" e "Saudade Fez Um Samba" – para o histórico disco
"Chega de Saudade", de João Gilberto, lançado em 1959.
Com Luís
Carlos Miele produziu diversos espetáculos, o primeiro pocket-show, expressão
criada por ele, apresentando, no Little Club, Odete Lara com Sergio Mendes e
Conjunto. Organizou e dirigiu dezenas de shows em boates no lendário Beco das
Garrafas, onde ganhou o apelido de "O Véio", não só por ser mais
velho que a turma de artistas, mas pelo jeito ranzinza e reacionário. Também a
produção televisiva de "O Fino da Bossa", apresentado por Elis Regina
e Jair Rodrigues. Ronaldo Bôscoli se casou com Elis Regina em 1967.
Ainda ao
lado de Miele, trabalhou como produtor musical durante 24 anos, produzindo os
espetáculos de Roberto Carlos, e na Rede Globo originando programas como
"Brasil Pandeiro" (com Beth Faria), "Alerta Geral" (com
Alcione) e "Brasil 78 e 79" (com Bibi Ferreira).
É pai do
produtor musical João Marcelo Bôscoli, filho que teve com Elis Regina.
Durante a
década de 80 seguiu escrevendo programas para a TV Globo e produzindo um show
anual de Roberto Carlos, mas deixou de ter a mesma influência no cenário
musical.
Lutou
contra o câncer de próstata até morrer, em 1994.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ronaldo_B%C3%B4scoli
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