Fantástico
sobrevoa principais sistemas que abastecem SP: Cantareira, Alto Tietê e
Guarapiranga. Especialistas fazem projeção nada otimista.
Para quem
vive em São Paulo, 2014 ficou marcado como o ano da seca - a pior seca em
décadas. E agora o que todo mundo se
pergunta é: o que vai acontecer em 2015? A crise da água vai piorar?
O Fantástico
sobrevoou as principais represas que abastecem a capital e a Região
Metropolitana para fazer um raio-x. Até quando os reservatórios vão aguentar? E
quais serão as medidas para evitar o colapso total?
“Estamos no
começo da crise. O pior ainda não aconteceu”, diz Pedro Luiz Côrtes, geólogo e
professor de gestão ambiental da USP.
O período
mais turbulento está próximo, diz Côrtes. “Nós consumimos as reservas todas que
nós tínhamos e já entramos no cheque especial”, afirma.
O momento é
de cautela, segundo o novo secretário de Recurso Hídricos do Estado de São
Paulo, Benedito Braga, que tomou posse em 1º de janeiro. “Estar preparado para
o pior significa atenção da população para o problema”, diz ele.
Nesta
semana, o Fantástico sobrevoou os três principais sistemas que abastecem a
Região Metropolitana de São Paulo, o Cantareira, o Alto Tietê e o Guarapiranga,
para mostrar como eles começam 2015. São imagens inéditas.
O Sistema
Cantareira, que abastece a maior parte da população de São Paulo, é o mais seco
de todos. Hoje, está com apenas 7,1% da capacidade, já usando o segundo volume
morto, ou seja, a água que fica abaixo do nível das comportas.
Foi preciso
instalar nove bombas para captar água de uma região mais profunda. A água é
captada pelas bombas e depois vai para um outro canto do Sistema Cantareira,
através de uma tubulação. Antes, nada disso era necessário porque a região toda
era alagada e a água chegava naturalmente. Uma barragem, que antes não existia,
foi construída há dois meses. A água chegava até o topo de uma marcação no
local.
Em muitos
pontos, o cenário, em pleno verão, a estação das chuvas, é árido. Para quem
olha, até tem bastante água. Mas tinha muito mais. A água chegava a bater em
marcas na parte superior de pilares. Com o nível baixo, o que tinha na parte de
baixo começou a ficar aparente: carcaça de carro, pedra, banco de areia, tudo
que estava coberto pela água.
“Onde eu
estou aqui, se a gente tivesse na época de água dava 15m de altura. Há 7 meses
atrás”, conta o taxista Claudio Rogério da Silva Santos.
O Sistema
Alto Tietê está com menos de 12% da sua capacidade. No primeiro dia deste ano,
o Fantástico encontrou bastante gente na parte da represa que antes era cheia
de água.
“Desde
quando encheu a represa, há mais de 20 anos, nunca se via esse asfalto aqui. O
nível da água onde nós estamos era seis metros de altura”, afirma o comerciante
Gisvaldo de Oliveira.
Construções
antigas voltaram a aparecer. “Essa piscina eu não me lembro de ter visto ela
não. Agora, estou aqui tendo a oportunidade de fazer um churrascão do lado
dela”, conta José Benedito, ajudante geral.
Na estrada,
antes submersa, Paulo aproveitou para limpar o carro. “Nos prédios não dá para
lavar mais, tem que economizar, senão, vai faltar até para a gente beber né?”,
diz.
Dos três
sistemas sobrevoados, o Guarapiranga é o que está em uma situação melhor. Neste
domingo, ele está com 40,3% do seu volume. Mas uma imagem de satélite mostra
que em de janeiro de 2014 havia muito mais água no mesmo ponto do píer.
Por que
esses sistemas chegaram a esse ponto? A seca foi um dos motivos. O ano de 2014
foi de pouca chuva. E o verão, período de recarga dos reservatórios, foi
especialmente seco. Em dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, choveu muito
abaixo da média histórica do período. E ao mesmo tempo fez muito calor.
“Quando a
temperatura sobe, o consumo de água tende a subir e o sistema passa a operar
muito próximo do limite ou, às vezes, até superando esse limite operacional”,
explica o geólogo Pedro Luiz Côrtes.
Para o
geólogo, o aumento da população metropolitana, a cada ano, é um fator
importante na sobrecarga do sistema.
“A Região
Metropolitana de São Paulo, ela concentra hoje mais de 20 milhões de
habitantes. Para a gente ter uma ideia do que isso significa, é o dobro da
população de Portugal, metade da população da Espanha ou da Argentina. E essa
população cresce a uma razão próxima de 1% ao ano. Isso faz com que a cada
cinco, seis anos, nós tenhamos mais 1 milhão de habitantes morando aqui. E os
investimentos em captação e tratamento de água não vêm acompanhando o
crescimento populacional”, diz Pedro Luiz Côrtes.
Com base no
padrão de queda dos índices das represas e na média de consumo atual da
população, ele faz uma projeção nada otimista para 2015: “Existe a séria
perspectiva de que tanto o Cantareira quanto o Tietê, no máximo até a metade do
ano, já não tenham mais água para captação”, alerta o geólogo.
Mas o
governo não trabalha com essa possibilidade. “Não existe uma perspectiva dessa
catástrofe que você está me trazendo. Eu acredito na hipótese de que a
população vai reagir e de que o consumo será consciente e que não vai chegar
nessa situação”, diz Benedito Braga, secretário de Recursos Hídricos.
Fantástico:
Se não houver economia por parte do consumidor, pode faltar água em 2015?
Benedito
Braga: Eu não sei, eu não sei, porque
vai depender da chuva.
Nas últimas
semanas, apesar das chuvas fortes, as condições das represas praticamente não
mudaram. “Precisava ter chuvas acima da média, como nós tivemos, por exemplo,
em 1991, chuvas acima de 2.000 mm”, avalia o climatologista Ailton Pinto Alves
Filho.
E a previsão
meteorológica para 2015 não anima. “Vai ser um ano com chuvas dentro da
normalidade. Dentro da média, ou seja, entre 1.200 mm a 1.500 mm para São
Paulo. Demoraria algo em torno de cinco anos para haver a reposição”, diz
Ailton Pinto Alves Filho.
A médio
prazo, a Secretaria anuncia duas providências: tratar a água do esgoto para
reutilizar nos reservatórios e investir em duas obras de transferência de água
para os sistemas.
“Talvez não
em 2015, mas no início de 2016, a gente já tenha capacidade para trazer mais
água para Região Metropolitana”, planeja Benedito Braga.
Mas para
este ano, a saída está nas mãos do consumidor.
Fantástico:
A Secretaria não tem um plano para esse ano? Para resolver o problema esse ano?
Benedito
Braga: Esse é o plano.
Fantástico:
O consumidor economizar?
Benedito
Braga: Sim. Esse é o plano. Em um prazo de seis meses, você não consegue fazer
nenhuma obra. O que nós queremos é que o consumidor consuma menos. A curtíssimo
prazo é isso que tem que ser feito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário