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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Imagens inéditas revelam situação dos sistemas de água em São Paulo

Fantástico sobrevoa principais sistemas que abastecem SP: Cantareira, Alto Tietê e Guarapiranga. Especialistas fazem projeção nada otimista.
Para quem vive em São Paulo, 2014 ficou marcado como o ano da seca - a pior seca em décadas.  E agora o que todo mundo se pergunta é: o que vai acontecer em 2015? A crise da água vai piorar?
O Fantástico sobrevoou as principais represas que abastecem a capital e a Região Metropolitana para fazer um raio-x. Até quando os reservatórios vão aguentar? E quais serão as medidas para evitar o colapso total?
“Estamos no começo da crise. O pior ainda não aconteceu”, diz Pedro Luiz Côrtes, geólogo e professor de gestão ambiental da USP.

O período mais turbulento está próximo, diz Côrtes. “Nós consumimos as reservas todas que nós tínhamos e já entramos no cheque especial”, afirma.
O momento é de cautela, segundo o novo secretário de Recurso Hídricos do Estado de São Paulo, Benedito Braga, que tomou posse em 1º de janeiro. “Estar preparado para o pior significa atenção da população para o problema”, diz ele.
Nesta semana, o Fantástico sobrevoou os três principais sistemas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo, o Cantareira, o Alto Tietê e o Guarapiranga, para mostrar como eles começam 2015. São imagens inéditas.
O Sistema Cantareira, que abastece a maior parte da população de São Paulo, é o mais seco de todos. Hoje, está com apenas 7,1% da capacidade, já usando o segundo volume morto, ou seja, a água que fica abaixo do nível das comportas.
Foi preciso instalar nove bombas para captar água de uma região mais profunda. A água é captada pelas bombas e depois vai para um outro canto do Sistema Cantareira, através de uma tubulação. Antes, nada disso era necessário porque a região toda era alagada e a água chegava naturalmente. Uma barragem, que antes não existia, foi construída há dois meses. A água chegava até o topo de uma marcação no local.
Em muitos pontos, o cenário, em pleno verão, a estação das chuvas, é árido. Para quem olha, até tem bastante água. Mas tinha muito mais. A água chegava a bater em marcas na parte superior de pilares. Com o nível baixo, o que tinha na parte de baixo começou a ficar aparente: carcaça de carro, pedra, banco de areia, tudo que estava coberto pela água.
“Onde eu estou aqui, se a gente tivesse na época de água dava 15m de altura. Há 7 meses atrás”, conta o taxista Claudio Rogério da Silva Santos.
O Sistema Alto Tietê está com menos de 12% da sua capacidade. No primeiro dia deste ano, o Fantástico encontrou bastante gente na parte da represa que antes era cheia de água.
“Desde quando encheu a represa, há mais de 20 anos, nunca se via esse asfalto aqui. O nível da água onde nós estamos era seis metros de altura”, afirma o comerciante Gisvaldo de Oliveira.
Construções antigas voltaram a aparecer. “Essa piscina eu não me lembro de ter visto ela não. Agora, estou aqui tendo a oportunidade de fazer um churrascão do lado dela”, conta José Benedito, ajudante geral.
Na estrada, antes submersa, Paulo aproveitou para limpar o carro. “Nos prédios não dá para lavar mais, tem que economizar, senão, vai faltar até para a gente beber né?”, diz.
Dos três sistemas sobrevoados, o Guarapiranga é o que está em uma situação melhor. Neste domingo, ele está com 40,3% do seu volume. Mas uma imagem de satélite mostra que em de janeiro de 2014 havia muito mais água no mesmo ponto do píer.
Por que esses sistemas chegaram a esse ponto? A seca foi um dos motivos. O ano de 2014 foi de pouca chuva. E o verão, período de recarga dos reservatórios, foi especialmente seco. Em dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, choveu muito abaixo da média histórica do período. E ao mesmo tempo fez muito calor.
“Quando a temperatura sobe, o consumo de água tende a subir e o sistema passa a operar muito próximo do limite ou, às vezes, até superando esse limite operacional”, explica o geólogo Pedro Luiz Côrtes.
Para o geólogo, o aumento da população metropolitana, a cada ano, é um fator importante na sobrecarga do sistema.
“A Região Metropolitana de São Paulo, ela concentra hoje mais de 20 milhões de habitantes. Para a gente ter uma ideia do que isso significa, é o dobro da população de Portugal, metade da população da Espanha ou da Argentina. E essa população cresce a uma razão próxima de 1% ao ano. Isso faz com que a cada cinco, seis anos, nós tenhamos mais 1 milhão de habitantes morando aqui. E os investimentos em captação e tratamento de água não vêm acompanhando o crescimento populacional”, diz Pedro Luiz Côrtes.
Com base no padrão de queda dos índices das represas e na média de consumo atual da população, ele faz uma projeção nada otimista para 2015: “Existe a séria perspectiva de que tanto o Cantareira quanto o Tietê, no máximo até a metade do ano, já não tenham mais água para captação”, alerta o geólogo.
Mas o governo não trabalha com essa possibilidade. “Não existe uma perspectiva dessa catástrofe que você está me trazendo. Eu acredito na hipótese de que a população vai reagir e de que o consumo será consciente e que não vai chegar nessa situação”, diz Benedito Braga, secretário de Recursos Hídricos.
Fantástico: Se não houver economia por parte do consumidor, pode faltar água em 2015?
Benedito Braga: Eu não sei, eu não sei,  porque vai depender da chuva.
Nas últimas semanas, apesar das chuvas fortes, as condições das represas praticamente não mudaram. “Precisava ter chuvas acima da média, como nós tivemos, por exemplo, em 1991, chuvas acima de 2.000 mm”, avalia o climatologista Ailton Pinto Alves Filho.
E a previsão meteorológica para 2015 não anima. “Vai ser um ano com chuvas dentro da normalidade. Dentro da média, ou seja, entre 1.200 mm a 1.500 mm para São Paulo. Demoraria algo em torno de cinco anos para haver a reposição”, diz Ailton Pinto Alves Filho.
A médio prazo, a Secretaria anuncia duas providências: tratar a água do esgoto para reutilizar nos reservatórios e investir em duas obras de transferência de água para os sistemas.
“Talvez não em 2015, mas no início de 2016, a gente já tenha capacidade para trazer mais água para Região Metropolitana”, planeja Benedito Braga.
Mas para este ano, a saída está nas mãos do consumidor.
Fantástico: A Secretaria não tem um plano para esse ano? Para resolver o problema esse ano?
Benedito Braga: Esse é o plano.
Fantástico: O consumidor economizar?
Benedito Braga: Sim. Esse é o plano. Em um prazo de seis meses, você não consegue fazer nenhuma obra. O que nós queremos é que o consumidor consuma menos. A curtíssimo prazo é isso que tem que ser feito.

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