A CPI da Dívida Pública que se encontra em
funcionamento na Câmara dos Deputados significa um passo histórico em direção à
realização da auditoria da dívida prevista na Constituição Federal de 1988 e
até hoje não realizada. As investigações realizadas pela CPI, das quais estou
tendo a oportunidade de participar desde 29/09/2009, reforçam a necessidade de
realização da auditoria, diante dos vários indícios de irregularidades
encontrados e, principalmente, diante da constante exigência de recursos
públicos por essa dívida, que se formou e cresceu às custas de juros sobre
juros, sem contrapartida à sociedade que paga tão caro por essa dívida, tanto
por meio da elevada carga tributária brasileira como pela subtração de direitos
e ausência de serviços públicos de qualidade.
Fonte: Rumos
do Brasil: propostas para um país melhor
No ano de
2009, o serviço da dívida pública consumiu 36% dos recursos orçamentários (sem
computar a parcela das amortizações que foram “roladas”, ou seja, pagas
mediante a emissão de novos títulos), conforme gráfico a seguir:
Os dados do
gráfico acima denunciam as razões pelas quais um país tão rico como o Brasil –
8ª economia do mundo – está com seu crescimento econômico travado, pois
enquanto o governo federal destina 36% para gastos financeiros, destina apenas
0,06% para investimentos em energia, 0,75% em transportes e 0,45% em ciência e
tecnologia. As áreas sociais são as mais afetadas e colocam o Brasil na
vergonhosa posição – 75º do mundo – no relatório sobre o IDH, publicado pela
ONU. Em 2009, foram destinados apenas 2,88% do orçamento para educação e 4,64%
para a Saúde. É por essa deficiência constante de recursos que tragédias
acontecem diariamente, por todo o país, merecendo destaque a manchete, ocorrida
no estado do Maranhão, base do atual relator[1] da CPI da Dívida Pública na
Câmara dos Deputados: Morre a 16ª criança que esperava vaga em UTI no Maranhão.
Os gastos
com endividamento têm crescido de forma exponencial, como demonstrado no
gráfico a seguir, superando excessivamente os gastos com Educação, Saúde,
Previdência, Assistência Social, e principalmente com Pessoal, que a grande
mídia financiada pelo sistema financeiro insiste em bombardear como se fossem
os responsáveis pelo “rombo” das contas públicas. Na realidade, são os gastos
financeiros decorrentes do pagamento dos extorsivos juros os maiores
responsáveis pelo desequilíbrio das contas públicas e pelas calamidades sociais
em nosso país:
É por essa
razão que a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010 está abordando o tema da
Economia, dando destaque aos gastos com a dívida pública.
É preciso
atentar também para o ataque que está sendo preparado contra os servidores
públicos de todos os poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – por meio
do PLP 549/2009[2], com proposta de limitação dos gastos com pessoal e outros
gastos sociais da União, mediante alteração de dispositivo da Lei de
Responsabilidade Fiscal – LRF. Cabe ressaltar que a mesma LRF, em seu artigo
30, incisos I e II, indica que caberia ao Congresso Nacional e ao Senado Federal
estabelecer os limites para a dívida mobiliária e consolidada da União, o que
até hoje não foi feito.
Enquanto
isso, segue incólume o ataque especulativo promovido por aqueles que ingressam
com grandes quantidades de dólares no país, diariamente, a fim de lucrar com
investimentos em títulos da dívida pública brasileira, que pagam as taxas de
juros mais elevadas do planeta: enquanto a SELIC se encontram em 8,75% a.a., os
títulos pré-fixados tem sido maioria, e neste ano tem sido negociados a taxas
de 12% ao ano em média.
A atuação da
sociedade civil nas reuniões e mobilizações da CPI da Dívida na Câmara dos
Deputados já surtiu importante efeito, com a recente criação, dia 24/03/2010,
da “Subcomissão Especial para acompanhamento, aprofundamento, análise e auditoria
da Dívida Pública Externa e Interna” pela Comissão de Fiscalização Financeira e
Controle da Câmara, que aprovou o Requerimento do Deputado Cleber Verde
(PRB/MA).
Este já é um
resultado prático da CPI da Dívida Pública, mas muito mais precisa ser feito,
principalmente diante do relevante crescimento dos gastos financeiros, em
detrimento dos investimentos públicos e gastos sociais. Por isso, é importante
que a sociedade participe das discussões finais da CPI e reivindique o
aprofundamento das investigações, para o cumprimento da Constituição Federal e
a realização da auditoria da dívida, de forma a possibilitar o enfrentamento
dessa questão, de forma soberana, devidamente amparados em documentos e provas
que permitirão ações concretas para o alcance de uma situação mais justa para a
sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS:
[1] Deputado Federal Pedro Novais (PMDB/MA)
[2] O PLP
549, em tramitação na Câmara dos Deputados, decorre do PLS 611, de autoria do
líder do governo Romero Jucá, já aprovado no Senado Federal no final de 2009.
Fonte:
http://artigoseentrevistasdafattorelli.blogspot.com.br/2012/02/cpi-da-divida-publica.html
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