Os piores
pesadelos do presidente Barack Obama têm ganhado forma, em uma velocidade com a
qual ele não contava, no front financeiro. Uma análise do doutor em Estatística
Jim Willie, PhD na matéria pela Carnegie
Mellon University, nos EUA, afirma categoricamente que a Alemanha está
prestes a abandonar o sistema unipolar apoiado pela Organização do Tratado
Atlântico Norte (Otan) e os EUA, para se unir às nações dos Brics, o grupo que
reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, razão pela qual a agência
norte-americana de espionagem NSA ampliou suas escutas à lider germânica Angela
Merkel e terminou flagrada por agentes do serviço secreto alemão, após as
denúncias do ex-espião Edward Snoden. Em entrevista ao blogueiro Greg Hunter,
editor do USA Watchdog, Willie afirmou que a verdadeira razão por trás do
recente escândalo de espionagem da NSA, visando a Alemanha, é o clima de medo
que ronda o governo norte-americano de que as potências financeiras da Europa
estejam procurando fugir do inevitável colapso do dólar.
Editor de
um boletim financeiro a partir de Pittsburg, no Estado norte-americano da
Pensylvania, Jim Willie afirma que o apoio dos EUA à Ucrânia e as consequentes
sanções impostas à Rússia integram o esforço dos EUA de tentar segurar o êxodo
europeu no campo econômico e político, em nível mundial. “Aqui está a grande
consequência. Os EUA, basicamente, estão dizendo à Europa: você tem duas opções
aqui. Junte-se a nós na guerra contra a Rússia. Junte-se a nós nas sanções
contra a Rússia. Junte-se a nós nas constantes guerras e conflitos, isolamento
e destruição à sua economia, na negação do seu fornecimento de energia e na
desistência dos contratos. Junte-se a nós nessas guerras e sanções, porque nós
realmente queremos que você mantenha o regime do dólar. (Em contrapartida, os
europeus) dizem que estão cansados do dólar… Estamos empurrando a Alemanha para
fora do nosso círculo. Não se preocupem com a França, nem se preocupem com a
Inglaterra, se preocupem com a Alemanha. A Alemanha tem, no momento, 3 mil
empresas fazendo negócios reais, e elas não vão se juntar às sanções”.
Willie
continua: “É um jogo de guerra e a Europa está enjoada dos jogos de guerra dos
EUA. Defender o dólar é praticar guerra contra o mercado. Você está conosco ou
está contra nós?”. Quanto à espionagem da NSA sobre a Alemanha, Willie diz:
“(Os espiões norte-americanos) estão à procura de detalhes no caso de (os
alemães) passarem a apoiar a Rússia sobre o ‘dumping’ ao dólar. Eu penso,
também, que estão à procura de detalhes de um possível movimento secreto da
Alemanha em relação ao dólar de união aos Brics. Isto é exatamente o que eu
penso que a Alemanha fará”.
Willie
calcula que, quando os países se afastarem do dólar norte-americano, a
impressão de dinheiro (quantitative easing, QE) aumentará e a economia tende a
piorar. Willie chama isso de ‘feedback loop’, e acrescenta: “Você fecha o
‘feedback loop’ com as perdas dos rendimentos causados pelos custos mais
elevados que vêm da QE. Não é estimulante. É um resgate ilícito de Wall Street
que degrada, deteriora e prejudica a economia num sistema vicioso
retroalimentado… Você está vendo a queda livre da economia e aceleração dos
danos. A QE não aconteceu por acaso. Os estrangeiros não querem mais comprar os
nossos títulos. Eles não querem comprar o título de um banco central que
imprime o dinheiro para comprar o título de volta! A QE levanta a estrutura de
custos e causa o encolhimento e desaparecimento dos lucros. A QE não é um
estímulo. É a destruição do capital”.
Na chamada
“recuperação” a grande mídia tem batido na mesma tecla durante anos, Willie
diz: “Os EUA entraram em uma recessão da qual não sairão até que o dólar tenha
desaparecido. Se calcular-mos a inflação corretamente… Veremos uma recessão
monstro de 6% ou 7% agora. Não creio que a situação melhore até que o dólar
seja descartado. Portanto, estamos entrando na fase final do dólar”.
“Você quer
se livrar de obstáculos políticos? Vá direto para o comércio e negócios. Por
que é que a Exxon Mobil continua realizando projetos no Ártico e no mar Negro
(na Crimeia) com os russos e suas empresas de energia? Nós já temos empresas de
energia dos Estados Unidos desafiando nossas próprias sanções, e mesmo assim
estamos processando os bancos franceses por fazerem a mesma coisa. Isso é
loucura. Estamos perdendo o controle”, aponta.
Um mundo não
norte-americano
No Brasil,
a cúpula realizada em Fortaleza, na semana passada, durante a qual foi criado o
Novo Banco de Desenvolvimento, chamou a atenção do mundo para o próprio projeto
de desenvolvimento do bloco, bem como para o papel da China e da Rússia nesta
organização. O vice-diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da
Academia de Ciências da Rússia, Serguei Luzyanin, anda em paralelo à linha
traçada por Willie. Leia, adiante, a entrevista que Luzyanin concedeu à agência
russa de notícias VdR:
– Foi
referida a criação do embrião “de um mundo não norte-americano”. Porque é que
os BRICS não gostam da América do Norte?
– A cúpula
brasileira ficou para a história enquanto o mais fértil encontro do “quinteto”
– Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sua fertilidade não ficou
apenas patente na criação de instrumentos financeiros – o Banco de
Desenvolvimento e Arranjo Contingente de Reservas – mas, sobretudo, no nível de
empenho dos líderes dos Brics – no auge da Guerra Fria 2.0, quando os
norte-americanos tentam esmagar qualquer um que age à revelia das
“recomendações” de Washington – em criarem o seu embrião “de um mundo não
norte-americano”. No futuro, outros projetos poderão estar ligados ao
desenvolvimento dos Brics, como a Organização de Cooperação de Xangai (RIC). O
importante é que, de fato, existe a concepção “de um mundo não norte-americano”
que se desenvolve ativamente e de forma concreta. Os Brics parecem prestes a se
tornar o epicentro deste novo fenômeno. Não é preciso ser um político
habilidoso para sentir que os povos e as civilizações dos países em vias de
desenvolvimento estão cansados de “padrões norte-americanos” impostos. Aliás,
padrões para tudo, economia, ideologia, forma de pensar, os “valores”
propostos, vida interna e externa, etc. O mundo inteiro viu pela TV o
aperto-de-mão dos cinco líderes dos Brics, ao qual, passado uns dias, se juntou
praticamente toda a América Latina. É discutível se, neste impulso comum, existiu
uma maior dose de contas pragmáticas ou de solidariedade emocional, mas, uma
coisa é certa, nele não houve qualquer amor pela América do Norte. E isso ainda
é uma forma polida de colocar as coisas.
– E quanto
à adesão da Argentina, quem, no Sul, irá “apoiar” os EUA?
– Para a
Índia os Brics são uma oportunidade de reforço na Ásia Austral e de
desenvolvimento econômico fora da alçada da Ocidente. A motivação regional é
conjugada com expectativas financeiras e tecnológicas que unem a África do Sul
e o Brasil. No futuro, o “segmento” latino-americano poderá ser reforçado.
Muitos peritos esperam que o “quinteto” seja alargado através da adesão da
Argentina ao projeto. Ultimamente tem existido um desenvolvimento fulgurante
das relações bilaterais da Rússia e da República Popular da China com países da
América Latina, em setores como o tecnológico-militar, comercial, de
investimento e energético. Neste quadro, as visitas em Julho de Vladimir Putin
e de Xi Jinping marcaram o tendencial círculo de potenciais aliados dos Brics,
nomeadamente Cuba, Venezuela, Nicarágua, Argentina, entre outros. Como é
sabido, geograficamente, a America Latina “apoia”, a partir do Sul, os EUA. O
reforço dos Brics, nessa zona sensível para os norte-americanos, é um trunfo
adicional para o mundo em vias de desenvolvimento.
–
Relativamente à “descoberta” muçulmana dos BRICS. Como será a
institucionalização?
– Também
se estuda o prolongamento dos Brics da direção do Islã, onde também existe
descontentamento face ao domínio norte-americano. Espera-se que, após a entrada
da Argentina, a fila de adesão aos Brics seja engrossada pelo maior, em termos
de população, país muçulmano do mundo (cerca de 250 milhões), ou seja, a
Indonésia. Ela, seja pela sua ideologia, seja pela ambições, nasceu para aderir
ao projeto e assim fechar a região do Sudeste Asiático. O novo governo
indonésio confirma a sua intenção de desenvolver o relacionamento com os Brics.
A entrada da Indonésia encerrará a “corrente regional” que englobará as
principais regiões do mundo. Além disso, cada um dos países dos Brics irá
representar a “sua” região, tornando-se no seu líder informal. Brasil a América
Latina, RAS a África, Rússia a Eurásia, China o Nordeste da Ásia, Indonésia o
sudeste asiático. Os futuros cenários de desenvolvimento do projeto poderão ser
diversos. Mas um deles já é atualmente equacionado e de forma bastante
concreta. Num futuro próximo, os líderes dos BRICS deverão trabalhar no sentido
da institucionalização do projeto, nomeadamente através da criação de um fórum
de membros permanentes (atualmente são cinco Estados), e um fórum de
observadores e de parceiros de diálogo.
– Há
alguma chance de os EUA dialogarem?
– É
possível que, com tempo, os EUA sejam obrigados a dialogar com os Brics. Porém,
não parece ser algo que venha a ter lugar num futuro próximo. Hoje o projeto
está em ascensão. Ele combina, organicamente, as vantagens de diversas
civilizações, economias e culturas políticas. Aqui não existem imposições nem
domínios de um só país. É claro que existem incongruências, algumas
“divergências e visões diferentes quanto à concretização de alguns projetos
internacionais. Mas não são diferendos estratégicos. Trata-se de questões
objectivas, que surgem, normalmente, nas relações internacionais do mundo
político. Os Brics acabam por ser o reflexo bastante preciso do nosso mundo
multifacetado e bastante complexo.
Fonte:
http://www.plantaobrasil.com.br/news.asp?nID=84730
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