Texto em outra versão para leitura:
DESMONTE DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
(02.09.2014)
O Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) vem sobrevivendo com dificuldade há alguns anos, por falta de
investimento do Governo Federal e porque se transformou no Ministério menos
valorizado, passando por várias crises e trocando de Ministro com certa frequência.
A fiscalização trabalhista, atualmente, agoniza, por falta de auditor fiscal e
de condições de trabalho. Outros setores do mesmo Ministério não tem tido sorte
diferente, o que prejudica, diretamente, os trabalhadores. Tanto que, no
primeiro semestre deste ano (2014), sindicatos representantes dos funcionários
deste Ministério apresentaram Queixa na OIT-Organização Internacional do
Trabalho, no sentido de que o Brasil adote providências para resgatar a
funcionalidade e lhe conceder condições reais de funcionamento. As relações de
trabalho ficam bastante comprometidas sem os funcionários deste Ministério, que
precisa ser federal, a fim de ficar infenso às politicagens locais e
influências de grupos locais.
Contudo, a resposta do Governo
brasileiro não poderia ser pior, na medida em que desconsiderou as
reivindicações e passou a imaginar um outro organismo, que o sucederá. Trata-se
da elaboração de um Projeto, alimentado pela cúpula do próprio MTE, prestes a ser
enviado à Casa Civil, de onde será encaminhado ao Congresso Nacional, o qual
está de braços abertos para recebe-lo.
Engendrado pelo Governo
Federal, tramita projeto de criação do Sistema Único do Trabalho (SUT),
inspirado no modelo do SUS (que, sabidamente, é uma lástima), para substituir a
atual estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego-MTE. Em síntese, o projeto
sorrateiro municipaliza e estadualiza competências trabalhistas,
distribuindo-as em Conselhos municipais e estaduais. O Conselho Nacional do
Trabalho terá funções de normatizar e deliberar assuntos gerais, em sua
composição tripartite (governo, empresários e trabalhadores). Os recursos
federais, despesas financeiras e servidores do moribundo MTE serão repassados
aos Estados e Municípios, a fim de manter a estrutura e atribuições locais dos
Conselhos, que serão criados. São recursos que poderiam ser investidos, direta
e racionalmente, na estrutura atual do MTE, cuja fiscalização arqueja por falta
de condições de funcionamento adequado.
Os Conselhos nacional,
estaduais e municipais cuidarão da política do trabalho, administrados por
pessoas não concursadas, provavelmente os apaniguados locais, ao estilo do
velho cabide de emprego, com representantes do governo, das empresas e dos
trabalhadores, cada um indicado por suas respectivas representações. Sem
nenhuma independência real, esses conselheiros irão decidir sobre recursos
federais e matérias trabalhistas, cada um no seu ramo. O leitor deve se lembrar
da máfia do seguro desemprego. Agora, imagine sendo os recursos confiados a
conselheiros escolhidos politicamente, sem concurso. O Projeto se utiliza de
termos amplos e abertos, o que remete uma infinidade de interpretações para a
prática futura.
Esse modelo tem tudo para não
funcionar, a não ser desmontar de vez o MTE e justificar o repasse de verbas
federais para Estados e Municípios. O FAT, o primeiro atingido, será chamado de
FNT-Fundo Nacional do Trabalho, administrado por tais Conselhos. E, o mais
preocupante: é um projeto engendrado dentro do Governo federal, sem nenhuma
discussão prévia com a população.
É chegada a hora de indagar aos
candidatos (à Presidência, ao Governo e às Casas Legislativas) o que acham
desse projeto. E quem deve fazer essa indagação são os sindicatos, porque a
alteração atingirá em cheio as relações de trabalho e, mais uma vez,
prejudicará sensivelmente o trabalhador.
Francisco Gérson Marques de Lima
Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Ceará (1990), Mestrado em Direito (Constitucional) pela Universidade Federal do Ceará (1996) e Doutorado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2000). Atualmente é Procurador Regional do Trabalho, lotado na Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região (Ceará) e professor adjunto da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tem experiência na área jurídica, com ênfase em Direito Constitucional e Trabalhista, atuando principalmente nos seguintes temas: Justiça do Trabalho, direitos trabalhistas, Constituição de 1988, direitos fundamentais, Processo do Trabalho, processo constitucional e estudos sobre o Supremo Tribunal Federal. Vem aprofundando estudos em Sociologia Constitucional, tema objeto da Tese de Doutorado, que consistiu em análise crítica das decisões do STF. No campo trabalhista, destaca-se a atuação no Direito Sindical.
Rubens Taveira Junior: A intervenção do Estado na relação de emprego não interessa a muitos, inclusive ao Governo que aí está. As SRTEs estão sucateadas e a ausência de AFTs está gerando um prejuízo inestimável aos trabalhadores e, por reflexo, à toda sociedade. A demanda dos trabalhadores, a cada dia que passa, está mais reprimida, não se vislumbrando, a curto prazo, qualquer reparo desse deficit social.
ResponderExcluirhá 22 ho
Rogério Andrade: Com certeza esse debate passará longe da propaganda eleitoral presidencial. E os sindicatos ficarão calados?
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