Quem tem razão no conflito
israelo-árabe? Esta é com certeza uma das poucas questões no mundo que têm
várias respostas em função do lado que se questiona, várias interpretações em
função do ponto de vista que se pretende, várias condicionantes em função dos
alinhamentos, dos lobbings e das convicções políticas, múltiplas vertentes em
função do posicionamento geostratégico do actual Estado de Israel que faz
fronteira com o Líbano ao Norte, com a Síria a Nordeste, com a Jordânia e a
Cisjordânia a Leste, com o Egipto e a Faixa de Gaza a Sudoeste, e com o Golfo
de Aqaba, no Mar Vermelho, a sul.
Esta questão geoestratégica das
fronteiras de Israel que em tempos não muito longínquos (até à queda do muro de
Berlim, a 9 de Novembro de 1989, e do enfraquecimento do comunismo) marcou
também uma divisão entre o capitalismo e o socialismo, nos dias de hoje
continua a gerar um efeito quase semelhante já que ainda vão existindo muitas
fricções entre os vários países do Médio Oriente, agregando-se também a questão
do alinhamento ou pró Estados Unidos da América (EUA) ou pró Federação Russa.
O
caso mais recente e que costuma até mesmo ser referenciado como paradigmático é
o da guerra civil na Síria.
Agregado a estes factores todos
e muitos outros não menos importantes aqui não referenciados, está a questão
religiosa, na medida em que existe uma grande fricção entre os países árabes e
Israel que é por definição um Estado Judeu e Democrático. Algumas questões
envolvendo extremistas de parte a parte, tanto dos países árabes que “não
aceitam” a existência do Estado israelita naquela região do planeta terra como
também alguns extremistas do lado israelita, em muitos episódios desta
contenda, já fizeram “estalar o verniz”. Entre todos estes elementos férteis
para vários desenvolvimentos, a única certeza é de que a guerra tem causado
muita dor e sofrimento de parte a parte com as populações tanto israelitas como
palestinas, quer mesmo até de outros países vizinhos, a sofrerem na pele os
horrores deste conflito muitas vezes silencioso mas deveras devastador.
Neste preciso momento, o mundo
está todo em suspense sobre o que de facto poderá acontecer naquela parte do
globo. Nas últimas semanas, os esforços para a paz pareciam estar a dar frutos
com a visita do Papa Francisco a Israel e aos territórios palestinianos,
culminando este acto com uma visita dos estadistas israelita e palestiniano ao
Vaticano para que com o Santo Padre rezassem pela paz.
Parecia
tudo encaminhar-se para a solidificação da paz até que, na semana passada, três
adolescentes israelitas inocentes - Eyal Yifrach, Gilad Shaer e Naftali Frankel
- foram sequestrados enquanto caminhavam a pediam boleia para casa. Os jovens
foram encontrados sem vida na Cisjordânia, causando uma comoção geral na
sociedade israelita e não só. Este acto foi imediatamente imputado a radicais
palestinianos, mais propriamente ao Hamas, e o governo israelita efectuou
vários bombardeamentos selectivos à Faixa de Gaza, um pequeno território
palestino de 41 quilómetros de comprimento e uma largura que vai entre os 6 aos
12 quilómetros e que é, na verdade, uma estreita faixa de terra localizada na
costa oriental do Mar Mediterrâneo, no Médio Oriente, que faz fronteira com o
Egipto a Sudoeste (11 quilómetros) e com Israel a Leste e no Norte (51
quilómetros).
A
faixa de Gaza está a ser governada desde as eleições parlamentares de Julho de
2006 na Palestina e após a batalha de Gaza pelo Hamas (Movimento de Resistência
Islâmica), que é considerado pelos EUA, Israel e pela União Europeia uma
organização terrorista, enquanto outras potências como o Reino Unido da
Grã-Bretanha ou a Austrália consideram
terrorista apenas o seu “braço” armado, as Brigadas Izz ad-Din
al-Qassam.
O
Estado israelita geralmente bombardeia a Faixa de Gaza em resposta aos mísseis
Al Kasam (rockets de fabrico caseiro) lançados para território israelita ou
ainda os mísseis Fajr 5, que perigam a vida de cidadãos inocentes quando chegam
as cidades israelitas ou aos colonatos. Também, é bem verdade que muitos destes
mísseis são destruídos pelo sistema de defesa antiaéreo israelita designado de
Cúpula de Ferro ou “Iron Dome” mas, quando são lançados, causam o pânico na
população civil. Voltando à questão da actual tensão, em
resposta ao assassinato dos três jovens indefesos, radicais israelitas raptaram e queimaram vivo o jovem palestiniano
Mohammed Abu Khder, causando um grande sentimento de revolta na Palestina,
aumentando o número de rockets lançados para Israel, bem como mereceu também
uma condenação por parte das autoridades israelitas. Estes dois episódios, aliados ao espancamento por parte de forças
policiais israelitas de um jovem palestino-norte-americano, levaram ao
recrudescimento da escalada de violência e neste preciso momento, para além dos
vários bombardeamentos feitos por Israel, todos os cenários são apontados como
possíveis. Para aumentar o nível de alarme, o gabinete de segurança israelita,
dirigido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, autorizou a convocação de
40 mil militares na reserva na eventualidade de uma ofensiva terrestre.
Perante estes factos e depois
de termos mencionado no início algumas hipóteses deste longo conflito, o mundo
assiste “silencioso” a mais este capítulo que se vem juntar a uma longa
história de contenda entre dois povos, aonde lamenta-se - e de que maneira! - a
perda de vidas humanas de parte a parte.
António Luvualu de Carvalho |
Docente universitário
Fotos: https://www.facebook.com/sawtelghad/photos/pcb.721691194555374/721690981222062/?type=1&theater
Fonte:
http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/o_confito_entre_israel_e_a_palestina
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