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sexta-feira, 2 de maio de 2014

China na contemporaneidade: suas complexidades e contradições

Nágila Drumond, Elias Jabbour, Profa. Alba de Carvalho, Clovis Renato

A Disciplina Democracia, Capitalismo e Socialismo, ministrada pela Profa. Alba Maria Pinho de Carvalho, do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais (Mestrado e Doutorado), Universidade Federal do Ceará, promoveu o Seminário China Hoje, que teve como expositor Elias Marco Khalil Jabbour (doutor em Geografia pela USP), aberto para interessados, gratuito, independente de vinculação ao programa. 
O evento ocorreu no Auditório Luiz de Gonzaga, Curso de Ciências Sociais da UFC, Av. da Universidade, Benfica, Fortaleza, Ceará, dia 28 de abril de 2014, às 14h, com entrada franca-.
O expositor é graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo (1997), mestre em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (2005) e doutor em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (2010). Foi entre abril de 2006 e fevereiro de 2007 - Assessor Econômico da Presidência da Câmara dos Deputados (Brasília-DF). Atualmente é colaborador do Núcleo de Estudos Asiáticos (NEAS) do Depto. de Geociências do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (CFH-UFSC). Tem experiência na área de Geografia e Economia com ênfase em Geografia Humana e Econômica, Economia Política, Economia Política Internacional e Planejamento Econômico atuando principalmente nos seguintes temas: China, desenvolvimento, categoria- de formação sócio-espacial, Pensamento Independente de Ignácio Rangel, Brasil e infra-estruturas.

Elias partiu pelos pressupostos teóricos/metodológicos e conclusões da pesquisa, para seguir apesentando os seguintes pontos: Uma nação milenar; A Geografia e o imperativo do Estado e do desenvolvimento; O homem chinês; Fusão de “dois Estados” e a estratégia nacional chinesa; China hoje: 2011-2015.

Para o autor, o socialismo é a superação da divisão social do trabalho, de modo que busca um ponto de encontro entre o Marxismo, a Geografia e a Economia Política. Junção da relação entre o homem e a natureza e dos homens consigo mesmos (Forças Produtivas x Relações de Produção – Base Econômica x Superestrutura).

A China Hoje, para Jabbour, desenvolve um “socialismo de mercado” que advém da fusão do Estado Revolucionário fundado por Mao Tsétung em 1949 com o Estado Desenvolvimentista de tipo asiático internalizado por Deng Xiaoping em 1978.

Informou que é uma nação com 5.000 anos de existência, com um Estado Nacional anterior ao nascimento de Cristo, que instituiu o concurso público há cerca de 1.500 anos, pratica a economia de troca (mercado) datada de 1.000 a.C.

O país é composto por 31 províncias distribuídas em cerca de 9,6 milhões de quilômetros quadrados, com a maior população do mundo (1,3 bilhão) abrigando 96 etnias (sendo que a majoritária han comporta 92% do total).

O território e o clima são semelhantes ao dos EUA, com relevo altamente diversificado, com grandes expressões geográficas (Himalaia, planalto tibetano, deserto de Tarim e Gobi, bacias áridas do nordeste), montanhas, planaltos montanhosos e bacias ocupam 87% do território.

Apenas 13% do país é plano, de forma que lembra uma escada de três degraus, começando com uma média de 4 mil metros no Platô Qinghai-Tibet, planaltos e bacias no centro com altitude variando de mil e dois mil metros acima da linha do mar e terminando com regiões montanhosas e planas com menos de mil metros de altitude.

Essas características topográficas, muito acidentadas, implicam na necessidade de grandes investimentos em infraestruturas, por exemplo, as grandes jazidas de petróleo, gás e carvão estão situadas no oeste do país (programa lançado em 1999: “Grande Desenvolvimento do Oeste”).

No contexto chinês, houve o surgimento de filosofias tolerantes, civilizatórias (taoismo e confucionismo) contemporâneas às similares gregas, milenares revoltas camponesas, experiências precoces de planejamento urbano e de grandes obras hidráulicas (modo de produção asiático). Base cultural claramente confuciana e taoísta.

O Budismo nasce na Índia, chega ao altiplano tibetano e adapta-se à filosofia clássica chinesa (Ying x Yian, dialética rústica e materialismo precoce). Sociedade espiritualista, porém não deísta.
Há uma ideologia do trabalho (precoce economia de mercado, empreendedorismo do camponês médio – self made man), regada pela ‘Cultura de Prosperidade (Socialismo: “prosperidade comum”).
Hierarquização do poder até o topo estatal baseada na “experiência adquirida”, “capacidade de prover o bem comum”, “poder legado dos céus” porém “revogável pelo povo”.
Nessa passo, o palestrante tocou sua fala com base na obra ‘China Hoje: Projeto nacional, desenvolvimento e socialismo de mercado’, de sua autoria, contribuindo para a desmistificação das complexidades da China contemporânea, uma das maiores potências mundiais, que, em tempos de sucessivas e graves crises do sistema capitalista mundial consegue se manter com altos índices de crescimento.  
Relembrou Deng Xiaoping (1904-1997), definido pelo autor como ‘arquiteto da política de Reforma e Abertura’, ao afirmar que “para construir o socialismo é necessário desenvolver as forças produtivas. Para sustentar o socialismo, um socialismo superior ao capitalismo, é imperativo primeiro e mais importante eliminar a pobreza. É verdade, nós estamos construindo o socialismo, mas isso não significa que o que nós conquistamos até agora corresponde ao padrão socialista. Não antes da metade do próximo século, quando nós tivermos atingido o nível das nações moderadamente desenvolvidas, poderemos dizer que realmente construímos o socialismo ao declarar de forma convincente que o socialismo é superior ao capitalismo.”

Jabbour relaciona sinteticamente o projeto nacional, desenvolvimento e o modelo “socialista de mercado” na China hoje, o que pretende demonstrar em abordagem que privilegia uma visão do processo histórico ao invés da compreensão da própria visão dos clássicos do materialismo histórico acerca da historicidade intrínseca a diversas categorias.

Destacou que o espetacular crescimento econômico chinês é fruto de uma decisão política e visão estratégica que serve de amparo à maximização do mercado, do planejamento, da iniciativa privada e da propriedade estatal dos meios de produção.
Afirmou que, como uma experiência socialista em estágio inicial, além do poder político, é importante salientar a centralidade, ao processo de desenvolvimento, tanto do controle estatal sobre os instrumentos cruciais o processo de acumulação (juros, crédito, câmbio e sistema financeiro) quanto à formação de 149 conglomerados estatais nos setores-chave da economia do país.
A análise de alguns fatores essenciais do processo em curso na China, continuou o expositor, nos deixou a clara percepção de que o século XXI será moldado no curso tanto do processo e unificação do imenso território econômico chinês quanto do crescente poderio financeiro do país. Poderio financeiro com grandes perspectivas de proscrever os instrumentos de dominação nascidas no âmbito de Breton Woods.
Nos debates, foram postas diversas questões ao apresentador, especialmente relacionadas à questão do ‘socialismo de mercado’, que para muitos dos presentes, a China desenvolve hoje propriamente o capitalismo, com um país que se apresenta como socialista. Para os debatedores, apesar de o Partido Comunista estar no poder, não segue os conceitos essenciais do socialismo, desenvolvendo-se, de fato, uma das formas mais cruéis do capitalismo.
Questionou-se, também, a situação dos trabalhadores, as relações entre capital e trabalho, as normas laborais, a exploração ao meio ambiente e às pessoas, bem como o possível imperialismo ou Neocolonialismo desenvolvido pela China nas parcerias com países pelo mundo, tais como Cuba, Moçambique e Brasil.

Participaram, além do expositor e da Profa. Dra. Alba Carvalho, os alunos dos Programas de Mestrado e Doutorado em Ciências Sociais, Doutorado em Direito da UFC, Doutorado em Educação da UFC, Mestrado em Comunicação da UFC, destacando-se, Monalisa Lima Torres, Lucas Alberto Essilamo Nerua, Clovis Renato Costa Farias, Marcos Levi Nunes de Sousa, Nágila Maria Galdino Drumond, David Moreno Montenegro, Francisca Simone da Silva Mendonça, Francisco Raphael Cruz Maurício, Janaina Sampaio Zaranza, Maria Sonia Lima, Ronaldo de Queiroz Lima e Silvana de Sousa Pinho, os alunos do Curso de Economia da UFC e demais interessados.
Escute os debateshttp://vidaarteedireitonoticias.blogspot.com.br/2014/05/seminario-china-hoje-audio-dos-debates.html 

Clovis Renato Costa Farias
Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Ceará
Bolsista da CAPES

Membro do GRUPE e da ATRACE

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