“No mundo
globalizado de hoje, parece que o processo de transformação em produto já
avançou muito, já penetrou tão profundamente em todos os aspectos da vida e se
espalhou para muito além do alcance de qualquer comunidade política, mesmo a
nação-Estado, que o espaço para a democracia ficou muito estreito e muito
pequena a possibilidade de desafiar o capital. Mas aqui, parece-me, chegamos a
um paradoxo interessante. O capital foi capaz de estender seu alcance econômico
para muito além das fronteiras de qualquer nação-Estado, mas o capitalismo
ainda está longe de prescindir da nação-Estado. O capital precisa do Estado
para manter a ordem e garantir as condições de acumulação, e, independentemente
do que tenham a dizer os comentadores a respeito do declínio da nação-Estado,
não há evidência de que o capital global tenha encontrado um instrumento mais
eficaz. Mas, exatamente porque o alcance econômico do capital se estende para
além de todas as fronteiras políticas, o capital global necessita de muitas
nações-Estados para criar as condições necessárias de acumulação.
Acredito
que hoje estejamos assistindo aos efeitos de uma contradição crescente entre o
alcance global das forças econômicas e as instituições de administração e
repressão locais e territoriais de que o capital necessita. [...]
A questão
principal aqui é que essa contradição crescente oferece um pouco de esperança
para as lutas de oposição. Enquanto o capital global depender dos Estados
locais, como acredito que vai continuar a depender, esses Estados continuarão a
ser um alvo potencialmente útil para as forças de oposição. As lutas
democráticas visando alterar o equilíbrio das forças de classe, tanto dentro
quanto fora do Estado, talvez representem o maior desafio ao capital.”
(WOOD,
Ellen Meiksins. Democracia contra
Capitalismo: a renovação do materialismo histórico. São Paulo: Boitempo,
2011. p. 08-09)
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