Personagem
dos anos de chumbo, que mudou de lado e entregou militantes e a mulher, diz em
entrevista que evitou guerra civil
por
Fernando Vives — publicado 18/10/2011 11:18, última modificação 18/10/2011
Não são poucas as pessoas que dividem a
democracia brasileira entre antes e depois da alcaguetagem de Cabo Anselmo. Artífice da revolta dos marinheiros nos anos que antecedem o Golpe de
1964 e cooptado pela esquerda da época, Cabo Anselmo mudou de lado no início
dos anos 1970 e entregou seus ex-companheiros aos torturadores comandados pelo
delegado Sergio Paranhos Fleury, do Dops.
Entre os torturados e mortos, Soledad Barrett,
sua companheira, assassinada quando grávida. Com as informações do marinheiro, o
regime militar deu grande impulso para dizimar toda a resistência de esquerda e
governar com certa tranquilidade, até começar a cair de maduro no fim dos anos
1970.
Pois foi
Cabo Anselmo o entrevistado na reestreia do programa Roda Viva, da TV Cultura,
na noite de segunda-feira 17.
Entre
outras coisas, Cabo Anselmo declarou que mudou de lado e entregou seus
ex-companheiros porque queria “abreviar a insanidade que foi a luta armada”.
Disse não se arrepender do que fez, que hoje vive sustentado por três
empresários (não revelou os nomes), e que Romeu Tuma, então delegado da Polícia
Federal, era muito mais importante para a ditadura que o delegado Paranhos
Fleury. “Tuma e todos os generais sabiam que existia a tortura, todo mundo
sabia”, afirmou.
Cabo
Anselmo também disse que só colabora com a Comissão da Verdade se esta for
composta por “gente da direita e da esquerda”.
Veja
algumas frases do Cabo Anselmo no programa:
Traição
“Soledad
(sua namorada) não acreditava quando descobriu que eu tinha mudado de lado.
Existia entre nós um carinho muito grande. É uma questão que não está resolvida
dentro de mim. Era uma poeta, mas que estava em uma guerra que não deveria
estar”.
Esquerda,
eu?
“Eu não
entendia nada daqueles assuntos de esquerda, era o (Carlos) Marighella quem
influenciava. Eu gostava da causa dos marinheiros, queria melhorar a vida
deles, mas não entendia nada de comunismo. Eu eu era um peão naquele jogo
todo.” Quando perguntado se era “tão otário assim” por um dos entrevistados,
ele diz que “sim, eu tinha 22, 23 anos, era muito jovem, eu era um ingênuo no
movimento dos marinheiros”.
Todos
sabiam
“Romeu
Tuma, (Sergio Paranhos) Fleury e todo mundo sabia que havia tortura. Todos os
generais sabiam. Tuma era bem mais importante que Fleury para o governo”.
Alcaguete
“Eu
entregava colegas porque achava que, com isso, eu abreviaria a insanidade que
foi a luta armada. Todos tinham família, eu pensava nessas pessoas.”
Rendimento
“Vivi
entre 1973 e 1984 trabalhando em uma pequena empresa. Fui apresentando ao dono
dela pelo ‘doutor’ Fleury”.
Brizola e
a luta armada
“(Leonel)
Brizola disse textualmente que iríamos para Cuba para aprender a luta armada,
mas não para aprender a política dele. Ele não era um comunista”.
Tucanou
“Se
tivesse votado, teria votado em José Serra”
Comissão
da Verdade
“Estou
disposto a colaborar com a Comissão da Verdade desde que ela seja composta por
gente de esquerda e da direita. Se houve uma anistia e eu fui expulso da
Marinha, eu quero um ressarcimento pelo tempo em que estive fora da Marinha”
Medo da
morte
“Tive
muito medo de morrer no começo. Hoje já não. Vivo afastado das grandes cidades
porque não gosto do caos delas.”
Consciência
“Não tenho
consciência pesada. Queria registrar minha visão de quem contribuiu para evitar
a guerra civil no Brasil”
Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/politica/a-consciencia-do-cabo-anselmo
Nenhum comentário:
Postar um comentário