Palácio das Cibeles - Madrid/Espanha |
A Espanha
da segunda metade do século [XVI] resume os males da Renascença e do Barroco:
imperialismo econômico e inflação monetária, burocracia rigorosíssima com toda
a corrupção da administração feudal, desemprego e vagabundagem generalizada de
soldados reformados, aristocratas empobrecidos, clérigos vigilantes, parasitos
e ladrões de toda espécie. É o ambiente em que o acaso substitui o esforço,
porque inflação e a administração comem os frutos do trabalho honesto: então,
ninguém quer trabalhar, mesmo morrendo de fome, preferindo-se os pequenos
truques que imitam os grandes truques da diplomacia. O ideal da política
maquiavélica, transplantado para o meio de mendigos e ladrões, eis o assunto do
romance picaresco.
[...]
Instituto Cervantes - Madrid/Espanha |
O pícaro é
o ladrão ou charlatão que tem, no entanto, a sua honra de cavaleiro: e isso não
é apenas um meio para manter-se numa sociedade na qual os valores aristocráticos
continuavam em vigor; é também um meio de se conformar com uma ordem social
hostil ao mendigo e a todos os pobres. Na sociedade espanhola continuam em
vigor valores aristocráticos: na estrutura socioeconômica, os valores em vigor
são os do mercantilismo. O pícaro, vítima da ordem econômica, é conformista com
respeito à ordem aristocrática.
(Otto
Maria Carpeaux. História da literatura ocidental. O Cruzeiro, Rio de Janeiro
(I-A): 599, 1961)
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