A Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) nasce
no Fórum Social Mundial (FSM) de 2003, espaço de encontro e intercâmbio dos
movimentos sociais. A UPMS surge para articular os conhecimentos diversos,
fortalecendo novas formas de resistência e contribuindo para a reinvenção da
emancipação social, entendida aqui como a base em que projetos plurais
transformam relações de poder em relações de autoridade partilhada.
A UPMS - Rede Global de Saberes - visa contribuir para o
maior conhecimento recíproco entre os movimentos sociais. A justiça social
global inclui também a justiça global entre saberes. Quanto melhor se conhecer
e valorizar a diversidade dos saberes que os movimentos mobilizam nas suas
lutas, mais esclarecidas serão as ações transformadoras de cada um dos
movimentos e mais autônomos e reflexivos os seus protagonistas.
A UPMS destina-se a ativistas e dirigentes dos movimentos
sociais, membros de organizações não governamentais, bem como cientistas
sociais, investigadores e artistas empenhados na transformação social
progressista. A formação pretendida por esta iniciativa decorre de um processo
de auto-educação com duas vertentes. Por um lado, a auto-educação de ativistas e
líderes dos movimentos e organizações sociais através de debates entre si e com
cientistas sociais/intelectuais/artistas, aprofundando os quadros analíticos e
teóricos que lhes permitam enriquecer as suas práticas e ampliar as alianças
entre movimentos. Por outro lado, a auto-educação de cientistas
sociais/intelectuais/artistas envolvidos solidariamente com os movimentos
sociais através de debates entre si e com os ativistas e lideres dos movimentos
e organizações sociais. A UPMS promove diálogos entre os conhecimentos
académicos e os conhecimentos populares, de modo a diminuir a distância entre
uns e outros e tornar os conhecimentos académicos mais relevantes para as lutas
sociais concretas levadas a cabo pelos movimentos e organizações sociais. Nesta
dupla aprendizagem reside a novidade da UPMS. Para prossegui-la, a UPMS supera
a distinção convencional entre ensino e aprendizagem – assente na distinção
entre educadores e educandos – e cria contextos e momentos de aprendizagem
recíproca. A constatação de ignorâncias recíprocas é o seu ponto de partida. O
seu ponto de chegada é a produção partilhada de conhecimentos, tão globais
quanto os processos de globalização e tão diversos quanto somos todos os que
lutam contra a globalização neoliberal, o capitalismo, o colonialismo, o
sexismo, o racismo, a homofobia e outras relações de dominação e de
opressão.
A UPMS funciona através de uma rede de interações orientada
para promover o conhecimento e a valorização crítica da enorme diversidade dos
saberes e práticas protagonizados pelos diferentes movimentos e organizações.
Sua essência está no seu caráter inter-temático, forjado através da promoção de
reflexões e articulações entre diferentes movimentos como os feministas,
operários, indígenas, negros, quilombolas, LGBT, estudantis e ecológicos, entre
outros.
Todo este trabalho tem sido feito com base em dois
procedimentos metodológicos básicos formulados por Boaventura de Sousa Santos e
partilhados nas experiências de UPMS já realizadas até o momento: a tradução
intercultural e interpolítica e a ecologia de saberes. A tradução intercultural
visa aumentar a inteligibilidade recíproca e necessária entre movimentos,
organizações e pesquisadores sem destruir a autonomia dos movimentos, suas
linguagens próprias e conceitos, observando o que os divide e o que os une para
tentar organizar ações coletivas. Muitas vezes, o que separa os movimentos não
são questões de conteúdo, mas antes de linguagem, de diferentes tradições
históricas e culturais de luta.
Por ser uma tentativa de facilitar o diálogo sem destruir a
identidade dos interlocutores, a tradução tem como objetivo trazer à tona os
pontos de aproximação entre as práticas sociais desenvolvidas pelos grupos, mas
não como simples troca de ideias e sim como um primeiro passo para articulações
e concentração de esforços em projetos transformadores comuns. A ecologia de
saberes, por sua vez, refere-se à combinação e ao enriquecimento mútuo de
conhecimentos acadêmicos solidários e conhecimentos nascidos na luta social.
Assenta-se no reconhecimento da pluralidade de saberes heterogêneos, da
autonomia de cada um deles e articulação horizontal entre eles.
A UPMS realiza oficinas que, preferencialmente, duram dois
dias de trabalho e de convívio, em que os participantes devem permanecer em
regime residencial. Embora o elemento central da UPMS sejam estas oficinas, que
podem ocorrer em qualquer parte do mundo, a Universidade Popular dos Movimentos
Sociais possui um espaço físico no Memorial do Fórum Social Mundial em Porto
Alegre (Rio Grande do Sul - Brasil), destinado a guardar e tratar seu arquivo e
memória.
Como bem comum, a organização de oficinas da UPMS está
aberta a todos desde que respeitem seus dois documentos fundamentais,
elaborados e deliberados coletivamente: a carta de princípios (http://www.universidadepopular.org/site/media/documentos/Carta_de_Principios_UPMS_-_portugues.pdf) e as orientações
de metodologia (http://www.universidadepopular.org/site/media/documentos/Orientacoes_metodologicas_UPMS_-_portugues.pdf).
A UPMS é um bem comum, sem estruturas físicas
e amarras pedagógicas e, portanto, precisa
de referências político-metodológicas para configurar uma identidade comum.
A Carta de Princípios e as orientações
metodológicas são os principais documentos da UPMS e foram produzidos e
deliberados coletivamente a partir das assembléias da UPMS realizadas no âmbito
dos Fóruns Sociais Mundiais.
O respeito
a estes documentos é de suma
importância, o que não significa enrijecer o processo. É possível que, ao longo da dinâmica da UPMS,
estes documentos sejam repensados e rediscutidos nas suas futuras assembleias
nos Fóruns Sociais Mundiais. garantindo que a diversidade seja permanentemente
respeitada e contemplada.
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