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domingo, 8 de setembro de 2013

A História da Bicicleta no Brasil

Iran, Neto, Renato, Kelsen, Carioca, Rubens
(Espigão da Praia de Iracema)
A história da bicicleta no Brasil é sempre um tema de certa polêmica, apesar de pouquíssimos estudiosos ou pessoas simpáticas ao tema, terem se debruçado sobre ele. Vários são os fatores que conduzem ou favoreçam a essa situação, com destaque, sem dúvida, à ausência de uma bibliografia específica, até por que, foram poucos a escreverem sobre o tema ao longo do séc. XX. Anterior a esse período, a coisa fica reduzida a notícias de jornais, e alguns informativos de clubes.

Elias - Renato (Viaduto de Messejana - BR)

No entanto, é consenso entre os pesquisadores que as primeiras bicicletas e biciclos que chegaram ao Brasil no último quartel do séc. XIX, ocorreu no eixo Rio/São Paulo. Ademais, soma-se aos fatores citados a grande ascendência cultural em nosso país, que tem o futebol sobre as demais modalidades desportivas.
Avenida do Aeroporto Pinto Martins
Se, por um lado, as bicicletas eram um atrativo e um deleite para as classes mais abastadas - essa fase ocorreu praticamente em toda à Europa e também no Brasil -, quando aconteceu a sua massificação no pais, logo após a II Guerra Mundial e durante a década de 50, elas adquiriram o “status” de “veículo da classe trabalhadora”; ou seja: já discriminadas pela sociedade consumista do pós-guerra.
Centro de Fortaleza (Renato - Kelsen)
Outro dado de suma importância e pouco lembrado para os que desejam entender a razão de estarmos na contra mão dos paises civilizados quanto à utilização racional da bicicleta, também remonta aos anos 50, mais especificamente, sob a presidência de Jucelino Kubitschek, quando este, mudou a “matriz” do transporte em nosso país, fazendo a opção pelos veículos motorizados, inclusive, trazendo para cá, as primeiras montadoras de veículos leves, ônibus e caminhões.
Elias e Acélio rumando para o Castelão
O desdobramento dessa política suicida que hoje pagamos o preço foi a imediata abertura de estradas por todo país e o sucateamento de nossas ferrovias, bem como, o banimento dos bondes que eram uma realidade nas grandes cidades brasileiras.
Quanto à inclusão da bicicleta nesse processo, nada! Portanto, a idéia já nasceu morta, se é que chegou a nascer.
A conjuntura econômica de época não era ruim, e isso permitiu uma profusão de pequenas fábricas de bicicletas produzindo um excelente material em São Paulo (capital e interior), e objeto de nossa pesquisa. Citamos algumas das marcas encontradas: Role; Beckstar; Bluebird; Patavium; Cacique; NB; Scatt; Hélbia; Adaga, Vulcão; Caloi; Rivera; Bérgamo, Monark; Zeus; Luxor e Apolo.
Elias - 65 anos - segue na frente
Essas marcas ainda tinham o desafio de concorrer com as importadas provenientes da Inglaterra, Itália, França, Suécia e Alemanha. As bicicletas eram importadas pelos magazines: Mesbla; Cássio Muniz; Lojas Pirani; Mappin e Eletrorádiobras.
Havia espaço para o mercado crescer mais, afinal, o carro ainda era um sonho longínquo para a grande maioria, e a situação era confortável para os fabricantes até o advento da Revolução de 64, e as reformas monetárias que se seguiram. Os fabricantes que tinham dívidas atreladas ao dólar devido a importação, principalmente de máquinas, ruíram, pois o acesso aos empréstimos governamentais foram suspensos.
Renato e o novo Castelão

Nesse contexto de dificuldades para a maioria, Caloi e Monark começaram a deslanchar em busca do domínio do mercado de bicicletas. As duas “grandes fábricas” vão pulverizando aos poucos as “pequenas notáveis” que sobreviveram, mediante aquisição e fechamento das marcas.
Viaduto para o Cambeba (Acélio - Elias - Renato)
O monopólio de mercado se deu até o final da década de 80, com o advento mundial do Mountainbike e a abertura do mercado nacional já no início dos anos 90, inicialmente para as bicicletas produzidas em Taiwan e na China.
Praça do Ferreira na manhã de domingo

A partir desse momento o mercado sofreu uma brutal transformação quer pela entrada de produtos com altíssima qualidade, bem como, o perfil do consumidor que passou a ser bem mais exigente. Em decorrência dessa nova situação Caloi e Monark quase naufragaram, sendo que a primeira deixou de ser uma empresa familiar, e sob uma administração competente, voltou a ocupar uma boa fatia no mercado nacional de bicicletas. A Monark restou buscar as origens, e sobrevive comercializando alguns modelos básicos e consagrados no mercado.
Vista que ficará diante do Aquário de Fortaleza

(*) Pesquisa e texto: Valter F. Bustos, Diretor do Museu da Bicicleta de Joinville/SC.

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