Iran, Neto, Renato, Kelsen, Carioca, Rubens (Espigão da Praia de Iracema) |
A história
da bicicleta no Brasil é sempre um tema de certa polêmica, apesar de
pouquíssimos estudiosos ou pessoas simpáticas ao tema, terem se debruçado sobre
ele. Vários são os fatores que conduzem ou favoreçam a essa situação, com
destaque, sem dúvida, à ausência de uma bibliografia específica, até por que,
foram poucos a escreverem sobre o tema ao longo do séc. XX. Anterior a esse
período, a coisa fica reduzida a notícias de jornais, e alguns informativos de
clubes.
Elias - Renato (Viaduto de Messejana - BR) |
No
entanto, é consenso entre os pesquisadores que as primeiras bicicletas e
biciclos que chegaram ao Brasil no último quartel do séc. XIX, ocorreu no eixo
Rio/São Paulo. Ademais, soma-se aos fatores citados a grande ascendência
cultural em nosso país, que tem o futebol sobre as demais modalidades
desportivas.
Avenida do Aeroporto Pinto Martins |
Se, por um
lado, as bicicletas eram um atrativo e um deleite para as classes mais
abastadas - essa fase ocorreu praticamente em toda à Europa e também no Brasil
-, quando aconteceu a sua massificação no pais, logo após a II Guerra Mundial e
durante a década de 50, elas adquiriram o “status” de “veículo da classe
trabalhadora”; ou seja: já discriminadas pela sociedade consumista do
pós-guerra.
Outro dado
de suma importância e pouco lembrado para os que desejam entender a razão de
estarmos na contra mão dos paises civilizados quanto à utilização racional da
bicicleta, também remonta aos anos 50, mais especificamente, sob a presidência
de Jucelino Kubitschek, quando este, mudou a “matriz” do transporte em nosso
país, fazendo a opção pelos veículos motorizados, inclusive, trazendo para cá,
as primeiras montadoras de veículos leves, ônibus e caminhões.
Centro de Fortaleza (Renato - Kelsen) |
Elias e Acélio rumando para o Castelão |
O
desdobramento dessa política suicida que hoje pagamos o preço foi a imediata
abertura de estradas por todo país e o sucateamento de nossas ferrovias, bem
como, o banimento dos bondes que eram uma realidade nas grandes cidades
brasileiras.
Quanto à
inclusão da bicicleta nesse processo, nada! Portanto, a idéia já nasceu morta,
se é que chegou a nascer.
A
conjuntura econômica de época não era ruim, e isso permitiu uma profusão de
pequenas fábricas de bicicletas produzindo um excelente material em São Paulo
(capital e interior), e objeto de nossa pesquisa. Citamos algumas das marcas
encontradas: Role; Beckstar; Bluebird; Patavium; Cacique; NB; Scatt; Hélbia;
Adaga, Vulcão; Caloi; Rivera; Bérgamo, Monark; Zeus; Luxor e Apolo.
Elias - 65 anos - segue na frente |
Essas
marcas ainda tinham o desafio de concorrer com as importadas provenientes da
Inglaterra, Itália, França, Suécia e Alemanha. As bicicletas eram importadas
pelos magazines: Mesbla; Cássio Muniz; Lojas Pirani; Mappin e Eletrorádiobras.
Havia
espaço para o mercado crescer mais, afinal, o carro ainda era um sonho
longínquo para a grande maioria, e a situação era confortável para os
fabricantes até o advento da Revolução de 64, e as reformas monetárias que se
seguiram. Os fabricantes que tinham dívidas atreladas ao dólar devido a
importação, principalmente de máquinas, ruíram, pois o acesso aos empréstimos
governamentais foram suspensos.
Renato e o novo Castelão |
Nesse
contexto de dificuldades para a maioria, Caloi e Monark começaram a deslanchar
em busca do domínio do mercado de bicicletas. As duas “grandes fábricas” vão
pulverizando aos poucos as “pequenas notáveis” que sobreviveram, mediante
aquisição e fechamento das marcas.
Viaduto para o Cambeba (Acélio - Elias - Renato) |
O
monopólio de mercado se deu até o final da década de 80, com o advento mundial
do Mountainbike e a abertura do mercado nacional já no início dos anos 90,
inicialmente para as bicicletas produzidas em Taiwan e na China.
Praça do Ferreira na manhã de domingo |
A partir
desse momento o mercado sofreu uma brutal transformação quer pela entrada de
produtos com altíssima qualidade, bem como, o perfil do consumidor que passou a
ser bem mais exigente. Em decorrência dessa nova situação Caloi e Monark quase
naufragaram, sendo que a primeira deixou de ser uma empresa familiar, e sob uma
administração competente, voltou a ocupar uma boa fatia no mercado nacional de
bicicletas. A Monark restou buscar as origens, e sobrevive comercializando
alguns modelos básicos e consagrados no mercado.
Vista que ficará diante do Aquário de Fortaleza |
(*)
Pesquisa e texto: Valter F. Bustos, Diretor do Museu da Bicicleta de
Joinville/SC.
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