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Grupo de debates e a Professora Maria Cristina (ao centro) |
O evento, promovido pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos, trouxe aspectos sociais, políticos e econômicos do Estado do Ceará, dando
continuidade aos debates que tem ocorrido internamente no DIEESE, de regra na Sede do Sindicato dos Bancários no Estado do Ceará, Rua 24 de Maio, 1289, na tarde do dia 10 de maio de 2013, a partir das 15h.
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Profa. Cristina e Reginaldo |
Participaram
do evento, além da Professora Maria Cristina de Quiroz Nobre e do Coordenador
do DIEESE no Estado do Ceará Reginaldo Aguiar, Sylvia Helena Aguiar Guierres
(técnica do DIEESE), Rita Cássia Ferreira (Sindicato dos Bancários), Elizama
Cavalcante de Paiva (técnica do DIEESE), José Eduardo Rodrigues Marinho
(Sindicato dos Bancários), Sidilene Gomes de Aguiar (técnica do DIEESE) e
Clovis Renato Costa Farias (doutorando em Direito/UFC e Vice Presidente da
Comissão de Direito Sindical OAB/CE).
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Atenção do grupo |
O
Coordenador do DIEESE no Ceará Reginaldo de Aguiar e Silva, abrindo os
trabalhos, dispôs sobre o papel capacitador do Departamento junto às lideranças
sindicais e sobre a importância da capacitação dos membros da entidade.
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A produção mundial |
O centro
dos debates partiu da apresentação capitaneada pela Professora Doutora Maria
Cristina de Queiroz Nobre com foco na tese de doutorado (elaborada pela
ministrante), ‘Modernização do Atraso: A hegemonia burguesa do CIC e as alianças
eleitorais da ‘Era Tasso’”. Tal
tese foi apresentada no Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade
Federal do Ceará, em fevereiro de 2008, tendo como orientadora a Professora
Doutora Alba Maria Pinho de Carvalho e Co-Orientador o Professor Doutor Lúcio
Fernando Oliver Costilla.
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A tese |
A tese central
demonstra, em breves linhas, que a “Era Tasso” caracteriza um momento ímpar da
história política do Ceará e sua compreensão como fenômeno social abre também
as possibilidades para se pensar o Brasil contemporâneo. A partir de Gramsci
tomou-se este ciclo como hegemonia burguesa enquanto “critério metodológico”
para desvelar a realidade cearense das últimas décadas: um período experimental
de modernização econômica e política de caráter conservador que encarna uma
época histórica, a da convergência contraditória do processo democrático
brasileiro dos anos 1980 com a inserção do país na mundialização do capital nas
décadas seguintes.
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Resumo da tese |
A partir
do resgate da teoria gramsciana da Hegemonia, nos termos propostos pela
professora, com as categorias de “hegemonia”, “revolução passiva”,
“transformismo” e “Estado” desenvolveu-se uma reflexão sobre a política,
privilegiando, de modo exclusivo, seus momentos de processos eleitorais, o que
permitiu configurar a “Era Tasso” como um como um ciclo de hegemonia
político-cultural e econômica com extraordinária força eleitoral. Para tanto,
as alianças eleitorais, estabelecidas pela elite empresarial do CIC que suportou
a “Era Tasso”, foram, assim, o fio que conduziu o estudo apresentado.
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Clareza |
A
apresentação trouxe uma parte da pesquisa para o mestrado e o doutorado,
elaborados para pensar a Era Tasso Jereissati no governo cearense, propondo-se
a pensar políticas de assistência social, com abertura do tema para uma análise
sobre os rumos neoliberais do governo.
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1988 |
Houve uma
perspectiva restrita do Grupo Tasso de impor um modelo, sem participação de
outras lideranças, o que não foi plenamente obtido, mas houve avanços quanto ao
crescimento, com concentração, não com distribuição e retorno, em parte, no
futuro, aos moldes tradicionais, retomando os pactos. Foi um governo para uma
classe, com ênfase especificamente, em Fortaleza, para o segmento imobiliário.
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Segundo governo |
Nos termos
apresentados, a Geração Tasso é uma segunda geração de governantes, com medidas
políticas de continuidade do governo anterior, de modo mais desenvolvido, com
líderes formados fora do Estado do Ceará, com forte influência neoliberalista.
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Virgílio Távora |
A
industrialização no Ceará começa a partir do fundo público, no final dos anos
60 e correr dos anos 70, período em que houve um fortalecimento do mercado a
partir do Estado, redirecionando recursos acumulados pelo Poder Público para a
iniciativa privada, como o caso das privatizações. Tal momento foi capitaneado
por Virgílio Távora, que conseguiu articular-se com os governos militares e,
localmente, distribuindo cargos, mas preservando algumas secretarias com
técnicos, como foi o caso de Gonzaga Mota (técnico trazido do Banco do Nordeste).
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Tancredo Neves e Gonzaga Mota |
Conforme a
professora, no jantar de posse do governador Gonzaga Mota, candidato de
consenso entre as forças, Tasso Jereissati (representando os jovens empresários
- Grupo CIC) fez um discurso eloquente com uma proposta de romper com o regime
anterior, contra o clientelismo, já projetando sua pretensa trajetória
política. Momento a partir do qual passa a emergir no cenário cearense o nome
do CIC (Centro Industrial Cearense), o que se consolidou com a rejeição de
Mauro Benevides tinha por parte do PMDB nacional, alavancando o nome de Tasso
Jereissati, após a não aceitação por Beni Veras.
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Aliados |
Já no
início dos anos 90, com os debates promovidos pelo Centro Industrial Cearense
(CIC), composto pelos jovens empresários, houve grande articulação dos que, no
futuro, passariam a ocupar os cargos majoritários no Governo do Estado, com
ênfase neoliberal.
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Virgílio |
No
primeiro governo Tasso Jereissati houve enxugamento da folha de servidores
públicos estaduais, contensão salarial, investimento em turismo, deslocamento
dos interesses em Fortaleza para beneficiar as famílias Jereissati e Queiroz
(rumo ao Parque do Cocó), abertura para o agronegócio, controle austero das
finanças públicas, um novo perfil de indústria ligado ao complexo do Pecém.
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Tasso e Ciro Gomes |
Do ponto
de vista político pretendiam romper com a política tradicional, com os
prefeitos, deputados, com o clientelismo, de modo que rompem com o PMDB, intentando
apresentar um novo tipo de política (profissional, mais empresarial). O grupo
passa forjar suas próprias lideranças, investindo em lideranças próprias,
comunicação de massa, grandes comícios, vão internamente construindo suas bases.
Contudo, ao passar o tempo, necessitaram realinhar-se para que se fortalecessem
junto ao parlamento, de modo que se observou, futuramente, que mais de 50% dos
deputados que os apoiavam na Assembleia Legislativa vinham de famílias com
tradição política.
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Renata Queiroz Jereissati (esposa de Tasso, filha de Edson Queiroz), Tasso, Amarílio Macedo |
No todo
não incorporaram o uso do recurso público para coisas pequenas, mas para
grandes obras, estruturantes, com benefícios visíveis a seus empreendimentos
privados, direcionando os recursos com proveito para si e para seus aliados. Souberam
usar favoravelmente a propaganda, brigaram com o movimento sindical, cooptaram
as lideranças dos movimentos populares (pagavam três salários mínimos para que
tais líderes intermediassem o diálogo com a sociedade).
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Tasso e os Ferreira Gomes (Ciro e Cid) |
Em tal
momento, surge Ciro Gomes, Lúcio Alcântara, Cid Gomes, com resistência em
Fortaleza, até a eleição de Roberto Cláudio para a Prefeitura Municipal de
Fortaleza, dando seguimento ao modelo.
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Lúcio Alcântara |
Na
atualidade, são defendidos os mesmos projetos, tais como a potencialização do
turismo, com benefício aos interesses dos Jereissati e aliados, de modo que
Arialdo Pinho já foi proprietário do Beach Parque, no qual Ciro já foi
administrador. Projetos como a ponte estaiada sobre o Parque do Cocó que
claramente beneficiarão os empreendimentos dos Jereissati e os Ferreira Gomes.
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Chanceler Airton Queiroz (Grupo Edson Queiroz) |
Segundo a
professora, o momento político é crítico, mesmo se tratando de um novo ciclo,
novamente centrado no turismo, industrialização e demais negócios, sem
preocupação social como prioridade.
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Debates |
Nos
debates, Reginaldo (Dieese) demarcou a carência acadêmica em trazer a questão
da apropriação do projeto do governador Virgílio Távora para a atualidade,
prejudicando as análises quanto aos aspectos econômicos locais e nacionais, o
que justifica a capacitação complementar ora proporcionada pelo DIEESE/CE.
Observou que, mesmo com a indústria no Ceará, há grande informalidade e
desrespeito profundo aos direitos dos trabalhadores.
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Instigando |
Clovis Renato destacou a importância do evento quanto a compreensão do contexto social, político e econômico do Estado do Ceará em consonância com o Brasil. O que tem sido evidente, também, com relação à interferência internacional, em especial do modelo norte americano, que trouxe as ditaduras para a América Latina, o governo Virgílio Távora e, indiretamente, as alianças subsequentes que perduram, em regra, até a atualidade. Em outro aspecto, tal espaço visibiliza situações não percebidas no cotidiano e, consequentemente, ausentes nas análises contextuais atuais, de modo a melhor capacitar os trabalhadores nas mesas de negociação com o Estado, especialmente em um momento que dá continuidade à política de investimentos estruturais como os observados no Complexo Portuário do Pecém. Ainda se resiste e se desacredita o movimento sindical, como informado no evento, havendo, inclusive, documentos públicos do Estado do Ceará (em papel timbrado e disponibilizado) informando para as empresas que venham pois os salários são baixos e os sindicatos fracos.
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Pequeno grupo e grandes trocas |
Ao final,
os participantes apresentaram suas impressões sobre o evento, restando clara a
importância da realização como forma de instigar os questionamentos e a
complexidade da realidade das relações entre trabalho e capital na
contemporaneidade.
Clovis Renato Costa
Farias
Doutorando em Direito da UFC/Bolsista da CAPES
Professor membro do EDH/Unichristus
Orientado do Projeto Comunidade e Direitos
Sociais
Membro do GRUPE, do Instituto Pensar Direito
(IPD) e da ATRACE
Vice Presidente da Comissão de Direito Sindical
da OAB/CE
Autor da obra ‘Desjudicialização: conflitos
coletivos do trabalho’ e das Páginas:
Dr. Clóvis agradecemos sua presença e contribuições ao debate, sexta feita teremos mais um tema para conversar.
ResponderExcluirO texto do governo que fala de sindicalismo fraco e baixos salários está nos Textos para Discussão do IPECE, em produção elaborada para tratar do Panorama da Indústria Cearense de Calçados. Mostra os incentivos para a vinda de tal ramo calçadista para o estado.
ResponderExcluirTexto pode ser baixado no site do IPECE (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica). Para garantirmos que, no futuro, digam que não existe, também postamos no link: http://www.4shared.com/file/XER0G9DI/Panorama_da_Indstria_Cearense_.html?
Trechos do texto mencionado:
ResponderExcluir"Vale ressaltar, entretanto, que a política de incentivos fiscais promovida por alguns estados nordestinos não constituiu o único fator explicativo da relocalização espacial do setor calçadista, como ressaltado
anteriormente, visto que, com a generalização dos incentivos, as empresas os colocaram como regra e
passaram a adotar variáveis de natureza qualitativa, como infra‐estrutura, condições logísticas,
disponibilidade de mão‐de‐obra barata, sindicatos inexistentes ou fracos etc., como incentivadoras para seu descolamento regional. "
Outro trecho do documento oficial:
ResponderExcluir"Nota‐se aqui uma vantagem regional, associada à abundância de mão‐de‐obra desprovida, em muitos
casos, de opções de sobrevivência. Esse ativo humano, que foi utilizado pelas indústrias nas localidades
onde se assentaram, tinha habilidade para o trabalho artesanal, constituindo‐se, por outro lado, num dos
fatores de aglomeração da produção. Ressalte‐se ainda que, dentre os principais critérios de localização
usados pelas empresas, está a dispersão da atividade produtiva em várias cidades, como forma de
minimizar a pressão sindical por maiores salários."
Obrigado Dr. Reginaldo pelas contribuições sempre relevantes. Espero ser convidado outras vezes, nas quais pretenderei participar e amadurecer os ideais da luta por igualdade, solidariedade, emancipação, Justiça... Grato! Clovis Renato
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