Francisco Cândido Xavier,[1] mais
conhecido como Chico Xavier (Pedro Leopoldo, 2 de abril de 1910 — Uberaba, 30
de junho de 2002), foi um médium, filantropo e um dos mais importantes
expoentes do Espiritismo.[2][3][4][5] [6][7] Seu nome de batismo, Francisco de
Paula Cândido, em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, foi substituído
pelo nome paterno de Francisco Cândido Xavier logo que psicografou os primeiros
livros, mudança oficializada em abril de 1966, quando chegou da sua segunda
viagem aos Estados Unidos.[8] Chico Xavier psicografou mais de 450
livros,[9][10] tendo vendido mais de 50 milhões de exemplares[11][12] e sendo o
escritor brasileiro de maior sucesso comercial da história,[13][14] Chico
Xavier Superstar. Revista Isto É. N° Edição: 2103 | 26.Fev.10. Página visitada
em 05/03/2015</ref> mas sempre cedeu todos os direitos autorais dos
livros, em cartório, para instituições de caridade.[2][3][11][12][13][15]
Também psicografou cerca de dez mil cartas, nunca tendo cobrado algo ao
destinatário.[2][12] Seus empregos foram vendedor, tecelão e
datilógrafo.[12][16]
O legado do médium ultrapassa as
barreiras religiosas e ele é reconhecido como o maior "líder
espiritual" do Brasil, sendo uma das personalidades mais admiradas e
aclamadas no país e ressaltado principalmente por um forte
altruísmo.[11][12][13][17][18] Vem recebendo grandes homenagens e honrarias,
por exemplo: Em 1981 e 1982 foi indicado ao prêmio Prêmio Nobel da Paz,[19]
tendo seu nome conseguido cerca de 2 milhões de assinaturas no pedido de
candidatura;[20] em 1999 o Governo de Minas Gerais instituiu a Comenda da Paz
Chico Xavier;[21] e em 2012 ele foi eleito O Maior Brasileiro de Todos os
Tempos, em um concurso homônimo realizado pelo SBT e pela BBC, cujo objetivo
foi "eleger aquele que fez mais pela nação, que se destacou pelo seu
legado à sociedade".
Infância
Nascido no seio de uma família
humilde, teve oito irmãos e era filho de João Cândido Xavier, um vendedor de
bilhetes de loteria, e de Maria João de Deus, uma lavadeira católica, ambos
analfabetos.[12][22] Segundo biógrafos, a mediunidade de Chico teria se
manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade,[12][23] quando ele
respondeu ao pai sobre ciências, durante conversa com uma senhora sobre
gravidez. Ele dizia ver e ouvir os espíritos e conversar com eles.[carece de
fontes]
Os abusos da madrinha
A mãe faleceu quando Francisco
tinha apenas cinco anos de idade. Incapaz de criá-los, o pai distribuiu os nove
filhos entre a parentela. Nos dois anos seguintes, Francisco foi criado pela
madrinha e antiga amiga de sua mãe, Rita de Cássia, que logo se mostrou uma
pessoa cruel, vestindo-o de menina e batendo-lhe diariamente, inicialmente por
qualquer pretexto e, mais tarde, sob a alegação de que o "menino tinha o
diabo no corpo".[carece de fontes]
Não se contentando em açoitá-lo
com uma vara de marmelo, Rita passou a cravar-lhe garfos de cozinha no ventre,
não permitindo que ele os retirasse, o que ocasionou terríveis sofrimentos ao
menino. Os únicos momentos de paz que tinha consistiam nos diálogos com o
espírito de sua mãe, com quem se comunicava desde os cinco anos de idade.[23] O
menino viu-a após uma prece, junto à sombra de uma bananeira no quintal da
casa. Nesses contatos, o espírito da mãe recomendava-lhe "paciência,
resignação e fé em Jesus".[carece de fontes]
A madrinha ainda criava outro filho
adotivo, Moacir, que sofria de uma ferida incurável na perna. Rita decidiu
seguir a simpatia de uma benzedeira, que consistia em fazer uma criança lamber
a ferida durante três sextas-feiras em jejum, sendo a tarefa atribuída ao
pequeno Francisco. Revoltado com a imposição, Francisco conversou novamente com
o espírito da mãe, que o aconselhou a "lamber com paciência". O
espírito explicou-lhe que a simpatia "não é remédio, mas poderia aplacar a
ira da madrinha", esta sim passível de colocar em risco a sua vida. Os
espíritos se encarregariam da cura da ferida. De fato, curada a perna de
Moacir, Rita de Cássia melhorou o tratamento dado a Francisco.[carece de
fontes]
A madrasta
O seu pai casou-se novamente e a
nova madrasta, Cidália Batista, exigiu a reunião dos nove filhos. Francisco
tinha então sete anos de idade. O casal teve ainda mais seis filhos. Por
insistência da madrasta, o menino foi matriculado na escola pública. Nesse
período, o espírito de Maria João parou de manifestar-se. O jovem Francisco, para
ajudar nas despesas da casa, começou a trabalhar vendendo os legumes da horta
da casa.[carece de fontes]
Na escola, como na igreja, as
faculdades paranormais de Francisco continuaram a causar-lhe problemas. Durante
uma aula do 4º ano primário, afirmou ter visto um homem, que lhe ditou as
composições escolares, mas ninguém lhe deu crédito e a própria professora não
se importou. Uma redação sua ganhou menção honrosa num concurso estadual de
composições escolares comemorativas do centenário da Independência do Brasil,
em 1922. Enfrentou a descrença de colegas, que o acusaram de plágio, acusação
essa que sofreu durante toda a vida. Desafiado a provar os seus dons, Francisco
submeteu-se ao desafio de improvisar uma redação (com o auxílio de um espírito)
sobre um grão de areia, tema escolhido ao acaso, o que realizou com
êxito.[carece de fontes]
A madrasta Cidália pediu a
Francisco que consultasse o espírito da falecida mãe dele sobre como evitar que
uma vizinha continuasse a furtar hortaliças e esta lhe disse para torná-la
responsável pelo cuidado da horta, conselho que, posto em prática, levou ao fim
dos furtos. Assustado com a mediunidade do jovem, o seu pai cogitou em
interná-lo.[carece de fontes]
O padre Scarzelli examinou-o e
concluiu que seria um erro a internação, tratando-se apenas de "fantasias
de menino". Scarzelli simplesmente aconselhou a família a restringir-lhe
as leituras (tidas como motivo para as fantasias) e a colocá-lo no trabalho.
Francisco, então, ingressou como operário em uma fábrica de tecidos, onde foi
submetido à rigorosa disciplina do trabalho fabril, que lhe deixou sequelas
para o resto da vida.[carece de fontes]
No ano de 1924, terminou o antigo
curso primário e não mais voltou a estudar. Mudou de trabalho, empregando-se
como caixeiro de venda, ainda em horários extensos. Apesar de ainda católico
devoto e das incontáveis penitências e contrições prescritas pelo padre
confessor, não parou de ter visões e nem de conversar com espíritos.[carece de
fontes]
O contato e a adesão à Doutrina
Espírita
Em 1927,[16] então com dezessete
anos de idade, Francisco perdeu a madrasta Cidália e se viu diante da
insanidade de uma irmã, que descobriu ser causada por um processo de obsessão
espiritual. </ref>[24] Por orientação de um amigo, Francisco iniciou-se
no estudo do Espiritismo. Logo deixou de ser católico e se tornou espírita
convicto.[carece de fontes]
No mês de maio desse mesmo ano,
recebeu nova mensagem de sua mãe, na qual lhe era recomendado o estudo das
obras de Allan Kardec e o cumprimento de seus deveres. Em junho, ajudou a
fundar o Centro Espírita Luiz Gonzaga, em um simples barracão de madeira de
propriedade de seu irmão. Em julho, por orientação dos espíritos benfeitores,
iniciou-se na prática da psicografia, escrevendo dezessete páginas. Nos quatro
anos subsequentes, aperfeiçoou essa capacidade embora, como relata em nota no
livro Parnaso de Além-Túmulo, ela somente tenha ganho maior clareza em finais
de 1931.[carece de fontes]
Desse modo, pela sua mediunidade
começaram a manifestar-se diversos poetas falecidos, somente identificados a
partir de 1931. Em 1928, começou a publicar as suas primeiras mensagens
psicografadas nos periódicos O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de
Notícias, de Portugal.[11]
As primeiras obras
Em 1931, em Pedro Leopoldo,
iniciou a psicografia da obra Parnaso de Além-Túmulo. Esse ano, que marca a
"maioridade" do médium, é o ano do encontro com seu mentor espiritual
Emmanuel, "...à sombra de uma árvore, na beira de uma represa..."
(SOUTO MAIOR, 1995:31). O mentor informa-o sobre a sua missão de psicografar
uma série de trinta livros e explica-lhe que para isso são lhe exigidas três
condições: "disciplina, disciplina e disciplina".[carece de fontes]
Severo e exigente, o mentor
instruiu-o a manter-se fiel a Jesus e a Kardec, mesmo na eventualidade de
conflito com a sua orientação. Mais tarde, o médium conheceu que Emmanuel havia
sido o senador romano Publius Lentulus, posteriormente renascido como escravo e
simpatizante do cristianismo e que, em reencarnação posterior, teria sido o
padre jesuíta Manuel da Nóbrega, ligado à evangelização do Brasil.[carece de
fontes]
Em 1932, foi publicado o Parnaso
de Além-Túmulo pela Federação Espírita Brasileira (FEB). A obra, coletânea de
poesias ditadas por espíritos de poetas brasileiros e portugueses, obteve
grande repercussão junto à imprensa e à opinião pública brasileira e causou
espécie entre os literatos brasileiros, que em geral se impressionaram
positivamente com o livro. O impacto era aumentado ao se saber que a obra tinha
sido escrita por um "modesto escriturário" de armazém do interior de
Minas Gerais, que mal completara o primário.[25] Conta-se que o espírito de sua
mãe aconselhou-o a não responder aos críticos.[carece de fontes]
Os direitos autorais das suas
obras são concedidos a instituições de caridade. Nesse período inicia a sua
relação com Manuel Quintão e Wantuil de Freitas. Ainda nesse período, descobriu
ser portador de uma catarata ocular, problema que o acompanhou pelo resto da
vida. Os espíritos seus mentores, Emmanuel e Bezerra de Menezes, orientam-no
para tratar-se com os recursos da medicina humana e não contar com quaisquer
privilégios dos espíritos.[carece de fontes]
Continuou com o seu emprego de
escrevente-datilógrafo na Fazenda Modelo da Inspetoria Regional do Serviço de
Fomento da Produção Animal, iniciado em 1935 e a exercer as suas funções no
Centro Espírita Luiz Gonzaga, atendendo aos necessitados com receitas,
conselhos e psicografando as obras do Além. O administrador da fazenda era o
engenheiro agrônomo Rômulo Joviano, também espírita, que além de conseguir o
emprego para Chico, o ajudava a ter a paz necessária para os trabalhos de
psicografia, além de acompanhar as sessões do Centro Luiz Gonzaga, do qual se
tornaria presidente. Foi justamente no período em que psicografava nos porões
da casa de Joviano que foi escrita uma de suas maiores obras, intitulada Paulo
e Estevão.[26]
Paralelamente, iniciou uma longa
série de recusas de presentes e distinções, que perdurará por toda a vida, como
por exemplo a de Fred Figner, que lhe legou vultosa soma em testamento,
repassada pelo médium à FEB para uso caritativo.[carece de fontes]
Com a notoriedade, prosseguiram
as críticas de pessoas que tentavam desacreditá-lo. Além dessas pessoas, Chico
Xavier ainda dizia que inimigos espirituais buscavam atingi-lo com fluidos
negativos e tentações. Souto Maior relata uma tentativa de "linchamento
pelos espíritos", bem como um episódio em que jovens nuas tentam o médium
em sua banheira. Observe-se que ambos os episódios contêm aspectos narrativos
comuns à chamada "prova", comum em histórias de santidade.[carece de
fontes]
“Ah... Mas quem sou eu senão uma
formiguinha, das menores, que anda pela Terra cumprindo sua obrigação. ”
O caso Humberto de Campos
No decorrer da década de 1930,
destacaram-se ainda a publicação dos romances atribuídos a Emmanuel e da obra
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, atribuída ao espírito de
Humberto de Campos, onde a história do Brasil é interpretada por uma ótica
espiritual e teológica. Essa última obra trouxe como consequência uma ação
judicial movida pela viúva do escritor, que pleiteou por essa via direitos
autorais pelas obras psicografadas, caso se confirmasse a autoria do famoso
escritor maranhense.[carece de fontes]
A defesa do médium foi suportada
pela FEB e resultou, posteriormente, no clássico A Psicografia Perante os
Tribunais, do advogado Miguel Timponi. Em sua sentença, o juiz decidiu que os
direitos autorais referiam-se à obra reconhecida em vida do autor, não havendo
condição de o tribunal se pronunciar sobre a existência ou não da mediunidade.
Ainda assim, para evitar possíveis futuras polêmicas, o nome do escritor
falecido foi substituído pelo pseudônimo Irmão X.[28][29]
Nessa época, Francisco ingressou
no serviço público federal, como auxiliar de serviço no Ministério da
Agricultura. Vale salientar que, em toda a sua carreira como funcionário
público, não existe registro de qualquer falta ao serviço.[carece de fontes]
Nosso Lar
Ver artigo principal: Nosso Lar
Ver artigo principal: Nosso Lar
(filme)
Em 1943, vem a público um dos
livros mais populares da literatura espírita, o romance Nosso Lar, o mais
vendido e divulgado da extensa obra do médium, que no ano de 2010 se tornou um
filme e já havia vendido mais de dois milhões de exemplares.[30] Esse é o
primeiro de uma série de livros cuja autoria é atribuída ao espírito André
Luiz.[carece de fontes]
Nesse período, a celebridade de
Chico Xavier é crescente e cada vez mais pessoas o procuram em busca de curas e
mensagens, transformando a pequena cidade de Pedro Leopoldo em um centro
informal de peregrinação. Tendo morrido na miséria o seu antigo patrão, José
Felizardo, o médium empenha-se em arranjar-lhe um sepultamento digno, pedindo
doações de casa em casa para esse fim. De acordo com o seu biógrafo Ubiratan
Machado, "...até mesmo um mendigo cego doou-lhe toda a féria do dia".
(MACHADO, 1996:53).[carece de fontes]
O caso David Nasser e Jean Manzon
Em 1944 os repórteres David
Nasser e Jean Manzon fizeram uma reportagem não muito simpática sobre o médium,
a qual foi publicada em "O Cruzeiro"[31]. Os repórteres se fingiram
de estrangeiros e usaram nomes falsos para testarem se Chico era um farsante;
porém, quando Nasser e Manzon chegaram em casa após a reportagem, tiveram uma
surpresa, como relatou Nasser numa entrevista à TV Cultura em 1980: “De
Madrugada, o Manzon me telefonou e disse: ‘você já viu o livro que o Chico
Xavier nos deu?’. Falei que não. ‘Então veja’, ele falou. Fui na minha
biblioteca, peguei o livro e estava escrito exatamente isso: ‘ao meu irmão
David Nasser, de Emmanuel’. Ao Manzon ele havia feito uma dedicatória
semelhante. Por coisas assim é que eu tenho muito medo de me envolver em
assuntos de Espiritismo”.[32]
O caso Amauri Pena
Ver artigo principal: Amauri Pena
Em 1958, o médium viu-se no
centro de uma nova polêmica, desta vez por conta das denúncias de um sobrinho,
Amauri Pena, filho da irmã curada de obsessão. O sobrinho, ele mesmo médium
psicógrafo, anunciou-se pela imprensa como falso médium, um imitador muito
capaz, acusação que estendeu ao tio. Chico Xavier defendeu-se, negando ter
qualquer proximidade com o sobrinho. Já com antecedentes de alcoolismo e com
sérios remorsos pelos danos causados à reputação do tio, Amauri retirou a
acusação e foi internado num sanatório psiquiátrico em São Paulo, onde veio a
falecer.[33]
Década de 1960 e a parceria com o
médium Waldo Vieira
Em 1955, Chico Xavier conheceu
pessoalmente o médium e então estudante de Medicina Waldo Vieira, o que
resultou em uma parceria espírita — que durou até 1966 — na qual psicografaram
17 livros em comum.[34] Em 1959, Chico estabeleceu residência em Uberaba (onde
viveu até a falecer) e junto a Waldo fundou na cidade o centro espírita
"Comunhão Espírita Cristã". Continuou a psicografar inúmeras obras,
passando a abordar os temas que marcam a década de 1960, como o sexo, as
drogas, a questão da juventude, a tecnologia, as viagens espaciais e outros.
Uberaba, por sua vez, tornou-se centro de peregrinação informal, com caravanas
a chegar diariamente, de pessoas com esperança de um contato com parentes
falecidos. Nesse período, popularizam-se os livros de "mensagens":
cartas ditadas a familiares por espíritos de pessoas comuns. Prosseguem também
as campanhas de distribuição gratuita de alimentos e roupas para os
pobres.[carece de fontes]
Em 1963, Chico Xavier se
aposentou por incapacidade laborativa, na função de datilógrafo subordinado ao
Ministério da Agricultura, devido a complexos problemas oculares.[carece de
fontes]
Em 22 de maio de 1965,[35] Chico
Xavier e Waldo Vieira viajaram para Washington, Estados Unidos, a fim de
divulgar o espiritismo no exterior. Com a ajuda de Salim Salomão Haddad,
presidente do centro Christian Spirit Center, e sua esposa Phillis, estudaram
inglês e lançaram o livro Ideal Espírita, com o nome de The World of The
Spirits.[carece de fontes]
No natal de 1965 Chico e Waldo
promoveram uma distribuição de alimentos e roupas para mais de onze mil pessoas
que formaram uma fila na porta do Comunhão Espírita Cristã.[36] Em 1966 Waldo
se desligou do centro e se tornou dissidente do Espiritismo para posteriormente
fundar a Conscienciologia e a Projeciologia.[carece de fontes]
Década de 1970 e entrevistas no
programa Pinga-Fogo
Ver artigo principal: Pinga-Fogo
No alvorecer da década de 1970,
Chico participou de programas de televisão que alcançaram picos de audiência.
Sua entrevista ao vivo cedida ao programa Pinga-Fogo da TV Tupi em 28 de julho
de 1971, conseguiu a maior audiência da história da TV brasileira.[12][37]
Nessa década, além da catarata e dos problemas de pulmões, passou a sofrer de
angina.
Já na edição do mesmo programa de
21 de dezembro de 1971, diante da pergunta do entrevistador sobre "o que
pensam os chamados benfeitores espirituais quanto à posição do Brasil atual,
seja no terreno político ou social", Chico Xavier respondeu que "a
posição atual do Brasil é das mais dignas e mais encorajadoras para nós",
explicando que "a nossa democracia está guardada por forças que nos
defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias ligadas à
desagregação". Esta visão demonstra que Chico Xavier se encontrava em
completo acordo com o governo e a política de então. [38]Resposta de Chico
Xavier sobre o regime militar
Em 1975 se desligou do centro
espírita "Comunhão Espírita Cristã" e fundou um novo em Uberaba,
"Casa da Prece", passando a exercer atividades neste.[carece de
fontes]
As décadas de 1980 e 1990
Em 1980 já havia duas mil
instituições de caridade fundadas, ajudadas ou mantidas graças aos direitos
autorais dos seus livros psicografados ou a campanhas beneficentes promovidas
por ele.[39] Em 1981 foi proposto para se candidatar ao Prêmio Nobel da Paz,
campanha encabeçada pelo amigo Augusto César Vanucci, então diretor da Rede
Globo, concorrendo com vultos da época, como João Paulo II, prestes a visitar o
Brasil pela primeira vez, e pelo líder sindicalista polonês Lech Walesa. Pelo
extenso trabalho social exercido pelo médium mineiro, achavam certa sua
vitória, já que Madre Teresa de Calcutá, com um trabalho menos vultoso, fora
premiada no ano anterior. Mas nenhum destes ganhou — uma instituição da ONU, de
acolhimento a refugiados internacionais, levou o Nobel naquele ano. Chico
considerou normal a decisão, e chegou mesmo a elogiar a entidade das Nações
Unidas que já deu abrigo a mais de 18 milhões de expatriados. Nesse período, a
sua fama ampliou-se no exterior, com diversas de suas obras sido vertidas em
diversas línguas, assim como ganhou adaptações para telenovelas. Ao final da
década de 1990, o médium contava com mais de quatrocentos títulos de livros
psicografados. Nesse período, estimava-se em aproximadamente cinquenta milhões
os exemplares de livros espíritas circulando no Brasil, dos quais quinze
milhões eram atribuídos a Chico Xavier e doze milhões a Kardec (SANTOS,
1997:89).[carece de fontes]
No ano de 1994, o tabloide
estadunidense National Examiner publicou uma matéria em que, no título,
declarava que "Fantasmas escritores fazem romancista milionário".[40]
A matéria foi alardeada no Brasil com destaque pela hoje extinta revista Manchete,[41]
com o título de Secretário dos Fantasmas, onde se declarava que, segundo
informava a National Examiner, o médium brasileiro ficou milionário, havendo
ganho 20 milhões de dólares como "secretário de fantasmas".[carece de
fontes]
A revista Manchete continuava:
"Segundo o jornal, ele é o primeiro a admitir que os 380 livros que lançou
são de 'ghost-writers', mas 'ghosts' mesmo, em sentido literal",
concluindo que Chico simplesmente transcreve as obras psicografadas de mais de
500 escritores e poetas mortos e enterrados.[42]
O médium não respondeu, mas a
FEB, por seu então Presidente Juvanir Borges de Souza, editora de boa parte das
obras de Chico Xavier, enviou uma carta à revista em que informava utilizar os
direitos autorais e a remuneração pelas obras de Francisco Cândido Xavier para
uso da caridade, o mesmo se passando com outras editoras, ressaltando que
"os direitos autorais são cedidos gratuitamente, visando a tornar o livro
espírita bastante acessível e a contribuir, destarte, para a difusão da Doutrina
Espírita".[42]
O mesmo Presidente da FEB, em 4
de outubro daquele ano, por ocasião do I Congresso Espírita Mundial, apresentou
uma "moção de reconhecimento e de agradecimento ao médium Francisco
Cândido Xavier", aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, em
proposta apresentada pelo Presidente da Federação Espírita do Estado de
Sergipe. No documento, as entidades representativas do espiritismo no Brasil
devotavam a sua gratidão e respeito ao médium "pelos intensos trabalhos
por ele desenvolvidos e pela vida de exemplo, voltados ao estudo, à difusão e à
prática do espiritismo, à orientação, ao atendimento e à assistência espiritual
e material aos seus semelhantes".[43]
“Quem é perseguido, muitas vezes
ainda consegue ir adiante, principalmente se estiver sendo perseguido de
maneira injusta, mas quem persegue não sai do lugar. ”
Falecimento
O médium morreu aos 92 anos de
idade, em decorrência de parada cardiorrespiratória, no dia 30 de junho do ano
de 2002.[44] Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Chico dizia que
iria "desencarnar" em um dia em que os brasileiros estivessem muito
felizes e em que o país estivesse em festa, para assim o desencarne dele não
causar tristeza.[12][45][46][47] O país festejava a conquista da Copa do Mundo
de futebol daquele ano, no dia de seu falecimento (Chico morreu cerca de nove
horas depois da partida Brasil x Alemanha).[48]
O então presidente do Brasil,
Fernando Henrique Cardoso, emitiu nota sobre a morte do médium: "Grande
líder espiritual e figura querida e admirada pelo Brasil inteiro, Chico Xavier
deixou sua marca no coração de todos os brasileiros, que ao longo de décadas
aprenderam a respeitar seu permanente compromisso com o bem estar do
próximo".[49] O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, decretou
luto oficial de três dias no Estado e declarou: "Chico Xavier expressava
em sua face uma imensa bondade, reflexo de sua alma iluminada, que
transparecia, particularmente, em sua dedicação aos pobres, imagem que vou
guardar para sempre, com muito carinho".[50]
Segundo a Polícia Militar de
Minas Gerais, 120 000 pessoas compareceram ao velório do médium, que aconteceu
em Uberaba nos dias 1 e 2 de julho. Em um caminhão do Corpo de Bombeiros, o
caixão com o corpo do médium percorreu 5 km até chegar ao Cemitério São João
Batista (também em Uberaba) e mais de 30 mil pessoas acompanharam o cortejo a
pé. Quando o caixão chegou ao cemitério, foi recebido com uma chuva de pétalas
de 3 mil rosas lançadas em profusão de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.[51]
Os centros espíritas fundados por
Chico Xavier, "Casa da Prece" e "Comunhão Espírita Cristã"
em Uberaba e "Centro Espírita Luiz Gonzaga" em Pedro Leopoldo,
continuam funcionando e realizando muitas assistências de caridade.[52][53]
Em 2014, o Ministério Público
Federal de Uberaba, em Minas Gerais, firmou um acordo com o filho adotivo do
médium Chico Xavier, Eurípedes Higino, que prevê a proteção e catalogação do
acervo do médium.[54]
“ Embora ninguém possa voltar
atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo
fim. ”
Homenagens e premiações
Busto do médium na Praça Chico
Xavier, em sua cidade natal, Pedro Leopoldo.
Ao longo de sua vida, Chico
Xavier recebeu o título de cidadão honorário de mais de cem cidades
brasileiras,[55] inclusive as principais.[56]
Foi homenageado em filmes e
documentários como Chico Xavier - O Filme, As Mães de Chico Xavier e 100 Anos
Com Chico Xavier - Gratidão e Homenagem.
Cantores como Roberto Carlos,
Gilberto Gil, Fábio Júnior, Moacir Franco, Nando Cordel e Vanusa compuseram
músicas em sua homenagem.[57]
Em 1981 e 1982 Chico Xavier foi
indicado ao prêmio Prêmio Nobel da Paz, tendo havido uma mobilização de cerca
de dois milhões de pessoas que deram suas assinaturas em todo Brasil e em
organizações de 29 países pedindo o Nobel da Paz para ele.[19][58]
Em 1999, o Governo de Minas
Gerais instituiu a "Comenda da Paz Chico Xavier", condecoração que é
outorgada anualmente a pessoas físicas ou jurídicas que trabalham pela paz e
pelo bem estar social.[21][59]
Em 2000, Chico Xavier foi eleito
o "Mineiro do século XX", seguido por Santos Dumont e Juscelino
Kubitschek, em um concurso popular realizado pela Rede Globo Minas, tendo
vencido com 704.030 votos.[15]
Após Chico Xavier falecer, a casa
onde ele morou entre 1948 e 1959 e a casa em que ele morou entre 1959 e 2002
foram transformadas em museus sem fins lucrativos em referência a sua vida e
obra; e o interior da Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo, local onde ele
trabalhou como datilógrafo entre 1930 e o final dos anos 50, também foi
transformado em um memorial em sua homenagem.[60][61][62]
Em 2006, em uma votação popular
promovida pela Revista Época, ele foi eleito o "O Maior Brasileiro da
História".[63]
Em 2009, a Lei nº 12.065 deu o
nome “Chico Xavier” ao trecho da rodovia BR 050, entre a divisa dos Estados de
São Paulo e Minas Gerais e a divisa dos municípios de Uberaba com
Uberlândia[21][64]
Em 2010, o Correio Brasileiro
lançou o selo e o cartão postal comemorativo em homenagem ao centenário do
médium.[65] No mesmo ano, a Casa da Moeda do Brasil lançou a "Medalha
Comemorativa do Centenário de Chico Xavier".[66]
O centenário do médium também foi
comemorado em uma sessão solene pela Câmara dos Deputados do Brasil, à época
presidida por Michel Temer.[17]
Em Outubro de 2012, no programa O
Maior Brasileiro de Todos os Tempos, transmitido pelo SBT, Chico foi eleito,
por voto popular, como "O Maior Brasileiro de Todos os Tempos". Na
semifinal do programa, disputou com Ayrton Senna, venceu com 63,8% dos votos.
Na final do programa, Chico disputou com Santos Dumont e Princesa Isabel,
vencendo com 71,4% dos votos.[67]
Atualmente o Instituto Chico
Xavier e a Prefeitura de Uberaba estão construindo um memorial em homenagem a
ele na cidade.[68]
Filme biográfico
Em 2 de abril de 2010, data em
que Chico Xavier completaria 100 anos, estreou Chico Xavier - O Filme,[69]
baseado na biografia As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto
Maior. Dirigido e produzido pelo cineasta Daniel Filho, Chico Xavier é
retratado pelos atores Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier,
respectivamente, em três fases de sua vida: de 1918 a 1922, 1931 a 1959 e 1969
a 1975. O filme alcançou a marca de mais de 3,5 milhões de espectadores nos
cinemas.[70]
Psicografias
Alegoria que representa, segundo
a ótica espírita, o médium Chico Xavier psicografando uma mensagem do seu
espírito-guia Emmanuel.
Chico Xavier foi altamente
prolífico, tendo psicografado mais de 450 livros. Nunca admitiu ser o autor de
alguma dessas obras; apenas reproduziria o que os espíritos lhe ditavam.[16]
Por esse motivo, não aceitava o dinheiro arrecadado com a venda de seus livros,
tendo sempre cedido os direitos autorais para instituições de caridade.[2]
Vendeu mais de cinquenta milhões de exemplares em português, com traduções em
inglês, espanhol, japonês, esperanto, francês, alemão, italiano, russo,
mandarim, romeno, sueco, grego, húngaro, braile, etc. Psicografou cerca de dez
mil cartas "de mortos para suas famílias", nunca tendo cobrado por
isso. As cartas eram tidas como psicografias autênticas pelos familiares e
algumas chegaram a ser aceitas como provas em casos de julgamentos
jurídicos.[71][72]
Suas obras são publicadas pelo
Centro Espírita União, Casa Editora O Clarim, Edicel, Federação Espírita
Brasileira, Federação Espírita do Estado de São Paulo, Federação Espírita do
Rio Grande do Sul, Fundação Marieta Gaio, Grupo Espírita Emmanuel s/c Editora,
Comunhão Espírita Cristã, Instituto de Difusão Espírita, Instituto de
Divulgação Espírita André Luiz, Livraria Allan Kardec Editora, Editora
Pensamento, Editora Vinha de Luz, Edicei e União Espírita Mineira. Mesmo só
tendo estudado até a quarta série do ensino fundamental, ele escrevia em torno
de seis livros por ano, dentre eles livros de romances, contos, filosofia,
ensaios, apólogos, crônicas, poesias etc. É o escritor mais lido da América
Latina (nota: ano de 2010).[carece de fontes]
Seu primeiro livro, Parnaso de
Além-Túmulo, com 256 poemas atribuídos a poetas mortos, dentre eles os
portugueses João de Deus, Antero de Quental e Guerra Junqueiro e os brasileiros
Olavo Bilac, Castro Alves e Augusto dos Anjos, foi publicado pela primeira vez
em 1932.[16] O livro logo se tornou uma grande sensação no país.[25] O de maior
tiragem foi Nosso Lar, publicado em 1944, atualmente com mais de dois milhões
de cópias vendidas,[30] atribuído ao espírito André Luiz, sendo o primeiro
volume da "Coleção A Vida no Mundo Espiritual"[73] que é composta por
13 livros, todos psicografados por Chico Xavier, três deles em parceria com o
médium Waldo Vieira.
Também são marcantes os livros
psicografados atribuídos pelo médium ao espírito do escritor Humberto de
Campos. Tais psicografias foram o objeto de estudo do pesquisador Alexandre
Caroli Rocha em uma notória tese de Doutorado em Teoria e História Literária
pela Unicamp, em que concluiu que o autor dos livros psicográficos possuía um
amplo conhecimento das obras de Campos e foi capaz de reproduzir o seu estilo e
caráter.[25][74]
Uma de suas psicografias mais
famosas, e que teve repercussão mundial, foi a do caso de Goiânia em que José
Divino Nunes, acusado de matar o melhor amigo, Maurício Henriques, foi
inocentado pelo juiz, que aceitou como prova válida (entre outras que também
foram apresentadas pela defesa) um depoimento da própria vítima, já falecida,
através de texto psicografado por Chico Xavier. O caso aconteceu em outubro de
1979, na cidade de Goiânia, Goiás. Assim, o presumido espírito de Maurício teria
inocentado o amigo dizendo que tudo não teria passado de um
acidente.[75][76][77] Depoimentos psicografados por Chico Xavier também foram
aceitos como provas judiciais em outros três casos de julgamento de homicídio
internacionalmente repercutidos.[76][77]
O pesquisador da Universidade
Estadual de Londrina Carlos Augusto Perandréa, pós-graduado em criminologia,
durante cerca de 14 anos estudou cientificamente 400 cartas psicografadas por
Chico Xavier em transes mediúnicos, utilizando as mesmas técnicas com que
avalia assinatura para bancos, polícias e o Poder Judiciário, a grafoscopia.
Perandréa comparou a letra (padrão) dos indivíduos antes da morte e depois nas
cartas psicografadas, chegando à conclusão de que todas as psicografias possuem
autenticidade gráfica dos referidos mortos.[78][79][80] Em 1991, o pesquisador
publicou o resultado desse estudo em seu livro chamado "A Psicografia á
Luz da Grafoscopia". O estudo também foi publicado na Revista Científica
da Universidade de Londrina, a Revista Semina, em 1990, e igualmente
apresentado, em outra oportunidade, em um Congresso Nacional, diante de mais de
500 profissionais e peritos da área, sem uma única contestação.[78][80][81]
A Associação Médico-Espírita de
São Paulo fez um estudo de 45 cartas psicografadas por Chico Xavier, o que
gerou o livro "A Vida Triunfa" de 1990. A partir de dados colhidos
por um questionário padrão feito aos destinatários das cartas, a AME-SP chegou
a várias constatações, por exemplo: 100% das famílias declararam 100% de acerto
nos dados informados pelas cartas; 68,9% das cartas citam de um a três parentes
e/ou amigos falecidos desconhecidos por Chico; 35,6% definiram as assinaturas
psicografadas pelo médium como idênticas às dos autores espirituais. Como
conclusão do estudo, os autores alegaram que "As evidências da
sobrevivência do espírito são muito fortes. A vida é uma fatalidade, segundo o
depoimento desses 45 companheiros que se expuseram, por inteiro, revelando as
nuances de suas personalidades através das mãos humildes do
medianeiro".[82]
Durante transes psicográficos,
eletroencefalogramas do médium mostraram características comuns da epilepsia,
mas clinicamente Chico Xavier nunca foi epiléptico.[83][fonte confiável?]
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Este processo, que se celebrizou
pela sua originalidade, foi movido no sentido de obter uma declaração, por sentença,
acerca de se daquela obra mediúnica "era ou não do 'Espírito' de Humberto
de Campos", e, em caso afirmativo, que se aplicassem as sanções previstas
em Lei. O assunto causou muita polêmica, tendo ocupado espaço nos principais
periódicos do país à época. Em 23 de agosto de 1944, por sentença do Dr. João
Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do
antigo Distrito Federal, a ação foi julgada improcedente. O recurso, impetrado
no Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal, manteve a sentença
original, tendo sido relator o ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa.
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Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Xavier
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