Com o objetivo de renovar o interesse pela leitura e pelo estudo da obra de Karl Marx e Friedrich Engels, a Boitempo Editorial, em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e Centro de Pesquisas 28 de Agosto, promoveu a terceira edição do Curso Livre Marx e Engels.
Trechos:
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“Que era o Comunismo, no momento em que
Marx redige o Manifesto Comunista? O Comunismo já existia na Europa, não foi
criado por Marx e Engels, de modo que, tanto o Comunismo quanto o Manifesto
Comunista foram produto de determinadas circunstâncias. Para tanto, as teorias
que surgiram após a atuação de Marx foi o Marxismo, criado da convergência de
fatores históricos vivenciados por Marx. Marx não teria escrito o Manifesto do
Partido Comunista (1848) se o Comunismo não fosse uma doutrina já existente. O
Comunismo já era um movimento bastante desenvolvido bem antes de Marx se
aproximar dele, por isso a primeira frase é ‘um fantasma percorre a Europa, o fantasma do Comunismo’. Marx não
estava inventando, pois já existia, esse ‘fantasma’ já tinha uma realidade. O
que Marx fez com o Comunismo foi dar ao ‘fantasma’, que era, na verdade, um
movimento social, político, um programa político, um sentido, um objetivo histórico
e uma orientação política. O Comunismo era uma maneira de designar um conjunto,
eu não diria de teorias, mas de doutrinas e, sobretudo, de intenções expressas
por grupos de operários e algum ou outro intelectual, mais raramente, que se
propunha a submeter revolucionariamente a ordem de coisas existentes. O
Comunismo era oriundo das camadas mais baixas da sociedade que chamava,
genericamente, Comunismo a uma ordem de coisas em que não houvesse a exploração
do homem pelo homem, embora, nas suas formulações não deixasse claro como,
através de que vias e porque métodos se poderia chegar a essa tal ordem que
era, genericamente denominada de Comunismo e que se baseava na comunidade dos
bens, isto é, abolição da propriedade privada. O Comunismo propunha uma
superação da ordem existente, eliminar a propriedade privada e declarar os
bens, os meios de produção da riqueza social, propriedade comum de toda a sociedade,
desta maneira, eliminando a exploração. Em 1848, surge um fator que gerou a
necessidade de elaboração de um manifesto, pois dentro dos grupos operários e
das camadas oprimidas da sociedade que se propunham, genericamente, a chegar a
esta ordem de coisas, se viu a necessidade de tornar explícito, para além das
declarações de intenções, um programa histórico e político que tornasse o
Comunismo, não apenas uma palavra, ou como dizia Marx, ‘um fantasma’, mas um
programa político real. O primeiro fator que vai convergir é a evolução da classe
operária em direção da necessidade de formular um objetivo histórico, ou seja,
de passar do estágio de organizar conspirações, insurreições, revoltas, etc.,
para um estágio de expor, publicamente, seus objetivos históricos. O Manifesto
Comunista é oriundo da classe operária. O segundo elemento que levou a
elaboração do Manifesto Comunista é oriundo da burguesia e da intelectualidade,
ou seja, a crise da inteligência ou da intelectualidade, burguesa e pequeno
burguesa, que leva muitos dos seus representantes a se aproximar do movimento
da classe operária.
Também
existia a palavra Socialismo,
posteriormente, depois da análise do programa de Gotha, vai se falar em duas
faces, o Comunismo e o Socialismo, mas, naquele momento, não se pensava numa
primeira fase, com uma sociedade Socialista e depois uma segunda fase, uma
sociedade Comunista. Eram duas doutrinas diferenciadas. Socialismo até 1848
designava algo bastante diverso do Comunismo. Em geral, eram designados
socialistas todas aquelas pessoas que tinham algum tipo de preocupação social
ou que propunham planos de reforma social para que a miséria extrema que a
Revolução Industrial tinha provocado na Inglaterra e que começava a provocar em
todos os países da Europa continental ou naqueles nos quais a Revolução
Industrial começava a se desenvolver, enfim, planos de reforma social ou
posicionamentos políticos em favor de uma sensibilidade social maior por parte
das autoridades. Todas as pessoas que partilhavam esses posicionamentos políticos
eram denominadas socialistas. Poderíamos dizer que o Socialismo era uma
doutrina oriunda das camadas sensíveis ou bondosas da burguesia e,
eventualmente, da pequena burguesia. Se propunha a reformar a ordem de coisas
existentes, tornando-a mais suave, fazendo algumas leis que melhorassem a
situação dos operários, dos camponeses pobres, dos pobres da sociedade. O
Socialismo era a manutenção da propriedade privada dos bens, ou seja, a
manutenção da propriedade privada, com leis sociais que mitigassem os extremos
de pobreza, de miséria, de opressão que essa ordem produzia. Em 1848 já havia
diversos manifestos socialistas e surge o primeiro manifesto comunista. Por
isso, anteriormente ao Manifesto Comunista, Engels se refere ao Socialismo,
pejorativamente, como uma tentativa de renovar uma ordem de coisas que está
podre na sua própria base.”
“A Liga dos
Justos, após a publicação do Manifesto do Partido Comunista, tornou-se o
Partido dos Comunistas. Marx e Engels tentaram que a Liga dos Comunistas tivesse
um papel na Revolução de 1848, um papel que foi bastante restrito. Marx na Revolução
de 1848 se deslocou, novamente, para a Alemanha e tomou a direção de um jornal
democrático, a Nova Gazeta do Reno, a qual tentou transformá-la em um jornal da
Revolução. Mas não proclamando ‘este é um jornal comunista que tem a verdade
revelada’. [...] Em um jornal democrático, lutavam para que a Revolução fosse
até a última de suas consequências. Marx continuava a ser da Liga dos
Comunistas, sendo redator e chefe de um jornal democrático. A Alemanha
precisava de uma Revolução Democrática, e ia ser uma Revolução democrática pois
se tratava da constituição da nação alemã, que ainda não existia, e da derrubada
da monarquia, ou melhor, das monarquias alemãs, dos principados. Esta era a
primeira tarefa, a principal, e o proletariado devia estar na cabeça dessa
tarefa. Os comunistas olham com atenção para o que está acontecendo na Alemanha,
pois está para acontecer uma revolução democrática, ou seja, o fim do regime absolutista
e a unificação nacional. Mas essa revolução democrática na Alemanha vai
acontecer em condições totalmente diversas a da Revolução Francesa de 1789, Marx
sobressalta uma das diferenças, a existência do proletariado. Contudo, a Revolução
Democrática de 1848 na Alemanha fracassou e a Nova Gazeta do Reno fracassou, na
última edição, Marx publicou o último em vermelho, acusando a burguesia alemã
de não ter feito uma revolução democrática. Marx diz que o próximo passo só
pode ser feito pelo proletariado. [...]
A unificação
alemã acabou se dando por outros métodos, não revolucionários, mas militares.
Pela hegemonia da Prússia, não pela unificação democrática dos principados
alemães, mas pela hegemonia militarista da Prússia que, como se dizia na época,
não era um Estado que possuía um exército, mas um exército que possuía um
Estado. O que determinou que a unificação alemã se constituísse sobre uma base
antidemocrática, monárquica, autoritária, tensão que correria por toda a sua
história e desembocaria no Nazismo, derrotado na II Guerra Mundial.”
“O
proletariado teve a capacidade que Marx queria lhe dar através da Liga dos
Comunistas, para que diante da tentativa da pequena burguesia de levar adiante a
revolução democrática de modo inconsequente, o proletariado a substituísse na
tarefa. Mas não teve pois a da Liga dos Comunistas se transformou em 1850 numa seita,
em que Marx e Engels foram postos em minoria e onde impuseram sua maioria, alguns
dirigentes operários da Liga que pretendiam transformá-la numa espécie de organização
conspirativa, digamos assim, prototerrorista, numa seita. E Marx e Engels
falaram que isso não ia para lugar nenhum, pela primeira vez, deram um certificado
de função para seitas. A segunda foi com a I Internacional, que nasceu em 1864,
se estendeu pela Europa, teve um papel importante na Comuna de Paris (1871),
muito mais que o da Liga dos Comunistas em 1848, mas a Comuna de Paris também
fracassou, foi derrotada. No ano seguinte à I Internacional, em virtude dessa
derrota e da reação que aconteceu em toda a Europa, também tendeu a se
transformar numa seita. Onde tendeu a impor a hegemonia uma corrente adversária
de partido internacional encabeçada por Mikhail Bakunin, considerado o pai do
Anarquismo. Até que, finalmente, Marx e Engels propuseram deslocamento da direção
da Internacional para Nova York e, finalmente, a sua dissolução, porque tinha
se transformado numa seita onde intelectuais brigavam em nome dos princípios
puramente verbais e sem nenhum vínculo com o movimento real, daí dissolveram a
I Internacional ou Associação Internacional dos Trabalhadores, que, na época
ninguém chamava de primeira por não saberem que ia ter uma segunda e depois uma
terceira. E, já falecido Marx, em 1889 se criou a Internacional Socialista,
depois chamada de Segunda Internacional, mas com uma delimitação clara. Cuidado!
Uma condição de que os partidos façam luta política e isto implica, inclusive,
luta eleitoral, os anarquistas eram totalmente contrários a isto. Assim, as
delimitações do partido foram se modificando através da História.”
(Osvaldo
Coggiola. Curso Livre Marx e Engels - "Manifesto Comunista" e
"Crítica do Programa de Gotha" | Aula 2)
Ocorrido entre os dias 18 de agosto e 22 de setembro de 2012, o curso contou com aulas abertas e gratuitas sobre 15 obras dos filósofos, cada uma delas ministrada por um importante intelectual marxista brasileiro:
- A ideologia alemã, por Emir Sader
- Manifesto Comunista e Crítica do Programa de Gotha, por Osvaldo Coggiola
- Sobre a questão judaica e Sobre o suicídio, por Arlene Clemesha
- Crítica da filosofia do direito de Hegel e O socialismo jurídico, por Alysson Mascaro
- A sagrada família, por Antonio Rago Filho
- Grundrisse, por Mario Duayer
- A guerra civil na França e O 18 de brumário de Luís Bonaparte, por Antonnio Carlos Mazzeo
- A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, por Paulo Barsotti
- Manuscritos econômico-filosóficos, por Ruy Braga
- Lutas de classes na Alemanha e Lutas de classes na França, por Michael Löwy
***
Sobre "Manifesto Comunista", de Karl Marx e Friedrich Engels
Saiba mais sobre o livro: http://goo.gl/hV8fj
Confira o ebook: http://goo.gl/ot5Fo
Sobre "Crítica do Programa de Gotha", de Karl Marx
Saiba mais sobre o livro: http://goo.gl/EZhyE
Confira o ebook: http://goo.gl/A9hjp
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