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domingo, 20 de setembro de 2015

"Manifesto Comunista" e "Crítica do Programa de Gotha" (Osvaldo Coggiola)


Com o objetivo de renovar o interesse pela leitura e pelo estudo da obra de Karl Marx e Friedrich Engels, a Boitempo Editorial, em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e Centro de Pesquisas 28 de Agosto, promoveu a terceira edição do Curso Livre Marx e Engels.
Trechos:
“Que era o Comunismo, no momento em que Marx redige o Manifesto Comunista? O Comunismo já existia na Europa, não foi criado por Marx e Engels, de modo que, tanto o Comunismo quanto o Manifesto Comunista foram produto de determinadas circunstâncias. Para tanto, as teorias que surgiram após a atuação de Marx foi o Marxismo, criado da convergência de fatores históricos vivenciados por Marx. Marx não teria escrito o Manifesto do Partido Comunista (1848) se o Comunismo não fosse uma doutrina já existente. O Comunismo já era um movimento bastante desenvolvido bem antes de Marx se aproximar dele, por isso a primeira frase é ‘um fantasma percorre a Europa, o fantasma do Comunismo’. Marx não estava inventando, pois já existia, esse ‘fantasma’ já tinha uma realidade. O que Marx fez com o Comunismo foi dar ao ‘fantasma’, que era, na verdade, um movimento social, político, um programa político, um sentido, um objetivo histórico e uma orientação política. O Comunismo era uma maneira de designar um conjunto, eu não diria de teorias, mas de doutrinas e, sobretudo, de intenções expressas por grupos de operários e algum ou outro intelectual, mais raramente, que se propunha a submeter revolucionariamente a ordem de coisas existentes. O Comunismo era oriundo das camadas mais baixas da sociedade que chamava, genericamente, Comunismo a uma ordem de coisas em que não houvesse a exploração do homem pelo homem, embora, nas suas formulações não deixasse claro como, através de que vias e porque métodos se poderia chegar a essa tal ordem que era, genericamente denominada de Comunismo e que se baseava na comunidade dos bens, isto é, abolição da propriedade privada. O Comunismo propunha uma superação da ordem existente, eliminar a propriedade privada e declarar os bens, os meios de produção da riqueza social, propriedade comum de toda a sociedade, desta maneira, eliminando a exploração. Em 1848, surge um fator que gerou a necessidade de elaboração de um manifesto, pois dentro dos grupos operários e das camadas oprimidas da sociedade que se propunham, genericamente, a chegar a esta ordem de coisas, se viu a necessidade de tornar explícito, para além das declarações de intenções, um programa histórico e político que tornasse o Comunismo, não apenas uma palavra, ou como dizia Marx, ‘um fantasma’, mas um programa político real. O primeiro fator que vai convergir é a evolução da classe operária em direção da necessidade de formular um objetivo histórico, ou seja, de passar do estágio de organizar conspirações, insurreições, revoltas, etc., para um estágio de expor, publicamente, seus objetivos históricos. O Manifesto Comunista é oriundo da classe operária. O segundo elemento que levou a elaboração do Manifesto Comunista é oriundo da burguesia e da intelectualidade, ou seja, a crise da inteligência ou da intelectualidade, burguesa e pequeno burguesa, que leva muitos dos seus representantes a se aproximar do movimento da classe operária.
Também existia a palavra Socialismo, posteriormente, depois da análise do programa de Gotha, vai se falar em duas faces, o Comunismo e o Socialismo, mas, naquele momento, não se pensava numa primeira fase, com uma sociedade Socialista e depois uma segunda fase, uma sociedade Comunista. Eram duas doutrinas diferenciadas. Socialismo até 1848 designava algo bastante diverso do Comunismo. Em geral, eram designados socialistas todas aquelas pessoas que tinham algum tipo de preocupação social ou que propunham planos de reforma social para que a miséria extrema que a Revolução Industrial tinha provocado na Inglaterra e que começava a provocar em todos os países da Europa continental ou naqueles nos quais a Revolução Industrial começava a se desenvolver, enfim, planos de reforma social ou posicionamentos políticos em favor de uma sensibilidade social maior por parte das autoridades. Todas as pessoas que partilhavam esses posicionamentos políticos eram denominadas socialistas. Poderíamos dizer que o Socialismo era uma doutrina oriunda das camadas sensíveis ou bondosas da burguesia e, eventualmente, da pequena burguesia. Se propunha a reformar a ordem de coisas existentes, tornando-a mais suave, fazendo algumas leis que melhorassem a situação dos operários, dos camponeses pobres, dos pobres da sociedade. O Socialismo era a manutenção da propriedade privada dos bens, ou seja, a manutenção da propriedade privada, com leis sociais que mitigassem os extremos de pobreza, de miséria, de opressão que essa ordem produzia. Em 1848 já havia diversos manifestos socialistas e surge o primeiro manifesto comunista. Por isso, anteriormente ao Manifesto Comunista, Engels se refere ao Socialismo, pejorativamente, como uma tentativa de renovar uma ordem de coisas que está podre na sua própria base.”
“A Liga dos Justos, após a publicação do Manifesto do Partido Comunista, tornou-se o Partido dos Comunistas. Marx e Engels tentaram que a Liga dos Comunistas tivesse um papel na Revolução de 1848, um papel que foi bastante restrito. Marx na Revolução de 1848 se deslocou, novamente, para a Alemanha e tomou a direção de um jornal democrático, a Nova Gazeta do Reno, a qual tentou transformá-la em um jornal da Revolução. Mas não proclamando ‘este é um jornal comunista que tem a verdade revelada’. [...] Em um jornal democrático, lutavam para que a Revolução fosse até a última de suas consequências. Marx continuava a ser da Liga dos Comunistas, sendo redator e chefe de um jornal democrático. A Alemanha precisava de uma Revolução Democrática, e ia ser uma Revolução democrática pois se tratava da constituição da nação alemã, que ainda não existia, e da derrubada da monarquia, ou melhor, das monarquias alemãs, dos principados. Esta era a primeira tarefa, a principal, e o proletariado devia estar na cabeça dessa tarefa. Os comunistas olham com atenção para o que está acontecendo na Alemanha, pois está para acontecer uma revolução democrática, ou seja, o fim do regime absolutista e a unificação nacional. Mas essa revolução democrática na Alemanha vai acontecer em condições totalmente diversas a da Revolução Francesa de 1789, Marx sobressalta uma das diferenças, a existência do proletariado. Contudo, a Revolução Democrática de 1848 na Alemanha fracassou e a Nova Gazeta do Reno fracassou, na última edição, Marx publicou o último em vermelho, acusando a burguesia alemã de não ter feito uma revolução democrática. Marx diz que o próximo passo só pode ser feito pelo proletariado. [...]
A unificação alemã acabou se dando por outros métodos, não revolucionários, mas militares. Pela hegemonia da Prússia, não pela unificação democrática dos principados alemães, mas pela hegemonia militarista da Prússia que, como se dizia na época, não era um Estado que possuía um exército, mas um exército que possuía um Estado. O que determinou que a unificação alemã se constituísse sobre uma base antidemocrática, monárquica, autoritária, tensão que correria por toda a sua história e desembocaria no Nazismo, derrotado na II Guerra Mundial.”
“O proletariado teve a capacidade que Marx queria lhe dar através da Liga dos Comunistas, para que diante da tentativa da pequena burguesia de levar adiante a revolução democrática de modo inconsequente, o proletariado a substituísse na tarefa. Mas não teve pois a da Liga dos Comunistas se transformou em 1850 numa seita, em que Marx e Engels foram postos em minoria e onde impuseram sua maioria, alguns dirigentes operários da Liga que pretendiam transformá-la numa espécie de organização conspirativa, digamos assim, prototerrorista, numa seita. E Marx e Engels falaram que isso não ia para lugar nenhum, pela primeira vez, deram um certificado de função para seitas. A segunda foi com a I Internacional, que nasceu em 1864, se estendeu pela Europa, teve um papel importante na Comuna de Paris (1871), muito mais que o da Liga dos Comunistas em 1848, mas a Comuna de Paris também fracassou, foi derrotada. No ano seguinte à I Internacional, em virtude dessa derrota e da reação que aconteceu em toda a Europa, também tendeu a se transformar numa seita. Onde tendeu a impor a hegemonia uma corrente adversária de partido internacional encabeçada por Mikhail Bakunin, considerado o pai do Anarquismo. Até que, finalmente, Marx e Engels propuseram deslocamento da direção da Internacional para Nova York e, finalmente, a sua dissolução, porque tinha se transformado numa seita onde intelectuais brigavam em nome dos princípios puramente verbais e sem nenhum vínculo com o movimento real, daí dissolveram a I Internacional ou Associação Internacional dos Trabalhadores, que, na época ninguém chamava de primeira por não saberem que ia ter uma segunda e depois uma terceira. E, já falecido Marx, em 1889 se criou a Internacional Socialista, depois chamada de Segunda Internacional, mas com uma delimitação clara. Cuidado! Uma condição de que os partidos façam luta política e isto implica, inclusive, luta eleitoral, os anarquistas eram totalmente contrários a isto. Assim, as delimitações do partido foram se modificando através da História.”
(Osvaldo Coggiola. Curso Livre Marx e Engels - "Manifesto Comunista" e "Crítica do Programa de Gotha" | Aula 2)
Ocorrido entre os dias 18 de agosto e 22 de setembro de 2012, o curso contou com aulas abertas e gratuitas sobre 15 obras dos filósofos, cada uma delas ministrada por um importante intelectual marxista brasileiro:
- A ideologia alemã, por Emir Sader
- Manifesto Comunista e Crítica do Programa de Gotha, por Osvaldo Coggiola
- Sobre a questão judaica e Sobre o suicídio, por Arlene Clemesha
- Crítica da filosofia do direito de Hegel e O socialismo jurídico, por Alysson Mascaro
- A sagrada família, por Antonio Rago Filho
- Grundrisse, por Mario Duayer
- A guerra civil na França e O 18 de brumário de Luís Bonaparte, por Antonnio Carlos Mazzeo
- A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, por Paulo Barsotti
- Manuscritos econômico-filosóficos, por Ruy Braga
- Lutas de classes na Alemanha e Lutas de classes na França, por Michael Löwy
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Sobre "Manifesto Comunista", de Karl Marx e Friedrich Engels
Saiba mais sobre o livro: http://goo.gl/hV8fj
Confira o ebook: http://goo.gl/ot5Fo
Sobre "Crítica do Programa de Gotha", de Karl Marx
Saiba mais sobre o livro: http://goo.gl/EZhyE
Confira o ebook: http://goo.gl/A9hjp

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