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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A consciência do Cabo Anselmo

Personagem dos anos de chumbo, que mudou de lado e entregou militantes e a mulher, diz em entrevista que evitou guerra civil
por Fernando Vives — publicado 18/10/2011 11:18, última modificação 18/10/2011
Não são poucas as pessoas que dividem a democracia brasileira entre antes e depois da alcaguetagem de Cabo Anselmo. Artífice da revolta dos marinheiros nos anos que antecedem o Golpe de 1964 e cooptado pela esquerda da época, Cabo Anselmo mudou de lado no início dos anos 1970 e entregou seus ex-companheiros aos torturadores comandados pelo delegado Sergio Paranhos Fleury, do Dops.
Entre os torturados e mortos, Soledad Barrett, sua companheira, assassinada quando grávida. Com as informações do marinheiro, o regime militar deu grande impulso para dizimar toda a resistência de esquerda e governar com certa tranquilidade, até começar a cair de maduro no fim dos anos 1970.

Pois foi Cabo Anselmo o entrevistado na reestreia do programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira 17.
Entre outras coisas, Cabo Anselmo declarou que mudou de lado e entregou seus ex-companheiros porque queria “abreviar a insanidade que foi a luta armada”. Disse não se arrepender do que fez, que hoje vive sustentado por três empresários (não revelou os nomes), e que Romeu Tuma, então delegado da Polícia Federal, era muito mais importante para a ditadura que o delegado Paranhos Fleury. “Tuma e todos os generais sabiam que existia a tortura, todo mundo sabia”, afirmou.
Cabo Anselmo também disse que só colabora com a Comissão da Verdade se esta for composta por “gente da direita e da esquerda”.
Veja algumas frases do Cabo Anselmo no programa:
Traição
“Soledad (sua namorada) não acreditava quando descobriu que eu tinha mudado de lado. Existia entre nós um carinho muito grande. É uma questão que não está resolvida dentro de mim. Era uma poeta, mas que estava em uma guerra que não deveria estar”.
Esquerda, eu?
“Eu não entendia nada daqueles assuntos de esquerda, era o (Carlos) Marighella quem influenciava. Eu gostava da causa dos marinheiros, queria melhorar a vida deles, mas não entendia nada de comunismo. Eu eu era um peão naquele jogo todo.” Quando perguntado se era “tão otário assim” por um dos entrevistados, ele diz que “sim, eu tinha 22, 23 anos, era muito jovem, eu era um ingênuo no movimento dos marinheiros”.
Todos sabiam
“Romeu Tuma, (Sergio Paranhos) Fleury e todo mundo sabia que havia tortura. Todos os generais sabiam. Tuma era bem mais importante que Fleury para o governo”.
Alcaguete
“Eu entregava colegas porque achava que, com isso, eu abreviaria a insanidade que foi a luta armada. Todos tinham família, eu pensava nessas pessoas.”
Rendimento
“Vivi entre 1973 e 1984 trabalhando em uma pequena empresa. Fui apresentando ao dono dela pelo ‘doutor’ Fleury”.
Brizola e a luta armada
“(Leonel) Brizola disse textualmente que iríamos para Cuba para aprender a luta armada, mas não para aprender a política dele. Ele não era um comunista”.
Tucanou
“Se tivesse votado, teria votado em José Serra”
Comissão da Verdade
“Estou disposto a colaborar com a Comissão da Verdade desde que ela seja composta por gente de esquerda e da direita. Se houve uma anistia e eu fui expulso da Marinha, eu quero um ressarcimento pelo tempo em que estive fora da Marinha”
Medo da morte
“Tive muito medo de morrer no começo. Hoje já não. Vivo afastado das grandes cidades porque não gosto do caos delas.”
Consciência
“Não tenho consciência pesada. Queria registrar minha visão de quem contribuiu para evitar a guerra civil no Brasil”

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-consciencia-do-cabo-anselmo

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