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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Na despedida emocionada de Massami Uyeda, ministros questionam aposentadoria compulsória


O ministro Massami Uyeda, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), completará 70 anos de idade no próximo dia 28. A Constituição Federal determina que é hora de se aposentar. A norma foi muito questionada pelos ministros da Segunda Seção na reunião desta quarta-feira (14), a última de Uyeda.
 “O ministro Massami é um dos casos, ao lado dos ministros Cezar Peluso e Ayres Britto (do Supremo Tribunal Federal), para fazer repensar a aposentadoria compulsória por idade, pois são pessoas que chegam aos 70 anos em plena saúde física e mental. Não há, infelizmente, como brigar contra a Constituição Federal”, afirmou o ministro Paulo de Tarso Sanseverino.

Sanseverino foi destacado para homenagear Uyeda em nome da Seção. Disse ter conhecido o ministro quando concorria a uma vaga no STJ. “Ele me pareceu uma pessoa muito séria, muito fechada”, contou. Depois de sua posse, Sanseverino disse ter tido o privilégio de ter Uyeda como presidente na Terceira Turma e na Segunda Seção, simultaneamente, conduzindo de maneira firme e segura as sessões de julgamento.
 “Na rotina das sessões, fui descobrindo um excelente magistrado, que, com seu toque oriental, analisa meticulosamente os processos, votando com profundidade e tendo convicção de suas posições divergentes, sem nunca perder a elegância”, observou.
 “A minha maior surpresa, porém, foi no ambiente fora das sessões, em que descobri que nosso colega oriental – japonês – tem um humor bem brasileiro, gostando de contar boas histórias e boas piadas. Gosta de cantar, viajar, jogar golfe, e é uma pessoa extremamente culta e espiritualizada. Enfim, fui descobrindo uma pessoa bem diferente daquele ministro sisudo que conhecera há cerca de três anos”, completou Sanseverino.
Ministério Público e advocacia
O subprocurador da República Pedro Henrique Távora Niess, representante do Ministério Público Federal na sessão, não teve a mesma impressão inicial que Sanseverino. “A impressão que tive nunca foi a de um ministro sisudo”, disse. Lembrou-se de um agradável e descontraído encontro num aeroporto e destacou que, além de jogar golfe, Uyeda também é motociclista. “Claro que a moto é Honda”, brincou. Ele concluiu agradecendo a atuação jurisdicional do ministro: “Todos os seus votos foram para mim lições de vida e de direito.”
Niess também questionou a aposentadoria compulsória. “É preciso repensar essa questão da aposentadoria por idade. É possível ser papa, presidente da República, há um governador que tem 86 anos, mas um ministro, plenamente capaz, não pode continuar trazendo os seus conhecimentos para realização da Justiça, tendo que se aposentar porque chegou aos 70 anos, como se isso fosse castigo”, ponderou.
Em nome dos advogados, Noeli Andrade Moreira ocupou a tribuna para agradecer todos os ensinamentos de Uyeda e a atenção que dispensou à classe: “Sempre nos atendeu com bom humor, com toda gentileza, sempre muito atento às questões processuais, do direito e da Justiça.”
Emoção
O ministro Luis Felipe Salomão, que presidiu os trabalhos, avisou logo no início que seria uma sessão emotiva. E foi. Embora a praxe estabeleça a escolha de um ministro para falar em nome dos colegas, todos fizeram questão de prestar sua homenagem pessoal.
Massami Uyeda agradeceu primeiramente a Deus, pela oportunidade de ter sido escolhido ministro do STJ. Em seguida, agradeceu toda a dedicação e companheirismo da esposa, Emico, em “felizes 45 anos de casamento”, e o apoio e motivação dos filhos, Massami Júnior e Mariana, e dos netos.
 “Os filhos impulsionam os pais. Tenho dois filhos, com a graça de Deus. Mas tive um terceiro, o caçula.” Ao lembrar-se de Guilherme, o garoto que perdeu aos cinco anos de idade, não conseguiu conter as lágrimas. Paralisado pela emoção, recebeu o apoio do plenário lotado, com uma salva de palmas. Uyeda contou que teve forças para transformar o grande sofrimento em motivação.
 “Foi um momento de grande importância na minha vida, pois dediquei sua memória à minha judicatura, que se iniciava. Posso dizer que a perda se transformou em motivação para o bem”, desabafou.
Foram 35 anos de magistratura. Juiz, desembargador e ministro do STJ. “Todo trabalho é edificante e, por meio dele, as pessoas se realizam. Posso dizer que me sinto realizado”, comemorou. Após 55 anos de trabalho, Uyeda disse que continua motivado e que deixa a magistratura ainda com muita disposição.
O ministro Sanseverino disse estar certo de que todo o vigor físico e mental permitirá que o ministro Massami Uyeda, ao lado de sua esposa, “aproveite o lado bom da aposentadoria, dedicando-se à família e a todas as coisas que ele sabe degustar com a sua sabedoria oriental”. E encerrou a homenagem com um haikai (pequena poesia métrica japonesa), confessamente plagiado da internet:
70 anos
Como lidar com a última gota?
Desejo ao ministro Massami
Boa sorte nos novos caminhos
E, plagiando a ele próprio
Desejando uma vida longa e saudável
Era assim, “desejando a todos uma vida longa e saudável”, que Massami Uyeda encerrava todas as sessões que presidia.
Fonte: STJ

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